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O futebol é rico e complexo como campo de estudos. Sua relevância na cultura brasileira faz com que suas várias dimensões e facetas sejam exploradas por meio de teorias, perspectivas e campos científicos distintos. Segundo Santos (2002), essas produções podem ser classificadas de acordo com seus objetivos e foco de análise. O futebol e sua relação com as massas de torcedores e a mídia são abordados por estudos de comunicação. Os estudos sociológicos, antropológicos e históricos o relacionam com a cultura do país e seus reflexos no indivíduo e seus grupos sociais. Os aspectos biológicos, psicológicos e fisiológicos desse esporte são construídos em trabalhos de medicina e educação física. Por sua vez, seu papel na inserção social e na educação é retratado através da pedagogia. Os dados e informações acerca do passado do esporte são destacados por produções estatísticas, sua dimensão jurídica através do direito e as histórias de personagens ilustres do esporte são descritas e revividas através de biografias.

Em que pese o futebol ser amplamente discutido em uma quantidade abundante de livros, revistas, jornais, artigos e periódicos, o que Santos (2002) contesta é a pequena quantidade de produções científicas que o relacionem à Administração ou à

Economia, por razões ligadas ao próprio desenvolvimento do futebol no país, onde o distanciamento entre a gestão e o futebol é evidenciado:

[...] de fato, as poucas obras que analisam o futebol sob o ponto de vista da gestão, atestam a necessidade de ampliação da discussão, principalmente no âmbito acadêmico. Se, por um lado, isso dificulta a observação do estado da arte do assunto no Brasil, por outro, indica-nos que há um grande espaço para este tipo de abordagem. (SANTOS, 2002, pg. 13)

A profissionalização administrativa do futebol tem se destacado de forma crescente dentre os principais assuntos discutidos nos últimos 15 anos, em quantidade ainda limitada de dissertações, teses e artigos, cujas conclusões baseiam-se em dados empíricos. A evolução do futebol até os dias atuais é retratada amplamente e as mudanças históricas ocorridas ressaltam fatores, elementos e atores diversos cujo papel no processo de sua profissionalização não pode ser relevado.

Em função da escassez de produções acadêmicas relevantes sobre o assunto, aliada à dificuldade de acesso à administração dos principais clubes de futebol brasileiros, compreendia-se que a execução desta dissertação enfrentaria, em um determinado momento, algum tipo de resistência. De modo que estes obstáculos fossem superados, se fez necessária uma extensa revisão bibliográfica sobre as produções de cunho acadêmico que poderiam de fato contribuir como referencial teórico para a construção desta pesquisa, evitando dessa maneira uma pesquisa embasada apenas pelo que é conhecido como “literatura de aeroporto” - livros, textos e produções elaborados sem critérios e normas científicas.

Para evitar que a colaboração de indivíduos e representantes dos clubes analisados fosse negada ao pesquisador, o foco da análise e levantamento de dados da pesquisa foi estabelecido de modo a respeitar o caráter confidencial do Departamento de Futebol dos clubes em questão, por serem as áreas mais assediadas pela mídia e pelo público em geral, o que faz com que sejam preservados pelos clubes e, de certa maneira, blindadas no que tange a assuntos de natureza mais sigilosa.

O futebol, conhecido popularmente como a “paixão nacional” do brasileiro, ainda que seja o elemento central de inúmeros livros, jornais, crônicas, etc., é tratado pela academia com cautela. Mesmo ciente de que esse assunto esteja cercado pelo amadorismo, a relevância do tema, bem como a tradição e a complexidade da natureza das organizações do futebol, são prerrogativas suficientes para que as Teorias Organizacionais concedam maior importância e dedicação ao estudo dos elementos que

compõem esse universo. Logo, em função do estágio inicial no qual o encontram-se essas pesquisas, a presente dissertação possui um caráter exploratório e descritivo.

Segundo Godoy (1995), o método descritivo caracteriza-se por uma menor rigidez e integração com o fenômeno estudado, o que possibilita ao pesquisador maior liberdade em sua construção. Visto isso, é possível constatar que um estudo descritivo é adequado ao problema de pesquisa, pois, segundo Richardson et al (1985), ao levantarem, ordenarem e classificarem as variáveis específicas de um determinado fenômeno, estudos como esse abrem espaço para o desenvolvimento futuro de outras pesquisas relacionadas ao tema.

A carência de referenciais qualificados faz com que a realização de uma pesquisa qualitativa seja mais adequada aos propósitos desta pesquisa, pois, segundo Flick (2004), produções desta natureza permitem que o pesquisador explore de maneira mais profunda as relações e fatos envolvidos em um determinado caso. Logo, a complexidade que caracteriza a gestão dos clubes brasileiros, bem como as relações sociais envolvidas no dia a dia de um clube, consequentemente elegem a pesquisa qualitativa como a metodologia mais apropriada para fornecer as respostas às questões levantadas anteriormente.

Com o objetivo de analisar com mais profundidadeos fatores que constituem um fenômeno em questão, optou-se pela realização de estudos de caso, que, segundo Vergara (2005), possibilitam ao pesquisador uma análise aprofundada das variáveis envolvidas na sua explicação. Segundo Yin (2001), na realização de um estudo de caso, além de se considerar um número de evidências maior do que outras estratégias de pesquisa, é possível que as características e especificidades de um determinado evento sejam preservadas, uma vez que as mesmas são analisadas dentro de seu próprio contexto, respeitando-se seus limites. Ainda segundo Yin (2001), o método de estudo de caso consiste em uma investigação empírica, onde um fenômeno contemporâneo é investigado dentro do seu contexto da vida real. Há ainda o pressuposto de que os limites entre esse fenômeno e os elementos que o constituem não estejam claramente definidos e, portanto, a coleta e as estratégias de análise qualitativa de dados tornam-se fundamentais.

Dentro do universo dos clubes brasileiros, os vinte principais clubes possuem diversas especificidades políticas, econômicas e culturais. A presente pesquisabaseou- se na suposição de que, para que se compreendessem melhor as mudanças provocadas

no campo da gestão do futebol brasileiro, seria necessária a realização de mais de um estudo de caso.

Segundo Yin (2001), um estudo de casos múltiplos é considerado mais robusto e abrangente do que um estudo de caso único. Ainda que não possibilitem uma análise mais generalizada em relação aos estudos de caso único, os mesmos propiciam ao pesquisador uma base mais ampla de dados para análise. Logo, com o objetivo de se estruturar uma análise mais completa do modo como são geridos estes clubes de futebol,optou-se pela realização de um estudo de casos múltiplos e incorporados. Pelo fato de que os casos holísticos analisarem a organização e todos seus aspectos de maneira mais superficial, a escolha por estudos de caso incorporados pretende aprofundar essa análise em aspectos mais específicos: estratégia, estrutura, ambiente e profissionalização.

Segundo Yin (2001), este tipo de estudo apresenta mais de uma unidade de análise, fornecendo uma perspectiva mais complexa sobre os aspectos gerais da organização. As unidades aqui analisadas são a estrutura, estratégia e ambiente organizacional dos clubes em questão, exploradas no intuito de questionar/confirmar a existência de um processo de profissionalização.