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O trabalho por projetos de aprendizagens interdisciplinares

contextualização no ensino médio

4. Orientações metodológicas para o ensino interdisciplinar e contextualizado

4.3 O trabalho por projetos de aprendizagens interdisciplinares

O trabalho por projetos de aprendizagens interdisciplina- res geralmente abrange o trabalho por temas geradores e/ou por resolução de problemas. Como as outras opções metodológicas aqui apresentadas, o trabalho por projetos considera os preceitos da aprendizagem significativa e da formação de competências que permitam ao aluno ser ativo e autônomo, preparando-o para a vida. Hernandez (1998) desenvolveu a teoria de Projetos de Trabalho, considerando a interdependência entre escola e trabalho, de forma que o sujeito compreenda seu papel na sociedade. Não considera que seja somente uma metodologia, ao dizer que esta opção deve ser vista como “uma maneira de repensar a função da escola” (p. 49). Para este autor a integração dos conhecimentos per- mite ir além da educação tradicional de transmissão de saberes. O trabalho por projetos requer um escopo, um objetivo clara- mente definido, seja este um tema ou problema. Neste tipo de tra- balho as datas de início e conclusão são previamente estabelecidas. O projeto é desenvolvido pelos alunos sob o acompanhamen- to do professor. Girotto (2003, p. 95) aponta que “o que caracteriza o trabalho com projetos não é a origem do tema, mas o tratamen- to dado a esse tema, no sentido de torná-lo uma questão do grupo como um todo e não apenas de alguns ou do professor”.

As fases de desenvolvimento do projeto podem ser assim especificadas: escolha do objetivo central, formulação dos proble- mas, planejamento, execução, avaliação, e divulgação dos trabalhos. (Abrantes, 1995 apud Girotto, 2003).

O trabalho por projetos de aprendizagem permite conciliar o conhecimento das disciplinas com as questões, concepções e inte- resses dos alunos.

As escolas, muitas vezes, adotam o trabalho por projetos de forma extracurricular. Os PCNEM, ao falarem sobre a base diver- sificada que complementa a Base Nacional Comum (ou currículo), consideram que a interdisciplinaridade e contextualização formam um eixo organizador para que a parte diversificada seja organica- mente integrada à Base Nacional Comum e, assim, o currículo faça sentido como um todo:

A parte diversificada poderá ser desenvolvida por meio de projetos e estudos focalizados em problemas selecionados pela equipe esco- lar, de forma que eles sejam organicamente integrados ao currículo, superando definitivamente a concepção do projeto como atividade ‘extra’ curricular. (PCNEM, 2000, p. 85).

Nesta visão os projetos são tidos como parte integrante do currículo. Para que isto realmente ocorra é fundamental que eles estejam previstos nos Projetos Político Pedagógicos das escolas. Nos PPP verificados ao longo da pesquisa foi confirmado que os projetos fazem parte das estratégias a serem adotadas. As fra- ses encontradas nestes documentos comprovam esta afirmação ao dizerem que “a integração entre os diversos conteúdos mi- nistrados na série e ao longo delas acontece quando se realizam projetos” ou, dentre as prioridades da escola a realização de “ofi- cinas pedagógicas tendo em vista a dinamização das atividades em sala de aula”.

Sobre o trabalho com projetos dois pontos a serem considera- dos são relativos às dificuldades encontradas: falta de recursos ma- teriais e falta de tempo para a execução dos trabalhos. Isto porque os projetos requerem uma maior mobilização de recursos materiais e humanos nem sempre disponíveis nas escolas.

Follari (1975) aponta que muitas vezes a interdisciplinari- dade é mais onerosa, resultando num problema orçamentário. Destaca que a organização administrativa da escola deve prever e possibilitar a existência de estruturas permanentes para os cur- rículos serem naturalmente adaptados ao trabalho interdiscipli- nar, uma vez que este tipo de docência requer “dar um tempo fora da aula para o planejamento de conjunto e colocar no traba- lho de aula mais de um profissional por vez para evitar sesgos2 disciplinares”. (p. 138). Para que se possa operá-lo é necessário buscar as vias institucionais e estar ciente das dificuldades, resis- tências e oposições relativas à modificação das práticas e papéis já estabelecidos. Sobre o trabalho interdisciplinar na prática docente, Fazenda (1979, p. 20) aponta dificuldades considerando que “os professores em geral eram remunerados por hora/aula e o trabalho de plane- 2 Distorções, obliquidades.

jamento e avaliação ficava restrito à sua boa vontade ou grau de motivação”. Esta autora considera que a realização do trabalho a ní- vel de interdisciplinaridade requer o diálogo constante e depende, basicamente, de uma atitude. Pelo estudo dos documentos oficiais da educação é possível considerar que as resistências e dificuldades tenham diminuído. No entanto, cabe trazer estas observações uma vez que a realidade es- colar é complexa e possui muitas especificidades.

Conclusão

A interdisciplinaridade e a contextualização permitem a res- significação das práticas docentes, que deixam de focar em conteú- dos disciplinares apresentados de forma fragmentada para buscar a integração dos diversos conhecimentos. Esta necessidade surgiu das mudanças do objetivo da escola, que vislumbra a formação in- tegral do aluno, de forma a desenvolver habilidades e competências que contribuam para sua vida prática e para sua constituição como indivíduo crítico e autônomo.

Mais do que quebrar as barreiras entre as disciplinas, a práti- ca da interdisciplinaridade requer quebrar as barreiras entre as pes- soas (Fazenda, 1979). O papel dos professores é fundamental para que esta prática ocorra, e isto requer uma postura aberta e flexível, quebrando inclusive as resistências internas.

Os conhecimentos dos conteúdos disciplinares são imprescin- díveis, pois é a partir deles que os professores desenvolvem suas práticas, e cada um conhece as especificidades de sua área de atua- ção. Estabelecer relações entre os diversos saberes e tornar a apren- dizagem mais significativa é realmente um desafio, que se torna menor na medida em que as orientações curriculares e as condições institucionais contribuem para este objetivo.

Neste capítulo foram abordados os principais conceitos sobre a interdisciplinaridade e a contextualização. O tratamento que os documentos oficiais dão ao tema, que foi apresentado de forma su- cinta, e fica a sugestão de uma leitura mais aprofundada. As orien- tações metodológicas aqui desenvolvidas apresentam algumas pro- postas de trabalho com o objetivo de contribuir para a formação docente.

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CAPÍTULO V