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Arrecadação do ITCMD no Brasil

TABELA 4 SIMULAÇÃO: ALÍQUOTA NECESSÁRIA SOBRE HERANÇAS PARA COMPENSAR ISENÇÃO A DOAÇÕES PARA PESSOAS JURÍDICAS

3.5. É POSSÍVEL ESTIMAR VALORES QUE DEIXAM DE SER ARRECADADOS (EVASÃO)?

Para que uma estimativa dessa natureza seja desenvolvida, é preciso que se disponha de bases de dados que contenham informações específicas sobre os valores de doações realizadas a OSCs, bem como sobre os estados de origem e de destino das operações – trata-se de in- formações necessárias para que se possam apurar os montantes even- tualmente evadidos. A pesquisa não localizou, porém, nenhuma base de dados com essas características.

Entre as principais pesquisas setoriais disponíveis, e por tal con- dição, possíveis fontes para essas informações, estão o Censo GIFE 2016, a pesquisa BISC/Comunitas e a Pesquisa Doação Brasil, do Idis, anteriormente referidas. Quanto às duas primeiras, observa-se a tentativa de mapear infor- mações sobre transferências de recursos a OSCs feitas por empresas (no caso do BISC) e fundações, institutos e empresas (no caso do GIFE).

Essas fontes, todavia, apresentam duas principais limitações: primeiro, não há distinção entre as formas de repasse de recursos a OSCs, e, em razão disso, os valores correspondentes a doações e a pa- gamentos por serviços prestados não são segregados. Como resultado, não se pode saber o que precisamente corresponde a valores doados; em segundo lugar, não se pode identificar origem e destino das doa- ções com clareza. Essa limitação é crítica, por várias razões: (i) porque as alíquotas incidentes nessas operações não são uniformes entre os estados; (ii) porque há especificidades nas hipóteses de isenção; e (iii) porque as obrigações de recolhimento são também variáveis entre os estados quando o doador não reside no mesmo estado do donatário.

A pesquisa realizada pelo Idis, por seu turno, reúne informa- ções que permitem compreender com considerável profundidade o perfil dos doadores brasileiros, assim como suas motivações para doar. Con- tudo, não oferece dados (e nem pretendeu fazê-lo) sobre o volume global de doações, sua composição por tipo de destinatário e sua distribuição geográfica, recaindo, assim, nas mesmas limitações apontadas acima.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferentemente do que ocorre com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal fonte de receitas tributá- rias dos estados brasileiros, observa-se, em relação ao ITCMD, um qua- dro de baixa disponibilidade de dados públicos abertos, circunstância que impede a compreensão do “perfil” da arrecadação a ele associado – com o que nos referimos, por exemplo, aos pesos relativos de heranças e doações, assim como à participação de pessoas físicas e jurídicas na arrecadação derivada de doações.

Embora não se possa afirmar de forma cabal, a reduzida preocupação em, ativamente, dar transparência a essas informações parece espelhar o fato de que a participação do ITCMD nas receitas estaduais é, de modo geral, pouco relevante – totalizando apenas 1% das receitas tributárias, em média –, o que talvez explique o não pro- cessamento e a não veiculação pública de dados detalhados em bases rotineiras.

Apesar disso, a pesquisa feita sobre os procedimentos de reco- lhimento adotados pelos diversos estados da federação e pelo Distrito Federal revelou que na grande maioria dos casos há sistemas estrutu- rados, parte deles eletrônicos, para capturar informações que, se dis- poníveis, permitiriam melhor compreender o perfil da arrecadação do ITCMD. É verdade que ainda não se vislumbrou uma solução definitiva para o desafio último da pesquisa, que é determinar de modo preciso o valor arrecadado especificamente com doações a OSCs.

Ainda assim, a possibilidade de decompor a arrecadação do ITCMD entre heranças e doações e, para esse último componente, entre doações a pessoas físicas e jurídicas, afigurou-se alcançável, dadas as características daqueles sistemas, como se procurou demonstrar neste capítulo. Com base nessa constatação, o estudo solicitou a todos os es- tados brasileiros e ao Distrito Federal com o auxílio da LAI dados que pudessem responder às questões inicialmente propostas.

Não se pode dizer que o volume das informações fornecidas, e mesmo a sua qualidade em alguns casos, tenha sido satisfatório, o que revela ainda a necessidade de fortalecer o instituto da LAI, bem como, ao que tudo indica, a capacidade de processamento de dados públicos pelas Secretarias da Fazenda estaduais.

Contudo, apesar da exiguidade das informações oferecidas, algumas conclusões relevantes podem ser extraídas dos dados obtidos pela pesquisa até o presente momento. Duas delas merecem destaque.

Em primeiro lugar, foi possível confirmar que é ínfimo o valor do ITCMD arrecadado com doações a pessoas jurídicas, grupo que in- clui as OSCs. Como mostrado acima, nos dez estados para os quais se pôde obter essa informação, a contribuição para a composição do valor arrecadado com esse tributo situa-se entre 0,2% e 3,4%.

Um corolário dessa constatação é o de que, se todas as doa- ções a pessoas jurídicas fossem isentas do recolhimento do ITCMD, uma eventual recomposição da receita renunciada requereria ajustes inferiores a 0,09 pontos percentuais na alíquota hoje incidente sobre operações de transmissão causa mortis nas simulações feitas com três estados.

Uma segunda conclusão refere-se ao valor da renúncia fiscal hoje já praticado pelos estados e pelo Distrito Federal em operações que envolvem doações a OSC. Muito embora aqui também tenham sido veri- ficadas dificuldades para a obtenção de informações, o que se pôde cons- tatar com base nos dados fornecidos por dois estados é que, atualmente, a renúncia fiscal envolvendo todas as hipóteses de isenção e não incidên- cia não atinge 0,25% da atual arrecadação com o ITCMD.

Diante disso, pode-se supor, desde já, que a ampliação das hi- póteses de imunidade e isenção que venham a alcançar um conjunto mais amplo de doações a OSC (em face do que ocorre hoje) não produ- zirá efeitos fiscais relevantes.