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Parte I Enquadramento normativo, concetual e teórico

4. Quadro concetual

4.9 Gestão Participativa

O trabalho escolar, em teoria, é uma ação de carácter coletivo, realizado a partir da participação conjunta e integrada dos membros de todos os segmentos da comunidade escolar. O envolvimento de todos os que fazem parte, direta ou indiretamente, do processo

educacional, no estabelecimento de objetivos, na resolução de problemas, na tomada de decisões, na implementação, avaliação dos planos de ação, de forma a alcançarem-se os objetivos educacionais, é imprescindível para o sucesso da gestão escolar.

Para efetivamente compreender-se a questão da gestão participativa e o envolvimento dos pais e encarregados de educação na vida da escola, torna-se pertinente clarificar que para Chiavenato (2005) o gestor é um profissional dotado de capacidade e habilidades que conduzam a equipa de trabalho à realização eficiente das atividades e alcance eficaz dos resultados preconizados. Assim, Luck et al. (1998) sublinha que um gestor escolar deve compreender os fundamentos e princípios de educação e da gestão escolar, planeamento e organização do trabalho escolar, monitoria de processos e avaliação institucional e por fim a gestão dos resultados educacionais.

Luck et al. (2002:15) sublinham que a gestão participativa- “constitui a maneira de envolver todos os membros do grupo ou organização no processo decisório. Estes membros, em conjunto, analisam situações, decidem sobre o seu encaminhamento e agem sobre elas em conjunto”.

De acordo com o autor citado anteriormente a gestão participativa carateriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros da escola reconhecem e assumem seu poder de influenciar na determinação da dinâmica dessa unidade escolar, de sua cultura e dos seus resultados. Nas escolas eficazes os gestores agem como líderes pedagógicos, organizando e participando dos programas de desenvolvimento. Também enfatizando a importância dos resultados a serem alcançados pelos alunos e para a sociedade em geral. Para sustentar essa abordagem, Valeriem (2002) apresenta funções que o gestor que deve adotar para garantir a eficiência e eficácia das atividades, a destacar:

 Manter os professores informados do que se passa na escola, bem como recolher sua opinião e sua posição;

 Criar uma atmosfera de trabalho, onde a livre expressão dos indivíduos não deve impedir a criação de um ambiente de convivência saudável;

 Encorajar cada membro da escola (professor, pessoal administrativo e comunidade) a sentir-se membro de pleno direito de uma equipa;

 Trocar informações importantes não só com professores, mas também com os encarregados de educação e a comunidade escolar, em geral.

Esses pontos levam a compreensão de que a abordagem participativa na gestão escolar demanda maior participação de todos os interessados no processo decisório da escola, envolvendo-os também na realização das múltiplas tarefas de gestão, desde a planificação, organização, até a avaliação das atividades implementadas. Esta abordagem também amplia a fonte de habilidades e de experiências que podem ser aplicadas na gestão de escolas.

Em alguns exemplos bem-sucedidos de gestão escolar, observou-se que os diretores de escola dedicam uma quantidade considerável de tempo à capacitação profissional e ao desenvolvimento de um sistema de acompanhamento escolar e de experiencias pedagógicas pela reflexão-ação, bem como da comunidade em geral (Luck, 1998). Ainda para autora existem valores orientadores da ação participativa, como por exemplo, solidariedade, equidade e compromisso.

A ética é representada mediante a ação orientada pelo respeito ao ser humano, às instituições sociais e aos valores necessários ao desenvolvimento da sociedade com qualidade de vida, que se traduz nas ações de cada um. Assim, de acordo com esse valor, a ação participativa é orientada pelo cuidado e atenção aos interesses humanos e sociais como valor (Brandão, 2006). A solidariedade é manifestada pelo reconhecimento do valor inerente a cada pessoa e o sentido de que os seres humanos se desenvolvem em condições de troca e reciprocidade. O momento de aplicação dos princípios de gestão participativa exige a compreensão plena dessas questões e o empenho pela sua realização. Para Barroso (1997) a ação participativa hábil em educação é orientada pela promoção solidária da participação de todos da comunidade escolar, na construção da escola como organização dinâmica e competente, tomando decisões em conjunto, orientadas pelo compromisso em valores, princípios e objetivos educacionais elevados, respeitando os demais participantes e aceitando a diversidade de posicionamentos. Para que a gestão participativa aconteça é necessário, segundo Luck (1998), seguir alguns passos básicos, a saber:

a. Elaborar um código de valores que represente o comprometimento de todos da escola com a gestão participativa. As frases que abordam os valores podem, na maior parte das vezes, serem apenas uma estratégia do responsável. No entanto, se uma frase for desenvolvida com base no debate de um grupo numeroso, pode agir como uma orientação sobre o que a organização pretende alcançar. As pessoas podem ser influenciadas e motivadas por senso maior do propósito e as frases sobre conceitos e valores podem direcionar esses esforço;

b. Construir um comprometimento pessoal de cada pessoa envolvida com a escola;

c. Uma liderança forte é necessária para superar as várias barreiras e dificuldades; caso o diretor e a equipa de apoio não estejam comprometidos, os professores sempre questionarão se o seu envolvimento será levado a sério ou se ele é realmente válido;

d. Promover a capacitação em exercício de professores e pais para que desenvolvam as habilidades necessárias à ação participativa;

e. Circular informação de cima para baixo e vice-versa. Se um diretor dá a impressão de que consultar significa apenas fornecer informações aos superiores, então os demais funcionários podem se sentir frustrados. No entanto, se este processo envolver a troca de ideias entre o diretor e professores, o ambiente será mais propício à existência de consultas. Embora, nem todos os professores tenham interesse em participar do processo decisório, a maioria gosta de saber que algum dos seus colegas tomou parte no processo, representando suas perceções.

Luck et al. (2002) descreve que a implementação de políticas a nível da escola requer o desenvolvimento de capacidades nos dirigentes encarregues, como forma de junto e com a comunidade escolar traduzir os princípios e diretrizes previstas nos órgãos centrais, possibilitando assim, sua adequação às necessidades, vontades e expectativas, potencialidades que a escola detém para a melhoria do processo de aprendizagem dos alunos, garantindo assim melhores resultados. Isso passa necessariamente pela compreensão de que a escola é uma organização social em que os alunos aprendem, mas necessitam sempre do acompanhamento quer do professor, quer dos encarregados de educação, quer dos outros membros da escola. Porém, esses diferentes elementos devem

necessariamente interagir como forma de permitir que as dificuldades, os fracassos e desafios sejam partilhados para um avanço equilibrado e harmonioso.

Portanto, as abordagens acima apresentadas levam a uma visão de que a gestão escolar participativa é uma estratégia empregue para aperfeiçoar a qualidade educacional no geral e em particular, garante o alcance eficaz dos objetivos e missão da escola, através da melhoria da aprendizagem dos alunos. É a chave que ajuda a libertar a riqueza de pensamento do ser humano.

No entanto, a gestão participativa baseia-se em habilidades e técnicas específicas em que ao desenvolver essas habilidades, os membros da escola necessitam de tempo para aperfeiçoá-las. A gestão participativa pode parecer confusa e atrapalhada para muitos numa primeira fase, inclusive, parece tomar mais tempo para além do necessário. Por isso, tanto diretores, como os demais funcionários devem estar dispostos a dedicar algum tempo e atenção para esta aprendizagem, viabilizando a criação de um sistema de trabalho com base na gestão participativa. Assim, é só assumindo corretamente esses passos que se pode assumir a gestão participativa como ferramenta promotora de um ambiente saudável na escola, incluindo melhoria do processo de ensino-aprendizagem.

Gandin (1997:13) acrescenta que

(...) a participação não é simplesmente aquela presença, aquele compromisso de fazer alguma coisa, aquela colaboração, aquele vestir a camisola da empresa nem, mesmo, a possibilidade de decidir alguns pontos esparsos e de menor importância; participação é aquela possibilidade de todos usufruírem dos bens, os naturais e os produzidos pela natureza humana (...); então, participação no planejamento participativo inclui a distribuição do poder, inclui a possibilidade de decidir na construção não apenas do como ou do com que fazer, mas também do que e do para que fazer (...).

Esta modalidade de gestão se baseia na ideia de que o alcance dos objetivos educacionais, em seu sentido amplo, depende da canalização e emprego adequado da energia dinâmica das relações interpessoais que ocorrem no contexto da organização escolar. A participação dá às pessoas a oportunidade de controlar o próprio trabalho, sentirem-se donas e responsáveis pelos seus resultados, contribuindo, portanto para a sua autonomia.