3.1 PRINCÍPIO
3.1.1 Conceito e Força normativa dos princípios
O substantivo “princípio”, no dicionário, apresenta diversos significados,
mas nos parece oportuno utilizar o descrito por Sérgio, no dicionário compacto
jurídico, diz ser princípio: “Aquilo que se encontra a base ou orientação para o agir,
pois tem um conteúdo direto ao nosso propósito.”
83José Sérgio da Silva Cristovam também o conceitua, ao lecionar sobre a
realidade meta-jurídica:
Num sentido amplo e abrangente, princípio designa a estruturação de um sistema de idéias, pensamentos ou normas por uma idéia mestra, por um pensamento chave, por uma baliza normativa, donde todas as demais idéias, pensamentos ou normas derivam, se reconduzem e/ou se subordinam.84
Diversos doutrinadores escreveram sobre o tema, destacamos as palavras do
Excelentíssimo Ministro da Suprema Corte Gilmar Ferreira Mendes, no seu livro
Curso de Direito Constitucional:
Diferentemente de regras de direito, os princípios jurídicos não se apresentam como imperativos categóricos, mandatos definitivos nem
ordenações de vigência diretamente emanados do legislador, antes apenas
enunciam motivos, para que o seu aplicador se decida neste ou naquele sentido. Noutras palavras, enquanto em relação as regras e sob determinada concepção de justiça, de resto integrada na consciência
jurídica geral, o legislador desde logo e com exclusividade define os
respectivos disposto e disposição, isto é, cada hipótese de incidência e a respectiva conseqüência jurídica, já no que se refere aos princípios jurídicos - daí o seu caráter não conclusivo, anota Hart – esse mesmo legislador se abstém de fazer isso, ou pelo menos de fazê-lo sozinho e por inteiro, preferindo compartilhar a tarefa com aqueles que irão aplicar esses
Standards normativos, porque sabe de antemão que é somente em face de 83 CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Dicionário Compacto do Direito. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
p. 211.
84 CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Colisões entre princípios Constitucionais. Curitiba: Juruá,
situações concreta que eles logram atualizar-se e operar como verdadeiros
mandatos de otimização.85
Importante destacar que, para iluminar nosso entendimento, Gilmar
Mendes citando Karl Larenz, escreveu:
Diríamos que, em si mesmos, os princípios, não são – ou ainda não são – regras suscetíveis de aplicação direta e imediata, mas apenas pontos de
partida ou pensamentos diretores, que sinalizam para a norma a ser
descoberta ou formulada por quem irá aplicá-la conforme a exigência do caso.86
A diferenciação entre princípios e regras foi efetivada por Gilmar Mendes
ao citar Gustavo Zagrebelsky:
enquanto as regras nos dizem como devemos, não devemos ou podemos atuar em situações específicas, os princípios a esse respeito nada nos dizem diretamente, embora nos proporcionem critérios para tomar posição em circunstâncias só aparentemente indeterminadas.87
Vejamos o que escreveu Gilmar Mendes acerca do tema já examinado,
mas, certamente, abrilhantando ainda mais:
Nesse sentido, pode se dizer que os princípios jurídicos se produzem necessariamente em dois tempos e a quatro mãos, primeiro são formulados genéricas e abstratamente pelo legislador, depois se concretizam, naturalmente como normas do caso ou normas decisão, pelos interpretes e aplicadores do direito.88
Nesta acepção Gilmar Mendes parafraseando Eduardo Couture dissertou
que:
Os princípios são as regras a longo prazo, porque embora pareçam precedê-las como enganosamente sugere o seu nome em verdade é delas que eles vão sendo extraídos e generalizados, pelos juízes e tribunais, ao construírem as regras de decisão, que lhes permitem realizar a justiça em sentido material, dando a cada um o que é seu.89
O célebre jurista Rui Barbosa nos presenteou com as seguintes frase:
“Pouca importância dão, em geral, os nossos publicistas às ‘questões de princípios’.
85 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso
de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p.27.
86 MENDES, loc. cit. 87 Ibid., p.31. 88 Ibid., p.27.
Mas os princípios são tudo. Os interesses materiais da nação movem-se de redor
deles, ou, por melhor dizermos, dentro deles.”
90Devemos, portanto, elucidar os significados das expressões: princípios,
normas e regras, contidas no texto da Carta Constitucional vigente, e o fazemos com
o aporte do constitucionalista José Afonso da Silva que ensina que: “Os Princípios
são ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas”.
91“Tem-se que
Normas são preceitos que tutelam situações subjetivas de vantagem ou vínculo, ou
seja, reconhecem, por um lado, as pessoas ou a entidades a faculdade de realizar
certos interesses por ato próprio.”
92Por conseguinte, José Afonso denuncia que: “Há, no entanto, quem
concebe regras e princípios como espécies de norma, de modo que a distinção entre
regras e princípios constitui uma distinção entre duas espécies de normas.”
93Ressalte-se que o termo princípio, da expressão princípios fundamentais
do Titulo I da Constituição, exprime a noção de “mandamento nuclear de um
sistema.”
94Nesta senda, Bonavides leciona: “As novas Constituições promulgadas
acentuam a hegemonia axiológica dos princípios, convertidos em pedestal normativo
sobre o qual assenta todo o edifício jurídico dos novos sistemas constitucionais.”
95Por oportuno, José Afonso da Silva diz que: “Os Princípios constitucionais
são basicamente de duas categorias: Os princípios político-constitucionais e os
princípios jurídico-constitucionais.”
96Cumpre trazer à baila o que escreveu Alexandre de Moraes a respeito da
aplicabilidade da norma constitucional:
A própria Constituição Federal, em uma norma-síntese, determina tal fato dizendo que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Essa declaração pura e simplesmente não bastaria se outros mecanismos não fossem previstos para torná-la eficiente, (exemplo: mandado de injunção e iniciativa popular).97
90 LIMA, George Marmelstein. As funções dos princípios constitucionais. Jus Navigandi. Teresina.
ano 7, n. 54, fev./2002. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/2624>. Acesso em: 21 maio 2011.
91 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24. ed. São Paulo:
Malheiros, 2004. p.91.
92 SILVA, loc. cit. 93 Ibid., p.92. 94 Ibid., p.91.
95 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 264. 96 Ibid., p.93.
Contribuindo para o entendimento da normatividade dos princípios na sua
eficácia, Bonavides citando Crisafulli, nobre professor italiano, nos ensina que: “tem
os princípios dupla eficácia: a eficácia imediata e a eficácia mediata
(programática).”
98Neste norte, Moraes ensina que: “Em regra, as normas que
consubstanciam os direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia
e aplicabilidade imediata.
99Manoel Gonçalves Ferreira Filho leciona sobre aplicabilidade das normas
Constitucionais: ”São elas as normas exeqüíveis por si sós (normas auto
executáveis,self executing), e as normas não exeqüíveis por si sós.
100Continua Ferreira Filho: “As primeiras podem ser aplicadas sem a
necessidade de qualquer complementação. As segundas por serem incompletas
precisam receber antes de poderem ser aplicadas, a complementação normalmente
por lei-é a regulamentação legal.”
101Neste diapasão, Ferreira Filho, citando José Afonso da Silva, a despeito de
outros doutrinadores, disserta sobre a aplicabilidade de normas constitucionais:
Para ele, haveria três espécies de normas constitucionais quanto a sua aplicabilidade:1) normas de eficácia plena; 2)normas de eficácia contida; e 3)normas de eficácia limitada.
Normas de eficácia plena - têm incidência imediata, visto haverem recebido do constituinte ”normatividade suficiente” para tanto. Ou seja, por serem completas.
Normas de eficácia contida – receberem do constituinte “normatividade suficiente”, mas prevêem meios normativos...não destinados ao desenvolvimento de sua aplicabilidade, mas, ao contrário, permitindo limitações a sua eficácia e aplicabilidade.
Normas de eficácia limitada – “não receberem do constituinte normatividade suficiente para sua aplicação”. Quer dizer, são normas incompletas.102
A Importância dos princípios é notória, porém, não é absoluta esse
entendimento, vejamos o que diz Ferreira Filho: “Absolutamente descabida é a
aplicação contra legem do princípio. Isto seria levar o juiz a prevalecer sobre o
legislador no plano da densificação, o que fere o Estado de direito.”
10398 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 272. 99 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 32.
100 FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional, 32. ed. São Paulo:
Saraiva. 2006. p. 387.
101 FILHO, loc. cit. 102 Ibid., p. 389.
103 FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional, 32. ed. São Paulo: