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Globalização, Educação a Distância, Sociedade da Informação e Paradigmas da Ciência

2.1 Globalização, história, ciência e educação (a distância)

O processo de globalização começou efetivamente no tempo dos descobrimentos, quando Portugal e Espanha estabeleceram, ao longo do século XV, o comércio com o oriente, via Oceano Atlântico, tendo em vista que a troca de mercadorias que antes se dava via continente e pelo mar Mediterrâneo, para estabelecer intercâmbio com as civilizações orientais, não era mais possível, dada a tomada de Constantinopla, pelos turcos, em 1453 (MORIN, 2002, 2003).

O que chamamos de globalização é o resultado, no momento atual, de um processo que se iniciou, efetivamente, com a conquista das Américas e a expansão dominadora do ocidente europeu pelo planeta (MORIN & MACHADO, 2002).

O comércio intenso pelo continente viabilizou o uso do dinheiro ao invés do sistema de trocas entre as mercadorias. Este uso criou novas demandas, como o aprendizado de cálculos matemáticos simples. Assim, como a geometria para medir superfícies de tecidos, calcular a área das terras a serem cultivadas.

Segundo Burke (2004) por volta de 1450 Johann Gutemberg (1390-1468) cria uma prensa gráfica de tipos móveis que se tornará um marco histórico na propagação da mídia impressa na Europa e no mundo: o livro23.

A impressão mecânica desencadeou um processo de divulgação do conhecimento fora dos círculos da Igreja. As novas editoras, fruto do contexto mercantil que se instalava na nascente modernidade, eram propriedades de leigos, os quais passaram a publicar seus livros nos idiomas regionais. Isso significou de alguma maneira um instrumento novo de acesso ao conhecimento por parte dos grupos sociais que viviam do trabalho.

Por volta de 1500, haviam sido instaladas máquinas de impressão em mais de 250 lugares na Europa – 80 na Itália, 52 na Alemanha e 43 na França. As prensas chegaram à Basiléia em 1466, a Roma em 1467, a Paris em 1486, à Veneza em 1469, a Leuven, Valência, Cracóvia e Buda em 1473. Todas essas gráficas produziram cerca de 27 mil edições até o ano de 1500, o que significa que – estimando-se uma média de 500 cópias por edição – cerca de 13 milhões de livros estavam circulando naquela data em uma Europa com cem milhões de habitantes (BURKE, 2004, p.26).

Em 1478 publicava-se em Treviso, na Itália, a primeira aritmética comercial. Era um texto editado em língua nacional e tornou-se uma grande ferramenta de divulgação, de socialização, via mídia escrita, da matemática para o público em geral (BRAGA et al. 2004). O conhecimento que até então era passado através da tradição oral passa a ser registrado em papel.

A fase histórica que intermediou os modos de produção feudal e o nascente capitalismo, denominada Mercantilismo, construiu os alicerces para o surgimento da sociedade capitalista:

[...] entre 1450 e 1600 ou 1620 em conexão com as grandes navegações e descobrimentos marítimos e coloniais iniciados pelos países ibéricos, temos como características principais: o crescimento das atividades produtivas em geral, na Europa [...] o aparecimento ou difusão de novos instrumentos comerciais e de novas formas de organização mercantil e industrial (FALCON, 1993, p.44-45).

Houve um incremento na tecnologia naval, a fim de possibilitar as condições reais e objetivas necessárias à expansão comercial marítima, por meio das Grandes Navegações. Essas navegações estabeleceram a interligação marítima entre os continentes, possibilitando o comércio a longa distância, levando-o a um novo patamar de complexidade. Além dos mercados locais e regionais, surge um mercado mundial (SINGER, 1987 apud MEKSENAS, 1991).

Por outra dimensão de análise, a contagem do tempo, conforme Braga et al. (2004) não é mais medida pela posição do Sol ou das estrelas, mas dividido em horas iguais, marcado por instrumento mecânico (relógio).

O tempo perdia desse modo a referência do Sol e das estrelas e ganhava, assim como o dinheiro, uma dimensão abstrata. Os estudos de mecânica aliados com a abstração da matemática deram o impulso científico necessário ao conhecimento que iria viabilizar a expansão da navegação Ibero-portuguesa (Idem, ibidem, p.20-21).

O modelo de produção feudal não atendia mais às necessidades do mercado de trocas. As corporações de ofício produziam dentro de limitações impostas pelas condições e organizações do trabalho. A classe mercantil emergente passou a “contratar” a mão-de-obra do artesão, configurando-se, assim, o início do processo manufatureiro de produção. A manufatura foi o início do processo de industrialização, que teve como motor do seu desenvolvimento a divisão técnica do processo de trabalho.

A progressiva expansão da economia de mercado que atendia à necessidade de expansão e produção em larga escala, produzindo novas técnicas de edificação e quantificação, assim como a gradativa apropriação dos meios de produção, por parte da burguesia mercantil foram alguns dos fatores que criaram condições históricas para a superação do modo de produção feudal.

A ciência moderna nasceu enquanto narrativa que tentava explicar os fenômenos sociais e naturais superando a visão metafísica e escolástica e desenvolveu-se a partir da matemática, da astronomia e da mecânica.

Diversos saberes foram reunidos para colocar em prática a navegação atlântica. Ao conhecimento proveniente da experiência pesqueira portuguesa somou-se o saber teórico-prático trazido pelos árabes para a península Ibérica e as técnicas náuticas desenvolvidas pelos venezianos e genoveses no mar Mediterrâneo (Braga et al, 2004, p.22).

Do ponto de vista da teoria do conhecimento a ciência moderna vai sendo construída edificando sob duas perspectivas teóricas: a primeira compreendia que o conhecimento era fruto da atividade investigativa com base na experiência, por meio de observações e análises empíricas. Para Francis Bacon (1561-1626) os fatos revelados na experiência poderiam ser generalizados, num processo ascendente, capazes de permitir a formulação de leis e o estudo das causas dos fenômenos investigados. John Locke (1632- 1704) sustentava que tudo o que sabemos é fruto da experiência.

Para David Hume (1711 – 1776), autor de a “Investigação sobre o entendimento humano”, o conhecimento é obtido pela experiência. Para ele as impressões e as idéias constituíam as categorias básicas para o entendimento sobre o conhecimento.

As impressões são os dados fornecidos pelos sentidos, sejam internas como a percepção de um estado de tristeza, sejam externas, como a visão de uma paisagem ou a audição de um ruído. As idéias são representações da memória e da imaginação e resultam das impressões como suas cópias modificadas (HUME, 1996, p.8).

A segunda corrente teórica, representada por René Descartes (1596-1650), defendia que o conhecimento seguro seria aquele fundado no pensamento racional abstrato da matemática. Para se estudar com eficácia a natureza, devia-se seguir o caminho da

matemática e começar com simples intuições, progredindo por meio de deduções, do mais simples ao mais complexo.

Acreditava Descartes, fundador do racionalismo moderno, na soberania da razão. Sua concepção de mundo é racionalista/mecaniscista, sendo a razão capaz de desvelar os segredos e as leis dessa máquina, antecipando seu funcionamento e aproveitando seu conhecimento para o domínio da natureza (GOERGEN, 2001, p.12).

Para Descartes, Galileu Galilei (1564 – 1642) torna-se uma referência teórica e metodológica à medida que aquele se utilizava da lógica matemática como fundamento à elaboração de sua teoria. “[...] ele vê na matemática a única ciência verdadeira, isto é, capaz de proporcionar um conhecimento certo e evidente” (JERPHAGON, 1992, p.140). Galileu comprovou que a teoria copernicana era verdadeira. Toda a cosmologia aristotélica de que as estrelas estavam encravadas na esfera e que a Terra era o centro do universo e imóvel era contestada pela experimentação e pelo raciocínio matemático.

Descartes elaborou seu pensamento racional, inaugurando uma nova era para a teoria do conhecimento: o Racionalismo. A razão é uma luz que esclarece, que faz o homem compreender as coisas. Todos os homens nasceram com a capacidade de compreender, todos os homens são dotados de bom senso. A diversidade de opiniões deve ser entendida pelo fato de o homem conduzir seus pensamentos por caminhos diferentes (GRAUKOGER, 1999).

Para romper com as opiniões (doxa), com o senso comum e buscar o conhecimento científico, Descartes estabelece nas “Regras para Direção do Espírito”, alguns preceitos. O primeiro indica que para a penetração da inteligência, a fim de desvelar a verdade ou chegar a ela, é preciso reduzir, gradualmente, o objeto de análise às proporções mais simples e, em seguida, pela razão, tratar de eleva-lo pelos mesmos graus ao conhecimento de todas as outras.

“Só concebemos os corpos pela faculdade de entender em nós existente e não pela imaginação nem pelos sentidos, e que não os conhecemos pelo fato de os ver ou tocá-los, mas somente por os conceber pelo pensamento [...]” (DESCARTES, s/d, 106).

O Racionalismo e o Empirismo24 irão alicerçar os fundamentos para que no século XVIII eclodisse o movimento iluminista na Europa, elegendo a “deusa” razão como o novo paradigma da ciência humana. Como ressalta Goergen:

O sujeito cognoscente assume poder instituinte de uma nova realidade, em substituição à antiga mágica e metafísica. A nova consciência que assim foi, paulatinamente, se formando e que teve sua expressão política mais intensa na Revolução Francesa obteve sua base material através da revolução industrial. Idéias, ciência, atitudes e técnica confluem para a realização de uma nova civilização mundial que, esta era a promessa, deveria levar o homem à sua emancipação e liberdade (2001, p.18).

No âmbito da escola, a Didática Magna de Comenius (1592 - 1670) procurou adotar um método de ensinar que fosse universal. Assim como Descartes, buscava um método que pudesse ensinar tudo a todos (CORVELLO, 1999).

A sociedade adquire novas características, com o surgimento: do renascimento das cidades; aa modernização acelerada por meio da invenção de técnicas que transformam as condições da forma como as pessoas passam a enfrentar o dia-a-dia; de uma nova ordem econômica nascente; de uma nova racionalidade que se caracteriza pelo naturalismo e pelo cálculo; de uma nova ética que desenvolve atitudes mentais adaptadas à obra de domínio do universo pela indústria e à justificação do predomínio do homem científico e técnico (HORTA, 1985).