• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – METODOLOGIA

9. Método e técnica de recolha de dados

9.1. Abordagem qualitativa

Para a realização do trabalho, optou-se por uma metodologia qualitativa por se acreditar que esse método nos proporcionaria condições de atingirmos os objetivos do nosso estudo, na medida em que, segundo Bogdan e Biklen (1994) "Ao apreender as perspetivas dos participantes, a investigação qualitativa faz luz sobre a dinâmica interna das situações, dinâmica esta que é frequentemente invisível para o observador exterior" (p. 51). A natureza da problemática que se pretende investigar e a informação que se pretende recolher são condições determinantes, quer na escolha do método, quer dos procedimentos que se julgam ser os mais adequados. Por este motivo, enveredou-se pela realização de entrevistas como técnica de recolha de dados, procedendo, posteriormente, à respetiva análise de conteúdo (Anexos A e B).

9.2. Entrevista

Classificadas segundo o seu grau de diretividade, Bardin (2008) aponta formas distintas para se efetuar uma entrevista: as entrevistas não diretivas e as semidiretivas, também chamadas semiestruturadas, que são mais curtas do que as primeiras, embora devam igualmente ser registadas e transcritas.

A respeito desta forma de inquirir, Ghiglione e Matalon (1992) afirmam que o entrevistador conhece todos os temas sobre os quais tem de obter reações por parte do

inquirido, mas a ordem e a forma como os irá introduzir são deixadas ao seu critério, sendo apenas fixada uma orientação para o início da entrevista" (p. 64).

No que diz respeito às vantagens apontadas para a realização deste método de recolha de dados, no caso concreto deste estudo, entrevistas semiestruturadas, Bogdan e Bilken (1994) consideram que se fica com a certeza de obter dados comparáveis entre os sujeitos num tipo de amostragem mais alargada. Para Ghiglione e Matalon (1992), ela é adequada a aprofundar um determinado domínio ou a verificar a evolução de um domínio já conhecido.

De acordo com Quivy e Campenhoudt (2008): “Nas suas diferentes formas, os métodos de entrevista distinguem-se pela aplicação dos processos de comunicação e interação humana. Corretamente valorizados, estes processos permitem ao investigador retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos.” (p.191). Apesar de nem sempre a atuação dos professores estar relacionada com as suas crenças no domínio da indisciplina na sala de aula, muitas das investigações realizadas sobre este assunto indicam que existe uma concordância entre o pensamento e a ação por parte dos mesmos (Tabachinich & Zeichner, 1986, citados por Rego & Caldeira, 1998).

Considerando os objetivos do estudo, bem como as questões orientadoras foi elaborado o guião das entrevistas (Anexo C) com “uma série de perguntas-guia, relativamente abertas” (Quivi & Campenhoudt, 2008, p.194), permitindo que os entrevistados expusessem as suas ideias, sem, no entanto, esquecer os objetivos previamente estabelecidos. Além das questões contidas no guião, foram surgindo outras aquando da realização das entrevistas, porém, procurámos conduzir o diálogo, de modo a evitar eventuais dispersões. Bardin (2008) salienta o facto de este tipo de entrevista ter como características "as digressões incompreensíveis, negações incómodas, recuos, atalhos, saídas fugazes ou clarezas enganadoras" (p. 90).

O guião da entrevista estava estruturado em nove blocos. Os três primeiros correspondiam a uma parte introdutória contendo a legitimação da entrevista e motivação do entrevistado, a garantia de confidencialidade e de anonimato, e o consentimento para a eventual gravação da mesma; o quarto bloco dizia respeito à caracterização pessoal e profissional do entrevistado; e os restantes blocos continham, por ordem sequencial, questões sobre: o conceito de indisciplina na sala de aula, as

estratégias utilizadas na prevenção de situações de indisciplina, a resposta a situações de indisciplina e a perceção do sucesso das estratégias utilizadas. Por fim, a conversa com os docentes terminou com os agradecimentos aos mesmos pela disponibilidade e pelo contributo dado, fundamentais para a concretização do trabalho.

Antes da realização da entrevista, foi efetuada uma entrevista-piloto, cujas respostas foram analisadas, com o objetivo de verificar a eficácia das questões relativamente aos objetivos propostos. Sempre que se identificaram dificuldades na interpretação das questões colocadas ou quando estas evidenciavam alguma ambiguidade, foram introduzidas alterações. Esta entrevista foi também fundamental para adquirir algum treino e aferir o tempo da sua duração.

As entrevistas foram gravadas e integralmente transcritas, o que segundo Bogdan e Bilken (1994) é aconselhável: “Quando um estudo envolve entrevistas extensas ou

quando a entrevista é a técnica principal do estudo, recomendamos que use um gravador” (p.172).

Depois de recolhidos os testemunhos, a informação foi tratada por análise de conteúdo, identificando unidades de sentido (Bardin, 2008) que, posteriormente, foram integradas em categorias mais abrangentes.

9.3. Análise de conteúdo

O tratamento da informação recolhida foi feito recorrendo à técnica de análise de conteúdo. Salienta-se que a definição de análise de conteúdo, segundo Berelson (s.d., citado por Bardin, 2008, p. 37-38) constitui «uma técnica de investigação que através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações». O autor resume o seu funcionamento e objetivo do seguinte modo:

"um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens."(p.44).

Para que a análise de conteúdo seja válida, embora reconheça que por vezes é difícil a sua aplicabilidade, Bardin (2008, p.38), com base nas categorias de fragmentação da comunicação, propõe as seguintes regras:

a - deverão ser «homogéneas»; b - «exaustivas»;

c - «exclusivas»; d – «objetivas»;

e - «adequadas ou pertinentes».

Ainda sobre a definição de análise de conteúdo e fazendo uma comparação com a linguística, Bardin (2008), explica que: “A análise de conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça. A linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens.(…) visa o conhecimento de variáveis de ordem psicológica, sociológica, histórica, etc., por meio de um mecanismo de dedução com base em indicadores reconstruídos a partir de uma amostra de mensagens particulares.” (p. 45-46).

De acordo com o mesmo autor, foram as respetivas entrevistas organizadas em torno de três polos cronológicos (Bardin 2008, p.121):

a - A pré-análise;

b - A exploração do material;

c - O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Após a sua transcrição, as doze entrevistas que fazem parte deste estudo foram sujeitas a uma análise de conteúdo, devidamente segmentada e codificada, obtendo-se assim as várias unidades de registo. A partir destas foram inferidos os indicadores comuns a todas elas e feita uma associação às subcategorias e categorias.

44

PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO