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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 2 A evolução histórica do turismo organizado

2.2 A evolução mundial da actividade turística

2.2.2 Idade Moderna

É a partir de meados do século XVIII, período da história do mundo que corresponde a uma renovação cultural, económica, social e tecnológica produzida na Europa, que se iniciam viagens com objectivos bem diferentes daqueles que motivaram os antepassados. Os descobrimentos iniciados pelos portugueses, ampliaram de forma decisiva o horizonte dos homens da época. As descobertas do Continente Americano e do caminho marítimo para a Índia provocaram uma autêntica revolução cultural, despertando a curiosidade de conhecer outros lugares, povos e culturas diferentes o que, inegavelmente, originou uma nova história das viagens.

Foi na Inglaterra que se gerou uma transformação económica e social. A mentalidade da livre-troca no comércio internacional e o espírito de inovação que levou à Revolução Industrial promoveu o enriquecimento da classe média que adquiriu novas necessidades e novos gostos. Esta transformação constitui um marco histórico para o turismo, não só no Reino Unido mas também em todo o mundo desenvolvido (Vieira, 1997: 28), a par da rápida evolução dos meios de transportes, com a invenção da máquina a vapor por Stephenson, aplicada aos barcos e ao aparecimento do caminho de ferro. O comboio reflecte, de facto, a primeira grande mudança nos meios de transporte, fomentando o crescimento do número de viajantes e do turismo no seu todo. O forte fluxo de ingleses para o continente influenciou substancialmente, o rápido desenvolvimento dos transportes, da hotelaria e da restauração, verificando-se uma viragem na maneira de encarar as viagens.

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O progresso da ciência e da inovação, a multiplicação das trocas, a produção em maior escala de jornais, a revolução industrial e o consequente desenvolvimento dos transportes que, até à data, eram viaturas de tracção animal, vieram contribuir para uma maior comodidade, velocidade e capacidade dos meios de deslocação. Como defende Hodgson (1987: 3), esta evolução veio proporcionar às pessoas uma sensação de liberdade e um consequente incremento nas relações sociais e profissionais. O longo período de tempo das viagens de comboio veio contribuir para o crescimento da oferta e da procura de alojamento e restauração, junto das estações e dos centros urbanos. Rapidamente, por todo o mundo, os caminhos de ferro cresciam e o comboio passava a fazer parte integral do quotidiano das pessoas. O crescimento ferroviário e a sua exploração não foi simultânea em todos os países. Segundo Alegria (1990: 44) verificou-se em: Inglaterra – 1825; Estados Unidos da América – 1827; França – 1828; Alemanha – 1835; Espanha – 1848 e; Portugal – 1856.

De encontro às apetências e às necessidades da população da nova classe média, consequentes da Revolução Industrial, foi em Inglaterra, que o inglês Thomas Cook fretou em 5 de Julho de 1841, o primeiro comboio especial a preços reduzidos, para uma viagem programada entre Leicester e Loughborough, que viria a alcançar um enorme êxito. Em consequência aos bons resultados desta viagem e ao desenvolvimento de outras seguintes, Thomas Cook criou a sua própria empresa estendendo-se sucessivamente, a outros países de vários continentes sendo considerado, como pioneiro da moderna concepção das agências de viagens. Nascia assim, o turismo organizado. Thomas Cook foi, então, um dos mais importantes impulsionadores do turismo organizado contribuindo, grandemente, para o nascimento das agências de viagens. Também em Portugal se davam os primeiros passos na organização de viagens, de que é exemplo a Agência Abreu, em 1840, e ainda em funcionamento. Nos estados Unidos da América, a expansão da rede de caminhos de ferro fez com que as viagens se tornassem também uma regularidade. A Wells fargo Co. criou em 1850 a American Express, que se tornaria mais tarde numa agência de viagem com prestação de serviços financeiros para fins turísticos (Burkart e Medlik, 1981: 167-168).

A primeira década do século XX caracterizou-se por grandes transformações económicas e sociais, ficando conhecida pela Belle Époque. A invenção do telégrafo e do telefone, a

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expansão das redes de caminhos de ferro e de estradas e o grande desenvolvimento industrial que proporcionaria a racionalização do trabalho e o nascimento das frentes sindicais, contribuiria para uma maior democratização das sociedades e uma considerável melhoria de vida (Cunha, 1997: 66). A força que o turismo apresentava fazia com que grande parte dos países receptores criassem instituições governamentais, com o objectivo de promover e organizar este sector. Surgiam também organizações privadas para os mesmos fins. Aparecem nesta altura, as primeiras grandes agências de viagens mundiais, tais como: Thomas Cook & Son (Inglaterra) e Kuoni (Suiça). Os destinos turísticos mais procurados eram as estâncias termais e as de montanha e começam então, a aparecer as primeiras regiões balneares como Biarritz, Deauville, Rivieras francesa e italiana e Miami (ibidem, 1997: 66).

O avião e o automóvel surgem por esta altura, ganhando uma elevada importância no turismo, contribuindo também para a revolução do modo de vida das sociedades, todavia, apenas ao alcance de elites (Vieira, 1997: 27). A pré-história do automóvel e do autocarro como meios colectivos de transporte situa-se entre 1914 e 1921 que coincide com a 1ª Grande Guerra. A via aérea, o grande sonho do homem, constitui um dos marcos relevantes no progresso da actividade turística, apresentando como principais vantagens a comodidade e a rapidez de deslocação, que permitiu reduzir consideravelmente as distâncias em menos horas de voo, proporcionando um aumento da estada nas áreas- destino, a preços altamente competitivos. Surge em 1918 na Europa, a primeira companhia aérea do mundo - Deutsche Lufthansa, e oito anos mais tarde, nos Estados Unidos a Varney Airlines, primeira companhia aérea a estabelecer um serviço de correio aéreo regular. Em 1927 foi criada em Portugal a SAP – Serviços Aéreos Portugueses (Cunha, 1997: 67; Vieira, 1997: 33).

Eram já visíveis as condições propícias ao crescimento universal do turismo e ao seu desenvolvimento económico consistente. Esta fase da história ficou caracterizada pelo início da expansão desta actividade, consequência da evolução dos transportes modernos, do crescimento das redes de caminhos de ferro, marítimos e rodoviários e do nascimento das primeiras empresas de organização de viagens e turismo e de aviação. Este período fica marcado igualmente pelo nascimento das primeiras organizações nacionais e internacionais

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de turismo. O turismo transformara-se num fenómeno da sociedade com consequências económicas muito positivas. Por volta de 1913, o défice da balança comercial francesa era coberto por cerca de 49% de receitas turísticas, assim como em Itália onde as receitas provenientes desta actividade financiavam cerca de 54% do seu défice comercial, sendo que em 1929, o peso da actividade turística ultrapassava os 1700 milhões de dólares americanos (Cunha, 1997: 66).

Como já foi referido, o após-guerra proporcionou uma tendência muito forte para o desenvolvimento turístico. Contudo, interrompida em 1929 pelo «crash» da Bolsa de Wall Street que conduziu os Estados Unidos a uma grave crise financeira, repercutindo-se em toda a Europa, incluindo a Suíça e os países nórdicos destinos preferidos pela burguesia endinheirada. Em 1932 sente-se novamente uma recuperação que durou cerca de sete anos, altura em que rebenta a 2ª. Guerra Mundial, que durou 6 anos, levando a uma quase paralisação económica e social e, consequentemente, dos movimentos turísticos.