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Conceito de geração

No documento Perfis de carreira da geração Y (páginas 60-63)

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.2 Geração

3.2.1 Conceito de geração

Pesquisas em diversas áreas das ciências sociais apontam a importância das questões geracionais. Observando o debate sobre o desenvolvimento de uma cultura global dos jovens socializados e influenciados pelas mesmas mídias sociais, programas de televisão, filmes e músicas, surge a questão se os jovens que estão ingressando no mercado de trabalho diferem sistematicamente e globalmente das gerações de seus pais (BRISCOE et al, 2012).

O conceito de geração tem sido um tema relevante nas ciências humanas e sociais. Ele exerce uma função de identidade, na medida em que posiciona o indivíduo dentro de um tempo social e coloca a sua própria história em uma história mais ampla. Apesar de sua relevância, ele ainda não teve uma atualização de suas bases teóricas e metodológicas (FEIXA; LECCARDI, 2010; EDMUNDS; TURNER, 2005).

Observa-se um interesse crescente no tema devido a mudanças demográficas, econômicas e culturais, tais como, o envelhecimento da população, a pressão sobre a previdência e os sistemas de saúde nacionais e o maior risco de conflito geracional decorrente de escassez de recursos, de empregos e das mudanças das políticas atuais (EDMUNDS; TURNER, 2005).

Em termos sociológicos, o conceito de geração foi inicialmente delimitado por Auguste Comte no século XIX. O quadro 3 resume as definições dos autores seminais sobre o assunto.

Quadro 3 - Definições de geração

Autor Definição de Geração

Auguste Comte

(1798-1857) Geração medida pelo tempo linear de 30 anos. O progresso é identificado com as novas gerações. Wilhelm Dilthey

(1833-1911) Gerações são definidas em termos de contemporaneidade e consistem em um conjunto de pessoas sujeitas ao mesmo conjunto de experiências e influências históricas comuns em seus anos de maleabilidade máxima.

Autor Definição de Geração

José Ortega Y Gasset (1883- 1955)

As pessoas nascidas em um mesmo tempo partilham da mesma "sensibilidade vital" que se opõe às gerações anteriores e mais recentes e que define sua "missão histórica". Cada geração acontece em um intervalo de 15 anos.

Karl Mannheim

(1893-1947) A geração é parte do processo histórico que jovens da mesma idade-classe de fato compartilham. A data de nascimento é potencial para isso, mas não define a geração. Existem dois elementos centrais para a constituição de uma geração: presença de eventos que quebram a continuidade histórica e a vivência desse momento por membros de um grupo etário durante seu processo de socialização (adolescência e início da idade adulta), predispondo-os a certos modos de pensar e experiências.

Fonte: adaptado de FEIXA; LECCARDI, 2010; MANNHEIM, 1993

É possível notar no quadro 3, diferenças entre os autores no que se refere à definição de um tempo preciso para posicionar diferentes gerações. Comte e Ortega y Gasset definem tempos lineares de 30 e 15 anos respectivamente. Já Dilthey e Mannheim têm uma visão qualitativa do assunto, observando a internalização do momento e fatos históricos vividos em conjunto na fase de socialização de um determinado grupo. Mannheim vai além de Dilthey na medida em que traz mais um elemento, a classe social.

Um elemento comum a maioria dos conceitos é a vivência de experiências e de um momento histórico em comum na fase de formação de identidade e de socialização.

Para a presente dissertação será utilizado o conceito de Mannheim (1993) conforme descrito no quadro 3, pois é indicado pela literatura como o conceito mais influente atualmente (FEIXA; LECCARDI, 2010; PARRY; URWIN, 2010, WELLER, 2010; DENCKER et al, 2007; EDMUNDS; TURNER, 2005).

O que caracteriza uma posição comum dos nascidos em um mesmo tempo cronológico é a potencialidade de presenciar os mesmos acontecimentos, de vivenciar experiências semelhantes, mas, sobretudo, de processar esses acontecimentos ou experiências de forma semelhante.

A globalização e os meios modernos de comunicação, principalmente, a internet, ampliaram as possibilidades de participação de jovens de diferentes países em um conjunto de acontecimentos e experiências semelhantes colocando-os em uma mesma posição geracional (TAPSCOTT, 2010; EDMUNDS; TURNER, 2005).

O conceito de geração de Mannheim rompe com a ideia de uma unidade de geração concreta e coesa e instiga a centrar as análises nas intenções observadas através de ações e expressões de determinados grupos, ao invés de buscar caracterizar suas especificidades. Perguntar-se pelos motivos das ações desses atores coletivos envolvidos em um processo de constituição de gerações, implica ainda em uma análise da conjuntura histórica, política e social a partir de uma perspectiva que pode se situar no nível macro, bem como do conhecimento adquirido pelos atores nos espaços sociais de experiências em conjunto, e que se pode denominar como sendo uma análise no campo micro (WELLER, 2010).

Dencker et al (2007) descrevem que as experiências comuns de pessoas de idades semelhantes atuam como lentes que proporcionam um determinado foco através das quais os eventos são interpretados. Segundo os autores, o foco da lente difere entre gerações provendo diferentes respostas em suas interações atuais.

Sociólogos modernos seguidores de Mannheim abriram o foco de eventos históricos para examinar elementos culturais como música, estrelas de cinema, moda, esporte, lazer, tecnologia e outros tipos de cultura popular (PARRY; URWIN, 2010).

Diversos autores utilizam o termo coorte como equivalente ao termo Geração. A diferença entre esses dois conceitos reside em seu ponto de origem e término. Para definição de uma coorte inicia-se pela determinação de uma faixa etária e depois se analisa a diferença entre essa faixa e as demais, encontrando diferenças em relação a valores, atitudes e comportamento entre indivíduos dos diversos grupos. A definição de uma geração inicia-se pela análise de eventos históricos, políticos ou sociais que geram um impacto em valores, atitudes e comportamentos das pessoas que viveram esses momentos em sua fase de socialização e posteriormente as datas de nascimento potenciais são definidas (PARRY; URWIN, 2010; DENCKER et al, 2007).

Nesse sentido destaca-se o estudo conduzido por Schuman e Scott (1989) nos Estados Unidos. Os pesquisadores pediram a uma amostra nacional representativa de indivíduos para relembrarem de eventos históricos críticos importantes para eles e então explicar o motivo da escolha desses eventos. Além disso, foram conduzidas entrevistas desenhadas para estimular reações dos respondentes a respeito de fatos históricos. Através desse estudo, concluiu-se que diferentes gerações se lembram de diferentes eventos e que seus anos formativos tem um

papel chave nas memórias coletivas, conforme teoria de Mannheim, confirmando empiricamente sua definição de geração.

Diferenças regionais e atributos pessoais, tais como idade, educação, gênero e raça também têm um papel importante nas memórias coletivas, trazendo diferenças entre os grupos geracionais (DENCKER et al, 2008).

Efeitos de idade ou maturidade, ou seja, resultantes da faixa etária e amadurecimento do indivíduo, e efeitos do período, ou seja, os impactos do ambiente, devem ser considerados nos estudos de gerações. Existe uma dificuldade metodológica em separar o efeito da idade, os efeitos do período e os efeitos geracionais em uma análise (DENCKER et al, 2007). Para minimizar essa dificuldade, Parry e Urwin (2010) recomendam estudos longitudinais para determinação de efeitos geracionais.

Entretanto, a literatura sobre o assunto vai ao sentido inverso, apresentando diversas pesquisas quantitativas e qualitativas transversais para determinação de valores, expectativas e perfil das diferentes gerações. Como consequência, alguns estudos encontram diferenças entre gerações e outros não, além de divergirem quanto às datas de início e características das gerações (PARRY; URWIN, 2010).

No documento Perfis de carreira da geração Y (páginas 60-63)