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Papel do conselho de escola segundo os vários segmentos que

Parte III. O Conselho de Escola Primária Completa de Beleza

19. Papel do conselho de escola segundo os vários segmentos que

Neste ponto pretendíamos ouvir todos representantes que compõem o órgão por meio de entrevistas em grupos de focagem, mas apenas conseguimos entrevistar três grupos de representantes e achamos que tínhamos dados suficientes porque obtivemos dados sobre todas questões elaboradas previamente ou não, e também durante a entrevista começou a haver muita repetição dos dados. Assim, realizamos um total de três entrevistas, com os seguintes representantes: representantes dos professores, representantes dos alunos e com representantes dos pais e encarregados da educação que se juntaram com representantes da comunidade.

Papel do conselho da escola na perceção de representantes de professores

GRP afirmou que o papel do conselho de escola é fraco porque

O nosso conselho de escola funciona mais no momento da disponibilização do dinheiro de apoio direto à escola pela direção distrital da educação. Aqui conseguimos ver o presidente preocupado em adquirir material escolar para crianças desfavorecidas. Do contrário não vemos. Mesmo nós professores que fazemos parte do conselho quase que nada fazemos para o bem do órgão. Tudo que acontece aqui é graças a direção. Nós até nos perguntamos para que serve este órgão? Não se faz sentir o seu papel. Não tem iniciativa muito menos se conhecem os seus membros efetivos.

Ainda o GRP explicou do porque nada fazem para o bem do órgão nos seguintes termos Hoje a coisa está complicada, se um professor fizer alguma crítica construtiva ao órgão, então no dia seguinte será solicitado no gabinete do chefe para justificar. Sabe nós mesmo com ideias muito boas preferimos calar para evitar represálias. Há exemplos de professores que foram transferidos para Mitúcue, a cerca de 30 km, só porque reclamaram seus direitos.

Ainda o GRP acrescentou que

O CE não pede explicações a direção da escola sobre o valor disponibilizado para o funcionamento normal da escola, mas sim o de ADE. Nós não temos muito poder para pedir explicações a direção. Mas quando se trata do valor de ADE e da contribuição dos pais ai sim pedimos contas. Neste ano, sugerimos a alteração do calendário escolar: os alunos da primeira classe e da segunda classe passaram a

estudar às 10 horas e os da terceira classe que são pouco crescidos passaram a estudar às 7 horas porque nos meses de frio as crianças passavam muito mal.

Há duas hipóteses explicativas dessas posições: (i) o fato do diretor ser nomeado pelo Diretor Provincial de Educação e Cultura na base da proposta do diretor distrital de Educação, Juventude e Tecnologia, sem uma base de critérios claros, sugere que os nomeados são amigos, familiares e até aliados políticos; (ii) a fetação, transferência e carga horária dependem da direção da escola. Isso pode influenciar para que os professores se mantenham calados. Porém, julga-se que essas duas hipóteses podem ser a raiz da apatia dos professores.

Para os professores o conselho de escolha tem um papel de apoio a direção da escola. Mas devia fazer mais, por exemplo pedir contas a direção da escola sobre a gestão financeira de todos os fundos da escola, independentemente da sua origem; também deve promover iniciativas que ajudem no desenvolvimento da escola. A sugestão dos professores está mais ligada as competências desse órgão que estão plasmadas no manual do funcionamento do conselho de escola, que o seu cumprimento mostra-se a quem de atingir um nível desejável.

Os professores apresentam duas visões, sendo a primeira referente a apatia deles no órgão e a segunda de que o conselho de escola faz pouco. Estas visões mostram que o professor está consciente do real papel do órgão. A primeira visão pode ser justificada pelo facto de na escola primária completa de Beleza ainda não estão criadas todas as condições de participação. Pode não haver abertura suficiente por parte da direção para receber críticas dos professores; pode ser que o conselho da escola, como órgão, não compreendeu a sua relação com o diretor. E sobre a segunda visão pode ser justificada pela interpretação das competências do órgão que os professores fazem. Rocha (2007) explica que as visões desses professores podem estar a mostrar a pouca articulação entre os vários órgãos da escola, conselho de escola, direção da escola, conselho da direção e Assembleia geral da escola.

Mas, sobretudo, o que dizem os professores é que a liberdade de expressão tem dificuldade em exercer-se, que o órgão está completamente dependente do diretor, que a democracia participativa é muito débil, que o conselho de escola é um órgão sobretudo retórico.

Papel do Conselho de Escola na perceção dos alunos

Para o GRA sobre a sua perceção do papel do conselho de escola, afirmou que: O conselho de escola consegue amparar os alunos que não têm condições para estudar, por exemplo, fornece uniforme, cadernos, canetas e consegue pedir aos pais para contribuírem para pagar ao guarda e realizar uma festa do dia do professor.

Questionado o GRA sobre a proveniência do dinheiro que é usado para adquirir o material, respondeu que há um dinheiro chamado ADE que todos os anos se recebe para resolver as necessidades dos alunos que mais precisam. Mas este ano até agora não foi recebido. Aqueles alunos que dependem desse dinheiro estão a sofrer, não têm uniforme, cadernos e lápis.

Nota-se aqui, por um lado, uma insustentabilidade da medida usada pelo Conselho de Escola para reduzir as carências dos alunos, embora seja uma medida sugerida pelo Ministério da Educação. Por outro lado, pode-se até arriscar dizendo que isto mostra uma fraca coesão dos seus membros e dos que representam, pois, com o não desembolso do dinheiro de ADE, poderiam ter sido encontradas outras saídas para não prejudicar as crianças carenciadas que precisam do mínimo para poder estudar.

O Ministério de Educação de Moçambique determina que o valor de ADE seja utilizado para comprar material escolar para crianças órfãs e vulneráveis. Mas, no entender do pesquisador, não significa que as escolas devem seguir literalmente esta medida. Ou seja, há um espaço em que a escola pode contextualizar a medida, olhando de forma criativa as suas condições tendo em vista o bem-estar dos alunos mais carenciados. O conselho da escola ao seguir literalmente a medida, pode demonstrar vários aspetos, dentre eles: dependência de superiores hierárquicos, inexistência de capacidade ou espaço para contextualização das medidas emanadas centralmente, ou ainda fraca compreensão do seu papel.

Portanto, na perceção do GRA que não sabem o que estão lá a fazer, o CE fornece material escolar aos alunos mais carenciados. Mas esta disponibilização de material fica dependente de fundo de ADE que, por exemplo, em 2012 não foi recebido até ao mês de Agosto; logo é uma atividade que não foi posta em prática. Assim sendo, continua a ser um órgão meramente teórico que nada influencia na prática.

Papel do Conselho de Escola na perceção do 3 representantes de pais e encarregados da educação e 2 membros da comunidade

O GRPC foi unânime em afirmar que o conselho de escola é um órgão muito importante para o funcionamento mais adequado da escola. É muito importante porque a escola não tem o monopólio sobre o aluno. Os pais, os irmãos e demais familiares ensinam o aluno, embora não de forma muito estruturada. Mas a não clareza sobre o dinheiro de ADE, das contribuições dos pais e encarregados da educação faz com que cada membro deixe de se preocupar com este órgão.

O GRPC, exemplificou que

no ano passado quando recebemos o dinheiro de ADE sentámo-nos para planificar o material e as respetivas quantidades a adquirir. Em seguida criamos duas comissões, uma de compra e a outra de receção. Depois da compra e distribuição do material não houve mais informação sobre o decurso do processo. Isto não é bom porque passamos a desconfiar um ao outro. O mesmo aconteceu com a comemoração do dia 12 de Outubro de 2012, onde solicitamos aos pais e encarregados de educação para contribuírem para realização de uma festa simbólica para o nosso professor. Poucos pais contribuíram, mas também ninguém veio explicar quanto dinheiro saiu das contribuições e o que foi comprado.

Portanto, pode-se afirmar que os representantes dos professores, representantes dos pais e encarregados de educação e representantes da comunidades notam que o Conselho de Escola é um órgão que não tem a cultura de prestação de contas, fator que pode retrair a participação dos diferentes membros da comunidade membros. Os representantes dos alunos, embora não falem nas discussões, notam que o Conselho de Escola cria condições básicas para as crianças mais desfavorecidas através de compra de cadernos, canetas e uniforme, sugere o horário de aulas, mas isto não é suficiente tendo em conta as suas atribuições plasmadas no MEC (2008). Ou seja, reclama-se que devia fazer-se muito mais, garantir uma melhor articulação dos vários segmentos, fato que podia influenciar as comunidades a se interessarem pela escola, como acontecia com os grupos dinamizadores na década 80. A prestação de contas deve ser encarrada como uma obrigação e direito ao mesmo tempo. Obrigação para o conselho da escola, pois foi lhe confiada uma tarefa que deve executar com zelo e dedicação. Os segmentos que são representados pelos membros do conselho têm o direito de receber todas as informações detalhadas dos processos

inerentes ao funcionamento da escola. Não se trata de um favor, mas sim de uma obrigação.

Concluindo, pode-se afirmar que os vários representantes percecionam que o papel do conselho de escola limita-se a proporcionar condições básicas para as crianças mais carenciadas, quando há disponibilidade do fundo de ADE e resolvem outros problemas de forma “ad hoc” quando é solicitado pelo diretor da escola. O conselho de escola executa algumas tarefas meramente administrativas. O presidente do CE não toma nenhuma iniciativa; não pede e nem presta contas. Esses fatos, contrariam o que a lei preconiza, pois o Manual de Apoio ao Funcionamento do CE (2008) determina que o CE, dentre as suas obrigações; deve aprovar o Plano Anual da escola e garantir a sua implementação; pronunciar-se sobre a proposta do orçamento; aprovar e garantir a execução de projetos e atendimento psicopedagógico e material dos alunos. Assim, o CE continua a ser um órgão que está apenas plasmado no papel. Essa dicotomia provavelmente esteja enraizada no processo de constituição dos representantes dos vários grupos no CE e na clareza da própria lei. Parece que não há condições para aplicação da lei assim como foi prevista.

20. Relação do diretor da escola com o conselho de escola