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Compreensão das informações

No documento 2016SoniaGotler (páginas 59-63)

A compreensão das informações foi feita a partir do método fenomenológico, que conforme Ormezzano e Torres (2002) consta de quatro passos, propostos por Giorgi e um quinto passo proposto por Comiotto. A seguir, cada um dos passos será descrito:

Primeiro Passo: O sentido do todo: Nesta etapa, segundo Ormezzano e Torres

(2002) a linguagem tem importância capital, devendo o pesquisador captar da entrevista oral, gravada e posteriormente transcrita, algumas vivências do entrevistado. Este passo não é nada mais do que a leitura dos textos das entrevistas dadas, com o fim de impregnar-se do conteúdo das mesmas, desenvolvendo certa habilidade para compreender a linguagem dos entrevistados. Conforme a extensão do texto, realizei uma simples leitura ou retornei ao mesmo múltiplas vezes até alcançar a compreensão do todo.

Segundo Passo: As unidades de significado: As autoras esclarecem que, depois da

visão do todo através da descrição do fenômeno, parte-se para a redução fenomenológica. Nesta etapa a percepção exerce um importante papel. As unidades emergem como consequência da análise e são espontaneamente percebidas durante a releitura das entrevistas. Cada unidade é numerada em ordem crescente junto ao número de cada entrevista.

Terceiro Passo: Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa: É necessário se estar abertos e sensíveis ao que está sendo mostrado pelos

entrevistados, orientam Ormezzano e Torres (2002). São seus mundos vividos e é preciso mergulhar neles até atingir a sua essência. Quando capta-se verdadeiramente a mensagem do outro, interpreta-se e expressa-se o fenômeno explicitado pelo sujeito através de uma linguagem psicoeducativa.

Quarto Passo: Síntese das estruturas de significado: Nesta síntese, conforme as

autoras, procura-se intuir as essências que aparecem na fala dos entrevistados. Considerando a síntese como a criação de algo novo, na qual fusionam-se as percepções dos mesmos e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente e pretendendo achar os aspectos realmente significativos dentro de uma visão totalizadora.

Quinto Passo: Dimensões fenomenológicas: Esta última etapa, esclarecem as

autoras, visa encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho e que compõe as essências. Comiotto afirma que “[...] estes aspectos essenciais ‘emergem a partir de uma redução da própria redução’, abstraindo tudo o que faz parte do fenômeno até chegar à sua essência” (1992, p. 20 apud ORMEZZANO; TORRES, 2002, p. 17). As autoras sustentam que as dimensões vêm da intuição e não da fragmentação do fenômeno, colaborando desta forma a impregnar-se do todo. É um momento de síntese entre subjetividade e mundo, visando estruturar os significados dados à vivência através da linguagem. Merleau-Ponty (1983) aponta que, a partir da consciência que somos e da experiência pessoal, a linguagem tem significado para nós.

Os processos metodológicos produziram cinco essências, as quais nomeei imagens. Para cada imagem visualizei três dimensões e as nomeei impressões. A seguir apresento um gráfico com a representação das imagens, e no início do quinto capítulo estão descritas suas respectivas impressões.

Figura 1 – Gráfico da representação das imagens

4 IMAGENS E IMPRESSÕES

Ao começar a escrever sobre as essências intuídas e suas dimensões, me senti numa teia, com dificuldade de tratar especificamente de cada título e subtítulo. Os temas estavam de tal forma interligados que, muitas vezes, percebi que o que eu estava dizendo de uma essência poderia ser, na verdade, de outra. Assim, as essências anteriormente extraídas se transformaram em imagens e suas dimensões transmutaram em impressões. Imagens são fugidias, dependem da iluminação, do ângulo do qual as olhamos, de nossas emoções, do ambiente em que são vistas, se as vemos sozinhos ou em grupo. Imagens não detêm um significado, o verdadeiro, pois vistas pela manhã ou pela tarde, já terão outras nuances, as impressões, que são as marcas das imagens, suas sensações, bem como os sentimentos que as acompanham. O sentimento é líquido, escorregadio, inconstante. Esta reflexão acerca de imagens e impressões ajudou-me a entender meus sentimentos e pensamentos cambiantes conforme fui avançando na pesquisa de campo e depois na compreensão e interpretação das informações.

O registro no diário de campo e a transcrição das entrevistas adquiriram cores e tons conforme misturavam-se aos sons das vozes, às lembranças das imagens do momento em que aconteceram e às minhas memórias sensíveis, transformando-se em matéria prima para as palavras que procuraram traduzir aquela profusão de percepções. Palavras minhas, da Professora Graciela, dos participantes, dos personagens dos filmes e suas trilhas sonoras e dos autores que me acompanharam, não apenas nestes dois anos, mas parceiros de uma vida. Cada uma das cinco imagens descritas na Figura 1, anteriormente apresentada, constituiu-se de três impressões descritas a seguir:

Territórios e fronteiras

ƒ O CAPSad é um território

ƒ Estigma, preconceito e resiliência ƒ Fronteiras entre ficção e realidade

Cinema: o teatro da pele

ƒ Divertimento, humor e autodistanciamento ƒ Encanto e percepção do belo

Tornar-se si mesmo

ƒ O olhar do outro

ƒ O espectador como criador ƒ Liberdade e destino

O cinema que faz pensar

ƒ Filmes que fazem pensar ƒ O cinema como prática cultural ƒ Cinema e educação

Substâncias psicoativas: usos e abusos

ƒ Legalização, redução de danos e uso medicinal ƒ Drogas leves e pesadas

ƒ Sensibilidade e anestesia

Construí uma narrativa em busca de compreensão destas imagens e impressões, sem a intenção de concluí-las ou esgotá-las, pois me entendo como um sujeito que possui o compromisso epistemológico de abertura ao mundo e dessa forma me reconheço parcial na atribuição de significados aos fenômenos.

No documento 2016SoniaGotler (páginas 59-63)