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Parte III. O Conselho de Escola Primária Completa de Beleza

26. Poder no conselho de escola

Como forma de perceber o tipo de poder prevalecente no conselho de escola foram analisadas 4 atas e foram realizadas entrevistas semiestruturadas donde se concluiu que o conselho da escola exerce funções consultivas, e em algum momento deliberativas. A lei sobre o Conselho de Escola afirma uma coisa: os alunos elegem seus representantes; os professores elegem seus representantes; pais e encarregados de educação elegem seus representantes. Mas a realidade exprime uma outra coisa: os representantes são indicados. Isso pode ser explicado por vários hipóteses: (i) o diretor da escola pretende apenas satisfazer os seus superiores hierárquicos, passando a mensagem que conseguiu formar o CE. Por via disso, ganhar mais confiança; (ii) o papel da comunidade local é ignorado pelo diretor porque todo o funcionamento da escola é determinado pelas estruturas superiores SDEJT e Ministério de Educação; (iii) a Lei ao ser elaborada centralmente não encontra a sua aplicabilidade prática porque a comunidade educativa não está preparada para encarar um processo igual. Para Costa (1996) seria um funcionamento anárquico na medida em que é suportado por participação fluída, a tomada de decisão sobre indicação dos representantes não é clara, imprevisível e improvisada.

O conselho de escola com a função deliberativa mostra uma abertura legal para a participação dos diferentes atores sociais, enriquecendo assim a apropriação da escola pela comunidade. Contudo, todos os dados empíricos atestam que na escola quem manda é o diretor pois a ele compete-lhe a responsabilidade de gerir a escola, incluindo o conselho da escola. Diante desse pronunciamento julga-se que o diretor da escola não encontra justificação na Lei porque nem Regulamento Geral do Funcionamento do Conselho de Escola e nem no Manual de apoio ao funcionamento do conselho da escola existe uma competência referente a gestão do conselho de escola pelo diretor. Provavelmente, o diretor quis dizer que ele é quem possui competências de gestão e cabe a ele pedir apreciação ao conselho de escola.

Sobre o ponto anterior o diretor da escola afirma ainda que o “conselho de escola cumpre com as orientações da direção e não o contrário”. Sugere ainda que é “preciso considerar o conselho da escola dentro do seu âmbito. O conselho de escola é um órgão criado para apoiar a direção nos seus trabalhos. O conselho de escola não manda, mas cumpre ordens.

O CE ao cumprir ordens da direção está a mostrar a má interpretação da lei que é feita: o diretor pensa de forma errada que pode exercer ordens sobre o conselho; mas também, o conselho de forma errada pensa que pode cumprir ordens. Isso pode acontecer porque não há cultura de leitura e discussão de documentos normativos. Assim, aumentam as possibilidades de interpretação e aplicação erradas. O diretor da escola é um agente executivo e as suas competências são regidas por lei”.

Não foi possível encontrar na Lei moçambicana27 artigo que fala claramente da relação entre conselho de escola e da direção de escola. Embora o MEC (2008), no Manual de Apoio ao Funcionamento do CE afirme que a participação de todos os membros que fazem parte do conselho da escola, contribui para que haja uma boa gestão da escola, um bom desempenho dos professores, um bom aproveitamento pedagógico e uma gestão transparente da direção. A participação deve ser assumida como o alargamento dos direitos que as pessoas possuem.

Um outro aspeto não menos importante é o fato de se ter observado que, no gabinete do diretor da escola, existe uma bandeira do partido no poder (Frelimo) afixada atrás da cadeira. A colocação desta bandeira, do ponto de vista de poder, pode significar um símbolo de poder, mas também pode significar uma obediência “cega” as diretrizes emanadas por aquela filiação. Do ponto de vista de participação, pode retrair as opiniões, sugestões de pessoas que pertencem a outras filiações partidárias, como Renamo, Movimento Democrático de Moçambique e Partido para o Desenvolvimento da Democracia. Aliás, é preciso lembrar que o distrito de Cuamba é o segundo melhor distrito da província de Niassa em termos de desenvolvimento sócio- económico, e é um campo fértil para disputas partidárias.

Questionado o diretor da escola, sobre o impacto da bandeira para a vida da escola, em resposta, disse que não sabia, mas que “fico satisfeito com a colocação daquela bandeira porque qualquer visita de nível superior vai perceber que eu sou desse partido (…)”. A resposta do diretor, por um lado, parece mostrar que todos os seus superiores hierárquicos são do partido Frelimo. A bandeira partidária é um símbolo de poder que demonstra

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Documentos consultados: Regulamento Geral das Escolas do Ensino Básico; Manual de Apoio ao Funcionamento do Conselho de Escola.

indistinção entre o partido e o Estado. Também demonstra uma discriminação entre a FRELIMO e os outros partidos. Apenas pode estar a mostrar a afirmação do poder partidário, ao mesmo tempo que se confunde com o poder do Estado. Mas também, a simples colocação de bandeira do partido político pode mostrar o tipo de homem que se está a formar na escola: Um homem submisso a um partido, obediente e sem capacidade crítica da realidade a sua volta.

Portanto, ficou demonstrado que não há eleições, não há debate, as deliberações são feitas apenas sobre assuntos marginais e pontuais. A colocação de bandeira de partido político no gabinete do diretor da escola pode comprometer a verdadeira participação dos vários representantes interessados na vida da escola. Nesse contexto, não se pode falar da funcionalidade de órgão que não reúne, não tem plano de atividades e muito menos conhece a sua real função.

27. Avaliação do desempenho de cada um dos representantes