• Nenhum resultado encontrado

Mercados de capitais, locais onde poupanças e investimentos são canalizados, traduzem- se no lugar em que as diversas entidades podem trocar valores mobiliários. Os mercados de capitais mais comuns são os mercados de ações e os mercados de títulos. Estes mesmos mercados viabilizam o processo de capitalização e tornam os títulos mais líquidos.

O mercado de capitais é apontado por autores como Levine (1991) e Bencivenga, Smith e Starr (1999), como um lugar que torna os ativos financeiros negociados menos arriscados, uma vez que permitem que os poupadores rapidamente comprem e vendam quando têm intenção de alterar o seu portefólio. As empresas, por sua vez, recorrendo aos mercados de capitais usufruem de acesso fácil ao capital, por meio de questões de equidade. Assim sendo, ativos que apresentam menor risco e acesso facilitado ao mercado de capitais melhoram a alocação de capital, canal importante para o crescimento económico. Recorrendo aos mercados de capitais podem verificar- se níveis mais elevados de poupança e de investimento, impulsionando ainda mais o crescimento económico a longo prazo.

Segundo alguns autores como Greenwood e Jovanovic (1990) os mercados de capitais incentivam a especialização, assim como a aquisição e difusão de informação, além de que, como referem Greenwood e Smith (1997) poderão reduzir os custos associados à mobilização de poupanças, tornando mais fácil o investimento. Por sua vez, Arestis, Demetriades e Luintel (2001) mencionam que mercados de capitais bem desenvolvidos poderão melhorar o governo de empresas e sociedades, eliminando o problema de agência3, isto é, conjugando os interesses dos gestores e dos proprietários.

Os mercados de capitais apresentam como característica importante a elevada liquidez, permitindo que os detentores de ativos facilmente vendam os mesmos, caso necessitem de

3 Problema de agência- De acordo com Shleifer e Vishny (1997) “a essência do problema de agência é a separação entre gestão e finanças- ou

numa terminologia mais padronizada- de propriedade e controlo. Um empreendedor ou um gestor arrecada fundos de investidores para coloca-los em uso produtivo ou para extrair as participações numa empresa. Os financiadores precisam do capital humano especializado do gestor para gerar retornos sobre seus fundos. O gestor precisa dos fundos dos financiadores, pois ele não tem capital próprio para investir ou quer sacar suas ações. Mas como os financiadores podem ter certeza de que, uma vez que consomem seus recursos, recebem qualquer coisa que não seja um pedaço de papel inútil do gerente? O problema da agência neste contexto refere-se às dificuldades que os financiadores têm em assegurar que seus fundos não sejam expropriados ou desperdiçados em projetos não atrativos.

23

recorrer às suas poupanças ou diversificar a carteira de ativos, sem que no entanto a empresa perca o acesso ao investimento concedido pelos investidores iniciais.

Contudo, o aumento de liquidez normalmente associado aos mercados de capitais pode também afetar negativamente o crescimento económico, tal como refere Levine (1997). O efeito negativo sobre o crescimento económico pode ocorrer de três formas distintas, como mencionam Demirgüç-Kunt e Levine (1996), por um lado a elevada liquidez associada a estes mercados, concretamente associada aos retornos de investimento, pode levar à redução das taxas de poupança. Por outro lado, o efeito negativo no crescimento económico prende-se com o efeito ambíguo da incerteza nas poupanças, isto é, verifica-se uma menor incerteza relativamente aos mercados de capitais que pode originar uma diminuição na procura por poupanças preventivas. Por último, a terceira forma atua através da miopia e da euforia que podem ser provocadas pela elevada liquidez dos mercados de capitais, mais concretamente os mercados de ações.

A elevada liquidez associada aos mercados de capitais permite também que participantes insatisfeitos do mercado consigam vender rapidamente os ativos detidos, contudo pode gerar desincentivos para o controlo sobre entidades e gestores, afetando negativamente o governo das empresas e sociedades e, também o crescimento económico, como referem Arestis, Demetriades e Luintel (2001). Relativamente à negociação excessiva de ações que ocorre, DeLong et al. (1989) mencionam que esta pode induzir “barulho” no mercado em prejuízo da alocação de recursos eficiente. Os mercados de capitais além da elevada liquidez têm outra característica, a volatilidade de preços que ocorre nos mercados de ações, podendo a mesma enfraquecer a capacidade dos mercados acionistas detêm para promover a eficiente alocação do investimento.

Segundo Arestis, Demetriades e Luintel (2001) nos mercados de capitais é necessário que se verifique um determinado grau de volatilidade de preços, reflexo dos efeitos de novos fluxos de informação, num mercado eficiente, todavia determinadas evidências referem que os níveis de volatilidade observados nestes mercados são por vezes excessivos. Federer (1993) e DeLong et al. (1989) referem que a presença de volatilidade em excesso levará a uma ineficiente alocação dos recursos e a pressões crescentes sobre as taxas de juro, derivado da maior incerteza verificada, prejudicando desta forma tanto o volume como a produtividade de investimento e, consequentemente, reduzindo o investimento.

24

A relação entre mercados de capitais e crescimento económico pode ser influenciada pela relação que ocorre entre os mercados de capitais e os intermediários financeiros, que contudo não é inequívoca. De acordo com Arestis, Demetriades e Luintel (2001), mercados de capitais e instituições bancárias são fontes de investimento substitutas, como por exemplo quando uma empresa emite novas ações para fazer face às necessidades de financiamento, em detrimento do financiamento disponibilizado pelo setor bancário. De acordo com Stiglitz (1985), partindo do pressuposto de que as instituições bancárias bem como os intermediários financeiros se encontram numa posição melhor do que os mercados de capitais para lidar com problemas de agência, torna-se por isso possível que o desenvolvimento dos mercados de capitais possa servir de entrave ao crescimento económico se o mesmo acontecer causando perdas no desenvolvimento do sistema bancário.

Por sua vez, Akyuz (1993) e Singh (1997) mencionam que a ocorrência de choques económicos gera instabilidade macroeconómica, por meio de interações entre mercados de capitais e mercados de câmbio, que têm um impacto negativo no crescimento económico. Mas, a nível agregado, o aumento da capitalização pode ser significado de aumento da quantidade de negócios bancários, mesmo que não se verifiquem concessões de novos empréstimos. Por sua vez, os intermediários financeiros podem conceder serviços complementares, como a subscrição, aos mercados financeiros emissores de novas ações. Desta forma, a nível agregado, pode dizer- se que o desenvolvimento dos mercados de capitais se verifica simultaneamente ao desenvolvimento do sistema bancário.

25