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Descrição dos encontros

No documento 2016SoniaGotler (páginas 55-59)

No primeiro encontro estavam presentes 21 homens e 2 mulheres. Iniciamos as 10h30 de uma sexta-feira e encerramos as 11h30. Este encontro teve como objetivo entrar em contato com os usuários do CAPSad para informá-los sobre a pesquisa e também para que juntos, pudéssemos organizar os outros encontros: dia da semana, turno, horário e filmes a que iríamos assistir. Um membro da equipe que ficou como nossa referência no CAPSad, nos acompanhou até a sala que fica nos fundos da casa, atravessando um jardim arborizado e com gramado. A sala é onde as pessoas fazem as refeições e também para uso de grupos terapêuticos. Estava bastante quente, o ar condicionado não estava funcionando, naquele horário o sol entrava na sala.

O membro da equipe perguntou se precisava ficar, respondi que não. Apresentei-me e pedi para que os participantes se apresentassem. Em seguida, comecei a falar sobre a pesquisa, convidando-os a participar. Expliquei que já estava há um ano e meio preparando o trabalho e agora era a etapa final. Falei do trabalho que fiz no CAPS II e das observações referentes ao início do tratamento para dependentes químicos no município, das dificuldades e dos preconceitos que, tanto a equipe quanto a sociedade encontram para lidar com esta questão.

Entreguei-lhes um convite para participar do estudo. Pedi para trazerem sugestões de filmes para o próximo encontro para escolhermos juntos e perguntei sobre acesso a Internet, a maioria falou que não tem Internet. Entreguei-lhes uma lista de sugestões de filmes. Comecei a conversar sobre os filmes, era 11h30 e logo veio um membro da equipe perguntar se iríamos demorar porque precisavam servir o almoço. Interrompi a conversa e enquanto as pessoas se levantavam, agradeci e comuniquei que viria na próxima semana para continuarmos.

O segundo encontro estava combinado para a próxima sexta-feira de manhã, no entanto, quando liguei para confirmar, o membro da equipe nos falou que teria que ser à tarde. Lá chegando, me dirigi para a sala onde estavam os usuários, a mesma do primeiro encontro. Estavam presentes 6 homens, um número bem menor de pessoas do que o encontro anterior. Perguntei o que havia acontecido, o membro da equipe falou que à tarde ficam poucas pessoas, porque muitos dependem de uma Van que os leva para casa logo depois do almoço. O objetivo deste encontro foi discutirmos quais filmes iríamos ver. Perguntei se eles tinham selecionado algum filme. Um usuário comentou que sua irmã havia olhado, em casa, nossa lista de sugestões, e disse que o filme Bicho de sete cabeças era muito bom.

Os usuários pediram para que eu viesse fazer o trabalho na segunda-feira de manhã, porque não tinham nenhuma atividade, disseram que na terça tem academia, na quarta tem grupo com a psicóloga e na quinta tem grupo com a outra psicóloga. Falei que iria conversar sobre isso com a equipe e que iria tentar vir de manhã na próxima semana para poder falar com todos. Despedi-me e fui para a sala de equipe. Perguntei para um membro da equipe se teria alguma manhã que eu pudesse vir para conversar com todos e disse que eles haviam sugerido a manhã de segunda-feira. Responderam que segunda de manhã eles têm o horto e chegam tarde e que em dia de horto é difícil, pois até eles se lavarem quando chegam já está na hora de almoçar. O almoço é servido as 11h30. Falei do problema de passarmos os filmes à tarde, pois ficam poucas pessoas. Falaram da atividade de todas as manhãs, dizendo que de manhã fica difícil e sugeriram que eu aguardasse a coordenadora retornar das férias para combinar dia e horário.

Para o terceiro encontro, combinei com a coordenadora que o filme seria exibido na sexta-feira de manhã as 09h, no entanto, começamos ver o filme quase 10h. Participaram da atividade 3 mulheres e 11 homens, na mesma sala dos dias anteriores. O som da TV era muito baixo e a imagem estava prejudicada por causa da claridade da sala. Neste encontro, não vimos o filme até o final, porque aconteceram contratempos.

Comecei a atividade falando com eles sobre as combinações de selecionarmos filmes feitas nos outros dois encontros, no entanto, poucos eram os mesmos usuários dos outros dias. Levei dois filmes para eles escolherem: Diário de um adolescente com o objetivo de abordar a falta de conhecimento e a solidão dos adolescentes nesta fase da vida em relação a seus problemas e início do uso de substâncias pscicoativas e O barato de Grace com a intenção de refletir sobre uso e proibição da maconha. Falei que não tivemos horários disponíveis para conversarmos naquelas semanas (havia passado três semanas do segundo encontro) e perguntei se eles pensaram em algum filme para vermos. Um participante falou do Diário de

um adolescente, ao que respondi que era um dos filmes que havia trazido.

Outro usuário falou dos filmes Pulp Fiction, A gang do crack e Bicho de sete cabeças, comentou que este último retratava bem como a sociedade vê as pessoas que usam drogas. Após esta fala, perguntou qual era o outro filme que eu havia trazido. Falei que era O barato

de Grace, perguntei se já tinha visto, disseram que não e ficaram com uma expressão de

curiosos. Falei resumidamente sobre o filme, os usuários riram e decidiram-se, por unanimidade ver este filme.

Logo que começamos assistir, chegou o café e precisamos fazer uma pausa. Após tomarem o café, uma parte das pessoas foi para outra atividade e retomamos o filme. Mais ou

menos uma hora depois tivemos que interromper o filme e conversamos um pouco sobre ele. Neste dia, dois participantes sentiram-se incomodados com a gravação da entrevista, então fiz apenas anotações das falas. Tive que encerrar antes das 11h, porque os participantes iriam fazer pão com linguiça. Combinei com eles de continuar assistindo esse filme no próximo encontro.

Do terceiro ao oitavo encontro, realizei entrevista livre grupal, que iniciou, após assistirmos ao filme, com as seguintes perguntas norteadoras: O que o filme significou para vocês? O que o filme diz de vocês? Na medida em que conversávamos, muitas vezes, foi necessário relembrar aos participantes o objetivo da conversa, então fazia as perguntas novamente.

O quarto encontro foi na sexta-feira de manhã. Iniciamos às 09h e terminamos às 11h30. Estavam presentes 7 homens e 4 mulheres. Ficamos na sala de refeições. Uma das profissionais da equipe quis participar da atividade e ficou até o final da entrevista livre. Os participantes que estavam na semana anterior queriam continuar assistindo ao filme O barato

de Grace, no entanto, como havia novos usuários, induzi a assistirem ao filme Diário de um adolescente, pois meu objetivo foi exibir, neste encontro, um filme que abordasse outro tipo

de substância psicoativa que não a maconha. O filme da semana anterior tinha sido uma comédia, queria para este dia um drama, justamente para contrastar as emoções.

Continuávamos com problemas de imagem e som, mesmo assim, estávamos atentos. Uma das participantes manifestou desconforto com o filme, por causa das cenas de uso de drogas (heroína e cocaína). Para o próximo encontro, portanto, já sabia que deveria evitar este tipo de cena. Comentei de exibir um filme sobre vício em jogo, alguns dos pesquisados comentaram sobre este problema e acharam relevante. Neste dia, também fiz anotações, pois alguns usuários não quiseram gravar a entrevista.

No quinto encontro, sexta-feira, comecei a exibir o filme às 09h, na mesma sala dos dias anteriores. Ficaram na atividade 7 homens e 3 mulheres. Levei uma caixa de som, a imagem continuou ruim devido a claridade. Neste dia não participaram membros da equipe. Logo que cheguei, os participantes começaram a perguntar sobre qual seria o filme. Falei o nome do filme, Tudo por dinheiro, cujo tema é vício em jogo. Um dos usuários falou que seu irmão foi assassinado na mesa de jogo. Outro participante comentou que um parente seu ganhou no jogo e foi assassinado pelo perdedor.

Meu objetivo em exibir este filme foi trazer uma história de dependência que não fosse em substâncias psicoativas, embora um dos personagens fosse, também, viciado em cigarro.

Assistimos ao filme e após começamos a conversar. Os participantes permitiram que eu gravasse a entrevista.

No final da entrevista comecei a fazer combinações para o próximo encontro, falei que estava pensando em trazer o filme A corrente do bem. Fiz um breve comentário sobre o filme e eles acharam interessante. Um dos usuários falou que já havia locado este filme e perguntou se não era do tempo do VHS. Disse que era bem provável, pois o filme talvez fosse de uns 20 anos atrás. Nesse momento, chegou uma servidora pedindo para arrumar as mesas, pois já era quase meio-dia.

No sexto encontro levei o filme A corrente do bem, no entanto, não tinha opção dublado, e os participantes não gostam legendado. Eles pediram para acabar de assistir O

barato de Grace. Fui até a locadora buscar o DVD. Neste dia, nos acompanhou nas atividades

outro membro da equipe. Esta profissional permaneceu conosco até o último encontro. Estavam presentes 11 homens e 2 mulheres. Este encontro aconteceu na sexta-feira, começou às 09h e terminou às 11h30, na mesma sala dos dias anteriores.

Quando começamos assistir ao filme, um dos participantes (que já tinha assistido esta parte do filme no terceiro encontro) levantou-se, e foi buscar panos para escurecer a sala. Voltou com vários panos e outros usuários foram ajudá-lo a pendurar. Uma pessoa que estava do outro lado da sala pediu os panos que haviam sobrado, porém quando subiu na cadeira para pendurar na janela, teve um ataque epilético e caiu por cima de alguns participantes. Ninguém se machucou. Os vigias vieram e a levaram dali. Todos voltaram aos seus lugares e continuamos assistindo ao filme.

Foi importante terminarmos de ver o filme, pois o final é surpreendente e desconstrói todo aquele sonho de Grace e seu jardineiro, do início do filme, de ganhar dinheiro traficando maconha, expõe os perigos desta prática e também questiona a criminalização da maconha. O objetivo em acabar de assistir este filme foi para investigar melhor o pensamento dos participantes a respeito do uso da maconha. Além destas questões, o filme também mostra o uso recreativo e a comercialização da maconha, o que gerou polêmica na hora da entrevista. Gravei a entrevista do início ao fim sem oposição dos participantes.

O sétimo encontro ocorreu na segunda-feira de tarde, das 13h30 às 16h, na sala de recepção. Estavam presentes 6 homens, uma mulher e uma profissional da equipe. Para mudarmos a sala precisamos mudar também o turno, pois à tarde ficam poucas pessoas no CAPSad e podemos utilizar a sala da frente da casa. O lugar ficou adequado, pois tinha pouca iluminação. Quando cheguei o equipamento (telão, notebook, datashow) já estava organizado, só precisei levar caixa de som.

Assistimos ao filme Bicho de sete cabeças. Este filme havia sido comentado anteriormente por vários participantes. Meu objetivo com este filme foi tentar entender as dinâmicas das famílias de pessoas que usam substâncias psicoativas e também o modo como era visto o tratamento para dependência química antes dos CAPSad, que são os serviços substitutivos dos hospitais psiquiátricos. A entrevista foi gravada com a permissão dos participantes.

No final da entrevista um dos usuários comentou que o trabalho foi bem produtivo e que esperava que tivesse sido produtivo para fazer meu Phd, doutorado. Ri e falei que era um mestrado. Todos riram. O participante continuou parabenizando meu interesse e seriedade e agradeceu. Eu disse que o trabalho não havia terminado, que na próxima semana teríamos mais um filme e perguntei se eles se disporiam a ficar, novamente, à tarde. Concordaram.

Para o oitavo e último encontro os participantes pediram que escolhêssemos um filme que não lhes trouxessem lembranças ruins, pois o filme Bicho de sete cabeças os tocou profundamente, devido à identificação com o personagem Neto (interpretado por Rodrigo Santoro). Fiquei responsável, portanto, pela escolha do filme. Estávamos novamente na sala de recepção numa segunda-feira à tarde, com todo o equipamento já montado e funcionando perfeitamente. Iniciamos às 13h e concluímos às 15h30. Ficaram para a atividade 7 homens, 2 mulheres e uma profissional da equipe.

Escolhi o filme Intocáveis por tratar de uma história baseada em fatos reais e também, mostrar um processo profundo de transformação de duas pessoas muito diferentes, quando as mesmas resolvem entregar-se para uma relação de mútua ajuda, embora a princípio fosse apenas uma relação profissional. Aparecem cenas de uso de maconha com fins recreativos, atendendo um dos critérios para a escolha dos filmes. Objetivei com este filme mostrar pessoas que conseguem desligar-se de seus passados, alterando completamente suas trajetórias. Justamente este aspecto foi o que mais chamou a atenção dos pesquisados. Este filme foi muito importante para o encerramento, pois trouxe um alento de vida diante de circunstâncias extremas. Despedi-me com um abraço.

No documento 2016SoniaGotler (páginas 55-59)