• Nenhum resultado encontrado

Conceções dos professores sobre a colaboração, o papel da biblioteca escolar e do Plano Nacional de Leitura no

Parte II – ESTUDO EMPÍRICO

4. Apresentação e interpretação dos dados recolhidos

5.1. Conceções dos professores sobre a colaboração, o papel da biblioteca escolar e do Plano Nacional de Leitura no

desenvolvimento do trabalho colaborativo

Para Ponte (1992) as conceções atuam como se fossem um filtro porque estruturam o sentido que damos às coisas, mas também funcionam como elemento bloqueador em relação a novas realidades. Neste nosso estudo referimo-nos às conceções entendendo-as como quadros conceptuais que condicionam a forma como realizamos as tarefas, e utilizamos também o termo perceção quando esta envolve um juízo sobre um objeto exterior. Considerámos, portanto, que a perceção pode ser considerada uma “conceção simples”. Ponte (1992) também defende que as escolas onde os professores lecionam, e as suas culturas específicas, podem influenciar as conceções dos professores, pois estas são marcadas pelas dinâmicas coletivas onde o docente se insere. Assim, a conceção vive de uma dialética mundo interior/mundo exterior que não se consegue explicar facilmente. Os próprios professores sentem dificuldade em expressar as suas conceções, o que dificulta, também, uma abordagem metodológica. Neste estudo procurámos que os professores revelassem as suas conceções utilizando, sobretudo, escalas de Likert porque estas “correspondem a processos de medição de opiniões ou atitudes” (Bell, 2010:196-197) e pretendíamos conhecer as opiniões destes inquiridos, por meio de questionários ou através do recurso a uma entrevista semiestruturada. Temos consciência que muito ficou por apurar mas vejamos as conclusões que pudemos sintetizar.

Relativamente à definição de colaboração, os professores colaboradores revelam uma conceção pouco esclarecida. A maioria dos professores colaboradores inquiridos (25 em 28) considera que a colaboração pressupõe: um planeamento; o reconhecimento da necessidade de recursos comuns; uma liderança partilhada; a atribuição de papéis específicos aos colaboradores; a criação de canais de comunicação, o que, segundo Sheperd (2004), são características da “coordenação”. Mas, ao mesmo tempo, 23 desses mesmos inquiridos também concordam que a colaboração pressupõe: uma planificação comum; objetivos comuns; relações bem definidas; recursos partilhados; benefícios para todos os participantes; riscos assumidos por todos, o que, também segundo Sheperd (2004), define a colaboração.

Portanto, parece-nos que os professores têm algumas dúvidas sobre a definição do conceito de colaboração e sobre o que este pressupõe, de acordo com a literatura analisada, e que as escolas se deveriam preocupar em clarificar este conceito. Nesta linha, também Freire (2007) concluiu que é necessário que nas escolas se realizem sessões para clarificar, refletir e analisar o conceito de colaboração e as práticas que lhe estão inerentes porque há ainda muitas dúvidas a este respeito. No entanto, verificámos que as professoras bibliotecárias inquiridas revelam uma conceção de colaboração muito mais próxima da que defende a referida literatura. As professoras bibliotecárias mencionam a necessidade de existir um objetivo comum, de planificarem em conjunto, de partilharem responsabilidades e saberes e de avaliarem em conjunto e chegam mesmo a referir-se ao que consideram ser “níveis de colaboração”. Julgamos que esta conceção de colaboração é, de certo modo, enformada pela formação que estas professoras têm realizado no âmbito das bibliotecas escolares e pela sua própria experiência como coordenadoras do projeto de promoção da leitura e da biblioteca escolar.

Quanto aos benefícios que podemos retirar da colaboração, as conceções dos professores colaboradores e dos professores bibliotecários não diferem muito. Em geral, os participantes no estudo consideraram que a colaboração: “promove a incorporação de novas práticas pedagógicas”, “cria oportunidades para a partilha de ideias”, “intensifica a apetência para o trabalho em equipa”, “promove o sucesso” e “promove a articulação de conhecimentos e saberes”. No entanto, não nos parece, como se verá mais à frente, que estes benefícios se reflitam muito nas práticas de trabalho colaborativo que ocorrem nestas escolas. Poderemos referir que destes benefícios apontados aquele que mais se evidencia nas práticas desenvolvidas é o relacionado com a articulação de conhecimentos e saberes. Os restantes parecem surgir como conceções manifestadas e não como verdadeiras conceções ativas, no sentido que lhe é atribuído por Ponte (1992).

Quando pensamos em colaboração tendemos logo a considerar os fatores que a influenciam quer pela positiva, porque a facilitam, quer pela negativa, porque a dificultam. Os professores e as professoras bibliotecárias também possuem, a este respeito, conceções idênticas. No geral, as conceções dos professores são muito marcadas pelo desgaste profissional e sentimento de desvalorização da profissão. É portanto este fator externo, que condiciona o trabalho dos professores, que é apontado como o que mais dificulta o trabalho colaborativo. Relacionado com ele surgem o “excesso de trabalho burocrático”, “ a falta de espaços de trabalho”, “o horário letivo dos professores” e a “avaliação docente”. Isto significa, na nossa opinião, que, tal como defende Nóvoa (2007), um dos grandes desafios do trabalho do professor no

mundo contemporâneo será o de “credibilizar a profissão docente” para aumentar a autoconfiança e melhorar o sentimento de valorização da profissão que está a afetar negativamente as conceções dos professores relacionadas com a profissão, e, consequentemente, as suas práticas. Quanto aos fatores que facilitam o trabalho colaborativo, tanto os professores como as professoras bibliotecárias partilham a conceção que as boas relações interpessoais são fundamentais e, relacionado com estas, que é importante que haja um envolvimento de todos e uma partilha de decisões. Salientam também a importância de existir um propósito comum e consideram, em consonância com as suas conceções acerca dos fatores que mais dificultam a existência de trabalho colaborativo, o fator “horários não letivos dos professores” como um dos mais importantes. No fundo, encontramos uma conceção dos fatores que influenciam a colaboração muito ancorada nas relações interpessoais, quer internas, com os parceiros com quem interagem, quer externa, com a necessidade de reconhecimento e de valorização pela sociedade. Foi interessante constatar que esta conceção, de que é necessária, no trabalho colaborativo, a “partilha de decisões e de tarefas com outros elementos da equipa”, foi assinalada por 21 (em 28) dos professores colaboradores inquiridos no estudo como sendo uma prática recorrente de trabalho colaborativo no âmbito do projeto de leitura da escola, a par das “reuniões periódicas com outros elementos da equipa”, o que vem, de algum modo, revelar, nesta situação em concreto, uma correspondência entre conceção e prática.

A biblioteca escolar também desempenha um determinado papel na promoção do trabalho colaborativo nas escolas. Procurámos, por isso, conhecer as conceções dos professores sobre a biblioteca escolar. A conceção geral revelada, quer por professores colaboradores, quer por professoras bibliotecárias, é a de que a biblioteca escolar é um elemento agregador das atividades que se realizam na escola e um “centro de cultura” porque é na dinamização de atividades de cariz cultural e artístico que se destaca. Os professores colaboradores fazem uma apreciação muito positiva do trabalho realizado pela biblioteca escolar e consideram que esta desenvolve um trabalho sistemático no âmbito da promoção da leitura, envolvendo grande parte da comunidade escolar e fornecendo recursos para apoiar as atividades curriculares. Também percecionam como muito positivo o papel da biblioteca escolar na coordenação do projeto de leitura. Mas as suas conceções ainda colocam a biblioteca a um nível de colaboração do tipo de “Cooperação parceria”, defendido por Montiel- Overall (2005), apesar de se avançar já para o modelo de “Ensino Integrado”, uma vez que 89% dos inquiridos considera que a biblioteca escolar e os docentes já planificam atividades em conjunto e 78% concorda que a biblioteca escolar interage com a escola na definição de programas formativos e de trabalho com departamentos e docentes.

No entanto, a concordância de apenas 22% dos inquiridos relativamente ao facto de a biblioteca escolar participar na avaliação das atividades curriculares é, para nós, significativo da não existência de um ensino plenamente integrado.

Procurámos ainda conhecer as conceções dos professores relativamente ao papel que o Plano Nacional de Leitura desempenha no desenvolvimento do trabalho colaborativo. Os resultados obtidos através do inquérito por questionário, efetuado junto dos professores colaboradores, revelam que, nestas escolas, a perceção que os professores colaboradores têm do impacto do PNL também é muito positiva pois 86% dos inquiridos nas três escolas consideraram que o PNL “contribuiu muito/contribuiu” para impulsionar o trabalho colaborativo e 89% dos inquiridos considera que o impacto do PNL se faz sentir sobretudo no desenvolvimento de atividades e práticas que estimulam o prazer de ler. Os resultados obtidos neste estudo vão ao encontro das conclusões da avaliação externa do PNL (Costa et al, 2011) e remetem, na nossa opinião, para uma conceção do PNL como impulsionador da realização de atividades em torno da leitura. Esta conceção acaba por traduzir-se numa maior mobilização dos professores em torno das atividades promovidas pelo Plano Nacional de Leitura, condicionando, pela positiva, as práticas desenvolvidas nas escolas. Uma das professoras bibliotecárias deste estudo referiu-se, precisamente, ao facto de o Plano Nacional de Leitura ter “institucionalizado a leitura” nas escolas. Ora, a ideia expressa por esta professora bibliotecária vem, na nossa opinião, justificar esta conceção dos professores que está enformada por uma espécie de legitimidade institucional. Mas temos consciência que o facto de a maioria dos participantes neste estudo pertencer ao departamento de Línguas, sobretudo ao grupo de Língua Portuguesa/Português, pode condicionar os resultados, uma vez que estes são os professores que, nas escolas, melhor conhecem as atividades promovidas pelo PNL e mais as desenvolvem em articulação com as suas disciplinas.

5.2. Papel do professor bibliotecário no desenvolvimento do