• Nenhum resultado encontrado

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.3 Conceito de viagem

As deslocações nascem associadas à educação/cultura e lazer, acessíveis apenas a um grupo restricto, as elites, em que a deslocação temporária do viajante para fora da sua residência habitual representava um poderoso símbolo de prestígio e estatuto social. A história lembra-nos que o turismo, no conceito actual, tem as suas origens nas viagens que os jovens aristocratas ingleses faziam pela Europa, a partir do século XVIII, em busca de uma educação de alto nível, convivendo e coexistindo com culturas diferentes da sua. Estas viagens ficaram conhecidas como as Grand Tours (Conceição, 1998: 67-68).

Existe uma forte interdependência entre turismo e transportes, onde esta relação bilateral, como defende Vieira (1997: 158), é evidente na análise de três factores determinantes: a distância; o tempo; e o custo. Ou seja, a velocidade de deslocação resulta da conjugação dos dois primeiros factores e do meio de transporte utilizado; o custo é determinado por razões de natureza técnica e também, pelos investimentos envolvidos na via, no veículo e nas infra-estruturas terminais.

Segundo Middleton (2001: 8) definir turismo é definir viagens, ou melhor, o que será o turismo sem viagens? Este autor afirma que uma definição aceitável de turismo inclui, impreterivelmente, todos os aspectos relevantes das viagens, onde as viagens e o turismo abrangem praticamente o mesmo mercado não devendo, por isso, ser dissociadas nem diferenciadas em termos conceptuais.

Em contrapartida, como nos é realçado em Cunha (2001: 32-33), as viagens e o turismo são actividades distintas com sentidos e amplitude diferentes, todavia, podem ser consideradas como fazendo parte da mesma realidade económica e social. Segundo a WTTC a indústria das Viagens e Turismo é definida pelas actividades económicas associadas com a viagem, medidas pela ampla variedade das despesas correntes e de capital feitas por ou para benefício de um viajante, antes, durante e depois da viagem (ibidem).

Universidade de Aveiro Capítulo I

Nuno Alexandre Abranja 21

Com o final da II Guerra Mundial muitas transportadores aéreas e pilotos ficaram sem trabalho, altura em que os operadores turísticos contrataram estas transportadores pressionando-as no sentido de reduzirem as tarifas, a fim de concorrerem com as companhias de voos regulares que apresentavam tarifas muito elevadas. A grande maioria dos países que participou nesta guerra viu as suas economias cairem de forma significativa, levando à necessidade de vender os seus aviões militares a preços reduzidos a empresas privadas, a fim de fazer frente à crise que se vivia nesta época. Desta forma, surgem as primeiras companhias de voos charter, determinante fulcral no crescimento do número de viagens.

Com as facilidades que o mercado ia criando vários factores viriam a ser determinantes no desenvolvimento das viagens. Como sejam: do lado da oferta, o incremento da concorrência de mercado e o número de fusões entre empresas turísticas que porporcionaram condições vantajosas em termos de produtos, preços e qualidade; do lado da procura, a melhoria de vida das classes médias através do aumento do período de descanso, o surgimento do subsídio de férias, o aceleramento do ritmo de trabalho, etc. foram, igualmente, determinantes para o crescimento do número de viajantes (Conceição, 1998: 68). O turismo transformar-se-ia, aos poucos, numa prática acessível não apenas aos grupos de elite mas também às classes médias, organizando-se viagens de grupos cada vez mais numerosos. Esta evolução levou à consequente redução de preços e ao fortalecimento do poder de negociação entre as organizações turísticas, dando assim o grande impulso para as viagens/turismo de massa (Buck, 1988: 73).

Segundo o Decreto-Lei n.º 209/97 (Diário da República n.º 186/97) são viagens turísticas as que combinem dois dos seguintes serviços:

⇒ transporte; ⇒ alojamento;

Universidade de Aveiro A situação dos intermediários turísticos face à ameaça dos canais de reserva directos

Nuno Alexandre Abranja 22

As viagens turísticas são compostas por dois tipos (ibidem):

(1) Viagens organizadas são deslocações que excedam vinte e quatro horas ou incluam uma noite, combinando dois dos serviços acima referidos, sejam vendidas ou propostas para venda a um preço único com todos os serviços incluídos;

(2) Viagens por medida são deslocações elaboradas a pedido do cliente, indo de encontro à satisfação dos desejos e das necessidades por este manifestadas.

As viagens turísticas são realizadas através de cinco vias: aérea, ferroviária, rodoviária, marítima e fluvial. O avião é o meio de transporte colectivo mais rápido de todos, que permite atingir velocidades oito vezes superior ao automóvel (Vieira, 1997: 157-158). O meio aéreo é a via preferida pelo turista de média e longa distância, devido ao conforto e segurança mínimas exigíveis que fornece, bem como a rentabilização do tempo que produz. O comboio pode atingir duas vezes mais velocidade que o automóvel e é igualmente, um meio de transporte que proporciona rapidez e conforto, permitindo encurtar o tempo e a distância entre duas regiões.

O automóvel e o autocarro ganharam projecção no início do século passado e formam, actualmente, o meio de movimentação mais utilizado no que toca a deslocações de curta distância, devido ao aumento do excursionismo rodoviário. Estes meios tornaram-se muito usuais principalmente pelas suas características específicas, visto que se revelaram como instrumentos económicos, acessíveis e confortáveis utilizados com maior predominância por turistas que visitavam locais de difícil alcance. A implementação massificada dos meios rodoviários contribuiu grandemente, para o desevolvimento do excursionismo.

Os transportes marítimos e fluviais começaram por ser utilizados no sentido de proporcionarem mais e diferentes meios de deslocação entre regiões. Com a evolução do avião, do comboio e também do automóvel, os barcos deixaram de ter um papel preponderante como meio de transporte e trasformaram-se em instrumentos de lazer. Ou

Universidade de Aveiro Capítulo I

Nuno Alexandre Abranja 23

seja, as viaturas marítimas e fluviais que outrora serviam de carreiras de transporte, actualmente produzem cruzeiros, adaptando-se e acompanhando a concorrência.