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2.2 Estrutura

2.2.1 Conceito histórico e evolução

Os estudos sobre estrutura têm sua origem e ascensão no século XX. Desde o surgimento de trabalhos pioneiros na primeira metade do século passado até os dias atuais, a estrutura permanece como uma das principais dimensões de análise organizacional, sendo destrinchada em teorias e perspectivas diversas.

Donaldson (1999) afirma que a teoria clássica concentra os primeiros ensaios e trabalhos sobre estrutura, norteados pela busca da melhor maneira de se organizar uma empresa. Até o final dos anos 50, o contexto no qual os estudos clássicos foram desenvolvidos apresentava elementos específicos, cujo reflexo evidencia-se nas teorias mais atuais. A ausência da atual hipercompetitividade permitia um grau de estabilidade mais elevado às empresas no início do século passado, onde o ritmo das mudanças era

mais vagaroso e as decisões administrativas eram tomadas em um espaço de tempo mais amplo.

Com isso, a sobrevivência organizacional relacionava-se não tanto com a capacidade de se diferenciar da concorrência, mas à maneira de se estruturar corretamente em determinado segmento de mercado. As organizações da época possuíam estruturas verticalizadas, uma cadeia de comando centralizadora, poucos níveis hierárquicos e um alto grau de divisão do trabalho. O controle do processo de trabalho se concentrava em cargos intermediários, considerados como formas primitivas do que é hoje conhecido como a função gerencial.

Em seus estágios iniciais, grande parte das organizações era gerida de forma paternalista, onde um líder ou empreendedor, na maior parte dos casos o próprio fundador do negócio, ocupava a figura central delegando tarefas, controlando o processo de produção e de tomada de decisão. Na medida em que o negócio prosperava e o mercado se desenvolvia, o grau de complexidade dessas organizações evoluiu de forma paralela, sendo suas estruturas desenvolvidas e ampliadas para que as novas demandas do mercado fossem atendidas. O avanço tecnológico e o surgimento de linhas de produção em massa a partir de 1920 fizeram com que a capacidade das organizações se expandisse de forma sem precedentes.Com isso, tanto no mercado quanto no campo teórico, a busca por novas estruturas tornou-se prioridade.

Apesar de mudanças externas terem exercido influência na estrutura das empresas nessa época, a teoria clássica não contemplava o ambiente e seus fatores com a relevância de escolas de pensamento e teorias posteriores. A organização era retratada como um sistema fechado, cuja sobrevivência dependia pura e simplesmente em sua própria capacidade. Ainda que o ambiente existisse, para a teoria clássica o mesmo não passava de um fator a ser controlado. A partir da década de 30, Donaldson (1999) declara que a escola clássica de administração passa a ser contestada por autores da escola de relações humanas, onde o empregado passa a ocupar o centro das discussões sobre a organização do processo de trabalho. Na teoria clássica, o indivíduo era considerado como uma peça a ser administrada, motivado apenas por fatores econômicos. Sua relevância na organização era praticamente inexistente e seu objetivo se resumia a seguir ordens. Com isso, a maneira como as organizações da época se estruturavam refletia esse foco. Com a unilateralidade presente nas organizações onde a alta direção mandava e seus subordinados obedeciam, a estrutura das empresas era predominantemente verticalizada.

Ao ser descrito na escola de relações humanas como um detentor de necessidades e desejos e influenciado por fatores psicológicos e sociais, o indivíduo passa a ocupar um papel mais complexo na organização. Uma vez que essa visão se modificava, consequentemente as relações sociais e profissionais no local de trabalho foram alteradas, influenciando a perspectiva sobre estrutura organizacional.

Segundo Donaldson (1999), as teorias da escola clássica de administração e da escola de relações humanas foram o centro de debates e discussões fervorosas sobre organizações na metade do século XX. Ainda que consideradas por diversos autores como antagônicas ou contraditórias, tentativas de conciliar essas teorias foram desenvolvidas a partir da década de 60. Nesse contexto, surgiu a Teoria Contingencial, adquirindo relevância ao apresentar uma perspectiva mais abrangente. Zanelli, Borges- Andrade e Bastos (2004) afirmam que, ao contrário da teoria clássica, que afirmava existir uma única forma de se estruturar eficientemente, a teoria contingencial estabelece a existência de um número indefinido de estruturas eficientes, determinado diretamente pelo número de fatores contingenciais à organização.

A partir da segunda metade do século XX, o contexto enfrentado pelas organizações apresentava um aumento em seu grau de instabilidade. As mudanças tecnológicas, sociais e econômicas transformaram gradativamente os mercados e mudanças nas teorias organizacionais ocorreram de forma concomitante. Organizações consideradas mecanicistas passaram a perder espaço para configurações mais orgânicas. Donaldson (1999) argumenta que essas mudanças refletiram nas estruturas organizacionais, onde a hierarquia passou a descentralizar-se, o trabalho se tornou mais abstrato e o indivíduo adquiriu responsabilidades mais amplas.

A hipótese central da teoria da contingência estrutural é que as tarefas de baixa incerteza são executadas mais eficazmente por meio de uma hierarquia centralizada, pois isso é mais simples, rápido e permite uma coordenação estrita mais barata. Na medida em que a incerteza da tarefa aumenta […], a hierarquia precisa perder um pouco do controle e ser coberta por estruturas comunicativas e participativas (DONALDSON, 1999, pg.107).

Chandler (1962) contribui para os estudos desse tema ao afirmar que a estrutura não se resume a uma escolha ou opção mais eficiente. Para esse autor, a estrutura organizacional é um desenho (design), ou seja, uma configuração dos recursos e processos internos em relação aos fatores que cercam a organização e principalmente, aos objetivos traçados pela estratégia organizacional. Formal ou informalmente, a

estrutura se resume a um desenho definido pela maneira como a autoridade e a comunicação entre as diferentes partes da organização são distribuídas.

Chandler (1962) desenvolve seus argumentos ao definir a estrutura como reativa. Através da estratégia traçada, problemas e obstáculos novos serão enfrentados e o desempenho da organização será afetado. Conseguintemente, faz-se necessária a adoção de uma estrutura mais adequada para que esses novos problemas sejam contornados e o desempenho volte a ser positivo. Ainda que fatores estruturais influenciem a tomada de decisão, esse autor afirma que a estrutura é contingencial à estratégia de expansão e crescimento estabelecida pela alta direção.

Através de uma abordagem contingencial, Galbraith e Nathanson (1978) relacionam um novo fator à estrutura: a competitividade. Segundo esses autores, a competitividade organizacional influencia de forma significativa a estrutura. Em condições de pouca ou nenhuma competição, a estrutura não apresenta relação direta com a performance organizacional uma vez que a necessidade de coordenação e controle é menor. Ao citarem Pfeffer e Leblebici, Galbraith e Nathanson (1978, pg.58), afirmam que a formalização nos processos organizacionais aumenta no mesmo ritmo em que cresce o nível de competitividade que a empresa enfrenta.

Mais competição traz a necessidade de maior coordenação e controle. O aumento é obtido através do uso formalizado de sistemas e procedimentos para mensuração e comunicação da performance e uma delegação maior da tomada de decisão dentre esses sistemas e procedimentos (GALBRAITH e NATHANSON, 1978, pg.58)3.

Esses autores concluem que em um contexto onde o desempenho econômico é o objetivo principal, a estrutura da organização e seus processos são mais passíveis à intervenção e mudanças no intuito de que a competitividade seja assegurada.