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2. INFLUENCIADORES DIGITAIS: DISCURSIVIDADE ACERCA DO

2.2 Conceituações, delimitações de atuação e tipos de influenciadores digitais

O fato de um usuário ter uma conta no Twitter, um blog na web, uma conta no Instagram ou no Snapchat não faz dele um influenciador digital, já que a premissa básica é uma construção estruturada de comunidade de leitores. Para Camargo, Estevanim e Silveira (2017) a lógica da influência é feita pela participação em rede, convergência midiática, interação e aproximação entre os chamados influenciadores digitais e o público que vai formando, “um diálogo não direto, mas de nicho, isto é, fala-se para pessoas específicas que vão querer consumir, opinar e replicar o que os influenciadores fazem em ambiência digital” (CAMARGO; ESTEVANIM; SILVEIRA, 2017 p. 110)

A atividade de influenciador digital, atualmente, é considerada aquela realizada por homens ou mulheres de diferentes níveis de escolaridade com atuação no cenário virtual por meio das plataformas digitais. Com o crescimento e sucesso exponencial, muitos usuários da internet, entusiasmados com o status, retorno financeiro e visibilidade, estão se candidatando a esse espaço cada vez mais disputado.

Ainda sem regulamentação profissional, qualquer indivíduo com aptidão pode tornar-se um influenciador digital. No entanto, a legitimação e a efetivação da atividade proposta na virtualidade perante os demais demandam mais esforços do que simplesmente a autodenominação. Entre os já estabelecidos e os que almejam se constituírem como tal, há um consenso: a utilização do “EU” como mercadoria. A vida pessoal é utilizada para aproximar os públicos que os acompanham diuturnamente.

Raquel Recuero13, em entrevista concedida a Ana Brambilla e Gabriela Glette, respectivamente professora e aluna do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, para a Revista Communicare, volume 17, edição especial comemorativa aos 70 anos da Faculdade, dá três exemplos de tipos de influenciadores: 1) o expert em um assunto, não necessariamente uma pessoa famosa, mas conhecedora do assunto; 2) pessoas famosas que dão visibilidade ao que se fala, mesmo não sendo experts no assunto; 3) e aquele que é uma ponte entre os grupos, quando a informação chega nele, ele é responsável por espalhar porque todo mundo tem mais ou menos as mesmas conexões, mas essa pessoa que faz a ponte, tem conexão com os outros.

13 Raquel Recuero é doutora e mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas. Atualmente é professora e pesquisadora do Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É considerada uma das maiores pesquisadoras da internet, comunidades virtuais, e redes sociais no Brasil e investiga e analisa o fenômeno dos influenciadores digitais desde o início de seus estudos.

Com proposta semelhante a Recuero, Karhawi (2017) exemplifica as diversas habilidades atribuídas aos influenciadores no exercício da atividade. “Um influenciador pode ser tanto aquele que estimula debates ou agenda temas de discussão em nichos, quanto aquele que influencia na compra de um lançamento ou determinada marca” (KARHAWI, 2017 p.59). Com essa construção consolidada, as marcas identificam neles, uma ponte entre seus produtos/serviços e consumidores.

A YouPix14 em um filme denominado “The Creators Shift” (2015), afirma que a revolução de conteúdo publicado nas redes sociais está nas mãos dos criadores de conteúdo digital. Partindo dessa premissa, o site propôs sete possibilidades de influência digital:

1) Top Celeb: são pessoas famosas, nativas ou não digitais, sem qualquer afinidade com a temática;

2) Fit Celeb: pessoas famosas nativas ou não digitais com afinidade e relevância com os assuntos da marca;

3) Autoridade: figuras com certo respeito dentro de um segmento ou região com afinidade e ressonância sobre o tema ou a audiência;

4) Ecossistema: pequenos influenciadores dentro de um tema que, juntos, podem fazer a diferença;

5) Trendsetters: especialistas em seus campos de atuação e respeitados por serem embaixadores ou lideranças de causas ou temas;

6) Jornalistas: trabalham na mídia tradicional e têm grande alcance, podendo ou não ter relevância direta sobre o tema;

7) Público interno: microinfluenciadores da marca por estarem dentro das organizações; Vários fatores foram determinantes para o surgimento dos influenciadores digitais, entre aqueles podemos destacar: o aparecimento de plataformas digitais interativas, o vídeo como ferramenta de fácil consumo, a praticidade da elaboração e do consumo das informações, o acesso à Internet nos aparelhos de telefonia móvel e o uso de máquinas de fotografia e vídeo digitais e a utilização de narrativas espontâneas.

Influenciar é uma ação inerente ao ser humano. Há os influenciadores e os influenciados que, por sua vez, passam a influenciar outras pessoas; uma verdadeira cadeia. “Os chamados influenciadores, de certa forma, criaram seus públicos em torno de gostos e opiniões muito específicos. Por vezes, as narrativas orais eram tão espontâneas que a sensação imperou” (CAMARGO; ESTEVANIM; SILVEIRA, 2017 p. 112)

14 Youpix é um site da web (www.yopupix.com.br) destinado a conteúdo para influenciadores digitais, além de prestar consultorias e organizar cursos, palestras, seminários e eventos sobre a temática.

No virtual, os primeiros delineamentos que se têm conhecimento de influenciadores digitais do público feminino, tiveram suas primeiras atuações nos blogs de moda; eram as chamadas “blogueiras de moda”. Muitas pesquisas acadêmicas se debruçaram sobre o assunto, tendo o blog como corpus a ser estudado. Com o passar dos anos, as blogueiras no intuito de se aproximar ainda mais de seus seguidores, migraram para outras plataformas digitais a saber: Youtube, Instagram, Facebook e Snapchat15.

O termo influenciador digital (e antes dele, sua versão em língua inglesa;

digital influencer) passou a ser usado mais comumente no Brasil, a partir de

2015. Um dos principais motivos para estar atrelado à entrada de novos aplicativos na esfera da produção desses profissionais que deixara, de se restringir a apenas uma plataforma – só o Youtube, no caso de vlogeuiros, ou só o blog, no caso dos blogueiros. Um exemplo: desde 2006, a blogueira Camila Coutinho mantém seu blog Garotas Estúpidas [...]. Apenas em 2014, no entanto a blogueira postou seu primeiro vídeo no youtube. Desse modo o termo blogueira parece limitar a atuação em redes sociais digitais. (KARHAWI, 2017 p. 53)

A autora também afirma que os influenciadores são aqueles que “(...) têm algum poder no processo de decisão de compra de um sujeito, poder de colocar discussões em circulação; poder de influenciar em decisões em relação ao estilo de vida, gostos e bens culturais daqueles que estão em suas redes” (KARHAWI, 2017, P.48)

No mesmo período, outra denominação foi utilizada em larga escala no Brasil para fazer referência a influenciadores; trata-se do termo Content Creator ou apenas Creator, traduzido para o português como “criadores de conteúdo digital”16 apesar dos dois termos atribuírem à mesma atividade, ficou decidido para esta tese, utilizar o termo “influenciador digital”, uma vez que a nomenclatura é mais conhecida no âmbito acadêmico17.

A institucionalização das competências das atividades exercidas pelos influenciadores digitais e do modelo de negócios vigentes é algo que tem sido estudado desde os primeiros passos dos blogueiros considerados “profissionais”. Para Karhawi

15 No final do ano de 2016, o Instagram passou a oferecer o Instastories, ferramenta com as mesmas características do Snapchat: exposição de vídeos e fotos por um período de 24 horas. Ao disponibilizar essa ferramenta, o número de usuários ativos no Instagram subiu de 300 para 500 milhões, um ano depois do seu lançamento, segundo estudo feito pela TechCrunch. CONSTINE, Josh. Instagram Stories is stealling

Snapchat`s users. Disponível em: https://techcrunch.com/2017/01/30/attack-of-the-clone/. Acesso em: 21 jan. 2019. Com isso, houve uma migração em massa de seguidores para o Instagram e um consequente “abandono” do Snapchat. Este é o cenário brasileiro.

16 O responsável por trazer esse termo para o Brasil foi o YouPix, rede que se autodenomina “aceleradora de negócios da indústria de conteúdo digital. The Creators Shift. Disponível em:

https://medium.youpix.com.br/the-creators-shift-26bacab84308. Acesso em: 28 mai. 2019

17 Esta tese não tem o intuito de dirimir a importância dos outros termos utilizados no universo digital, como exemplo: youtubers, instagramers, snapchaters ou mesmo blogueiros. Mas, para fins de organização e linha de raciocínio, decidimos pela escolha do termo influenciador digital.

(2017) a utilização do termo influenciador digital, portanto, não extingue a dinâmica dos blogueiros ou vlogueiros, porque não representa uma inovação nas práticas da comunicação, e sim, mais uma ampliação das possibilidades de atuação.

Unindo conceitos de mediação e midiatização ao que podemos compreender como influência – credibilidade, reputação, prestígio – tomamos a liberdade de afirmar que o influenciador, como ator em processos de sociabilidade, assume a função mediadora através de sua atividade como uma práxis comunicativa e age como elemento midiatizador ao institucionalizar essa prática como um canal de informação e interação entre e para as audiências (SAAD; FRAGOSO, 2017 p.124)

Para entender o fenômeno dos influenciadores digitais, não há como dissociá-lo do arcabouço teórico ligado ao processo da midiatização. Há muitos pesquisadores atuando em perspectivas distintas umas das outras. Para identificar as semelhanças e diferenças, foi feito um confronto dos estudos de Verón (2014), Fausto Neto (2008), Hjavard (2014) e Hepp (2014). Em seguida, foi abordada qual perspectiva tem relação direta com a temática desta pesquisa.