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Valéria Trezza

QUESTÃO 5: Conceito de instituição de educação

para fins de imunidade tributária

PROCESSOS: AI 481.586 AgR, RE 862.852 AgR,

RE 378.666 AgR

Apesar de prever a imunidade a impostos das “instituições de educação” sem fins lucrativos, a Constituição Federal não define clara- mente quem seriam essas instituições de educação. Também não o faz a legislação infraconstitucional. Pode-se dizer que existem apenas pis- tas do que seria “educação” na legislação brasileira, e não um conceito claramente delineado.

O AI 481.586 AgR discute o direito da Fundação Arthur Ber- nardes, fundação de apoio à Universidade Federal de Viçosa, à imuni- dade ao IPVA. O estado de Minas Gerais sustentou que o “texto cons- titucional outorga a imunidade sobre impostos apenas às instituições de ensino e não a fundações ligadas a estas instituições”. Alegou, então, que a Fundação Arthur Bernardes não seria uma instituição educacio- nal, mas apenas uma entidade ligada à Universidade.

A discussão sobre o conceito de instituição de educação para fins de imunidade é muito relevante para as OSCs. Isso porque muitas instituições – como escolas de idiomas, institutos de pesquisa, socie- dades científicas, fundos de bolsa e as próprias fundações de apoio uni- versitárias – não atuam diretamente com ensino formal, mas de forma complementar ou auxiliar a este. A pergunta central aqui é: não seriam elas instituições de educação?

Infelizmente, a decisão não entra no mérito relativo ao enqua- dramento da fundação de apoio como instituição educacional, nem discute quais entidades estariam enquadradas no dispositivo constitu- cional. Apesar disso, negou provimento ao recurso, confirmando o di- reito da Fundação à imunidade ao IPVA, o que indica, ainda que impli- citamente, que a enquadrou no conceito de “instituição de educação”.

A Constituição Federal, no art. 205, dispõe que a educação é “direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e in- centivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvol- vimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qua- lificação para o trabalho”. (Grifo nosso). Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (Lei nº 9.394/1996) prevê, em seu art. 1º, que a educação

“abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes- quisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. (Grifo nosso)

É possível depreender do art. 205 que qualquer atividade que promova o desenvolvimento da pessoa é educacional, devendo o termo ser considerado em seu sentido amplo. Dessa forma, pensando novamente na questão tributária acima aludida, não seriam apenas as instituições de ensino as beneficiadas pela imunidade. Esse entendimento é defendido, entre outros, por Eduardo Pannunzio,22 ao argumentar que “o termo ‘ins-

tituições de educação’, para fins da imunidade a impostos, denota um con- ceito amplo que envolve qualquer instituição sem fins lucrativos cujas atividades contribuam para o ‘pleno desenvolvimento da pessoa, seu pre- paro para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho’”. E que compreenderia “tanto instituições de ensino quanto instituições que desenvolvam atividades correlatas, complementares ou suplementares à educação formal”. (Grifos nossos)

Pannunzio assevera ainda que “[d]iante do silêncio da lei, essa questão acabou sendo resolvida pelos nossos tribunais, que constru- íram ao longo do tempo uma significativa jurisprudência a respeito”, concluindo que, nessa jurisprudência,

(...) prevalecem decisões que encampam o conceito amplo

de instituição de educação, reconhecendo-se a imunidade

de organizações tão diversas quanto centros de formação e treinamento, escolas de idiomas, fundações de apoio univer- sitárias, institutos de pesquisa ou sociedades científicas – ne- nhuma delas voltada ao ensino curricular propriamente dito. (Grifo nosso)

Ou seja, para o Supremo Tribunal Federal, o fato de a instituição se dedicar “à educação por meio de atividades outras que não a educação formal ou escolar não constitui, na jurisprudência tradicional da Corte, entrave à imunidade a impostos consagrada no art. 150, VI, ‘c’, da Cons- tituição. Esse aspecto não chega, nem mesmo, a ser problematizado”.23

Como exceção a esse entendimento, Pannunzio cita a decisão proferida, em 2015, pela 2ª Turma do tribunal, no RE 862.852 AgR.

Nesse acórdão, o relator, ministro Dias Toffoli, ressalta que “a imunidade prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição deve constituir ins- trumento de fomento à atividade de ensino desenvolvida pela iniciativa privada, desde que essa a realize em conformidade com os princípios e normas constitucionais” relativos ao tema. (Grifo nosso). De acordo com esse entendimento, a imunidade seria restrita às instituições de ensino que estejam devidamente autorizadas a funcionar. Como precedente, é citado o RE 378.666 AgR, de relatoria do ministro Ricardo Lewandowski.

Ainda segundo o entendimento de Pannunzio, a decisão profe- rida no RE 862.852 AgR é equivocada e não pode ser considerada como paradigmática de um novo entendimento institucional do STF. Para o autor, “as condições impostas pelo texto constitucional em seu art. 209 (cumprimento das normas gerais da educação nacional, e autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público) aplicam-se apenas às institui- ções de ‘ensino’, como indica o próprio caput do dispositivo, e não às que se dedicam à educação de outras formas”. Além disso, a decisão proferida no RE 378.666/DF AgR, citada pelo ministro Dias Toffoli, considera que as instituições de educação, quando de ensino, somente gozam de imuni- dade quando devidamente autorizadas a funcionar. Não diz, no entanto, que apenas instituições de ensino fazem jus ao benefício.

No resultado da busca realizada no presente estudo não surgi- ram outras decisões que abordem a questão do conceito de instituição de educação, seja de forma direta seja de forma indireta. Trata-se, no entanto, de um tema relevante que pode ser objeto de estudos futuros.