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A relação da força triádica tecnologia-prática-teoria nos sistemas de informação é a mola propulsora do desenvolvimento organizacional. O progresso de novas possibilidades tecnológicas tem sido muito mais rápido do que o progresso do pensamento sobre o sistema de informação, levando a desequilíbrio e confusão. Em qualquer campo onde a tecnologia é condutora do desenvolvimento, cujas mudanças são introduzidas na prática para depois serem percebidas pela teoria, o pressuposto é a existência de um sistema de aprendizagem orientado à ação.

O modelo de desenvolvimento e de apropriação tecnológica, empregado atualmente nas engenharias, não observa os impactos no ecossistema. Utilizam abordagens predominantemente analíticas, o que impossibilita lidar com a complexidade dos sistemas organizacionais – hajam vista os aspectos condicionantes da especialização exacerbada e da tecnoburocracia – dificultando às organizações transitarem do modelo burocrático para o gerencial e o governado.

Diante de cenários complexos, os problemas são mal estruturados e de difícil resolução. Não obstante a adoção de métodos, técnicas e ferramentas tradicionalmente aplicadas pela engenharia, pesquisa operacional e Ciências da Administração na resolução de problemas sob condições determinísticas e controladas, a mesma capacidade de resolução não é observada nos problemas encontrados em ambientes turbulentos, instáveis, imprevisíveis, com multiobjetivo, com alto grau de incertezas e complexidade. Uma forma de lidar com a complexidade é assimilando o princípio da multidimensionalidade para absorvê-la. Para se alcançar essa noção foi preciso discutir as faces da complexidade sistêmica à luz do marco teórico presente nas abordagens do pensamento sistêmico e das Ciências da Complexidade.

Os resultados das pesquisas empreendidas nesta tese permitiram embasar as discussões que culminaram com a proposta de um mecanismo de aprendizagem para apoio à decisão em cenários complexos. Em termos gerais, a preocupação com projetos ou processos de mudança complexos exige novos modos de pensamento que podem auxiliar os especialistas da engenharia tomar consciência da incerteza, volatilidade, ambiguidade e imprevisibilidade do ambiente, antes de decidir.

Para existir uma ação, primeiro se identifica qual a viabilidade das mudanças desejadas no contexto do sistema de atividade humana, incluindo as partes envolvidas e afetadas. Antes disso, é preciso tomar consciência das semelhanças e diferenças entre as reais condições de existência de uma situação-problema e a distinção do sistema linguístico definido em seu entorno. Em meio a essa avaliação, surge a necessidade de se descrever a organização do sistema de resolução da situação-problema, por meio de uma ontologia, para depois descrever a sua estrutura organizacional, utilizando-se de domínios de arquitetura. Para tanto, foi preciso discutir a constituição dos sistemas de informação sob a ótica de arquiteturas e ontologias.

A elaboração de um construto de visão multidimensional foi a alternativa encontrada para servir de parâmetro para estudos prospectivos, partindo da compreensão das lógicas dominantes de um cenário de desenvolvimento organizacional. Apesar de as organizações estudadas disporem de um repertório de abordagens prescritivas e descritivas para alavancar seus próprios negócios, ainda assim, muitas questões mal resolvidas ou que sequer foram descobertas, comprometeram os resultados esperados pelos respectivos projetos.

Em tais cenários, qualquer decisão individual ou coletiva deve ser precedida de uma avaliação de alcance amplo ou restrito, a depender do grau de compreensão da realidade e do sistema relevante para a resolução do problema. Em se tratando de cenários complexos, várias são as possibilidades de decisão, seja porque existem múltiplos critérios de avaliação, seja porque o sistema relevante apresenta múltiplos objetivos, ou porque a decisão é colegiada. Tal discernimento foi alcançado após discutir as faces do processo decisório à luz do marco teórico que subjaz a tomada de decisão em cenários complexos.

O processo de desenvolvimento organizacional, prospectado nos três estudos de campo, raramente leva em conta a distinção entre o aspecto social e o aspecto tecnológico, embora seja comum encontrar maneiras de pensar sobre tais organizações que vai além do seu modo de operação. Assim, não é incomum encontrar nesse tipo de organização uma grande quantidade de abordagens, modelos, métodos e ferramentas prescritivas, que condicionam o modo de atuar das organizações, sem com isso observar a disposição do sistema de atividade humana presente. A sua condução é realizada pelos processos de governança e gestão que, de forma intencional ou não, estão estruturados e segregados.

Dada a relevância dos sistemas de atividade humana, enquanto componente do sistema de resolução das respectivas situações-problema, àqueles deve se buscar uma melhor compreensão para se processar mudanças e ações de desenvolvimento organizacional. Ao assumir os preceitos de Thiollent (1997), os pesquisadores tiveram o cuidado de reproduzir os pontos de vista ou representações das diversas partes envolvidas nos projetos empreendidos, mesmo diante de situações conflituosos, em que não existe uma visão totalmente neutra.

Visto que os cenários de avaliação pertencem a um contexto real de desenvolvimento organizacional, para conhecer a realidade plural era preciso romper os limites do espaço in victro e experienciar na prática o teatro de operações reais. A viabilização dessa mudança exigiu uma concepção metodológica que permitisse não apenas observar um determinado cenário, mas, sobretudo, de construir um processo no qual os atores sociais implicados participassem, junto com os pesquisadores, para chegarem interativamente a elucidar a realidade em que estavam inseridos, identificando problemas coletivos, buscando e experimentando soluções em situação real. A pesquisa-ação-participante proporcionou essa condição, porém ainda faltava uma orientação metodológica que viabilizasse a operacionalização de uma pesquisa com tais características, de modo a identificar as atividades e os recursos necessários para análise dos dados, interpretação dos resultados e geração de novos conhecimentos teóricos fundamentos na prática.

No tocante aos procedimentos metodológicos, este trabalho permitiu mostrar a potencialidade das múltiplas abordagens aplicadas aos projetos de pesquisa de campo, já que possibilitou a distinção de contextos mais amplos onde as abordagens sistêmicas são mais bem praticadas.

Ainda que a orientação metodológica, proposta nesta tese (Capítulo 4), esteja estruturada para conformar a estratégia de pesquisa deliberada, nada impede que se empreguem outras combinações de abordagens multimetodológicas para conduzir pesquisas de campo na engenharia e em outras áreas do conhecimento.

Duas abordagens baseadas no método de pesquisa-ação tradicional foram discutidas – abordagem antropopedagógica de André Morin e a metodologia de sistemas flexíveis de Peter Checkland – o que permitiu construir a proposta de orientação metodológica a partir