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Parte I Enquadramento normativo, concetual e teórico

4. Quadro concetual

4.8 Participação

4.8.1 Conceito de participação

A participação deve ser vista como essência do processo democrático. Nos últimos anos, muito se tem falado sobre a relevância dessa participação. Expressões como gestão compartilhada (caracterizada pela tomada de decisão conjunta à medida em que todos contribuem para um mesmo objetivo comum); administração participativa (consiste no envolvimento de todos na tomada de decisão), democratização da gestão pública (poder de todos na gestão dos bens públicos) vêm fazendo parte da agenda da direção de instituições públicas orientadas pelas políticas multissectoriais.

A palavra participação pode remeter a ideia de partilha, colaboração, envolvendo as massas populares. Assim, a participação pode ser entendida como sendo uma ação em que a maioria dos cidadãos influenciam em decisões de ordem politica, social e económica. Na opinião de Paro (1996) o termo participação pode ser entendido a partir de diversas perspetivas, pois este termo é marcado por fatores como a inserção de sectores da população excluída dos benefícios sociais, os processos de modernidade, a democratização e a transformação dos estados. A participação é vista como sendo um elemento básico para a democratização uma vez que se procura gerar um conjunto de práticas sociais que

produzam o efeito de “ampliar a capacidade de influência sobre o processo de tomada de decisões em todos os níveis da actualidade social e das instituições” (p.17).

Observa-se aqui a ideia de fortalecimento da sociedade civil através de formas organizativas e participativas que permitem que as comunidades se tornem gestoras dos processos de decisão, a nível do ambiente escolar. Nesse contexto, a participação pode ser assumida como uma forma de intervenção social que permite que os indivíduos se reconheçam como atores ao partilhar uma determinada situação.

A participação vai mostrar que os componentes têm a oportunidade de se identificarem a partir de interesses, expectativas e demandas comuns e que têm a capacidade de traduzi-las em formas de ação coletiva com uma certa autonomia diante de outros atores sociais e políticos. Afinal, a própria ideia de participação popular surge, justamente para distinguir de uma outra conceção da sociedade, onde quem tem estudo e recursos define a questão de desenvolvimento das comunidades locais.

Para Afonso (1995) entende que a participação acontece quando há acesso efetivo dos envolvidos no planeamento das ações, na execução das atividades e em seu acompanhamento e avaliação.

No contexto social, a participação é um instrumento importante no sentido de promover a articulação entre os atores de diferentes níveis, fortalecendo a coesão da relação Estado- Governo e Sociedade Civil. Isso vai possibilitar a melhoria da qualidade das decisões sobre a sociedade, tornando mais fácil alcançar objetivos de interesse comum.

Nessa ordem de análise, isto ocorre realçar que existem duas bases complementares da participação: uma base afetiva, quando as pessoas têm prazer de participar com outras e, automaticamente fazem-no de livre e espontânea vontade e, a chamada instrumental, que permite que uma pessoa realize atividades com outras pessoas (cooperação) tornando o processo mais eficiente e eficaz do que se ela optasse por fazê-lo sozinha (Amâncio, s.d). Convém referenciar que o termo participação envolve âmbito conceptual ambíguo por ter diferentes interpretações nas suas várias abordagens. A participação pode ser considerada

como tomar parte em, que corresponde ao modelo de baixo para cima (botton-up), que cria espaços participativos de base que permitem a tomada de decisões, a gestão e administração de recursos e decisões de tal modo que a participação facilite o envolvimento da comunidade com o seu próprio progresso e desenvolvimento. Este modelo entende a participação como um elemento de transformação onde todos têm um papel protagonista de modo que possibilite um desenvolvimento participativo da população (Bandeira, 1996). A visão de participação é fundamentalmente a que parte de baixo para cima (botton-up), que facilita a participação da comunidade à medida que todos são protagonistas e agentes de transformação.

Assim, a participação é um instrumento fundamental no sentido de promover a articulação entre os atores sociais, fortalecendo a coesão da comunidade e melhorando a qualidade das decisões, tornando mais fácil atingir objetivos comuns (Bandeira, 1999). Portanto, a participação é um processo pelo qual as pessoas/comunidade se envolvem mobilizando suas próprias forças criativas e decidem gerir suas próprias ações.

A

participação é o processo de atender aos actores em presença, aos conteúdos em discussão e às suas relações com o contexto sistémico em que se inserem. Por isso, o principal objectivo é envolver a população a nível local e aumentar a capacidade de ela mesma actuar localmente (Guerra, 2006; p.8).

Segundo Marques (1981), a participação de todos nos diferentes níveis de decisão e nas sucessivas fases de atividades é essencial para assegurar o eficiente desempenho da organização. A flexibilidade de pessoas e da própria organização permite uma abordagem aberta, facilitando a aceitação da realidade e permitindo constantes reformulações que levem ao crescimento pessoal e grupal, em que a dignidade do grupo e de cada um se faz pelo respeito mútuo. Na mesma linha de pensamento, Sousa (2007) assume a participação como um processo que se carateriza por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influencia da determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados.

Em suma, a conceptualização do termo participação é multidimensional, por isso não há uma definição em que se pode concordar em detrimento da outra, uma vez que cada uma

delas tem em si a essência do conceito, o envolvimento dos atores. A participação pode conduzir ao aumento da motivação, ao desenvolvimento das pessoas envolvidas. Contudo, participar não deve ser interpretado necessariamente, como tomada de decisões coletivamente.

Na perspetiva educacional, a participação assume um papel social de grande relevo para o sucesso dos programas, dai a necessidade de situar algumas definições de participação social. Para Valla et al (1993) a participação social compreende as múltiplas ações que diferentes forças sociais desenvolvem para influenciar a formulação, a execução, a fiscalização e a avaliação das políticas públicas e ou serviços básicos na área social, como é o caso da saúde, educação, habitação, transporte e saneamento.

Portanto, de um modo geral, a participação é compreendida como sendo a intervenção direta ou indireta de diferentes atores na definição de metas, ações de uma coletividade e dos meios para alcançá-las. É um processo social que gera a interação ou relacionamento de diferentes atores individuais ou coletivos na definição do seu destino coletivo. Para Gonzalez (1995) essa interação envolve relações de poder que se apresentam em todos os espaços onde as relações humanas se desdobram e que têm uma incidência maior ou menor segundo os interesses, as valorizações e as perceções dos envolvidos na interação. É preciso notar que estas expressões de poder geram tensões e conflitos que podem ter efeito positivo ou negativo nos processos de participação.