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4 LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL: REGISTRO, PROCESSOS

4.1 CONCEITUANDO CONTEXTO E REGISTRO

Para Halliday e Hasan (1989), do contexto fazem parte os participantes, que estabelecem relações com características específicas na interação. Estas têm o papel de interferir no desenvolvimento da comunicação. Logo, as formas de intervenção na comunicação vêm corroborar o conceito de contexto estabelecido pelos autores como características (concretas e imediatas ou abstratas e remotas) que são pertinentes ao discurso que está sendo produzido (HALLIDAY, 1989). Sua compreensão se dá por dois ângulos diferentes, contexto de situação e contexto de

cultura, não sendo excludentes. Para tanto, Bárbara e Macedo (2009), com base em Halliday (1989), conceituam

contexto de cultura como todo o repertório de crenças, valores e ideologias da comunidade que possibilita ao seu membro gerar significados. Já o Contexto de situação diz respeito aos padrões, regras de funcionamento de uma interação, que servem para interpretar o contexto social do texto. (p. 30-31).

O ambiente adjacente de interação, de acordo com Halliday e Hasan (1989), não é suficiente para que ocorra uma análise linguística mais aprofundada.

Halliday, em estudo de 1978 (p. 31), faz referência às diferenças existentes entre os tipos de situação, determinando três aspectos principais como norteadores: o primeiro trata-se do lugar, o segundo da linguagem utilizada e o terceiro de quem participa. Conforme o autor, estes três aspectos são determinantes para definir a extensão de como os significados são selecionados e usados por seus falantes/escritores. Já o contexto de situação, visto por Hasan (1989), elenca as variáveis campo, relações e modo. A variável campo tem seu propósito no evento comunicativo, na atividade que está em andamento; a variável relações preocupa-se com os papéis desempenhados pelos participantes em suas interações; e a variável modo interessa-se pela forma comunicativa, o veículo de comunicação e a função exercida pela linguagem no dado momento. Estes conceitos perduram na LSF e, de acordo com Halliday, Mclntosh e Strevens (1964, p. 87), registro pode ser definido como “uma variedade da linguagem que se distingue de acordo com o uso”, isto é, a linguagem varia de acordo com a situação e necessidade por parte do sujeito.

Com base nesses três elementos, Hasan (1989) elaborou as três variáveis do contexto - campo, relações e modo - que vêm a constituir o registro. Conforme a autora, a linguagem não é usada apenas para moldar a realidade, mas também para defendê-la de qualquer ameaça a valores diferentes pertencentes a cada indivíduo (HASAN, 1989, p. 34). Hasan usou o termo "configuração contextual" (CC) para se referir aos valores específicos das três variáveis. A configuração delineada por Hasan (1989) para explicar o registro parte da estratificação dos planos comunicativos, que incluem o contexto de cultura e de situação bem como o texto, o que pode ser observado na Figura 7.

Figura 7 - Texto em contexto

Fonte: (Adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004; 2014).

A carga semântica do texto determina, de certa forma, todos os aspectos do contexto em que está inserido, considerando-se apropriado a dada situação. A Figura 7 mostra a configuração do contexto de cultura que instancia o de situação e que encapsula o texto. O contexto de cultura aparece como o mais externo por se tratar da sociedade, instituições culturais e grupos de que o indivíduo participa. O contexto de situação é instanciado pelo de cultura, ao passo que, nessa sociedade e/ou instituições/grupos de que o indivíduo participa, são criadas situações específicas de comunicação que o induzem à elaboração de textos. A estratificação estabelecida apresenta uma rede de escolhas que estão interrelacionadas em um todo no contexto que se está inserido e suas variáveis. De acordo com Eggins e Slade (1997, 285), “a análise do contexto através do conceito de registro é a extensão lógica de tese de linguagem ‘natural’ de Halliday”.

Consoante Matthiessen (2015a, p. 18), registro pode ser definido como “uma configuração de recursos semânticos que um membro de uma cultura normalmente associa com o tipo de situação”. Diz respeito às escolhas que o falante/escritor faz em determinados locais e situações. De acordo com o autor, o falante/escritor não encontra dificuldades para reconhecer as escolhas linguísticas disponíveis na situação, e isso se dá devido a significados potenciais no contexto social. Por conseguinte, o registro é reconhecido como “uma seleção particular de palavras e estruturas” que são mobilizadas pelo falante/escritor no momento da sua necessidade de comunicação (MATTHIESSEN, 2015a).

Em complemento aos conceitos expostos, Ghadessy (1993, p. 288) afirma que “o objetivo fundamental da análise do registro é descobrir os princípios gerais que regem o intervalo de variação”, ou seja, quais fatores podem determinar as características linguísticas em uso. O conceito de registro é elaborado também por Cloran (1994, p. 126), que discorre sobre uma unidade retórica, que pode ser compreendida como "aspectos do registro de um texto". Dessa forma, as unidades semânticas de todos os tamanhos corresponderiam à configuração contextual no nível da semântica, referindo-se aos aspectos de campo, relações e modo. Ao seguir essas concepções, Staples, Egbert, Biber e Conrad (2015) conceituam os registros como variedades de linguagem que são associadas a uma configuração, situações, características e propósitos particulares. Os autores postulam que todas as línguas possuem variantes para expressar significados, assim, vários fatores envolvem a constituição de um registro.

As características dos participantes, seus relacionamentos e suas atitudes são também importantes, pois, para Staples, Egbert, Biber e Conrad (2015), fatores como tempo e local, circunstâncias de produção e de processamento, bem como propósito da comunicação vão sendo compartilhados no decorrer da comunicação. Com essa explanação, os autores consideram que um registro pode ter sua definição na combinação particular de valores que dizem respeito a cada uma dessas características (STAPLES; EGBERT; BIBER; CONRAD, 2015).

Importa mencionar a definição de Biber e Conrad (2003, p.175) de que “as variáveis definidas em termos de parâmetros situacionais gerais são conhecidas como registros”. Consoante os autores, o termo registro pode ser associado a qualquer variedade com uma configuração específica e que apresente características e propósitos situacionais, da mesma forma que pode ser definido por sua combinação particular de valores para cada uma dessas características (BIBER; CONRAD, 2003, p.175).

As concepções de autores como Agha (2004) são importantes para a compreensão de outros pontos de vista. O autor descreve o registro como "repertório linguístico associado, internamente cultural, com práticas sociais particulares e com pessoas que envolvem tais práticas” (p. 34). Portanto, ficam claras as perspectivas teóricas em relação ao registro, esboçadas por Halliday (1989), Hasan (1989) e Matthiessen (2015a). Tais concepções abarcam a LSF e direcionam os estudos da linguagem para todas as esferas sociais, pois, segundo

Matthiessen (2013, p. 444), “como linguistas - e como semióticos -, é claro, treinamos para detectar e para lidar com o jogo semiótico em particular”.