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Concluindo a pesquisa

Para confirmar ou refutar a hipótese central do projeto, de que os Direitos Humanos ainda não despertaram interesse pedagó- gico, teórico, conceitual e acadêmico entre estudantes e professores de Sociologia, a ponto de se inserirem como conteúdo programático do ensino médio, uma série de questões foram relevantes para a construção dos resultados. A primeira foi a responsabilidade pela elaboração do programa da disciplina, uma vez que é a partir da seleção do conteúdo programático que os Direitos Humanos po- dem ser pensados como material didático. Então, foi preciso chegar à decisão primeira, sobre quem elabora o programa da disciplina no Distrito Federal e em Uberlândia. Ainda que não fosse intenção des- te estudo comparar os dois campos de pesquisa, não houve como ignorar, em Uberlândia, a influência do programa de Sociologia do vestibular da Universidade Federal na elaboração do conteúdo programático. Dos seis professores entrevistados, apenas um não citou o vestibular da Universidade Federal de Uberlândia como a principal e, às vezes, única indicação. No Distrito Federal, a refe- rência foi o documento das Orientações Curriculares Nacionais do Distrito Federal,3 citado por cinco dos seis entrevistados. O PAS,

processo seletivo da UnB, só foi mencionado pela professora da es- cola do Plano Piloto. Seria esse um sinal de que o processo seletivo da Universidade de Brasília não fizesse parte das preocupações dos professores das demais escolas?

As informações acima são importantes para se compreender como foi construído, objetivamente, o desenho das respostas dos entrevistados, e refletir sobre o papel dos Direitos Humanos na ela- boração do conteúdo programático de Sociologia nas escolas pes-

quisadas. Ao serem interrogados objetivamente sobre a existência de uma unidade específica sobre os Direitos Humanos no progra- ma de Sociologia, as respostas foram pouco estimulantes. Dos 12 professores entrevistados, sete responderam negativamente, quatro afirmativamente e uma professora disse não se lembrar. Contudo, em conversa com os entrevistados, na sequência da pergunta, o ce- nário assumiu novos contornos. Dos sete professores que, de pron- to, responderam negativamente, cinco deles deram continuidade aos depoimentos, explicando como desenvolveram, em sala de aula, conteúdos concernentes aos Direitos Humanos. A partir da es- pontaneidade dessas falas, foi possível configurar, por via indireta, um novo resultado para a pergunta. Ao exporem suas experiências de ensino, a relação dos conteúdos programáticos com os Direitos Humanos ficou evidente: Não. Específica não. Eu trabalhei Direitos Humanos dentro dessas matérias: dentro de movimentos sociais, dentro de estratificação so- cial, quando a gente vai trabalhar um pouco de religião. Aí eu entrei (nos Direitos Humanos). Mas específica, não (Professora L – Plano Piloto – DF). Específica, não. Na definição e nas características dos movimentos sociais, a gente passa pelos Direitos Humanos, pela Declaração dos Direitos Humanos; porque ela surgiu; que muitos movimentos se inspiraram nela. [...] Quando eu falo que os homossexuais estão bus- cando os direitos deles, não tem como eu falar de uma coisa sem fazer referência à outra (Professor I – Uberlândia – MG).

Não tem literalmente o termo Direitos Humanos [...] ainda que eu defenda que tenha algo específico chamado Direitos Humanos, pra dar uma visibilidade, que eu acho que falta. [...] ao abordarmos as- pectos como violência, aspectos como tribos urbanas e outras dis- cussões, trazendo a Sociologia para a juventude, a gente tende a uma abordagem subliminar dos Direitos Humanos (Professor H – Núcleo Bandeirante – DF).

Para comprovar ou refutar a hipótese que impulsionou este estudo, foi preciso avançar para além do aspecto imediato e objetivo

dos depoimentos. Com esse propósito, foram feitas as entrevistas com os professores para conhecer um pouco mais do fazer docente, particularmente no que se referiu ao interesse pedagógico, teórico, conceitual e acadêmico de inserir os Direitos Humanos como conte- údo programático da disciplina Sociologia no ensino médio. As fa- las, analisadas em sua objetividade, confirmaram a ausência do con- teúdo Direitos Humanos nos programas de Sociologia das localida- des pesquisadas. A proposta curricular de Sociologia para o ensino médio do Estado de Minas Gerais e as Orientações Curriculares do DF também não contemplam, explicitamente, os Direitos Humanos como conteúdo programático e a DUDH não consta na bibliografia desses documentos. Sinal de que a hipótese foi convalidada, em ter- mos absolutos? De que os Direitos Humanos não se inseriram nos programas de Sociologia ministrados? Que, definitivamente, não fazem parte dos interesses de quem elabora os currículos da disci- plina nas duas localidades pesquisadas?

Ainda que a possibilidade de incluir a DUDH como material didático de Sociologia não tenha sido citada, pelo menos em caráter sistematizado, a análise dos relatos dos professores não respondeu afirmativamente aos questionamentos acima, pelos menos em ter- mos objetivos. Pelo contrário, revelou que os conteúdos desenvol- vidos em sala de aula consideraram o reconhecimento de direitos fundamentais como a dignidade, a liberdade, a igualdade, o respei- to e a própria humanidade como um processo de aprendizado que envolveu professores e estudantes do ensino médio das escolas pes- quisadas. Foi possível, ainda que em termos, ensaiar uma resposta afirmativa à hipótese desta pesquisa, ciente de que a inclusão dos Direitos Humanos no currículo de Sociologia mantém dependência com a necessidade de um reconhecimento sistematizado, conceitu- al e pedagógico desse conteúdo pela disciplina. A contribuição dos DUDH materializou essa possibilidade de aprendizado, mediante o reconhecimento dos entrevistados, não exclusivamente nos limi- tes das unidades programáticas da Sociologia, em caráter interdis- ciplinar a outras disciplinas. Sobre esta assertiva, os depoimentos registrados abaixo, entre outros, foram significativos quanto às possibilidades de os Direitos Humanos se inserirem como conteú- do programático interdisciplinar à Sociologia. Com eles, finaliza-se este artigo:

Desde o conceito de liberdade, nós podemos englobar todos os ou- tros temas que existem na declaração. Você vai trabalhar o etnocen- trismo, com a questão da liberdade, a moral, dá pra trabalhar toda a estrutura social. Que liberdade é possível, o que é liberdade den- tro de uma estrutura social, que liberdade eu estou sendo tolhido, dá pra fazer uma analise dos Direitos Humanos universais a partir deste tema. A questão do racismo dá pra ser abordada a partir daí. Você pode pegar a História, a Geografia, pode ser um tema gerador de uma serie de discussões e de análise dentro da escola (Professor K – Taguatinga – DF). A gente tenta trabalhar a questão, por exemplo, do etnocentrismo: essa visão preconceituosa e respeitar, por exemplo, a desigualdade, o outro. E aí, nessa visão da Declaração eu acho muito importante. E o ser humano tem que ser respeitado pelo fato que ele é ser humano, independente de classe social (Professor J – Uberlândia – MG).

Referências

BRASIL. Lei nº 11.684, de 2 de junho de 2008. Altera o art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio.

CANDIDO, Antônio. Vários escritos. 3. ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas cidades, 1995.

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SANTOS, Mário Bispo. A Sociologia no contexto das reformas do ensino mé- dio. In: CARVALHO, Mato Grosso Lejeune de. Sociologia e Ensino em Debate. Experiências e Discussão de Sociologia no Ensino Médio. Ijuí: Editora Unijuí, 2004.

SECRETARIA de ESTADO da EDUCAÇÃO de MINAS GERAIS. Conteúdo Bá- sico Comum de Sociologia. SOCIOLOGIA. Proposta Curricular (Ensino Médio). Disponível em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_obje- tos_crv/%7B37608C14-8C84-40B2-A402-0284660E91D3%7D_PC%20SOCIO- LOGIA%202008%20EM.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2011.

PARTE II: