• Nenhum resultado encontrado

HISTÓRIA DA FIDELIDADE PARTIDÁRIA

Afonso Fernandez leciona acerca do tema proposto, apresentando a

origem etmológica do vocábulo, qual seja:

147 BRASIL. Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>. Acesso em: 23 maio 2011.

148 GLOSSÁRIO eleitoral brasileiro. Superior tribunal eleitoral. Disponível em:

<http://www.tse.gov.br/internet/institucional/glossario-eleitoral/index.html>. Acesso em: 22 maio 2011.

149 PIMENTA, Fernando Gurgel. Guia Prático da Fidelidade Partidária. Ed. São Paulo: Mizuno,

A abordagem científica do tema proposto implica considerar semanticamente vários de seus aspectos. Entendeu-se, nessa linha de raciocínio, começar trabalhando-o sob a óptica dos diferentes significados que compõe o tema dos quais o primeiro é o vocábulo latino “fidelitas, Átis = em que se pode ter confiança (de Fidélis) e que provém de fides, ei, fé, lealdade, sinceridade, firmeza, segurança, retidão, honestidade, integridade, proteção, arrimo, assistência, socorro, etc.”150

Nesse mesmo compasso, Afonso Fernandez elucida o tema explica que:

“Na Roma antiga, cultuava-se a deusa fides, em seu templo palatino e depois no

capitólio. Esta representava a expressão da equidade nas estipulações verbais e,

mais do que isso, a garantia de seu cumprimento mesmo sem a proteção jurídica.”

151

Ressaltando a relação estreita entre fidelidade e moral Afonso Fernandez

diz que: “Fidelidade e a Moralidade são íntimas e patentes já que agir moralmente

bem é ser fiel a si mesmo, ou ao bem, ser fiel a um compromisso imoral não seria

propriamente o que pode ser chamado de Fidelidade.”

152

No Brasil o primeiro indício de dever dos candidatos respeitarem a

fidelidade partidária foi instituído por decreto do Príncipe Pedro, em fevereiro de

1822, Afonso Fernandez lembrou:

Criou-se o conselho de procuradores Gerais das Províncias do Brasil, onde fora utilizado, pela primeira vez, no Brasil, o Recall. Previa o decreto a substituição dos procuradores, caso não desempenhassem “devidamente suas obrigações”, que aconteceria por decisão de dois terços da câmara, em “vereação geral e extraordinária.”153

No Estado de Santa Catarina este instituto passou a existir a partir de

1891, porquanto fazia parte da Constituição da unidade federativa, conforme

escreveu Afonso Fernandez

Tanto a Constituição de 1892, quanto a de 1895 continham nos seus textos a possibilidade da Revocabilidade do Mandato Legislativo. E a carta de 26 de janeiro de 1895 estabelecia em seu art. 20: “O mandato não é imperativo e pode ser removido”. Os deputados podem renunciá-lo em qualquer tempo.154

Da mesma forma, o Estado do Rio Grande do Sul, escreveu na sua

Constituição de 14 de julho de 1891: “O mandato do representante não será

150 FERNANDEZ, Fernando Francisco Afonso. Fidelidade partidária no Brasil. Florianópolis:

Conceito Editorial, 2008. p. 105.

151 Ibid., p. 106. 152 Ibid., p. 107. 153 Ibid., p. 119. 154 Ibid., p. 120.

obrigatório; poderá ser renunciado em qualquer tempo e também cassado pela

maioria de seus eleitores.”

155

Nesta acepção, Afonso Fernandez citando Silva traz o tema Fidelidade a

luz do aspecto jurídico que: “no conceito jurídico, entende-se a observância exata e

leal de todos os deveres ou obrigações assumidas ou impostas pela própria Lei.”

156

Nestes tempos, fala-se em fidelidade partidária levando em conta a figura

do parlamentar, Afonso Fernandez apresenta uma segunda vertente que ensina: “diz

respeito ao fato de que a legislação em vigor no Brasil não concede ao partido

político a possibilidade de enquadramento do chefe do Executivo nos casos de

infidelidade partidária.”

157

Não obstante, o Superior Tribunal Eleitoral também reconheceu a perda

do mandato ao cargo executivo, vejamos.

A fidelidade partidária também vale para os cargos majoritários – senadores, prefeitos, governadores e presidente da República, de acordo com o que decidiu hoje (16), por unanimidade, o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao responder afirmativamente à Consulta (CTA 1407) formulada pelo deputado federal Nilson Mourão (PT-AC).158

Cumpre destacar que, complementando o título deste trabalho, tem-se

que, para Afonso Fernandez, o substantivo partidário que integra o conjunto tratado

pode ser interpretado como: “Partidária(0) diz-se do, ou aquele que segue um

partido, uma facção, uma pessoa etc. Sectário. Correligionário. Que ou aquele que é

membro de um partido. Sectário.”

159

Merece destaque a definição de Fidelidade Partidária trazida por Afonso

Fernandez citando Melo em seu dicionário político: “Cumprimento dos

compromissos de lealdade com o programa do partido e de obrigações assumidas

com seus dirigentes.”

160

Até 1967 não se tinha notícias de qualquer Constituição Federal que

trouxesse o tema, de modo que Afonso Fernandez nos ensina que no texto da Carta

de 1967 os juristas propunham que: “No decurso de mandato eletivo, nenhum

155 FERNANDEZ, Fernando Francisco Afonso. Fidelidade partidária no Brasil. Florianópolis:

Conceito Editorial, 2008. p. 120.

156 Ibid., p. 110. 157 Ibid., p. 112.

158 AGÊNCIA de notícias da justiça federal. Disponível em:

<http://agencia.tse.gov.br/sadAdmAgencia/noticiaSearch.do?acao=get&id=947241> Acesso em: 29 maio 2011.

159 FERNANDEZ, op. cit., p. 110. 160 Ibid., p. 111.

parlamentar poderia retirar-se do partido pelo qual fora eleito, nem transferir-se para

outro, salvo renunciando o mandato que exercia”.

161

O termo fidelidade partidária há muito ronda a vida política brasileira,

neste diapasão, a consultoria legislativa do Senado Federal contribuiu esclarecendo

a Emenda Constitucional nº 1 de 1969, que modificou o art. 152, parágrafo único:

A fidelidade partidária, como o dever que se impõe ao parlamentar de obediência às diretrizes do partido e de permanecer no partido em que tenha sido eleito, sob pena de perda do mandato, é recente no Brasil. Foi introduzida pela Emenda Constitucional n° 1, de 1969, em seu art. 152, que dispunha, em sua versão original:

“Art. 152. A organização, o funcionamento e a extinção dos partidos políticos serão regulados em lei federal, observados os seguintes princípios: I –.[...]

V – disciplina partidária; VI –.[...]

Parágrafo único. Perderá o mandato no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais quem, por atitudes ou pelo voto, se opuser às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos de direção partidária ou deixar o partido sob cuja legenda foi eleito. A perda do mandato será decretada pela Justiça Eleitoral, mediante representação do partido, assegurado o direito de ampla defesa.”162

Cumpre salientar também a clareza expressa na legislação federal,

especialmente na Lei Orgânica dos partidos nº 5.682/71, em seus artigos 72, 74 e

75, os quais estabeleceram o dever da continuidade na fidelidade partidária,

vejamos.

CAPÍTULO II

Da Perda do Mandato por Infidelidade Partidária

Art. 72. O Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual ou Vereador

que, por atitude ou pelo voto, se opuser às diretrizes legìtimamente estabelecidas pelos órgãos de direção partidária ou deixar o Partido sob cuja legenda fôr eleito, perderá o mandato.

Art. 74. Considera-se também descumprimento das diretrizes legìtimamente

estabelecidas pelos órgãos de direção partidária:

I - deixar ou abster-se propositadamente de votar em deliberação parlamentar;

II - criticar, fora das reuniões reservadas do partido, o programa ou as diretrizes partidárias;

III - fazer propaganda de candidato a cargo eletivo inscrito por outro partido, ou de qualquer forma, recomendar seu nome ao sufrágio do eleitorado; e IV - fazer aliança ou acordo com os filiados de outro partido.

161 FERNANDEZ, Fernando Francisco Afonso. Fidelidade partidária no Brasil. Florianópolis:

Conceito Editorial, 2008. p. 122.

162

MACIEL, Eliane Cruxên Barros de Almeida. Fidelidade partidária: um panorama institucional.

Brasília, DF. 2004. p. 03. Disponível em:

Art. 75. A perda de mandato do parlamentar será decretada pela Justiça

Eleitoral, mediante representação do Partido, ajuizada no prazo de 30 (trinta) dias, contados:

I - da investidura do representado no cargo eletivo, se o ato que possa caracterizar a infidelidade partidária tiver sido praticado após o registro de sua candidatura, e antes da posse; e

II - do conhecimento do ato que caracterize a infidelidade partidária, se posterior à posse.163 (Grifo nosso)

Pimenta complementa o tema: “Bem verdade que , quando a junta militar

governou o país e editou a emenda constitucional nº1 de 1969, impôs regras de

fidelidade partidária, mas o objetivo era tão somente manter no congresso nacional,

a unidade da bancada da ARENA, partido que apoiava os militares.”

164

Por oportuno, Pimenta apud Roberto Damatta (tocquevilleanas – Notícias

da América. Rio de Janeiro: Rocco, 2005, p. 310) assim escreveu:

“No Brasil, os políticos trocam de partido e parceiros com generosidade. Isto, no setor das relações pessoais, seria traição (cujo “motor” é o ciúme, a outra “cara”da lealdade). Já no setor dos elos amorosos, seria adultério, mas, no âmbito político, “vencer significa trair e enganar”. Na política, traições são normais, (...).”165

Pimenta ressalta, ainda, que a preocupação com a fidelidade partidária

nunca foi prioridade de nossos representantes, e nesse sentido dispõe: “não parece

ter havido, na legislação, em nenhum momento, nem ontem nem recentemente,

qualquer preocupação específica com a fidelidade partidária enquanto componente

indissociável do regime democrático.”

166

Nesta senda, José Afonso da Silva também se manifesta acerca do tema,

alertando para o fato de os partidos poderem prever em seus estatutos sanções nos

casos de violação do regramento.

No entanto, é importante destacar que: “a Constituição não permite a

perda do Mandato por infidelidade partidária. Ao contrário até o veda, quando no

art.15, declara vedada a cassação de direitos políticos, só admitidas a perda e a

suspensão deles nos estritos casos indicados no mesmo artigo.

167

163 BRASIL. Lei n° 5.682, de 21 de julho de 1971. Dispõe sobre a lei orgânica dos partidos

políticos. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action? id=199015&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB>. Acesso em: 23 maio 2011.

164 PIMENTA, Fernando Gurgel. Guia Prático da Fidelidade Partidária. Ed. São Paulo: Mizuno.

2008. p.41.

165 Ibid., p. 39. 166 Ibid., p. 41.

167 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24 ed. São Paulo: Malheiros,

Documentos relacionados