• Nenhum resultado encontrado

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.2 Conceito de turismo

A palavra tour deriva, etimologicamente, do latim tornare e do grego tornos, que significam uma volta ao círculo; o movimento ao redor de um ponto central. Actualmente, o inglês atribui o significado movimento em círculo de alguém. O sufixo ismo é definido como acção ou processo; comportamento ou qualidade típicos, e o sufixo ista caracteriza- se como sendo aquele que realiza determinada acção. O entrosamento da palavra tour com os sufixos ismo e ista resulta na acção de um movimento em círculo de uma pessoa. Como é sabido, um círculo é uma linha que parte de um ponto fixo e retorna ao mesmo ponto, assim como o turismo, que implica partir de um determinado lugar e regressar ao local de partida (Theobald, 2001: 31).

Existe alguma incerteza em relação ao aparecimento das palavras Turismo e Turista. Smith (1989: 17) afirma que Samuel Pegge aplicou a palavra Turista pela primeira vez em 1800, para significar viajante, enquanto a palavra Turismo surgira com a Sporting Magazine de Inglaterra, só em 1911. Segundo Feifer (1985: 2) a palavra Turista aparece com Standhal

Universidade de Aveiro Capítulo I

Nuno Alexandre Abranja 15

em 1838. Como defende Mieczkowski (1990: 20) a primeira definição de Turista surge, em 1876, no “Dictinonnaire Universel du XIX Siècle” como as pessoas que viajam por curiosidade e ócio. Kaul (1985: 2) afirma que no século XVII e início do século XVIII, ingleses, alemães e outros que se lançavam em longas viagens passaram a ser denominados de Turistas. Segundo Leiper (1979: 391) o termo Turismo apareceu pela primeira vez, em Inglaterra quando se referiam aos jovens aristocratas britânicos, que eram preparados para uma carreira política através de grandes viagens pela Europa, a fim de aperfeiçoar os seus estudos. Como defende Inskeep (1991: 6) o primeiro guia deste tipo de viagens foi The Grand Tour de Thomas Nugent, publicado em 1778, onde já fazia menção a estas terminologias.

Outrora considerado privilégio dos mais abastados o turismo é, hoje um modo de vida implantado para a maioria das pessoas de classe média, a nível mundial (McIntosh, Goeldner e Ritchie, 1995: 4). Citando dados avançados pela American Express Company, a actividade turística é a maior empregadora em países como a Austrália, Bahamas, Brasil, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos (Hawkins e Ritchie, 1991: 72-73), provando a força e a importância que este sector tem em todo o mundo.

Segundo Boyer (1972: 8) um grupo de economistas da Sociedade das Nações em 1937, numa primeira abordagem oficial a esta actividade definia: Turismo é toda a viagem realizada para fora do domicílio habitual por um período superior a vinte e quatro horas e inferior a um ano, por motivos de lazer. Contudo, os professores Walter Hunzinker e Kurt Krapf no ano de 1942 tentavam limar esta definição afirmando: lazer para quem chega,

trabalho para quem recebe (Joaquim, 1994: 16). Foi com estes professores que surgira a

definição de turismo mais aproximada da realidade, caracterizando-o como o conjunto das relações e fenómenos originados pela deslocação de permanência de pessoas fora do seu local habitual de residência, desde que tais deslocações e permanências não sejam utilizadas para o exercício de uma actividade lucrativa principal (Burkart and Medlik, 1981: 41; Cunha, 2001: 29).

Universidade de Aveiro A situação dos intermediários turísticos face à ameaça dos canais de reserva directos

Nuno Alexandre Abranja 16

A OMT (1998: 18) define o turismo como sendo o conjunto de actividades de pessoas que viajam e/ou que recebem em locais fora do seu habitat natural, por um período não superior a um ano, por motivos de lazer, negócios ou outros. Esta instituição distingue esta actividade em várias classificações:

⇒ turismo doméstico ou interno caracteriza-se por turistas residentes que praticam turismo no próprio país;

⇒ turismo receptor envolve as deslocações de não-residentes a um determinado país; ⇒ turismo emissor é referente às deslocações dos residentes a um país estrangeiro; ⇒ turismo nacional é o conjunto do turismo doméstico e do turismo emissor, ou seja,

todo o turismo praticado pelos residentes do mesmo país;

⇒ turismo interior é a reunião do turismo doméstico e do turismo receptor, isto é, todo o turismo que se movimenta dentro de um país;

⇒ turismo internacional é o conjunto do turismo emissor e do turismo receptor. Este organismo define visitante como sendo toda a pessoa que se desloca para fora do seu lugar habitual de residência, dentro ou fora do país, com um objectivo que não seja de cumprir uma actividade remunerada. Este distingue-se em dois:

⇒ o turista é toda a pessoa que se desloca para fora do seu lugar habitual de residência com um objectivo que não seja de cumprir uma actividade remunerada com a duração de permanência mínima de uma noite. Este pode ser nacional ou internacional;

⇒ o excursionista é toda a pessoa que se desloca para fora do seu ambiente habitual de residência, dentro ou fora do país, com um objectivo que não seja de cumprir

Universidade de Aveiro Capítulo I

Nuno Alexandre Abranja 17

uma actividade remunerada e não pernoita no local visitado. Este pode ser nacional ou internacional.g

Fig.1 – Classificação e caracterização de visitante

Fonte: adaptado de OMT (1988)

Mathieson e Wall (1982: 1) definem Tourism is the temporary movement of people to destination outside their normal places of work and residence, the activities undertaken during their stay in those destinations, and the facilities created to cater to their needs. Ou seja, estes autores consideram o turismo como sendo o movimento temporário de pessoas para fora dos seus locais habituais de trabalho e de residência, bem como todas as actividades e facilidades que satisfazem as necessidades dos turistas.

Como defende Middleton (2001: X), o turismo é o elemento principal ou estrutural das sociedades modernas que influencia a competitividade de uma região para o século XXI.

Visitante

Turista Excursionista

Objectivo da Visita

Lazer Profissional Outros motivos

- Férias - Cultura - Desporto - Visita a parentes e amigos - Outros.. C- Congressos R- Reuniões N- Negócios - Estudos - Saúde - Trânsito - Outros

Universidade de Aveiro A situação dos intermediários turísticos face à ameaça dos canais de reserva directos

Nuno Alexandre Abranja 18

Segundo este autor, a indústria de viagens e turismo é caracterizada por cinco sectores principais:

⇒ alojamento, que abrange a hotelaria clássica e a moderna, assim como as marinas; ⇒ atracções naturais ou construídas, bem como animação e desporto;

⇒ transportes aéreos, ferroviários, rodoviários e marítimos e ainda rent-a-cars;

⇒ organizadores de viagens, operadores turísticos, agências de viagens e turismo e agências de incentivos e conferências;

⇒ organizadores da recepção turística, são exemplo os órgãos regionais e nacionais de turismo, as associações de turismo, etc.

O turismo é uma actividade de vasta dimensão económica, social, cultural e ambiental que tem de ser planeada e controlada. Com efeito, esta actividade deve assentar em seis pilares fundamentais para um desenvolvimento sustentável (Gunn, 2002: 28):

⇒ o turismo deve ser visto como sendo o conjunto de todas as viagens e não apenas as de lazer;

⇒ o turismo é mais que apenas relações de negócios;

⇒ o turismo deve ser interpretado não apenas do lado da oferta mas também do lado da procura;

⇒ o turismo tem de ser orientado para a satisfação do turista, para a recuperação, valorização e protecção dos recursos e para a estabilidade económica das regiões; ⇒ envolver as comunidades de recepção em todo o processo turístico;

⇒ entender que o turismo é diferente aos níveis nacional, regional e local, devendo por isso, aplicar convenientemente as acções.

Burkart and Medlik (1981: 42) distinguem o turismo com características muito próprias, onde apontam a prática turística como o movimento de pessoas para fora do seu lugar habitual de residência e a sua estada em diferentes destinos. Afirmam que o turismo é constituído pela deslocação para o local e pela estadia, incluindo as actividades no destino, que têm de ser, obrigatoriamente, fora do local habitual de residência ou de trabalho do

Universidade de Aveiro Capítulo I

Nuno Alexandre Abranja 19

turista e o tempo de estada deve ser relativamente curto. Estas deslocações podem ser motivadas por qualquer razão excepto por acções remuneradas ou para residência permanente.

O turismo era visto inicialmente como uma actividade que servia, fundamentalmente, para renovar os recursos tais como paisagens, monumentos, costumes, etc., com o objectivo de atrair e receber turistas que os vinham visitar e não consumir. Contudo, assim como outras indústrias, o turismo cresceu em dimensão e em importância tornando-se numa actividade competitiva que aposta na oferta diversificada e na geração de capitais (Murphy, 1981: 1).

A definição académica e profissional de turismo tem sido alterada ao longo do tempo, em que no início o discurso era fundamentalmente económico, na medida em que o interpretava como um gerador de riqueza. Esta actividade tem ganho, gradualmente, uma maior dimensão proporcionando a criação de novas conceptualizações (Jafari, 2000: xvii). O turismo é uma realidade sócio-cultural complexa e transversal, que exige abordagens metodológicas baseadas em conceitos científicos, a fim de credibilizar o seu conhecimento (Albino Silva, 2004: 10).

Este sector está num patamar ao nível dos mais importantes da economia mundial, apresentando um impacte enorme no mercado de emprego, na balança de pagamentos e na estabilidade económica em geral (Moutinho e Witt, 1995: ix). Todavia, apesar da existência de intervenientes turísticos de grande dimensão, tais como: cadeias hoteleiras multinacionais; companhias aéreas internacionais; e grandes operadores turísticos o turismo continua a ser uma indústria fragmentada, composta maioritariamente por inúmeras pequenas ou médias empresas que apresentam uma importância relativa no mercado e que vão mantendo esta actividade como uma indústria de expressão económica discreta (Moutinho e Witt, 1995: 3).

Entretanto, o turismo como ciência social que é, ainda não alcançou o rigor e o estatuto cientifícos que lhe são devidos, porque para tal, impõem-se o controlo e o confronto dos resultados obtidos (Albino Silva, 2004: 11), o que se tem revelado particularmente difícil devido à vulnerabilidade que qualquer ciência social apresenta.

Universidade de Aveiro A situação dos intermediários turísticos face à ameaça dos canais de reserva directos

Nuno Alexandre Abranja 20