• Nenhum resultado encontrado

PARTE III – CONSIDERAÇÕES FINAIS

22. Conclusão

Dado que a indisciplina é, frequentemente, uma problemática emergente da preocupação dos professores, torna-se relevante conhecer a perceção dos mesmos acerca do assunto, beneficiando do papel formativo do contacto com outras práticas e experiências. Dada a complexidade do problema da indisciplina, não houve a pretensão de valorizar aspetos em detrimento de outros, apenas assentar o estudo e a análise dos resultados num quadro teórico, embora já conhecido, mas convergente com as inquietações de grande parte dos docentes.

Com o presente trabalho, pretende-se contribuir para a compreensão do fenómeno circunscrevendo o mesmo ao espaço da sala de aula, investigando alguns aspetos que nos poderão conduzir a uma reflexão sobre a prática pedagógica, reorientando eventuais procedimentos.

Numa fase final de realização deste trabalho, apresentam-se algumas conclusões e reflexões que nos conduzem ao ponto de partida desta investigação. Consideramos como objetivos principais deste estudo: conhecer as perspetivas dos professores sobre a indisciplina; conhecer as estratégias utilizadas pelos professores para prevenir/ dar resposta a situações de indisciplina; conhecer a perceção dos professores relativamente ao sucesso das estratégias utilizadas e, por último, verificar a existência de diferenças entre a área curricular lecionada e o nível de ensino.

Relativamente à metodologia usada nesta investigação, adotou-se uma abordagem qualitativa por se acreditarmos que esse método nos proporcionaria condições de atingirmos os objetivos do nosso estudo. Por este motivo, enveredou-se pela realização de entrevistas como técnica de recolha de dados, procedendo, posteriormente, à respetiva análise de conteúdo. Selecionaram-se sujeitos pertencentes a uma faixa etária alargada, dos vários grupos disciplinares e vários níveis de ensino de uma escola secundária com terceiro ciclo no concelho de Cascais.

Partindo de alguns pressupostos teóricos relacionados com o(s) conceito(s) de indisciplina, verificamos que os autores são concordantes em considerar que o fenómeno da indisciplina é caracterizado pela subjetividade. Com efeito, verificou-se que os professores entrevistados têm diferentes conceções de indisciplina, na medida em que situações consideradas graves para alguns docentes não o são para outros, como por

exemplo o facto de os alunos adotarem uma atitude mais agressiva em relação aos colegas ou de usarem o telemóvel.

As diferentes abordagens associam o conceito a comportamentos não legitimados pelo professor e que prejudicam o normal funcionamento das aulas, para além de se poder estender a uma dimensão relacional e interativa, envolvendo alunos e professor. Dada a diversidade de situações encontradas, houve a necessidade de organizar a informação. Para isso, adotou-se uma categorização próxima da utilizada por Amado e Freire (2009) por se considerar que era a que melhor se adaptava à exposição dos resultados obtidos.

Quando questionados acerca da frequência e da gravidade das situações encontradas, as respostas concentraram-se nos níveis de maior gravidade e frequência. Os comportamentos referidos como mais frequentes, são, na sua maioria, aqueles que prejudicam o processo de ensino-aprendizagem, perturbando o ambiente da aula, como a falta de atenção e as conversas paralelas. Apesar de não serem considerados muito graves em si próprios, eles tornam-se graves pela sua grande frequência, o que já tinha sido igualmente constatado por estudos anteriores. O caráter perturbador deste tipo de comportamentos advém também do facto de, segundo os professores, eles serem considerados uma falta de respeito em relação a si mesmos. Consideradas também graves pelos entrevistados são outras situações que ocorrem com menos frequência, nomeadamente os conflitos entre alunos, às vezes concretizados pela agressão física ou verbal e pela falta de respeito entre eles, incidentes graves que põem em causa a relação entre professor-aluno, como por exemplo, situações de desafio de autoridade ou circunstâncias em que o aluno evidencia agressividade em relação ao professor.

Encontramos perspetivas diferentes sobre a ocorrência de situações de indisciplina dos professores em função do nível de ensino. A partir dos testemunhos dos professores do 3º ciclo, constatámos a existência de um leque mais abrangente de situações que vão desde os comportamentos que perturbam o funcionamento da aula, como também aqueles que afetam a dinâmica das relações entre pares e ainda ocorrências relacionadas com a relação professor-aluno, o que coincide com a perceção de uma parte dos docentes do Ensino Secundário entrevistados que, todavia, afirmam que não existem muitos incidentes neste nível de ensino.

Apesar do consenso relativo à importância da prevenção, sabe-se que não é possível evitar todos os desvios, por isso, segundo Amado (1998) não pudemos deixar de considerar que os procedimentos corretivos e punitivos fazem parte das alternativas dos professores. Tendo em conta a multiplicidade de estratégias mencionadas por estes docentes, houve a necessidade de organizar a informação, agrupando as mesmas. Deste modo, distinguiram-se as estratégias utilizadas na planificação das aulas/ atividades; as que são postas em prática durante as aulas para prevenir a ocorrência de incidentes que perturbam o decorrer dos trabalhos; as que são desenvolvidas na prevenção de incidentes entre alunos; entre estes e o professor; as estratégias corretivas dirigidas à turma e aos alunos individualmente e, em último lugar, as punitivas.

Considerando a globalidade das estratégias utilizadas pelos docentes, foram os do 3º C.E.B que aludiram um maior número, o que poderá estar relacionado com a variedade e quantidade de situações de indisciplina também referenciadas pelos mesmos.

Questionados acerca do tipo de estratégias que utilizam para fazer face à indisciplina, tanto os professores do 3º ciclo como os do Ensino Secundário revelaram preocupar-se primordialmente com a prevenção, tendo referido um conjunto mais vasto de medidas neste domínio, o que, de acordo com alguns autores mencionados no capítulo I, está diretamente relacionado com a manutenção da disciplina na aula, favorecendo as aprendizagens. De acordo com Carita e Fernandes (1997) o que caracteriza os professores eficazes não é tanto o modo como estes controlam a indisciplina, mas o modo como previnem o aparecimento das situações.

Por outro lado, enquanto os docentes do 3º ciclo indicaram, no total, um leque mais alargado de procedimentos utilizados na prevenção, englobando os vários eixos de análise, os do Secundário revelaram preocupar-se mais com a prevenção no momento da planificação das aulas, referindo a importância de criar atividades com vista à ocupação plena dos alunos e de estruturar a aula em vários momentos, enquanto os docentes do Ensino Básico mencionaram também outras que visam controlar o comportamento dos alunos, como a organização cuidada dos grupos de trabalho e a disposição dos alunos na sala.

A maioria dos docentes parece dar importância ao sistema normativo, afirmando definir regras no início do ano letivo, o que é considerado, de acordo com autores anteriormente referenciados, um aspeto favorável ao bom funcionamento das aulas.

No que diz respeito às estratégias de resposta apontadas pelos docentes, distinguiram-se medidas corretivas de punitivas, no entanto, por vezes, nem sempre foi fácil categorizá-las. Por um lado, algumas das medidas corretivas poderão ser preventivas em determinadas circunstâncias e, por outro lado, a ordem de saída da sala de aula, pode ser aplicada como medida corretiva, uma vez que os docentes não mencionam marcar falta disciplinar, o que sugere que o façam para levar o aluno a refletir sobre a sua atitude, encaminhando o mesmo para o gabinete de gestão de conflitos, ou, pelo contrário, como medida punitiva, se marcarem falta disciplinar.

Tanto os docentes do Básico como os do Secundário mencionam medidas corretivas, sendo estas, no caso deste nível de ensino, dirigidas ao aluno de forma particular. No que concerne as medidas punitivas, os docentes dizem recorrer à ordem de saída da sala, marcando a consequente falta disciplinar, perante incidentes de indisciplina de maior gravidade.

No que diz respeito às estratégias que consideravam ter mais sucesso, a maioria docentes indicou as preventivas, no entanto alguns do Ensino Básico referiram as corretivas, justificando com o facto de serem preventivas para os alunos que estão a ver ou porque são mais eficazes para os alunos daquele ciclo. A maioria dos professores entrevistados acredita que as estratégias utilizadas não são suficientes para dar resposta aos problemas de indisciplina existentes, o que remete para a complexidade do fenómeno, tendo em conta a multiplicidade de fatores com ele relacionados, exigindo ao docente encontrar procedimentos consentâneos com as situações ocorridas.

Quando questionados acerca dos aspetos concorrentes para o sucesso das estratégias utilizadas, os professores distinguiram fatores dependentes da instituição, da colaboração entre os professores, do próprio professor e da colaboração entre a família e a escola, sendo alguns destes aspetos corroborados pela teoria.

Com o objetivo de verificar a existência de diferenças entre a área curricular lecionada no que toca à frequência da ocorrência de situações de indisciplina, questionou-se os docentes sobre a possibilidade de haver uma relação entre esses dois

sentido de apurar conclusões. Concluiu-se que os docentes da área de expressões referiram um maior número de situações frequentes de indisciplina, estando estas mais relacionadas com a perturbação do trabalho na aula o que poderá estar também relacionado com a natureza das atividades curriculares, com a gestão do ensino ou com a relação estabelecido com o professor, de acordo com Amado e Freire (2009). Menor diversidade de situações foram referidas pelas docentes da área de Línguas, que justificaram a quantidade e variedade diminuta de ocorrências frequentes com o facto de a turma ser reduzida, num dos casos, e por ser uma disciplina opcional, no outro.