• Nenhum resultado encontrado

Estratégias preventivas e corretivas postas em prática pelos professores

CAPÍTULO III APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

20. Estratégias preventivas e corretivas postas em prática pelos professores

No que se refere às estratégias mencionadas pelos professores para prevenir situações de indisciplina, procurámos distinguir aquelas que figuram na planificação das aulas/atividades, as que são usadas durante as aulas, as que previnem incidentes de conflito entre alunos e entre estes e o professor.

Tal como foi referido anteriormente, de acordo com autores como Amado e Freire (2009), Estrela (1992) e Rego e Caldeira (1998) existe uma relação entre a indisciplina e a imposição de regras. Por este motivo, questionámos os professores quanto ao estabelecimento de regras para o bom funcionamento das aulas. A maioria parece dar importância ao sistema normativo, definindo regras no início do ano letivo, o que segundo Carita e Fernandes (1997) constitui um instrumento valioso para a vida social de uma turma, concorrendo para o bom funcionamento da aula (Estrela, 2007).

Apesar de não termos conhecimento das regras privilegiadas pelos docentes, podemos inferir que a diversidade de comportamentos considerados indisciplinados, bem como o grau de gravidade atribuída aos mesmos terá influência na delimitação de limites para a instituição das mesmas, o que se pode verificar pelo facto de para alguns docentes ser interdito o uso do telemóvel ou casos de agressividade para os colegas, mas

para outros essas situações serem toleradas. Esta constatação vai ao encontro do estudo realizado por autores como Amado e Freire (2009), Gotzens e colaboradores (2007) e Hargreaves (1975), no que diz respeito à falta de consenso por parte dos professores relativamente às regras a implementar. Esta situação, segundo Estrela (1994), faz com que os alunos passem a relativizar a importância das regras, o que dificulta a manutenção da ordem e da disciplina no decorrer das aulas.

Embora se verifique um leque alargado de estratégias apontadas aquando da planificação das aulas, a plena ocupação dos alunos é a mais referida. Segundo os docentes, se os alunos estiverem ocupados na realização de tarefas, têm menos tempo para criarem situações de conflito, o que vai ao encontro dos resultados obtidos por Palma (2011). Neste domínio, os professores parecem considerar também importante a motivação dos alunos, selecionando atividades diferentes para o período do dia em que a aula decorre ou tendo em conta as características do grupo e optam por atividades em que os alunos tenham um papel ativo. Através dos vários testemunhos, verifica-se também que os professores preferem desvalorizar determinados comportamentos para não interromperem o decurso dos trabalhos na aula, como o caso dos alunos que se mantêm alheios ao trabalho realizado, mas não perturbam a aula. Com o objetivo de evitarem situações de conflito, os docentes afirmam afastar os alunos envolvidos, mudando-os de lugar ou até retirando um deles da sala.

No que diz respeito às estratégias de prevenção de incidentes entre professor e alunos é importante conhecer os princípios que presidem a esta relação. Deste modo, verifica-se que a maior parte dos docentes procura ter uma boa relação com os seus alunos e confirma a existência de alguma proximidade, estando esta dentro de certos limites. Os professores mencionam a importância de não perder de vista a autoridade, não admitem situações de abuso e de indisciplina, mas ouvem as motivações e a opinião dos alunos e vão relembrando as suas expectativas. Estes afirmam ser mais flexíveis com as turmas que têm melhor comportamento e mais rigor com as outras.

No que diz respeito às estratégias de resposta apontadas pelos docentes, distinguiram-se medidas corretivas de punitivas, no entanto, por vezes, tornou-se complexo categorizar as primeiras quando estas são postas em prática durante a aula, uma vez que poderão ser preventivas em determinadas circunstâncias, mas corretivas

situação ("…outras vezes se calhar intervenho para que não surja a indisciplina ou um conflito… Chamo à atenção."- BC2), ou pelo contrário, quando esta já ocorreu e o professor pretende corrigir um comportamento ("…quando um aluno quebra as regras, chamo-o à atenção uma, duas vezes…" - BC1).

Entre as medidas corretivas individuais mais utilizadas pelos professores figuram as chamadas de atenção, tanto através do olhar, como de gestos, ou até da palavra, as conversas, a mudança de lugar por parte do aluno, a ordem de saída da sala e o simultâneo encaminhamento para estrutura de mediação de conflitos. Note-se que, segundo os docentes e de acordo com o regulamento interno da escola, a ordem de saída de sala de aula implica a marcação de uma falta disciplinar, todavia alguns não o referem, o que indicia que o poderão fazer com o objetivo de levar o aluno a refletir e a corrigir o seu comportamento e não a penalizá-lo.

Apesar de se ter apurado uma grande variedade de estratégias, tanto preventivas como corretivas, verifica-se uma diferença significativa do número de medidas apontadas pelos docentes, sendo este mais elevado no 3º ciclo. Esta questão poderá estar relacionada com a frequência e variedade de situações encontradas, bem como com a perceção de alguns docentes do secundário que afirmam que neste nível de ensino os comportamentos indisciplinados são escassos.

Relativamente às medidas punitivas, os docentes são consentâneos e perante situações recorrentes e graves dão ordem de saída da sala de aula, marcando falta disciplinar, sendo esta acompanhada da respetiva participação.

Dos professores entrevistados, uma grande parte acredita que as estratégias utilizadas não são suficientes para dar resposta aos problemas de indisciplina existentes, pois há sempre situações novas, o que faz com que elas se revelem ineficazes. Com efeito, como podemos constatar a partir da leitura do capítulo I, o fenómeno da indisciplina está subjacente uma multiplicidade de fatores, variando em cada circunstância. Como refere Estrela (1994), escolher as formas adequadas de intervenção dependerá essencialmente da avaliação que o professor faz da situação, considerando as variáveis em causa, não existindo, portanto, receitas aplicáveis, sendo as soluções encontradas no momento, sob a pressão dos acontecimentos. A necessidade de uma resposta imediata e ajustada exige a prática de reflexão em situação.

Quanto à perceção dos docentes relativamente ao sucesso das estratégias utilizadas, constata-se que a maioria acredita que as estratégias preventivas têm mais sucesso e que apenas alguns docentes do 3º ciclo afirmam o contrário. Quanto às medidas punitivas, não são apontados pelos docentes como sendo eficazes e são utilizadas, segundo os mesmos, perante situações graves.

Quando questionados acerca dos aspetos concorrentes para o sucesso das estratégias utilizadas, os professores identificaram fatores dependentes da instituição, tendo reclamado por um lado, numa perspetiva sistémica mais alargada, questões relacionadas com a sua profissão, e por outro, aspetos da orgânica da escola, tendo salientado a importância do apoio por parte da direção. A este respeito, importa referir que, de acordo com Amado e Freire (2009), o modo como o professor é apoiado pela direção ou pelos seus demais poderá ser também um fator conducente a um clima desfavorável visto que a coesão dos mesmos está relacionada com a disciplina. Os entrevistados concordaram que o momento do dia em que a aula decorre é um fator determinante para a ocorrência de situações de indisciplina. Estes referiram que os alunos, de manhã, estão mais atentos e mais predispostos para aprender, contrariamente ao período da tarde, em que se encontram mais cansados, surgindo mais episódios de indisciplina, o que é corroborado pelos autores atrás mencionados. Os docentes referiram ainda a necessidade de colaboração entre os professores, devendo haver um espírito de entreajuda e lugar à partilha de experiências, de realização de ações de formação pelo professor e da colaboração entre a família e a escola. Os mesmos autores (2009) partilham a mesma opinião, afirmando que “uma cooperação forte entre a escola e a família é absolutamente desejável para que os problemas de indisciplina, em geral, sejam efetivamente afrontados.

21. Área curricular lecionada versus atuação do professor/ natureza