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Parte II – ESTUDO EMPÍRICO

1. Enquadramento do estudo

1.1 Objeto da pesquisa e questões investigativas

Em nosso entender, a leitura literária permite um conhecimento plural e agregador. É uma atividade fundamental nos dias de hoje porque é indispensável para o sucesso social e melhora as aprendizagens, facilitando a aquisição de conhecimento. A leitura congrega em si conhecimentos de todas as áreas do saber e potencia a participação, a conectividade e a interatividade. É, por isso, uma atividade ótima para ligar as pessoas e que pode ajudar os professores e alunos a trabalharem em conjunto. Ora, como consideramos que um dos grandes desafios da escola atual é, precisamente, tal como nos diz Nóvoa (2007), o de consolidar formas de colaboração dentro das escolas muito mais fortes, concluímos que isso pode ser conseguido, de alguma forma, reunindo professores em torno de projetos de leitura que, dadas as suas caraterísticas específicas e a sua forte componente social, podem ajudar a fomentar a colaboração dentro das escolas. E, relembramos, foi esta reflexão inicial que conduziu a este estudo.

Partindo desta relação entre leitura e colaboração, e dado o nosso interesse pelas duas temáticas, questionámo-nos sobre qual seria o impacto dos projetos de leitura no desenvolvimento do trabalho colaborativo. E, em seguida, como a promoção da leitura está muito relacionada, nas escolas, com o trabalho que se desenvolve nas bibliotecas escolares, limitámos esta articulação às práticas de trabalho colaborativo que se desenvolvem entre os professores e os professores bibliotecários, e ao papel que o professor bibliotecário desempenha no desenvolvimento de relações colaborativas. Mas, sabendo, também, que nem sempre as práticas dos professores são reveladoras das conceções que as alimentam, tentámos perceber que conceções possuem os professores sobre a colaboração, o papel da biblioteca escolar e do Plano Nacional de Leitura no desenvolvimento do trabalho colaborativo.

Sendo assim, definimos como objetivos deste estudo:

 Conhecer as conceções dos professores sobre a colaboração, o papel da biblioteca escolar e do Plano Nacional de Leitura no desenvolvimento do trabalho colaborativo;

 Analisar o papel do Professor Bibliotecário no desenvolvimento do trabalho colaborativo ao nível da coordenação de projetos de leitura;

 Identificar práticas dos professores e dos professores bibliotecários no âmbito do trabalho colaborativo;

 Analisar o impacto que os projetos de promoção de leitura têm no desenvolvimento de trabalho colaborativo entre professores e professores bibliotecários.

Estes objetivos originaram, por seu turno, questões investigativas gerais. E a partir destas questões investigativas gerais partiu-se para uma definição de questões investigativas mais específicas que possibilitaram uma análise mais minuciosa e orientaram a análise e interpretação dos dados. O quadro que se segue apresenta as questões investigativas gerais e específicas que nortearam este trabalho.

Quadro Nº 2 – Questões investigativas do estudo

Questões investigativas gerais Questões investigativas específicas

Que conceções possuem os professores sobre a colaboração, o papel da biblioteca escolar, do professor bibliotecário e do Plano Nacional de Leitura no desenvolvimento do trabalho colaborativo?

Os professores consideram a leitura uma prioridade e estão empenhados na sua promoção?

O que é que os professores entendem por colaboração?

Quais são os benefícios que os professores consideram que a colaboração traz ao trabalho docente?

Quais os fatores que os professores consideram que mais influenciam o desenvolvimento do trabalho colaborativo?

Os professores consideram que o PNL impulsiona o trabalho colaborativo nas escolas?

Os professores consideram que a biblioteca escolar impulsiona o trabalho colaborativo nas escolas?

Como é que os professores colaboradores percecionam o papel do professor bibliotecário ao nível da coordenação da biblioteca e dos projetos de leitura?

Que práticas de trabalho colaborativo desenvolvem os professores e professores bibliotecários no âmbito dos projetos de leitura?

Com que frequência colaboram os professores com a biblioteca escolar no âmbito dos projetos de leitura?

Como são as relações de trabalho entre o professor bibliotecário e os professores que com ele colaboram nos projetos de leitura?

Que práticas de trabalho colaborativo se desenvolvem no âmbito dos projetos de leitura? Quais são as atividades que mais ajudam a desenvolver as práticas de trabalho colaborativo? Onde se observa um aumento de práticas de trabalho colaborativo entre a biblioteca escolar e os professores?

Para elaborar os instrumentos de recolha de dados e interpretar os resultados obtidos com este estudo, tomámos como suporte teórico principal:

 Sheperd (2004), para a definição de colaboração e sua diferenciação de outros conceitos semelhantes;

 Loertscher (2000) e Montiel-Overall (2005), relativamente às taxonomias e aos modelos de colaboração docente;

 Gomes (2007) e Schroeder (2009), quanto às noções de “escolas comprometidas com a literatura” e de “cultura de leitura na escola”;  Neves et al (2007), na definição de projeto;

 Prole (s/d) e Osoro (2002), quanto aos princípios metodológicos diretamente relacionados com o desenvolvimento dos projetos de leitura;

1.2 Opções metodológicas

A investigação realizada tomou a forma de um estudo de caso descritivo, uma vez que “o estudo se focaliza na investigação de um fenómeno atual no seu próprio contexto” e o produto final pretende ser uma “descrição rica do fenómeno que está a ser estudado” (Carmo e Ferreira, 1998:235). Para além disso, este método é, segundo Bell (2010) especialmente indicado para investigadores isolados, dado que permite estudar um determinado aspeto de um problema em pouco tempo. Na nossa investigação em particular, a opção pelo estudo de caso prendeu-se também com o facto de sermos coordenadoras interconcelhias de bibliotecas escolares e, devido às características do nosso trabalho, termos necessidade de trabalhar de forma mais isolada e autónoma.

Quanto ao tipo de estudo de caso, optámos por um estudo de caso singular, com subcasos incluídos, na linha do que defende Yin (2005, citado por Duarte, 2008). O nosso caso é único pois foca-se nos projetos de leitura e no trabalho colaborativo entre professores e professores bibliotecários mas analisa as conceções e as práticas de trabalho colaborativo dos professores em três escolas do concelho de Oeiras.

O método utilizado neste estudo foi misto (quantitativo e qualitativo). O paradigma de investigação qualitativo foi escolhido porque o que nos interessou mais foi o processo em si, uma vez que consideramos que “o foco da investigação qualitativa é a compreensão mais profunda dos problemas, é investigar o que está “por trás” de certos comportamentos, atitudes ou convicções” (Fernandes, 1991:65). Optou- se por uma investigação sobretudo qualitativa por se considerar que esta “faz luz sobre a dinâmica interna das situações” e que “o processo de condução de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respetivos sujeitos” (Bogdan e Biklen, 2006:51). Foi esta relação, que se estabelece entre investigador e sujeitos da investigação, e o facto de se dar mais importância ao processo do que ao produto que despoletaram, de certa forma, o interesse sobre a investigação qualitativa e determinaram que esta enquadrasse metodologicamente este estudo. No entanto, o método qualitativo combinou-se com métodos quantitativos de modo a enriquecer constatações obtidas sob condições controladas com dados obtidos dentro do contexto natural da sua ocorrência. Assim, foi possível obter dados de um conjunto de professores relativamente a um certo número de questões, traduzindo-se no que acreditamos ser informação suficiente para responder às perguntas e aos objetivos de investigação.