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Globalização, Educação a Distância, Sociedade da Informação e Paradigmas da Ciência

2.4 Educação a distância e a 3.ª Revolução Tecnológica

A educação a distância traduz nos dias de hoje a complexidade do processo educativo contemporâneo à medida que rompe a barreira do espaço geográfico entre o docente e o estudante e altera a rotina histórica e consolidada do tempo escolar fabril. É preciso retomar as condições históricas, econômicas, científicas e tecnológicas que edificaram os processos educativos formais nos últimos séculos, a fim de situar adequadamente seu papel, suas características e fundamentos teóricos, filosóficos e epistemológicos na sociedade da informação (CASTELLS, 2002; MATTELART, 2002; PRETTO, 2006; COSTA, 2006; ROSSINI, 2007).

Em pleno século XXI, a globalização32 (IANNI, 1993, 1997a, 1997b, 1993, 2001; DOWBOR, 2000; PRETI, 2000; MORIN & KERN, 1995; TEODORO, 2003; VEIGA- NETO, 2001; MORIN, 2002, 2003a, 2003b; SANTOS, 2004; DANIEL, 2003; FARIAS, 2001; BURBULES & TORRES, 2004; MORIN & WULF, 2003; TOURAINE, 2006) não é mais uma ficção, mas um dado concreto na vida de todos os indivíduos. Embora possa parecer um fenômeno exclusivamente econômico, ela atinge e altera a noção de tempo e espaço.

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Para Boff, “A Globalização se faz prioritariamente sob o signo do econômico. Mas a economia vem acolitada por outros fatores de Globalização, como ideologias, busca de espiritualidade, valores e até por guerras” (2003, p.41).

O processo de globalização que se consolida na ‘alta modernidade’, alicerçado numa série de fatores, entre os quais, no desenvolvimento científico e tecnológico33, a globalização da economia se instala no contexto de “[...] uma nova divisão internacional do trabalho, onde há uma integração das economias nacionais, conectadas, o que lhes permite a movimentação instantânea de capitais através das fronteiras dos estados nacionais” (BURBULES & TORRES, 2004).

A sociedade planetarizada (MORIN, 2002, 2003a), embora apresente desigualdades econômicas, culturais e políticas, atingiu um nível de desenvolvimento tecnológico que hoje impõe a necessidade de o Estado garantir acesso à escolarização básica, a fim de fazer frente aos requisitos mínimos de formação para a cidadania e para o trabalho.

A intensificação das relações econômicas e a tecnificação do cotidiano têm requerido um indivíduo com múltiplas competências: cognitivas, intelectuais e culturais. Para viver e atuar na complexa sociedade pós-industrial é preciso que os agentes formadores (escolas) qualifiquem os cidadãos para que possam aprimorar suas capacidades de aprender a ser; a conhecer; a fazer; a viver em comunidade e a aprender a aprender (DELORS, 2003; MELLO, 2004).

Por volta do início dos anos setenta (século XX), o modelo organizador de produção capitalista irá mostrar sinais de exaustão, frente às novas dinâmicas das sociedades ocidentais. A terceira revolução industrial com o advento da microeletrônica substituiu a plataforma produtiva do modelo taylorista/fordista.

Esse desenvolvimento científico e técnico aplicado ao processo de trabalho, além de trazer maior otimização do tempo e de produtividade, veio garantir que o processo de acumulação e reprodução do capital se mantivesse nos patamares historicamente conquistados. Surge um modelo flexível de organização e gestão do trabalho com conseqüências para a produção, para o emprego e para a qualificação.

O novo paradigma flexível, o toyotismo (LEITE, 1994; ANTUNES, 1995, 1999; CASTELLS, 2002) incorpora todo o desenvolvimento científico e tecnológico suplantando

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De um lado, o progresso científico-técnico oferece possibilidades de emancipação, até então desconhecidas, em relação às imposições materiais, às máquinas, às burocracias, em relação às limitações biológicas da doença e da morte. Por outro lado, a Morte por armas nucleares, químicas, biológicas, ou degradação

a antiga base eletromecânica, alterando a organização, o planejamento e o desenvolvimento da produção de mercadorias. O conhecimento do trabalho, do saber/fazer de diversas tarefas é incorporado à máquina que utiliza a linguagem da informática para armazenar uma infinidade de dados com possibilidade de acesso e manuseio em tempo real.

Nesse cenário, redefinem-se novas competências e habilidades para o trabalhador. Há uma tendência ao desaparecimento e à substituição do trabalhador tarefeiro, com pouca escolaridade, pelo menos nos postos de trabalho de alta competitividade e que passaram por processos de reestruturação produtiva, por um novo trabalhador com mais escolaridade, conhecimento e com competências e habilidades para ocupar postos de trabalho com mais conteúdo intelectual e cultural. Um profissional polivalente e em constante qualificação para sobreviver no mercado.

Enquanto o estado de bem estar social garantiu as condições econômicas e políticas para o desenvolvimento do capitalismo monopolista, com base nas políticas Keynesianas, no Welfare State (Estado do Bem Estar Social), o mercado estava, digamos, “sob controle” dos estados nacionais. Com o enxugamento dos estados nacionais, fruto das próprias relações contraditórias de acumulação capitalista, o capital se articula com os grandes conglomerados transnacionais de bens de consumo e, sobretudo, financeiros e se transnacionaliza, ampliando a lógica do mercado em nível planetário com conseqüências imprevisíveis para a sociedade global.

O Neoliberalismo surge como uma concepção filosófica e política que procura articular uma visão hegemônica e universal, explicando e justificando o desenvolvimento histórico regional e global da economia capitalista que preconiza a ditadura do mercado para que este “naturalmente” construa as bases de uma nova sociedade planetária.

A revolução da microeletrônica (3.ª revolução industrial) trouxe o aperfeiçoamento dos meios de comunicação, as chamadas Tecnologias da Comunicação e da Informação que possibilitaram o surgimento da Internet.

Com isso, os processos de aprendizagem mediatizados sofrem um incremento na sua interatividade e velocidade. O tempo e o espaço vão se tornar flexíveis, na medida em

ecológica traz sua sombra sobre a humanidade: a idade de ouro e a idade do horror apresentam-se ao mesmo tempo para nosso futuro (MORIN, 2003, p.20).

que se pode, tendo o aparato tecnológico, comunicar-se a qualquer tempo, em qualquer lugar do mundo e com qualquer pessoa.

Com essa mudança tecnológica, a tradicional linha mecânica de produção padronizada (taylorista/fordista), programada para grandes séries, pode ser substituída por módulos ou unidades de produção mais flexíveis e dinâmicas. E isso se tornou possível porque as novas tecnologias microeletrônicas permitem uma dissociação, sem precedentes no espaço e no tempo, entre indivíduos e máquinas [...] as novas tecnologias permitem uma nova relação com o tempo, porque invertem a antiga ordem fragmentada e seqüencial do sistema mecânico, substituindo-o por uma nova ordem, simultânea e integrada. (CASTRO, 1996, p.40)

A questão do desemprego torna-se uma problemática global; a qualificação/desqualificação do trabalhador passa a ser preocupação permanente dos trabalhadores; a desregulamentação do trabalho (contrato temporário e/ou parcial de trabalho) (MATTOSO, 1995; ANTUNES, 1996; IANNI, 1996; FERRETI, 1994) desestabiliza os direitos constitucionais conquistados pelos trabalhadores; criam-se novos termos, novos slogans como “empregabilidade”. O indivíduo acaba precariamente empregado num mar de desesperados, de despossuídos, numa crescente exclusão de grandes contingentes de seres humanos dos bens de consumo material e cultural.

“O conhecimento neste novo período tem priorizado a dimensão tecnológica, em estreita sintonia com as relações de mercado. O saber e o conhecimento, no mundo globalizado, parecem perder muito de sua função de busca de sentido para a vida, o destino humano e a sociedade, para tornarem-se ‘ produto comercial de circulação’ orientados pelo novo paradigma da aplicabilidade” (FORGRAD, 1999, p.3-4).

Dados do Censo de Educação Superior de 2000 (INEP, 2001 apud FORGRAD, 2002) indicavam que o número de vagas ofertadas pelas Instituições de Ensino Superior no Brasil chegava a 1,1 milhão para uma demanda de aproximadamente 3,8 milhões de estudantes. Em 2004, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP, 2004) informa que a demanda para o ensino superior ficou em torno de 5 milhões. Foram realizadas cerca de 4,1 milhões matrículas na educação superior, em 2004. A sociedade moderna exige uma atualização contínua dos conhecimentos científicos, técnicos e profissionais. A educação inicial dos jovens tende a se prolongar. Há uma redução do número de horas de trabalho

remunerado e o prolongamento da vida após a aposentadoria dos trabalhadores, aumentando o tempo disponível para outras atividades, inclusive a educação.

A desregulamentação das leis do trabalho nos anos noventa do século passado, por meio de políticas neoliberais implantadas pelos estados nacionais, criou uma diversidade de ‘contratos de trabalho’ o que, para muitos têm significado a precarização do trabalho assalariado, gerando diversas formas de emprego, o que têm levado a uma mobilidade funcional intensa do trabalhador (intelectual e manual), demandando sua (re) qualificação/formação permanente (PRETTO, 2006). O contingente de pessoas que estão na chamada ‘melhor idade’ é um novo público que demanda serviços de saúde, lazer, ocupação e educação.

Escolas para aqueles que estão iniciando sua jornada educativa, escolas para aqueles que já terminaram sua formação superior, escolas para os excluídos do mercado de trabalho, ou seja, organizações (escolares e não-escolares) e processos que atendam à educação ao longo da vida. O quadro atual indica um contingente enorme de indivíduos/cidadãos demandando estudos em nível superior, o que implica políticas públicas de investimento no setor e abertura de vagas.

A educação a distância surge neste quadro de mudanças como mais um modo regular de oferta de ensino, perdendo seu caráter supletivo, paliativo ou emergencial, e assumindo funções de crescente importância, principalmente no ensino pós-secundário, seja na formação inicial (ensino superior regular), seja na formação continuada, cuja demanda tende a crescer de modo exponencial, em virtude da obsolescência acelerada da tecnologia e do conhecimento. Nas sociedades contemporâneas, ‘do conhecimento’ ou ‘da informação’, a formação inicial torna-se rapidamente insuficiente e as tendências mais fortes apontam para uma ‘educação ao longo da vida (BELLONI, 2002, p.139).

Acredita-se que a educação a distância não pode ser entendida como a panacéia para tudo, mas será cada vez mais demandada nesta fase atual do processo societário e técnico-científico da humanidade. O interesse do Estado na educação a distância tem sido percebido pela regulamentação e pelos investimentos que o Ministério da Educação tem feito em relação à Universidade Aberta do Brasil34 na área de formação de professores. O interesse das instituições privadas se revela na possibilidade de “[...] reduzir seus custos

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operacionais com uma grande demanda de alunos virtuais [...] e finalmente, aos fabricantes de equipamentos e softwares, que comemoram um novo mercado” (OLIVEIRA, 2003).

Neste cenário surge a educação a distância enquanto fenômeno educativo imerso nesta trama sócio-histórica que carrega intrinsecamente possibilidades e limites numa perspectiva de democratizar o conhecimento com qualidade e compromisso pedagógico, a fim de tornar-se um instrumento a mais no processo de construção e instauração de uma democracia social, na qual todos possam exercer sua cidadania usufruindo dos bens gerados pela humanidade, no seu conjunto, sejam eles culturais, políticos, econômicos e educacionais.

2.5 Tecnologia da informação e da comunicação e a sociedade da