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A presente dissertação teve por objetivo estudar o impacto que um conjunto de variáveis macroeconómicas e sociais desempenha junto do crescimento económico, ou seja, testar a importância que o desenvolvimento do sistema financeiro pode ter para o crescimento económico. Da análise de literatura efetuada depreendemos que o sistema financeiro é um conceito bastante amplo, que engloba inúmeros aspetos, devendo, porém, realçar dois dos segmentos que o compõem, o sistema bancário e o mercado de capitais. Contudo apesar de existirem países com sistemas financeiros baseados no sistema bancário e outros cujos sistemas financeiros são baseados nos mercados de capitais, a criação de ambiente em que instituições financeiras e mercados de capitais consigam prestar um conjunto de serviços financeiros sólidos e capazes de estimular o crescimento económico deve ser a questão central no que se refere aos sistemas financeiros.

O sistema financeiro desempenha ainda algumas funções distintas, havendo, no entanto, a função de mobilizar e facilitar a alocação de recursos no espaço e no tempo que é a mais importante, sendo que posteriormente, através dos canais de transmissão, acumulação de capital e inovação tecnológica, o sistema financeiro exerce influência sobre o crescimento económico. Por sua vez, o crescimento económico é um conceito mais restrito, usualmente utilizado para analisar o comportamento de uma economia nacional. Contudo, o sistema financeiro e o crescimento económico encontram-se fortemente relacionados, nomeadamente através da alocação eficiente do capital que é capaz de gerar crescimento económico no longo prazo, assim como o crescimento económico, que quando apresenta taxas superiores ao nível médio, torna mais célere o crescimento económico.

No entanto, as crises financeiras e bancárias são um aspeto que devemos ter em consideração uma vez que afeta todos o sistema financeiro, assim como a economia em geral, além de que podem fazer com que ocorram períodos de recessão económica, afetando o crescimento a médio e longo prazo, isto porque, os efeitos de uma crise perduram no tempo, apresentando efeitos mesmo após alguns anos.

De modo a testar o impacto que o desenvolvimento do sistema financeiro tem sobre o crescimento económico recorremos à construção um modelo econométrico baseado em estudos

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empíricos realizados anteriormente para o mesmo âmbito, reunindo num mesmo trabalho as variáveis utilizadas em diversos estudos e que se revelaram significativas para explicar o crescimento económico. Para tal incluímos no modelo econométrico: um indicador do desenvolvimento do sistema bancário, o crédito ao setor privado em função do PIB; um indicador do desenvolvimento do mercado de capitais, as ações transacionadas em função do PIB; a variável inflação; a variável despesa governamental em função do PIB; um indicador do nível de educação, a variável inscrição no ensino secundário; um índice de liberdades civis, a variável opinião e responsabilidade; um índice de burocracia, a variável qualidade da regulação; um índice de direitos políticos, a variável estabilidade política; e, a variável crises bancárias. O modelo econométrico foi analisado para um universo de 61 países, entre 1996 e 2016.

Da análise dos resultados obtidos após a estimação do modelo econométrico concluímos que o modelo estipulado se revelou globalmente significativo, apesar de apresentar problemas de heteroscedasticidade, resolvidos com recurso à estimação do modelo econométrico com erros robustos. O valor dos coeficientes estimados das varáveis, opinião e responsabilidade, reflexo de um índice de liberdades civis, e estabilidade política, reflexo de um índice de direitos políticos, encontram-se em concordância com a literatura existente.

Porém no que concerne à correlação existente entre as restantes variáveis a maioria vai ao encontro da literatura estudada, contudo, as variáveis, crédito do setor privado em função do PIB, indicador do desenvolvimento do setor bancário; ações transacionadas em função do PIB, indicador do desenvolvimento do mercado de capitais; a variável inscrição no ensino secundário, reflexo o nível de educação do país e a variável qualidade da regulação, reflexo do índice de burocracia; contrariam a literatura referida.

Importa também mencionar que, no presente trabalho, três das variáveis explicativas analisadas tiveram especial foco, sendo as mesmas o indicador do desenvolvimento do sistema bancário e o indicador do desenvolvimento do mercado de capitais, uma vez que representam dois dos segmentos que compõem o sistema financeiro. Além destas variáveis, também as crises bancárias tiveram especial atenção, uma vez que estes fenómenos além de destabilizarem o normal e eficiente funcionamento do sistema financeiro, destabilizam também a economia de forma generalizada.

Da análise dos resultados obtidos a partir do modelo econométrico utilizado, que se revelou globalmente significativo, como já mencionamos anteriormente, podemos auferir que os

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fatores associados ao sistema financeiro analisados desempenham, de forma conjunta, influência sobre o crescimento económico.

No que à realização do estudo empírico diz respeito, deparamo-nos com algumas limitações, mais concretamente com a falta de dados disponíveis para alguns países, durante alguns anos ou para variáveis em específico, razão pela qual a amostra inicial teve de ser redefinida para existirem dados disponíveis.

Por último, importa realçar o facto de que, apesar das inúmeras crises financeiras, monetárias e bancárias ocorridas ao longo da história, o conhecimento que detemos sobre as mesmas é ainda reduzido, pelo que continuamos a não compreender como ou quando irão ocorrer, sendo surpreendidos pelo desencadear dos colapsos financeiros. Desta forma torna-se preponderante continuar a estudar, observar e refletir sobre as crises, tentando assim evitar que aconteçam, ou caso já não seja possível evitar, minimizando o impacto, os danos e os custos que estas causam nas economias.

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