• Nenhum resultado encontrado

5.1 Crescimento económico: evolução histórica

A escola clássica de pensamento económico, fundada por Adam Smith (1723-1790) e defendida por alguns percursores desta filosofia como David Ricardo (1722-1823) e Thomas Malthus (1766-1834), assenta no princípio do laissez-faire4, defendendo que a intervenção do

Estado nos sistemas de mercados é desnecessária uma vez que a “mão-invisível” era detentora do controlo do sistema produtivo, permitindo o equilíbrio da produção e da distribuição de rendimento e, defendendo que os instintos naturais levariam a sociedade a tornar-se confortável e próspera, e que a verdadeira fonte de riqueza é o trabalho. Desta forma, associada a esta escola de pensamento está a ideia de que a sociedade e as instituições fazem com que o Homem, de certa forma, deixe de realizar as suas inclinações naturais, prejudicando o seu equilíbrio espontâneo e natural, pelo que condena a intervenção do Estado e defende a ordem natural.

No final do século XIX, em oposição à escola clássica de pensamento económico surge a teoria da Economia Política de Karl Marx (1818-1883). Karl Marx analisa os sistemas de produção capitalista na sua obra “O capital” (1869). Durante a análise verifica a ocorrência de inúmeras crises de superprodução, afirmando assim que não existe uma tendência natural para a harmonia e o equilíbrio económico, mas sim uma tendência natural para o desequilíbrio denotada pela periodicidade de ocorrência de crises. Dado isto contraria as ideias defendidas pela Escola Clássica de que os mercados se equilibram por si próprios, afirmando ser necessária a atuação do Estado, tanto na distribuição do rendimento como no crescimento e desenvolvimento económico, desempenhando por isso um papel preponderante no sistema produtivo e na economia como um todo.

Durante este mesmo período aparece também a Escola Neoclássica, sendo uma teoria próxima da Escola Clássica mas onde ocorreram algumas alterações. A Escola Neoclássica, defendida inicialmente por William Stanley Jevons (1835-1882), Carl Menger (1840-1921) e Leon Walras (1834-1910), sendo posteriormente defendida por célebres economistas como Alfred

4 Laissez-faire- expressão caracterizadora do liberalismo económico, filosofia económica predominante nos Estados Unidos e nos países Europeus

mais ricos no final do século XIX e início do século XX. De acordo com esta filosofia não deveria ocorrer interferência governamental. Isto é, de acordo com este pensamento económico, o Estado deve deixar os mercados agirem por si, sem interferir na atuação dos mesmos, cabendo apenas ao Estado a criação de leis protetoras dos cidadãos e dos direitos de propriedade.

26

Marshall (1832-1924), Irving Fisher (1867-1947) e Vilfredo Pareto (1848-1923). Esta mesma escola defendia ser praticamente desnecessária a atuação estatal na economia, uma vez que se os mercados competitivos funcionassem livremente alcançariam a plena afetação de recursos de uma economia, levando ao estado conhecido como o Ótimo de Pareto5, uma vez que a interferência do Estado levaria a uma situação subótima.

A Escola Neoclássica ficou também marcada pelos princípios da utilidade marginal decrescente e de rendimento marginal decrescente, estando na origem do diagrama da procura e da oferta de Alfred Marshall, em 1890.

No entanto, com a Grande Depressão em 1929 ocorre o rompimento com a Escola Neoclássica e em 1936 surge a Teoria geral de Keynes (1883-1946) ou Teoria Keynesiana. A Teoria Geral de Keynes sustentava a importância do papel do estado na economia enquanto estimulante das principais variáveis agregadas da economia, eliminando desta forma os problemas macroeconómicos existentes. Esta teoria aparece como forma de resolver alguns problemas macroeconómicos, evidenciados particularmente pela Grande Depressão.

Nas diversas economias o desemprego involuntário é uma condição inevitável e persistente que gera problemas de procura efetiva, pelo que, segundo Keynes, tanto a política monetária como a política orçamental desempenham um papel preponderante na atividade económica, mais concretamente na minimização dos efeitos adversos dos ciclos económicos e na prossecução dos principais objetivos macroeconómicos. Isto porque altos níveis de desemprego geram o arrefecimento da procura agregada, sendo que aqui deve ocorrer a intervenção do Estado, aumentando as despesas e reduzindo os impostos, tendo em vista a retoma do crescimento, sendo por isso o estado fundamental na recuperação da procura agregada.

Richard Musgrave (1910-2007) foi um defensor da Teoria Keynesiana, olhando o orçamento público do ponto de vista macroeconómico, referindo que o comportamento governamental tem várias funções, nomeadamente no crescimento económico, na distribuição de riqueza, no emprego e produção, e na eficiente alocação dos recursos.

No entanto, surge ainda um novo modelo económico, o modelo Neoclássico do Crescimento, iniciado por Robert Solow, no qual o papel do Estado na economia volta a ser novamente discutido, mais concretamente no que diz respeito à má gestão governamental, em

5 Ótimo de Pareto- ocorre quando existe uma situação em que ao sair dela para que um ganhe existe pelo menos um que tem, necessariamente,

de perder, ou seja o Ótimo de Pareto é atingido quando não é possível melhorar mais a situação de um agente, é o seu ponto ótimo, sem no entanto degradar a situação de qualquer outro.

27

que a economia apresenta desequilíbrios de mercado, défices crescentes, ocorrência de corrupção e alocação ineficiente dos recursos, pelo que Friedrich Hayek (1899-1992), um dos maiores percursores deste modelo afirmava que as falhas governamentais superam as falhas de mercado. O modelo Neoclássico do crescimento assenta nas ideias de liberdade de mercado e de reduzida intervenção do Estado na economia, uma vez que esta intervenção causaria imperfeições no sistema.

5.2 Crescimento económico: conceito

O crescimento económico é usualmente utilizado para descrever a evolução de um país, representando um indicador quantitativo que demonstra a riqueza gerada por uma dada economia. O crescimento representa o aumento da riqueza, gerada esta pela produção de bens e serviços, sem no entanto existir preocupação quanto à distribuição da mesma pela população. No entanto, como referem Jones e Vollrath (2013), “Durante o longo curso da história, o processo de crescimento económico foi esporádico e inconsistente”.

De acordo com Durlauf e Quah (1999), os modelos de crescimento económico analisam o comportamento de uma economia nacional de forma individual. Economistas interessam-se pelo crescimento económico enquanto caminho para compreender o comportamento do rendimento per capita ou per worker output.

Por sua vez, Hall and Jones (1999) e Acemoglu et al. (2001) referem que as instituições são fatores muito importantes no que diz respeito à riqueza e ao crescimento económico de longo prazo, pelo que países com um passado marcado por instituições políticas e económicas de elevada qualidade tendem a ser mais ricos nos dias de hoje.

28