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Concepção, Características, Elementos e Políticas da Educação a Distância,

3.1 Concepção de educação

Em relação à educação e, no caso à educação a distância, uma questão importante no âmbito das discussões pedagógicas é a associação que se faz muitas vezes entre ensino, educação e aprendizagem.

Ensino a distância e educação a distância são utilizados como sinônimos no contexto do processo de aprendizagem, mas enquanto ensino expressa treinamento, instrução, transmissão de informações etc. A educação é estratégia básica de formação humana, isto é, aprender a aprender, criar, inovar, construir conhecimento, participar etc. (MAROTO, 1995). Ensino, para Morin (2001), é a arte ou ação de transmitir conhecimento a uma pessoa de maneira que ela compreenda e assimile. Mas, segundo ele, tem um caráter restrito porque é apenas cognitivo.

Demo faz uma provocação interessante quando coloca que o ensino, simplesmente, pode ser feito a distância por meios eletrônicos, mas para se fazer educação, formação humana é necessário o comparecimento da qualidade humana (DEMO, 1998). Nesse sentido, pensa-se que para atender à perspectiva de formação humana, a iniciativa deverá estar alicerçada num projeto pedagógico no qual todos os elementos que o constitui (docente, estudante, material didático, tutoria, recursos tecnológicos etc.) estejam voltados para a (re)construção do conhecimento (DEMO, 2004) e à preparação para vida.

A educação pode ser concebida dos pontos de vista teórico e metodológico. Pode- se partir inicialmente de três vertentes filosófico-políticas. A primeira “vertente” denominada de concepção redentora, entendida como manifestação social que objetiva formar a personalidade dos indivíduos e desenvolver suas habilidades e inculcar valores éticos julgados necessários à manutenção da vida em sociedade (LUCKESI, 1990). Nessa vertente, a educação deve promover a adaptação do indivíduo a uma sociedade entendida como organicamente harmoniosa, reforçando os laços entre os indivíduos, promovendo a coesão social.

A educação concebida enquanto instância social reprodutora implica conceber a educação enquanto um elemento da própria sociedade, determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e políticos e, portanto, a serviço dessa mesma

sociedade e de seus determinantes. É denominada reprodutivista, embora faça uma análise crítica da sociedade no sentido de situar a educação (escolar ou não-escolar) como um fenômeno histórico-social fruto de condições políticas, econômicas e culturais (idem, 1990).

A educação sob o enfoque crítico difere das outras concepções porque “interpreta a educação dimensionada dentro dos determinantes sociais, com possibilidades de agir estrategicamente. Ela, a educação, pode ser uma instância social, entre outras, na luta pela transformação da sociedade, na perspectiva de sua democratização efetiva e concreta, atingindo os aspectos não só políticos, mas também sociais e econômicos” (Idem, ibidem, 1990, p.49).

O mesmo entendimento tem Freire (2000) quando constata que a educação jamais pode ser neutra, no sentido de que tanto pode estar a serviço da decisão, da transformação do mundo, da inserção crítica nele, quanto pode estar a serviço da imobilização, da permanência das estruturas injustas, da acomodação dos seres humanos à realidade tida como intocável53.

Libâneo procura traduzir a concepção de educação crítica argumentando que a educação é uma atividade intencional, é uma prática social:

[...] cunhada como influência do meio social sobre o desenvolvimento dos indivíduos na sua relação ativa com o meio natural e social, tendo em vista potencializar essa atividade humana para torná-la mais rica, mais produtiva, mais eficaz diante das tarefas da práxis social postas num dado sistema de relações sociais. O modo de propiciar esse desenvolvimento se manifesta nos processos de transmissão e apropriação ativa de conhecimentos, valores, habilidades, técnicas em ambientes organizados para esse fim (1998, p.75).

Evidentemente que se entende o papel da educação como manifestação humana capaz de assegurar o patrimônio histórico e cultural da humanidade, assim como de possibilitar que as novas gerações sejam formadas ou orientadas na construção de subjetividades autônomas, críticas e emancipadoras.

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Conforme Silva (2000) Paulo Freire construiu uma concepção de educação libertadora. Uma concepção que propunha a libertação da opressão e da dominação ideológicas realizadas pela sociedade capitalista, através da internalização daquelas nas consciências dos “oprimidos”.

Numa concepção complexa, a educação é vista como instância propulsora capaz de construir relações de vida mais solidárias, concebendo cada indivíduo em suas dimensões: biológica, psicológica, cultural, antropológica, histórica, afetiva, racional etc. A concepção de homem numa perspectiva de complexidade entende que ele é um feixe de dimensionalidades. Conforme salienta Morin, o homem é:

[...] um ser racional e irracional, capaz de medida e desmedida; sujeito de afetividade intensa e instável. Sorri, ri, chora, mas sabe também conhecer com objetividade; é sério e calculista, mas também ansioso, angustiado, gozador, ébrio, extático; é um ser de violência e de ternura, de amor e de ódio; é um ser invadido pelo imaginário e pode reconhecer o real, que é consciente da morte, mas que não pode crer nela; que secreta o mito e a magia, mas também a ciência e a filosofia; que é possuído pelo deus e pelas Idéias, mas que duvida dos deuses e critica as Idéias; nutre-se dos conhecimentos comprovados, mas também de ilusões e de quimeras (2000a, p.59).

O homocomplexus é a perspectiva conceitual complexa para se poder construir projetos e programas educativos que (re)estabeleçam uma compreensão sistêmica do ser humano e não apenas privilegiem uma dimensão do ser humano. O ser humano se constitui nessa dialogia entre o sapiens e o demens.

É fundamental que o educador compreenda a teia de relações existentes entre todas as coisas, os eventos, os fenômenos, as partes, as dimensões. Tudo se liga e interliga a tudo num todo dinâmico, seja no mundo natural, no físico ou no social:

O conhecimento está naturalmente ligado à vida, fazendo parte da existência humana. A ação de conhecer está presente simultaneamente nas ações biológicas, cerebrais, espirituais, culturais, lingüísticas, sociais, políticas e históricas, por isto, o ser condiciona o conhecer, que ao mesmo tempo condiciona o ser (PETRAGLIA, 1995, p. 71).

A prática pedagógica na escola, dentro dessa perspectiva de olhar, deve conceber o fenômeno educativo como uma das dimensões da realidade complexa devendo em seu cotidiano: “[...] distinguir e não separar ou disjuntar, associar e interligar e não reduzir ou isolar; complexificar e não simplificar” (Idem, ibidem, p.76).

Os processos educativos a distância podem ser compreendidos nessa perspectiva como uma teia de relações interdependentes. Um curso pode ser comparado a um grande sistema que é composto de partes, de componentes, tais como: professor especialista, professores orientadores (tutores), os estudantes que participam do curso. Esses

componentes ou partes estão interligados por mecanismos de interação e de interdependência, por uma organização espaço-temporal que os articula e possibilita que eles se articulem entre si. De maneira que nessa inter-relação, as partes dependem do todo e o todo depende das partes. Mas, a qualidade ou as propriedades do todo não podem ser reconhecidas nas partes, isoladamente, e sim, na dinâmica interativa e interdependente das partes em relação ao todo num movimento temporal, in acto.