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A viabilização do projeto de pesquisa passa pela definição da estratégia de pesquisa, partindo da definição de uma orientação metodológica capaz de suportar os estágios de desenvolvimento de uma pesquisa sob concepção construtivista, baseada nas ações comunicativas e intervencionistas, e que seja passível de incorporação dos métodos de prospecção e análise sistêmica.

No caso peculiar deste estudo, três projetos de pesquisa de campo são desenvolvidos com base na abordagem de pesquisa-ação integrada e sistêmica – maiores detalhes na Seção 4.2 – cujas regras e rigor são diferentes daquelas da metodologia tradicional positivista. A observação não é passível, as capacidades de organização e de redefinição das situações dos atores sociais estão no centro das atenções dos pesquisadores, aqui considerados como atores no processo de comunicação, interpretação e delineamento de ações. Por esses motivos, os princípios de cientificidade e objetivação da pesquisa-ação não são idênticos aos da metodologia formulada sob influência positivista (Thiollent, 1997, p. 30).

A estrutura de relação entre pesquisadores e sujeitos da situação investigada nos projetos é do tipo participativa, havendo uma ação por parte dessas pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. A atitude dos pesquisadores é pautada pela leitura e elucidação dos vários aspectos das situações desencadeadas em cada projeto, sem imposição unilateral de suas concepções próprias. Destarte, as pesquisas empreendidas sob essa concepção são qualificadas como pesquisa-ação, de acordo com os critérios apontados por Gil (2010) e Thiollent (2011).

A proposta aqui defendida não tem uma vocação limitada à validação de um modelo teórico guiado pela relação de causalidade e explicação de fenômenos reducionistas. Não se trata de uma técnica a ser quotidianamente aplicada para resolver pequenos problemas de caráter produtivo ou gerencial. É uma proposta de pesquisa mais aberta – com características de prospecção sistêmica e práticas desenvolvidas, para tentar clarear uma situação complexa e encaminhar possíveis ações, especialmente em situações insatisfatórias ou de crise, comumente encontradas nos sistemas de atividade humana (Checkland, 1993).

Nesse contexto, o dispositivo de pesquisa-ação é concebido como estrutura de interação pesquisador e ator do sistema organizacional investigado, com procedimento em cinco fases, assim enunciadas por Thiollent (1997, p. 44):

- prospecção para identificar uma situação-problema no sistema organizacional; - planejamento da ação, considerando as ações alternativas para resolver o problema; - execução das ações, com seleção de um roteiro de ação; e

Sistema organizacional é aqui empregado como sendo todo e qualquer sistema sociotécnico que organiza e tem a capacidade para se organizar em torno de objetivos, metas e ações intencionais, com forte participação do sistema de atividade humana em nível de direcionamento e formulação de políticas estratégicas.

Por ser um método que favorece a análise interpretativa, a pesquisa-ação atua com foco nas perspectivas dos participantes e dos atores sociais. Seu objetivo é resolver os problemas do cotidiano e melhorar as práticas concretas e imediatas em situações em que o grau de conteúdo humano é elevado, e, por sua vez, expandir as fronteiras do conhecimento científico como a informação é recolhida a partir da análise do comportamento das pessoas em seus contextos reais.

De acordo com Thiollent (1997, p. 14),

A pesquisa-ação consiste em acoplar pesquisa e ação em um processo no qual os atores implicados participam, junto com os pesquisadores, para chegarem interativamente a elucidar a realidade em que estão inseridos, identificando problemas coletivos, buscando e experimentando soluções em situação real.

Nesse sentido, a pesquisa-ação é uma opção estratégica que possibilita estudar dinamicamente os problemas, decisões, ações, negociações, conflitos e tomadas de consciência que ocorrem indistintamente entre os atores durante o processo de transformação pedagógica das situações presentes em projetos de pesquisa.

A pesquisa-ação é apresentada como alternativa aos métodos experimentais comuns, válidos em laboratórios, mas que são inadequados na pesquisa em organizações reais. Entre as principais características não contempladas na pesquisa convencional de natureza positivista e que ao mesmo tempo levam à escolha da abordagem de pesquisa-ação, destacam-se as seguintes (Thiollent, 1997):

- orientação para o futuro – o processo de pesquisa-ação facilita a criação de alternativas de soluções viáveis voltadas para um futuro desejável pelos interessados;

- desenvolvimento de sistema – o dispositivo de pesquisa-ação desenvolve a capacidade do sistema de identificar e resolver situações-problema que o caracteriza;

- geração de teoria fundamentada na ação – a teoria pode ser corroborada ou revisada por meio da avaliação de sua adequação à ação;

- não predeterminação e adaptação situacional – as próprias relações estabelecidas na situação de pesquisa variam e não são totalmente previsíveis.

A pesquisa-ação não trata de hipóteses, mas de temas de interesse de pesquisa, dentro dos quais se aprendem lições, estas se ligam às evidências históricas sobre as situações- problema do mundo real, que leva à ação prática com as pessoas envolvidas no estudo para alcançar resultados culturalmente viáveis e sistematicamente desejáveis (Freyle, Florez e Rincón, 2013).

Há ainda que considerar a natureza intricada, hermética e nebulosa dos fenômenos complexos, tão presentes nos sistemas organizacionais. Porquanto, nesse tipo de cenário, o propósito da aplicação de múltiplos métodos com enfoque sistêmico é poder lidar com a situação-problema, partindo de uma análise ampliada e amplificada dos elementos preponderantes do sistema de interesse para então modelar o problema, respeitando as realidades observadas pelos atores e as circunstâncias contextuais da pesquisa.

Para embasar teoricamente o estudo, um quadro teórico de referência é construído ao longo da tese para confrontar trabalhos seminais e contribuições científicas importantes nos últimos quinze anos acerca dos temas de interesse desta pesquisa, não se restringindo ao capítulo de fundamentação teórica – Capítulo 3.