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Conceito de carreira

No documento Perfis de carreira da geração Y (páginas 31-34)

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Carreira

3.1.1 Conceito de carreira

De acordo com Hall (2002, p. 12): “A carreira é a sequência individualmente percebida de atitudes e comportamentos associados com experiências e atividades relacionadas ao trabalho durante a vida de uma pessoa.” 1

Antes dessa, diversas definições de carreira foram propostas considerando a forma como a carreira era vista e trabalhada em diferentes momentos históricos. Apesar de teóricos investigarem o como e os porquês das ocupações individuais e trajetórias de vida por séculos, foi no século XX que o termo “carreira”, como curso de vida profissional, surgiu na literatura sociológica e psicológica (MOORE et al, 2007).

Os trabalhos iniciais sobre carreira tiveram foco em implicações práticas e intervenções que se faziam necessárias. Diversos trabalhos surgiram durante a 2º Guerra Mundial, onde as forças armadas resolviam problemas de escassez de recursos humanos por processos rigorosos

1 “The career is the individually perceived sequence of attitudes and behaviors associated with work-related experiences and activities over the span of the person’s life”

de seleção e testes vocacionais baseados em técnicas de avaliação individual, tais como testes de aptidão e de QI que usavam a análise estatística para avaliar milhares de pessoas.

A abordagem vocacional continuou no pós-guerra e permeou as organizações que buscavam uma força de trabalho estável e especializada e que privilegiavam a relação de longo prazo entre empregado e empregador. Em contrapartida, as organizações ofereciam incentivos e planos de carreira para aqueles que demonstravam lealdade. Essa abordagem ligava traços de personalidade a determinadas carreiras, com uma visão da pessoa adequada para cada tipo de trabalho. Diante desse cenário, o ator de carreira era passivo e trilhava os passos traçados pela organização. A imagem da boa profissão era aquela que trazia estabilidade e respeito pelas habilidades e experiência desenvolvidas na função (ARTHUR et al, 1999).

Como complemento a abordagem vocacional, surgiu a abordagem da gestão de recursos humanos procurando acomodar ideias de “potencial humano”. A abordagem da gestão de recursos humanos enfatizava o sistema de carreira, promovendo uma forma de relacionar responsabilidades consistentes com as habilidades das pessoas e, dessa forma, promovia carreiras aceleradas (ARTHUR et al, 1999).

Em ambas as abordagens, a visão é de que a carreira era uma sucessão de trabalhos relacionados ajustados em uma hierarquia de prestígio, por meio do qual as pessoas se movem em uma sequência ordenada e, na maioria das vezes, previsível (ARTHUR et al, 1999).

Uma nova abordagem foi proposta por teóricos desenvolvimentistas, que focaram a carreira como entidades orgânicas com ciclos de vida em contínuo desenvolvimento, que são modelados por interações complexas entre decisões pessoais e forças externas vindas da família, da sociedade, da economia e das organizações (ARTHUR et al, 1999). Iniciou-se um consenso de que o indivíduo continua a se desenvolver ao longo de sua carreira. Logo, a visão da abordagem vocacional de que o indivíduo poderia ser alocado a uma posição estática foi substituída por um entendimento mais dinâmico da carreira individual (MOORE et al, 2007). Essa última abordagem teve uma influência importante nas teorias modernas de carreira que serão detalhadas posteriormente.

Nos anos 70, Lotte Bailyn, Douglas Hall, Edgar Schein e John Van Maanen produziram três livros seminais da teoria contemporânea de carreira que trouxeram importantes contribuições ao tema, válidas entre as diversas teorias de carreira (ARTHUR, 1994):

a) O conceito de carreira é universal e pode ser aplicado a todas as pessoas em todas as organizações;

b) O tempo é uma dimensão que deve ser considerada como mediadora-chave no relacionamento entre indivíduo e organização;

c) A carreira deve ser analisada com um enfoque multidisciplinar, envolvendo psicologia, sociologia, antropologia, ciências políticas, economia, etc.

d) A carreira deve ser analisada tanto na perspectiva objetiva quanto na subjetiva.

Hall (2004) descreve quatro diferentes significados de carreira. Os dois primeiros estão mais relacionados ao senso comum e são mais conhecidos de forma geral e os dois últimos surgem das ciências sociais:

a) Carreira como avanço: ligada a noção de mobilidade vertical ou crescimento na hierarquia. Nesse sentido, carreira representa a sequência de promoções e outras movimentações ascendentes em uma estrutura hierárquica de trabalho durante a vida de uma pessoa. Existe um conceito de direcionalidade, ou seja, para cima é bom, para baixo é ruim.

b) Carreira como profissão: certas ocupações representam carreiras, enquanto outras não. As ocupações que representam carreiras apresentam geralmente um padrão claro de avanço sistemático em posições correlacionadas.

c) Carreira como uma sequência de trabalhos ao longo da vida: a carreira é a série de posições ocupadas, independente da profissão ou nível, ao longo da vida de trabalho de uma pessoa.

d) Carreira como uma sequência de experiências relativas a funções ao longo da vida – representando a experiência pessoal decorrente da sequência de trabalhos e atividades que constitui a história de trabalho do indivíduo. É a carreira subjetiva, que trata de aspirações, satisfações, autoconceitos e outras atitudes da pessoa em relação a sua vida e trabalho. É possível até mesmo considerar a carreira independente do trabalho de acordo com essa definição, pois ela fala de funções ou papéis vividos não necessariamente de trabalho.

Para construir a definição de carreira proposta no início desse capítulo, Hall (2004) coloca as seguintes premissas:

• Carreira em si não implica em sucesso ou fracasso ou avanços rápidos ou lentos. O objetivo é entender o que acontece durante o processo da carreira de um indivíduo.

• Sucesso ou fracasso de carreira é avaliado pelo autor da carreira ao invés de terceiros. Cada um é responsável pelas suas próprias escolhas. A escolha pessoal é um elemento chave no desenvolvimento de carreira.

• Carreira é composta por comportamentos e atitudes. Tanto a visão objetiva (escolhas observáveis) quando a visão subjetiva (mudanças em valores, atitudes e motivações) devem ser consideradas para um amplo entendimento da carreira de um indivíduo.

• A carreira é um processo – uma sequência de experiências relacionadas ao trabalho. O conceito de carreira como profissão ou como avanço são muito limitantes e o conceito de carreira como vida é muito amplo. O foco é no trabalho e cenário organizacional, mas o trabalho não precisa ser remunerado e formal. Essa definição fica no meio do caminho entre o conceito de carreira como sequência de trabalhos e o conceito de carreira como sequência de experiências de vida.

No documento Perfis de carreira da geração Y (páginas 31-34)