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3 A CONSTRUÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO

3.1 TEORIAS DE ARGUMENTAÇÃO

3.1.4 Van Eemeren e Grootendorst: Ato argumentativo

O final do século XX foi marcado também por diferentes visões em relação à argumentação. Após as contribuições de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996), com a Nova Retórica, e de Toulmin (2001), com os usos do argumento, começou a se expandir uma tendência, por volta dos anos 1970, que visava a “lógica informal”. Já a partir dos anos de 1980, a tendência era outra, a dialogal, cuja influência surgiu das pesquisas sobre “linguagem e contexto, a conversação e o diálogo natural” (PLANTIN, 2008, p. 24). Dessa forma, Van Eemeren e Grootendorst ganharam voz com sua obra “La nouvelle dialectique” em 1996, ao tratar da perspectiva do diálogo e seus interlocutores.

A principal contribuição de Van Eemeren e Grootendorst para a época era tratar de uma abordagem pragmadialética, com o desenvolvimento de um modelo normativo de argumentação (PLANTIN, 2008), ou seja, uma adaptação de modelos já existentes que compunham os pragmático-conversacionais. A argumentação foi pensada pelos autores a partir da demonstração de dúvida de um ponto de vista por parte do locutor.

Argumentação, para Van Eemeren, Grootendorst e Henkemans (2002), poderia ser entendida como “uma atividade racional verbal e social, voltada ao convencimento de um possível interlocutor crítico da aceitabilidade de uma tese (standpoint) por meio da constelação de uma ou mais proposições que justificariam essa tese” (p. 12), isto é, uma forma de interação e comunicação envolvida em um contexto específico com diferentes opiniões. Essa perspectiva reflete a importância de “uma diferença de opinião”, isto é, a dúvida como lugar de destaque na teoria, objetivando uma resolução nas formas de opinar.

A reconstrução do discurso argumentativo vista por Van Eemeren e Grootendorst (1992) incide na elaboração de um método que considera os aspectos referentes a uma avaliação crítica. Os autores desenvolvem e explicam um conjunto de regras que precisam ser levadas em consideração para a construção de uma discussão crítica e fornecem uma base para a compreensão de códigos de comportamento, os quais são necessários para aqueles interlocutores que desejam resolver suas “diferenças de opinião”.

De acordo com Van Eemeren e Grootendorst (1984), a argumentação pode ser vista como “um ato de fala complexo”, pois os interlocutores podem vir a

expressar diferentes atos de fala e/ou de escrita dependendo de suas intenções na situação atual. Para compreender o que de fato são os atos de fala, torna-se necessária a ideia clara de que proposições são feitas e que funções comunicativas o interlocutor quer atingir. Acrescenta-se que o ato de fala é, segundo os autores, “um efeito comunicativo” (1992, p. 227), ou seja, visa à objetivação por parte do locutor e, ao mesmo tempo, trabalha para que seu interlocutor concorde ou aceite seu ato, sendo, portanto, um “efeito interacional”.

Na tentativa de elucidar tais conceitos, torna-se importante destacar que a construção do ato de argumentar se dá de forma complexa, possibilitando, de acordo com Mari e Mendes (2008, p. 99), “ao menos duas funções comunicativas ao mesmo tempo, de modo que a constelação de atos que constitui uma argumentação deve apresentar uma conexão específica entre esses atos”. Compete, então, a sua divisão em “atos complexos e atos elementares”; os complexos residem no nível do discurso, uma forma de defesa de opinião por parte do locutor objetivando influenciar seu interlocutor acerca de sua proposição, isto é, despertar sua aceitabilidade, já os elementares referem-se à oração. Cada um desses atos desencadeará funções diferentes, contudo, o ato complexo demanda de condições, designadas de “identificação” e de “correção”, que estabelecem relações referentes ao ato e à situação em andamento.

As condições mencionadas como de identificação do ato complexo são de dois tipos, a saber: a) condições de conteúdo proposicional; b) condições essenciais. A primeira diz respeito à compreensão da compatibilidade semântica na proposição do ato que compõe a argumentação. Já a segunda requer a compreensão do interlocutor, na tentativa de convencê-lo acerca do ponto de vista expresso pelo locutor. Além das condições de identificação, as de correção dividem-se da mesma forma em duas: c) condições preparatórias; d) condições de responsabilidade. As condições preparatórias foram definidas com base na crença do locutor de que o interlocutor tem a possibilidade de aceitar a “constelação desses atos”, sendo eles uma justificativa razoável de sua opinião (MARI; MENDES, 2008, p. 100). Tem-se em vista que as condições de responsabilidade estabelecidas pelos autores incidem na crença do locutor de que seu ponto de vista é aceitável por parte do interlocutor.

A versão teórica de argumentação apresentada com base em Van Eemeen e Grootendorst é configurada como uma idealização da abordagem pragmadialética,

denominada pelos autores como “modelo normativo ideal dos atos de linguagem realizados em uma discussão crítica” (VAN EEMEREN; GROOTENDORST, 2004, p. 05). Essa abordagem busca, diferentemente das outras apresentadas, o rigor no funcionamento da argumentação, enfatizando sua concepção no ato discursivo complexo e às suas regras que interferem na situação de comunicação em curso e que pressupõem uma discussão crítica. A essa explanação considera-se a possibilidade de diálogo com os outros modelos mais clássicos já apresentados anteriormente, que visavam padrões ou, até mesmo, a estruturação da argumentação elaborada por Toulmin (1996).

A Figura 6 sintetiza as principais características de cada uma das teorias de argumentação apresentadas nesta pesquisa.

Figura 6 - Teorias de argumentação

Fonte: (Elaborado pela autora com base nas teorias apresentadas).

No capítulo seguinte, exploram-se conceitos referentes à Linguística Sistêmico-Funcional, mais especificamente as noções de contexto, registro e modalidade.

4 LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL: REGISTRO, PROCESSOS