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Evolução das práticas de trabalho colaborativo entre a biblioteca escolar e os professores

Parte II – ESTUDO EMPÍRICO

4. Apresentação e interpretação dos dados recolhidos

4.2. Práticas de trabalho colaborativo desenvolvidas por professores e professores bibliotecários no âmbito dos

4.2.5. Evolução das práticas de trabalho colaborativo entre a biblioteca escolar e os professores

Onde se observa um aumento de práticas de trabalho colaborativo entre a biblioteca escolar e os professores?

Considerámos importante, com o nosso estudo, perceber se nas escolas envolvidas se nota o impacto dos projetos de leitura ao nível das práticas de trabalho colaborativo. Esta é, de facto, uma questão central, porque a nossa pergunta de partida para este estudo é “Qual o impacto dos projetos de leitura no desenvolvimento

do trabalho colaborativo entre professores e professores bibliotecários?” Por isso, nos inquéritos por questionário, apresentámos aos inquiridos a seguinte questão aberta:

“Sente que ao longo do tempo têm evoluído as práticas de trabalho colaborativo, na sua escola, entre os professores envolvidos nos projetos de leitura?

Se considera que sim, explique como é que se nota essa evolução.”

Considerámos que esta questão aberta nos poderia proporcionar uma maior riqueza de informação, permitindo que os inquiridos dessem a sua opinião sem se sentirem condicionados. As respostas dos inquiridos remetem para o reconhecimento de práticas que têm evoluído ao longo do tempo e que são, para eles, significativas. A questão aberta foi tratada com recurso à análise de conteúdo. Os episódios significativos foram identificados e foi-lhes atribuído um código que os contextualiza: IA, resposta ao inquérito da escola A; IB, resposta ao inquérito da escola B; IC, resposta ao inquérito da escola C. Foram organizados nas seguintes categorias: envolvimento dos professores; número e tipo de atividades; participação de alunos nas atividades de leitura; projetos transversais a diversas áreas; planificação conjunta de atividades; elaboração e divulgação conjunta de materiais; liderança do professor bibliotecário. E antes de os ilustrarmos, é de salientar que na escola C foram poucos os inquiridos que responderam a esta questão, talvez porque a implementação do projeto de leitura nesta escola seja ainda relativamente recente.

 Envolvimento dos professores: “Mais pessoas envolvidas”

IA “Maior disponibilidade dos professores”

“Vinda de professores com alunos à biblioteca; ida da biblioteca às salas de aula”

“No trabalho colaborativo dentro do grupo disciplinar e com a biblioteca”

O número (…) de professores envolvidos tem aumentado nos últimos anos”

IB “Aumento considerável do número de professores envolvidos”

“Maior número de professores envolvidos”

“Envolvimento efetivo de todos os professores de todos os grupos”

 Número e tipo de atividades:

“As atividades envolvendo todos os elementos da escola aumentaram e diversificaram-se”

IA “Mais atividades”

“Número de atividades desenvolvidas”

“O número de atividades tem aumentado nos últimos anos”

IB “Atividades cada vez mais frequentes e evidentes: oficinas de escrita,

leitura partilhada com debate, visitas periódicas à biblioteca” “Maior número de atividades desenvolvidas pela biblioteca.”

“Maior diversificação das atividades desenvolvidas pela BE/A Ler+.”

Nas escolas A e B há, da parte dos professores colaboradores, uma noção clara que os projetos de leitura contribuíram para um aumento significativo dos professores envolvidos e do número e tipo de atividades desenvolvidas em colaboração com a biblioteca escolar, pois estas duas categorias foram aquelas onde encontramos um maior número de episódios significativos. Os professores colaboradores referem mesmo que se notou “um aumento considerável de professores envolvidos”, “um envolvimento efetivo de todos os professores de todos os grupos” e “maior disponibilidade dos professores” (nosso sublinhado), o que evidencia uma cultura e sensibilidade dos professores que os predispõe para colaborarem com as atividades desenvolvidas no âmbito do projeto de leitura. Estes dados vêm reforçar a ideia de que o trabalho colaborativo serve para unir muitos professores em torno de um projeto comum e que isso promove o sucesso e enriquece a experiência educativa (cf. Boavida e Ponte, 2002).

 Participação de alunos nas atividades de leitura: “Tem-se observado um maior interesse pela leitura, sobretudo nos alunos do 5º e 6º ano”

IA “Nomeadamente através do concurso de leitura”

“Maior número de alunos envolvidos” IB

 Projetos transversais a diversas áreas:

“Implementação de projetos transversais às diferentes áreas e coordenados pela biblioteca.”

IB “Projetos que envolvem cada vez mais pessoas, grau de

envolvimento nos mesmos” “Elaboração de projetos”

IC “Através de projetos comuns”

Os professores colaboradores inquiridos também apontam um aumento da participação dos alunos nas atividades de leitura aliado, em certa medida, a projetos “que envolvem cada vez mais pessoas”. A existência de projetos comuns é reconhecida, por 4 dos inquiridos das escolas B e C, como tendo possibilitado o desenvolvimento de trabalho colaborativo dentro da escola. O facto de, na resposta aberta, referirem claramente este potencial colaborativo, inerente aos projetos de leitura, é, para nós, significativo porque demonstra a importância de que estes se revestem junto destes professores colaboradores.

Os inquiridos referiram ainda a planificação conjunta de atividades como sendo um aspeto onde se notou alguma evolução. No entanto, estas referências à planificação conjunta de atividades só se verificam em inquéritos da escola A, o que nos leva a pensar que este tipo de trabalho só ocorre com alguma consistência, pelo menos do ponto de vista destes inquiridos que o salientaram, nesta escola. Mas, a referência a este tipo de prática aponta já para um reconhecimento da necessidade de se planificar em conjunto, para tornar mais eficaz o trabalho colaborativo.

 Planificação conjunta de atividades

“Cada vez há uma maior partilha de recursos e planificação de atividades em conjunto”

IA “Melhor planificação”

Foi nos inquéritos da escola C que encontrámos referência à elaboração e divulgação de materiais. Julgamos que os professores colaboradores desta escola salientaram este aspeto por este ser importante no projeto de leitura da sua escola. Este projeto pressupõe a construção de “Maletas Pedagógicas”, sobre livros trabalhados, contendo muitos documentos produzidos em conjunto por alunos e professores que são, posteriormente, divulgados na escola e utilizados por outras turmas. Aparentemente, o projeto fomentou a elaboração de materiais de forma colaborativa e isso é encarado, por estes inquiridos, como positivo.

 Elaboração e divulgação conjunta de materiais “Elaboração de materiais”

IC “Divulgação de trabalhos”

Por último, encontrámos nos inquéritos da escola B uma referência à liderança do professor bibliotecário que é apontada como sendo importante para fomentar as práticas de trabalho colaborativo entre a biblioteca escolar e os professores.

 Liderança do Professor bibliotecário

“Existência de um trabalho centralizado na biblioteca através da coordenação exercida pela professora bibliotecária.”

IB

Em conclusão, podemos inferir que os professores colaboradores reconhecem uma evolução no envolvimento, tanto de professores como de alunos, nas atividades de promoção da leitura e estão conscientes que esse envolvimento está relacionado

com a existência de um projeto comum, que une as pessoas e que as leva a planificar e a elaborar materiais em conjunto.

5. Conclusões

É tempo de reconhecer o nosso passado, refletir sobre os nossos resultados, e traçar um rumo para o futuro.(Todd, 2011:1)

Quando nos propusemos realizar este estudo pretendíamos perceber se há trabalho colaborativo em escolas onde os projetos de promoção da leitura estão implementados de forma sistemática. Esta questão surgiu-nos porque, pela observação empírica de algumas práticas que ocorriam em escolas que acompanhávamos como coordenadoras, nos pareceu que onde os projetos de leitura estavam implementados as relações que se estabeleciam entre os professores e os professores bibliotecários/biblioteca escolar eram do tipo colaborativo. Dada a nossa função como coordenadoras das bibliotecas escolares, preocupamo-nos em partilhar boas práticas de modo a melhorar o trabalho que se realiza nas bibliotecas escolares. Nesse sentido, considerávamos que a identificação de algumas práticas de trabalho colaborativo que ocorriam nestas escolas poderiam, eventualmente, constituir-se como exemplos a seguir por outras escolas. É claro que estávamos conscientes que os resultados poderiam ser diferentes do esperado porque há muitos fatores que influenciam a colaboração e que não são facilmente observáveis. As próprias escolas selecionadas, apesar de pertencerem ao mesmo concelho e estarem integradas em meios socioeconómicos relativamente semelhantes, apresentavam características diferentes umas das outras: a tipologia, o número de alunos e professores, o tipo de projeto de leitura que desenvolviam. Quando as selecionámos para participarem no estudo tínhamos essa noção, mas pretendíamos também perceber se esses fatores influenciavam de algum modo as relações colaborativas entre os professores.

Sabemos que este estudo tem algumas limitações, em primeiro lugar porque se cinge apenas a três escolas do mesmo concelho, reconhecido por ter níveis de literacia um pouco superiores aos da média nacional, o que restringe as conclusões. Em segundo lugar, porque os participantes neste estudo não são todos os professores das escolas mas apenas aqueles que estão mais ligados aos projetos de leitura: os professores colaboradores, e as professoras bibliotecárias. Para tentar colmatar esta lacuna procurámos servir-nos de dados preexistentes, recolhidos de inquéritos realizados a uma amostra aleatória de professores de cada uma daquelas escolas, mas que também não nos parecem suficientes.

Chegámos agora à fase final, o momento para retirar ilações dos dados que fomos recolhendo e analisando. Partiremos das nossas interrogações iniciais, que se consubstanciaram em objetivos, e iremos tentar encontrar respostas para elas.

5.1. Conceções dos professores sobre a colaboração, o papel da