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4 COMUNIDADE SURDA: LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

4.3 Comunidade surda e Jornalismo

Os veículos de comunicação podem agir como promotores da interpolação entre as culturas surdas e ouvindo fundamento na linguagem que zele pela acessibilidade e pelos artefatos culturais do povo surdo a partir de canais comunicativos entre os povos. (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 1-2).

Essa linguagem do Jornalismo que contempla o povo surdo pode ser sido construída a partir da Lei de Acessibilidade (nº 10.098/00), aprova no Brasil em 28 de dezembro de 2000. Sobre esta lei, Baldessar, Medeiro e Falavina apontam:

interessa-nos na lei citada a eliminação

de entraves nas comunicações que impeçam ou dificultem o acesso à informação e o recebimento de informações por intermédio de tecnologias assistivas destinadas à pessoas portadoras de deficiência. Apesar de hoje não ser adequado conceituar surdez como deficiência, a lei 10.098 foi um importante marco para que os veículos de informação voltassem seus esforços para serem compreendidos por pessoas que foram historicamente impedidas de acessá-los formalmente porque os veículos não eram pensados para pessoas não ouvintes. (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 2)

Na mídia, essa linguagem e aproximação entre informação e comunidade surda pode ser analisada separadamente entre os meios de comunicação no qual a notícia circula, como televisão, rádio, internet e jornal. Baldessar, Medeiro e Falavina dividem essa análise em linguagem gráfica, radiofônica e visual. No que diz respeito à linguagem gráfica, Baldessar, Medeiro e Falavina consideram jornais e revistas impressas. Sobre esta linguagem, os autores apontam:

atenta para o fato de que a alternativa para adequar a linguagem gráfica aos padrões de acessibilidade de objetos de aprendizagem seria a mídia sonora, inutilizável por pessoas surdas. Portanto, a preferência para a comunicação é a linguagem físico-motora-espacial, a língua materna aos surdos. (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 5)

Na linguagem radiofônica, a comunidade surda é contemplada graças ao ingresso das rádios no ambiente digital. Na Internet, a rádio consegue apresentar produtos como podcasts e webrádios. Junto destes conteúdos, encontram-se elementos da mensagem multimídia, como infográficos e vídeos.

Os autores apontam exemplos de utilização desta linguagem e dos elementos da mensagem multimídia nascidos em webrádios portuguesas e na

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Rádio USP, da Universidade de São Paulo. Ambos os exemplos foram descontinuados por falta de patrocínio. Sobre estes exemplos, os autores apontam:

Os exemplos consistem, portanto, em projetos de curta duração, que por falta de patrocínio se trataram de experiências de curta e não tiveram continuidade. Traduções, simultâneas ou prévias, dos conteúdos radiofônicos para a linguagem de sinais, portanto, a linguagem usada foi a do vídeo. (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 6)

A respeito da linguagem visual, a última instância de análise entre a veiculação de informações e a comunidade surda realizada por Baldessar, Medeiro e Falavina em 2018, são apresentados três exemplos. A análise desta linguagem foi realizada de acordo com as diretrizes da Classificação Indicativa na Língua Brasileira de Sinais, produzida pelo Governo Federal brasileiro em 2009.

O primeiro exemplo é The Daily Moth, apresentado por Alex Abenchuchan, ex-aluno da Universidade Gallaudet, nos Estados Unidos. Neste programa, se realiza a cobertura de notícias e tópicos relevantes para pessoas surdas por meio da Língua Americana de Sinais (ASL). Nos vídeos, Alex usa roupa preta e fundo escuro, em tons diferentes (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 7).

O segundo exemplo, o Sign1 News, é distribuído pela CNN e consiste na exibição de notícias produzidas em língua de sinais. O fundo usado é azul, desfocado, e a vestimenta, preta, por vezes sobreposta a peças de outras cores. (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 7).

Deaf Newspaper é o terceiro exemplo. O fundo desse noticiário também é desfocado, mas pode-se observar mais detalhes e cores, o que não é um ponto positivo. O vestuário do apresentador também é pr eto, com cores apenas nos diferentes modelos de gravata. (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 7).

Sobre o quarto exemplo, que é o único produto brasileiro da lista, Baldessar, Medeiro e Falavina apontam:

O Programa Sentidos era exibido na TV a cabo e em seu canal do YouTube com notícias sobre inclusão social e possuía um intérprete de LIBRAS no canto inferior esquerdo

da tela, em recorte Chroma Key, ou seja, o fundo foi anulado com técnicas de pós-produção, e o uso de vestimenta preta. A NBR 15.290 (apud Ministério da Justiça) informa que a altura da janela de LIBRAS deve ser, no mínimo, metade da altura do televisor; não se observa essa proporção no canal do YouTube Programa Sentidos. (BALDESSAR; MEDEIRO; FALAVINA, 2018, p. 7).

Neste trabalho, a partir dos exemplos propostos, consideramos as diretrizes da Classificação Indicativa na Língua Brasileira de Sinais na análise dos dois objetos de estudo, as WebTVs de surdos para surdos TV Ines, que é brasileira, e a WebVisual, que é espanhola.

Utilizaremos na análise quatro diretrizes da Classificação Indicativa na Língua Brasileira de Sinais. A primeira diz respeito à vestimenta dos apresentadores. A roupa deve contrastante em relação à cor do cenário do programa. Os apresentadores devem usar blusas de cor única, sem estampas, de manga curta ou três quartos, sem decotes ou golas. Roupas de cores amarela, vermelha, laranja e verde limão devem ser evitadas porque desviam o olhar do surdo das mãos para as cores.

A segunda tem relação ao cabelo dos profissionais. O ideal é que o penteado não cubra o rosto.

A terceira diretriz diz respeito à interpretação da notícia. A Classificação aponta que o apresentador deve narrar a mensagem de forma clara, expressiva, simpática e sem exageros.

A quarta diretriz diz respeito ao enquadramento do vídeo. A Classificação aponta que o diretor de imagem deve estar atento ao enquadramento do apresentador, de modo que seus braços e cotovelos não sejam cortados do quadro. O foco deve abranger toda a movimentação e gesticulação realizada pelo profissional.

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