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FUNDAMENTOS PARA A EXIGÊNCIA DA FIDELIDADE PARTIDÁRIA

Gurgel Pimenta demonstra o elo que liga eleitor e o candidato eleito e

mostra o caminho para se chegar ao poder: “O partido é, assim, o primeiro caminho

a ser trilhado por quem pretende participar de disputas eleitorais, por quem pretende

representar uma parcela da população, por quem pretende conquistar o poder.”

168

Ainda muito se discute a despeito do instituto da Fidelidade Partidária,

Pimenta comenta a repercussão:

A Constituição cidadã ressuscitou , em 1988, esse instituto, agora inspirado no fortalecimento dos partidos. Nas a carta magna não previu, em nenhum artigo, a perda de mandato eletivo em decorrência da pratica de infidelidade, deixando para os partidos a faculdade de estabelecer, nos seus estatutos, normas sobre punições porventura aplicáveis aos trânsfugas.169

Merecem destaque os termos Disciplina e Disciplina partidária, porquanto

Afonso Fernandez os apresenta como de grande importância:

São enfim, deveres morais ou de bons costumes entrelaçados com preceitos que se impõem à maneira de agir dentro e fora da instituição ou corporação, cuja transgressão pode motivar sanções disciplinares, Dessa categoria fazem parte as normas de Disciplinas contidas nos estatutos dos

partidos políticos.170

Por oportuno, Afonso Fernandez apud Ferreira Filho, apresenta como

complemento:

A coerência doutrinária imporia a submissão dos par-lamentares ao partido. De fato, são eles apenas os soldados dessa instituição, encarregados de lutar pela idéia que os inspira, na frente parlamentar. Devem executar as ordens que o povo lhes dá através dos partidos.171

168 PIMENTA Fernando Gurgel. Guia prático da fidelidade partidária. São Paulo: Mizuno. 2008.

p.32

169 Ibid., p. 42.

170 FERNANDEZ, Fernando Francisco Afonso. Fidelidade partidária no Brasil. Florianópolis:

Conceito Editorial, 2008. p. 115.

171 FERNANDEZ, Fernando Francisco Afonso. Fidelidade partidária no Brasil. Florianópolis:

A Emenda Constitucional nº 11/78 apunhalou a fidelidade partidária no

auge de sua vigência e no coração de sua validade, vez que modificou o art. 132 §

5, acrescentando a necessidade de fidelidade partidária apenas nos casos em que

se visava participar, como fundador, da constituição de novo partido. Vejamos tal

emenda que altera dispositivos da Constituição federal:

Art. 137

IX – a decretação da perda de mandato de senadores, deputados e vereadores nos casos do § 5º do artigo 152.

Art. 132- A organização e o funcionamento dos partidos políticos, de acordo

com o disposto neste artigo, serão regulados em lei federal.

§ 2º - O funcionamento dos partidos políticos deverá atender às seguintes exigências:

§ 5º - Perderá o mandato no senado Federal, na Câmara dos Deputados, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais quem, por atitude ou pelo voto, se opuser às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos de direção partidária ou deixar o partido sob cuja rege for eleito,

salvo se para participar, como fundador, da constituição de novo partido.172 (Grifo nosso)

Certo ficou que a intenção do legislador contrariou a vontade do eleitor,

conforme assevera Afonso Fernandez:

Ao deixar aberta a possibilidade da mudança de partido, motivada para a participação da fundação de nova sigla, o legislador expõe, desta feita, a verdadeira intenção ao criar a norma, deixando a nítida impressão de estar muito mais preocupado em disciplinar seu insubordinados do que propriamente tutelar a vontade do eleitor, quando da escolha dos seus representantes ou, até mesmo fortalecer ou preservar os partidos políticos com organismos fundamentais para a democracia representativa.173

O escritor Afonso Fernandez, lecionando sobre o tema, possibilitou uma

verdadeira aula a respeito do assunto, e assim escreveu:

Dentre as aparentes incongruências apresentadas pela emenda, destacava- se o entendimento de que o dispositivo conflitava com a essência e a estrutura do texto constitucional de um lado, porque transformava em letra morta o princípio da inviolabilidade do exercício dos Mandatos de deputados, senadores e vereadores e, por outro lado, o art. 41 do mesmo diploma declarava os senadores Representantes dos Estados: logo, não havia que se falar em diretrizes legítimas nem órgãos do partido.174

172 BRASIL. Emenda constitucional nº 11. Altera dispositivos da Constituição Federal. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?

id=124886&tipoDocumento=EMC&tipoTexto=PUB>. Acesso em: 25 maio 2011.

173 FERNANDEZ, op. cit., p. 124.

174 FERNANDEZ, Fernando Francisco Afonso. Fidelidade partidária no Brasil. Florianópolis:

Por oportuno, Afonso Fernandez nos relembra que a lei orgânica dos

partidos de 1965 previa sanções aos filiados:

Fazendo uma distinção entre coletivo e individual, determina sanções para os filiados ao partido que faltarem a seus deveres de disciplina, ao respeito de princípios programáticos, à probidade no exercício de mandatos ou funções partidárias, ficando sujeitos as seguintes medidas disciplinares: a)advertência, b)suspensão por 3 a 12 meses, destituição de função em órgão partidário e d)expulsão.175

Ao analisar a situação acima colocada, Afonso Fernandez leciona sobre a

relação indisciplina e infidelidade partidária:

Pela simples leitura das normas citadas, inexistia a possibilidade de aplicar a pena prescrita na emenda constitucional nº 1, de 1969, que determinava a perda do Mandato do parlamentar, caso este viesse a ser penalizado com o disposto no item “d” do parágrafo anterior [expulsão], por faltar com os deveres partidários, já que esta expulsão do partido refere-se à conduta do parlamentar enquanto filiado ao partido, e não à sua atuação na casa legislativa, o que, como antes visto, é conceitualmente diferente; portanto, não poderia ser confundida a Indisciplina Partidária com a Infidelidade

Partidária.176

Ato seguinte, afirma Afonso Fernandez que a expulsão não ensejaria

perda do mandato:

Se o eleito pretendesse o desligamento do partido pelo qual se elegera, fatalmente perderia o Mandato por força daquela emenda. Todavia, poderia ele ser expulso do mesmo partido, se não atendesse ao seu dever de filiado [indisciplina], com o que, por óbvio, estaria fora da agremiação política, não podendo ser penalizado com a cassação do Mandato, já que, como visto, não previa alei a perda do Mandato cuja motivação fosse Indisciplina

Partidária.177

Afonso Fernandez reporta o fim da fidelidade partidária lembrando que: “A

Fidelidade Partidária finalmente chegavam ao seu fim com a emenda nº 25 de 1985,

excluindo este instituto nos moldes em que fora concebido, suprimindo, por via de

conseqüência, as disposições em contrário.

178

Gilmar Mendes estabelece que: “é pacífica a orientação do Supremo

Tribunal Federal e no Superior Tribunal Eleitoral de que a infidelidade partidária não

175 FERNANDEZ, loc. cit. 176 Ibid., p. 124.

177 Ibid., p. 125.

178 FERNANDEZ, Fernando Francisco Afonso. Fidelidade partidária no Brasil. Florianópolis:

terá repercussão sobre o mandato exercido. A maior sanção que a agremiação

partidária poderia impor ao filiado infiel é a exclusão de seus quadros.”

179

O Excelentíssimo Senhor Ministro Gilmar Mendes, em sua obra Curso de

direito constitucional, assim lecionou: “A autonomia partidária não poderá realizar-se

sem observância dos princípios básicos enunciados na Constituição, especialmente

o respeito à soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os

direitos fundamentais da pessoa humana.

180

Ainda nas palavras do Ministro: “Se considerarmos a exigência de filiação

partidária como condição de elegibilidade e a participação do voto de legenda na

eleição do candidato, tendo em vista o modelo eleitoral proporcional adotado para as

eleições parlamentares, essa orientação afigurá-se amplamente questionável.

181

Na mesma linha, complementa Gilmar Mendes: “ressalvadas situações

específicas, decorrentes de ruptura de compromissos programáticos por parte da

agremiação ou outra situação de igual significado, o abandono da legenda deveria

dar ensejo à perda do mandato.

182

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