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Parte II Design Metodológico e instrumentos de coleta de dados

9. Objeto e natureza de estudo

O objeto de estudo é a descrição e análise da organização e funcionamento do conselho de escola primária completa de Beleza.

Para Silva (2007) o método científico é uma forma de organizar e proceder a investigação científica de modo a obter resultados desejados que vão ao encontro dos objetivos definidos. Silva e Menezes (2001) definem a metodologia como sendo um conjunto de fases ordenadas que o pesquisador deve seguir quando investiga um determinado fenómeno. Essas fases incluem a identificação do tema, planeamento da investigação, desenvolvimento metodológico, coleta, tabulação e análise de dados, elaboração do relatório final e apresentação do mesmo.

Este estudo é de natureza qualitativa. A pesquisa qualitativa permite novas compreensões sobre a realidade e a possibilidade de transformar ações na escola com vista a formar alunos mais ativos e interativos com capacidades para transformar a comunidade em que vivem e o país em geral. Como qualquer atividade humana e social, a pesquisa qualitativa em educação considera a visão de mundo que orienta o educador, influenciando os pressupostos que norteiam seu pensamento e a abordagem da pesquisa. O contexto educacional está situado numa esfera social e numa realidade histórica e dinâmica. Um dos grandes desafios da pesquisa educacional é, portanto, tentar captar a realidade dinâmica e complexa (Ludkle, 1986). Ainda estes autores apresentam as características básicas que norteiam uma pesquisa qualitativa, a saber:

a. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de obtenção de dados e o pesquisador é o principal instrumento que presencia o maior número de situações do dia-a-dia escolar;

b. Os dados obtidos são apresentados em forma de palavras ou imagens; c. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto;

d. O significado que as pessoas atribuem as coisas e a sua vida são focos de atenção do pesquisador;

e. A análise de dados tende a seguir um processo mais indutivo. As abstrações se consolidam a partir dos dados obtidos.

Na mesma perspetiva sobre os métodos qualitativos, Almeida e Freire (2008) apresentam três princípios que reforçam a pertinência e a necessidade de uma postura interpretativa dos comportamentos e dos fenómenos sociais, nomeadamente, a primazia da experiencia objetiva como fonte de conhecimento; o estudo de fenómenos a partir da perspetiva do outro ou respeitando os seus marcos de referencia e; o interesse em se conhecer a forma como as pessoas experimentam e interpretam o mundo social.

Torna claro e evidente que numa pesquisa o uso de várias técnicas de coleta de dados, visa tornar a investigação mais realística e verídica, uma vez que cada técnica possui as suas limitações e pontos fortes.

Estudo de Caso20

Em relação ao aspeto metodológico da pesquisa, opta-se por uma investigação que priorize a forma qualitativa de análise, buscando aprofundar para compreender a questão da participação, tendo como foco principal o estudo do Conselho de Escola. O estudo de caso constitui o método central desta investigação. Segundo André (1984) “caso” seria algo fechado, único que representa singularmente uma realidade que é multidimensional. Os argumentos que justificam a opção pelo estudo de caso são:

a. O conselho da escola é um órgão que possui competências complexas e pretende-se neste estudo aprofundar a compreensão do seu papel;

b. A natureza aberta de coleta de dados permite efetuar uma análise mais informada sobre os processos referentes ao funcionamento deste órgão e as suas relações; c. Existência de um único pesquisador e a necessidade de estudar o papel do conselho

da escola de forma mais aprofundada e detalhada, tendo em conta a limitante tempo;

d. O objetivo geral desta tese que consiste em analisar e descrever o papel do conselho da escola.

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Hébert (2010) chama atenção para a necessidade de não confundir o estudo de caso aplicado no estudo científico com outros estudos de casos, nomeadamente, aplicado nas ciências de administração, por exemplo, que permitem aos estudantes compreenderem o funcionamento de uma organização, neste caso é uma estratégia de aprendizagem. Também existe estudo de caso na área de medicina que visa compreender as principais características do paciente para elaborar um diagnóstico.

O estudo de caso privilegia a observação da realidade, entrevistas, fotografias, análise de documentos e anotações de campo para obter os dados.

Quanto ao tipo, o estudo de caso pode ser único e descritivo. O estudo de caso descritivo caracteriza-se pelo seu carácter holístico e interpretativo constante a medida que vão sendo colhidos os dados. O estudo de caso é holístico porque concentra-se no todo como forma de compreender o objeto em estudo na sua globalidade (Meirinhos, 2010; Yin, 2002; Gil, 2007). No entanto, o mesmo autor comenta que há estudos de caso que não são holísticos. A definição se um estudo de caso é ou não holístico depende da forma como o projeto de investigação é apresentado.

Aliás, há vários tipos de estudos de caso, nomeadamente, exploratórios únicos, descritivos únicos, explanatórios únicos, exploratórios múltiplos, descritivos múltiplos e explanatórios múltiplos (Yin, 1993, cit. In EDUSER, 2010). Porém, da combinação dos tipos de estudos de caso, obtêm -se as quatro formas básicas de projetos para estudos de caso, a saber: holístico de caso único, incorporado de caso único, holístico de casos múltiplos e incorporado de casos múltiplos.

Portanto, opta-se por um estudo holístico de caso único pois, pretende-se apenas compreender o Papel do Conselho da Escola Primária Completa de Beleza porque algumas pesquisas feitas nessa área como de Villela (1997) e Armando (2006) usaram o estudo de caso múltiplo revelaram que era necessário estudar um caso único para melhor aprofundar as suas dimensões. Aliás, os estudos de caso realizados na área de conselho de escola, como por exemplo Camarão (2006) revelaram não ter aprofundado todos os aspetos analisados. Assim, pretende-se aprofundar todos os aspetos relacionados com a escola Primária Completa de Beleza.

Para Nico et. al. (2006, p.3) o estudo de caso possui três características básicas, a saber: a. Os dados podem ser obtidos através do uso de várias técnicas como a

b. Para organizar e interpretar os dados usam-se, como procedimentos, a redução e identificação de conceitos que permitem a elaboração de categorias que estes procedimentos se relacionam com algumas declarações colhidas;

c. As informações podem ser escritas ou verbais.

No entender de Yin (2002) existem três características de um estudo de caso, nomeadamente, totalidade (reflete os elementos que compõem o caso único); particularidade (apresentam uma imagem vivida e única do objeto); realidade (não só informam), mas também participam em todas as situações que fazem parte do caso, como por exemplo, conflitos; participação (os participantes constrõem a realidade que se estuda); negociação (negoceia-se desde o uso da informação fornecida e os papéis durante a pesquisa); confidencialidade (a recolha de dados pode afetar a vida dos entrevistados, dai que o investigador deve garantir que não haverá prejuízo de nenhum participante); acessibilidade (a informação derivada do caso é acessível).

Porém, Hérbet (2010) caracteriza o estudo de caso como sendo o mais real, o mais aberto e o menos controlado pelo investigador. Igualmente, reúne informações tão pormenorizadas sobre um determinado assunto ou situação, facilitando assim a sua descrição e compreensão. Portanto, a investigação permitiu perceber que o estudo de caso carateriza-se pela obtenção de dados pormenorizados da realidade através de técnicas cientificamente aceites e a sistematização desses dados é tão rigorosa como qualquer estudo científico.

Contudo, há vários preconceitos: (i) falta de rigor científico; (ii) precisam de muito tempo para o estudo; (iii) os dados que apresenta são pouco consistentes e fatos inerentes a um estudo de caso, por exemplo (vi) dificuldade de generalizações (Gil, 2007). Estes preconceitos e fatos não passam de simples afirmações, pois um estudo de caso bem feito pode dar um grande contributo para as ciências. Aliás, nos últimos tempos há uma tendência de aumentar o número de estudos de caso que visam a compreensão de um determinado fenómeno, quer na Educação quer noutras áreas relevantes.

Portanto, a escolha do estudo de caso deveu-se ao fato de possibilitar a obtenção de dados reais, num ambiente aberto. Basicamente, o estudo de caso carateriza-se por: (i) estudo em profundidade de uma situação problema; (ii) recurso a uma diversidade de métodos,

instrumentos de coleta de dados e; (iii) triangulação de sujeitos, métodos, instrumentos e fontes; (iv) busca das singularidades e especificidades e compreensão da sua lógica de ação.

Nesse estudo, recorreu-se a triangulação de informantes (professores, alunos, diretor, pais e encarregados de educação e presidente do conselho de escola), de forma a eliminar qualquer subjetividade. Valorizou-se o pensamento de cada representante, através de entrevistas individuais. Na mesma senda, foram triangulados os instrumentos de coleta de dados (entrevista semiestruturada, observação, grupo de focagem e pesquisa documental). Como forma de garantir o aprofundamento da análise e descrição do papel do conselho da escola, recorreu-se ao estudo de caso.