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CAPÍTULO III APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

19. Frequência e gravidade dos comportamentos de indisciplina

No que diz respeito aos comportamentos perturbadores, as perspetivas dos docentes indicam que este fenómeno está associado, não só ao desrespeito pelas normas de funcionamento da aula, inviabilizando o trabalho aí realizado, mas também aos comportamentos que afetam as relações entre os alunos e entre estes e o professor, colocando em causa o respeito pelo mesmo e a sua autoridade, à semelhança da classificação proposta por Amado e Freire (2009) que se revelou útil na organização e interpretação dos dados e que, a partir do processo de tratamento e análise, não emergiram contradições nem discrepâncias.

Tendo em conta os testemunhos dos diferentes professores, constata-se que nem todos os professores partilham a mesma noção de indisciplina/comportamentos perturbadores, na medida em que situações consideradas graves para alguns docentes não o são para outros, como por exemplo o facto de os alunos ouvirem música nas aulas ou de se levantarem do lugar. A ideia de que os comportamentos podem assumir aceções diferentes entre os professores tem vindo a ser apontada por autores como Estrela e Amado (2000); Hargreaves et al. (1975); Rego e Caldeira (1998) e Silva

Os comportamentos apontados como mais frequentes, são, na sua maioria, aqueles prejudicam o processo de ensino-aprendizagem, perturbando o ambiente da aula, e não são considerados muito graves. Salienta-se, entre eles, a falta de atenção e as conversas paralelas. Alguns autores (Amado & Freire, 2009; Renca, 2008) também constatam uma maior frequência de comportamentos neste nível nos seus estudos, principalmente nos alunos mais novos.

Consideradas graves pelos professores entrevistados são as situações que ocorrem com menos frequência, o que coincide também com os resultados de outros estudos já efetuados (Freire, 2001, citada por Amado, 2009; Rego & Caldeira, 1998; Renca, 2008; Vaz da Silva, 1998). Nesta categoria são apontadas aquelas que, de um modo geral, estão relacionadas com a relação entre pares ou entre o aluno e o professor. A acrescer a estes comportamentos, também é mencionada a falta de educação relacionada com as regras de convivência social, como por exemplo, a "falta de atitude cívica", "cuspir para o chão" e "não saber estar na aula". A ideia de que as condutas consideradas mais graves são socialmente disruptivas ou que contêm um elemento de agressividade, principalmente se este é direcionado ao professor é também defendida por Gotzens e colaboradores (2007), Rego e Caldeira (1998).

Outros dados comprovam que não podemos fazer, a partir dos resultados obtidos e corroborados por outros estudos, uma leitura linear da questão. Num estudo realizado, Vaz da Silva (1998) apresenta resultados opostos, na medida em que alguns dos comportamentos mais frequentes são também considerados graves, designadamente uso de linguagem imprópria e desobedecer.

Consideradas igualmente graves, são as situações sistemáticas como a conversa com os colegas, a falta de atenção ou as interrupções do discurso do professor, o que coincide com os resultados de outros estudos efetuados em Portugal (Amado, 1998, Estrela, 1986, Mendes, 1995, citados por Estrela & Amado, 2000; Lourenço, 2004, citado por Renca, 2008; Houghton et al., 1988; Freire, 1990; Estrela, 1995, citados por Rego & Caldeira, 1998; Vaz da Silva, 1998) que confirmam, por sua vez, os resultados de investigações internacionais que mostram que o caráter perturbador dos comportamentos de indisciplina provêm mais da sua frequência do que da sua gravidade. A conversa constante que, para além de ser um comportamento perturbador do ambiente da aula, é considerada também "uma falta de educação e de respeito" em

relação ao professor, para BL1 e SC1. Assim sendo, podemos inferir que ao não acatar as contínuas chamadas de atenção por parte do professor, o aluno demonstre desrespeito em relação ao mesmo, sendo esta considerada uma situação grave, à semelhança de outras que estão relacionadas com a relação professor - aluno.

Quanto às situações menos graves e que os professores ocasionalmente ignoram, destacam-se as situações pontuais, como as de conversa com os colegas, de distração, de utilização de um tom de voz mais elevado. Estes dados vão ao encontro de outros estudos nos quais os professores dizem considerar menos importantes, chegando mesmo a desvalorizar pequenos desvios que condicionam, mas não impedem o trabalho na aula (Estrela, 1995; Gotzens et al., 2007).

Encontrámos perspetivas diferentes sobre a ocorrência de situações de indisciplina dos professores em função do nível de ensino, na medida em que a partir dos testemunhos dos professores do 3º ciclo constatámos a existência de um leque mais abrangente e consistente de incidentes. Estes vão desde os comportamentos que perturbam o funcionamento da aula, como a conversa, as interrupções a dificuldade e o incumprimento das regras impostas, como também aqueles que afetam a dinâmica das relações entre pares, a saber: o desrespeito pelas opiniões dos outros, situações de conflito e de agressividade, verbal e física, e ainda ocorrências relacionadas com a relação professor-aluno, nomeadamente a falta de respeito, o incumprimento ou a dificuldade em cumprir as indicações do professor e a resposta de forma mais agressiva. Para além de dizerem que não existem situações graves de indisciplina no Secundário, uma parte dos docentes desse nível de ensino destaca como sendo frequentes, não só as situações de conversas com os colegas e a falta de atenção, bem como outros tipos de ocorrências relacionadas com a relação entre pares e entre professor e aluno, mas afirmam que não existem muitos incidentes, o que se constata pela referência a um número bastante mais reduzido de ocorrências que os seus pares do Ensino Básico.

Outros trabalhos já efetuados também confirmam a perspetiva de que alunos mais jovens são mais indisciplinados que os alunos mais velhos (Estrela & Amado, 2000; Renca, 2008). Amado e Freire (2009) relacionam a evolução do comportamento social com a idade e com o nível de escolaridade dos alunos, estando o decréscimo de incidentes, provavelmente, ligado ao efeito da evolução do percurso escolar, mas

também ao desenvolvimento social e moral do adolescente, de acordo com a teoria de Kohlberg (Sprinthall & Collins, 1988).

Apesar de não se verificar uma predominância, no que diz respeito à tipologia de incidentes, comparando os dois níveis de ensino, Amado e Freire (2009) referem que os comportamentos de indisciplina mais frequentes são os que inviabilizam o trabalho realizado na aula. Estes autores consideram que estes comportamentos correspondem uma forma de obstrução ao trabalho desenvolvido, mas Rego e Caldeira (1998) referem que eles visam a perturbação da aula com o objetivo de atingir o professor, considerando o estádio de desenvolvimento em que se encontra a generalidade dos jovens do 3º ciclo.

Estrela (1992), por sua vez, considera que a indisciplina é o resultado da resposta a necessidades de afirmação pessoal perante os colegas e o professor, no Ensino Secundário.

20. Estratégias preventivas e corretivas postas em prática pelos