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Concepção, Características, Elementos e Políticas da Educação a Distância,

3.3 Elementos constituintes da organização de um sistema em educação a distância

3.1.1 O professor na educação a distância

O processo de ensino e aprendizagem na EaD requer que o professor modifique sua atuação, passando de centro do processo pedagógico para parceiro na (re)construção do conhecimento (DEMO, 2004). Não se trata mais de uma educação “bancária”, de pura transmissão do conhecimento de quem sabe para quem não sabe, muito pelo contrário, a aprendizagem não se caracteriza como apreensão à crítica do conhecimento, mas é entendida como processo interativo, no qual o diálogo, o debate, a argumentação, a análise, a pesquisa e a crítica são componentes que estruturam o ato de aprender e apreender. “A ênfase em seu papel está em oferecer condições para que haja um desenvolvimento das estruturas que permitam a aquisição do conhecimento” (FREITAS, 2004, p.85).

O professor passa a assumir uma nova postura frente às disposições do espaço, do tempo e dos recursos tecnológicas exigidos pelos estudos a distância. Não está mais, constantemente presente, face a face com seus estudantes, mas essa relação se constrói por meio da mediação estabelecida pelos recursos didáticos e pedagógicos específicos. Conforme Demo (2006), repassar conhecimento não é mais factível nos dias de hoje. A informação vai se tornando farta e disponível em toda parte, a qualquer parte, o desafio maior para o docente é fomentar a aprendizagem (re)construtiva que permita o surgimento de sujeitos criativos e éticos. Para ele não há qualquer cabimento numa sociedade de intensa produção e circulação de informação (conhecimento) o professor adotar postura instrutiva (Idem, 2004).

Não basta simplesmente ao professor, frente às novas possibilidades didático- pedagógicas trazidas pelas tecnologias de informação e de comunicação à educação a distância, disponibilizar informação nos ambientes virtuais de aprendizagem (ALMEIDA, 2001; SILVA & SANTOS, 2006). Isso não garante a aprendizagem do estudante. O processo de construção de conhecimento suportado nesses ambientes exige o debate, a interação entre docente e discente. É uma construção que se dá no tempo, dentro de uma coletividade educacional. O estudante é um sujeito que está:

[...] inserido num ambiente de complexidade, ou seja, não considerando como sujeito cognitivo isoladamente, mas como parte de uma ecologia, na qual se articulam idéias, informações, relações sociais e culturais, a história, a linguagem (PAIM, 2004, p.37).

E nessa ecologia está inserido também o docente que tem o papel de intervir e mediar o processo de estudos não-presenciais, contribuindo de forma profissional, ética e política a fim de garantir que os estudantes aprendam, (re)construindo o conhecimento a distância. “[...] alimentar o processo de pesquisa e elaboração do estudante, procurando mantê-lo estudando sempre, o tempo todo, sistematicamente [...]. O aluno precisa construir sua autonomia com apoio, não tutela do professor” (DEMO, 2006, p.116-117).

O professor passa a “lecionar” por meio de outras linguagens (mídias), muitas vezes suportadas pelos novos meios informacionais e comunicacionais que podem atingir mais de uma centena de estudantes, o que implica novos desafios profissionais e didáticos. Cabe ao docente, na educação a distância, a devida compreensão teórica e metodológica sobre o uso dos suportes telemáticos para que a mediação tecnológica se torne um instrumento de socialização do conhecimento científico (PAIM, 2004).

Seu papel não pode mais se circunscrever ao detentor do saber, mas como um parceiro, um pedagogo na acepção etimológica da palavra, encaminhando e orientando os estudantes diante de múltiplas possibilidades e formas de alcançar e de se relacionar com o conhecimento (KENSKI, 2003).

Em plena Sociedade da Informação (CASTELLS, 2002, 2003; SOARES et al. 2006; ASSMANN, 2005), o docente “concorre” com uma diversidade de fontes de informação (jornais, revistas, televisão, rádio e Internet). Os ambientes virtuais de aprendizagem (VALENTE, PRADO & ALMEIDA, 2003; SILVA & SANTOS, 2006,

ALMEIDA, 2003a, 2003b), franqueados pela tecnologia de informática conspiram para que os professores se atualizem continuamente, tanto em termos de seus “saberes” acadêmicos como em termos de competências pedagógicas. A formação contínua dos docentes é uma das características mais evidentes dos métodos de aprendizagem aberto e a distância (LEVY, 1999).

A qualidade do professor nessa sociedade vai depender efetivamente de uma reorganização estrutural do sistema educacional e, sobretudo das agências formadoras. Vai depender da valorização profissional, da melhoria das condições de trabalho, da (re)significação da organização universitária: [...] que adote novas formas de gestão, com a alteração estrutural dos sistemas de controle, avaliação, administração e relacionamento hierárquico nas organizações educacionais [...] (KENSKI, 2003) promovendo, fomentando no âmbito acadêmico a incorporação dos novos paradigmas da ciência com implicações para a formação e qualificação dos cidadãos para a cidadania e para a vida (FORGRAD, 2002). A mesma preocupação tem Belloni ao se referir à formação de professores a qual exige reflexão profunda de como integrar as TIC à educação (à EaD); como formar docentes ativos e críticos, enquanto usuários dessas novas linguagens midiáticas e como criar nos professores uma visão de conceptores de materiais para aprendizagem aberta e a distância (1999).

Uma das características importantes da educação a distância (EaD) é uma nova postura, um novo perfil que o professor passa a ter frente às novas configurações do espaço e do tempo, assumidas na educação mediatizada. A intenção é a mesma que na educação face a face, porém o planejamento antecipado, a distribuição das atividades para os encontros presenciais (quando existirem) e para os estudos a distância devem ser previstos no material didático (impresso ou virtual), sem falar no processo de avaliação da aprendizagem do estudante. Mas não se pode esquecer que o professor precisa ajudar o estudante a transformar a informação em conhecimento e conhecimento em saber, por isso o papel do docente continua sendo tão importante na educação a distância, quanto na educação presencial (MOROSOV, 2005).

Mas o potencial da EAD não está restrito às TIC simplesmente, é preciso saber de que maneira os formadores e formandos (OLIVEIRA, 2003) estão se apropriando dos

instrumentos digitais para a implementação de projetos/programas em EaD numa perspectiva emancipadora e criadora de cidadãos autônomos e crítico-reflexivos.

O trabalho docente, neste contexto de EaD, caracteriza-se pela parceria que vai desenvolver com o estudante, com o professor orientador (tutor) tornando-se parte de uma equipe de aprendentes, com novos desafios, cujos novos limites e responsabilidades se constroem coletivamente. Há uma necessária (re)configuração da postura teórica, epistemológica, ética e política da ação docente frente à educação a distância e, mormente, à incorporação das TIC ao processo educativo não-presencial (virtual).

Demo (2006, p.112) vai mais adiante, quando trata da nova geração da EaD que utiliza a Internet e os ambientes virtuais de aprendizagem, dizendo:

É perfeitamente possível estudar, pesquisar, elaborar, ler à distância. Pode-se também orientar a distância, e, à medida que as tecnologias se aperfeiçoam, a orientação pode ser feita face a face virtualmente. Esta comunicação eletrônica não substitui a direta, corpo a corpo, mas é oportunidade ímpar. É possível construir comunidades virtuais, comunicar-se com forte emoção virtualmente, estudar no ciberespaço, conviver com grupos virtuais, inclusive fazer amizades e parcerias. A distância mais que o problema, vai se tornando ambiente alternativo do encontro.