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LOCAL OPERAÇÕES PP

8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O último capítulo da presente dissertação apresenta as conclusões do trabalho de pesquisa e as recomendações para o desenvolvimento de trabalhos futuros.

8.1. Conclusões

Todas as conclusões são o resumo de uma aprendizagem e, no caso da dissertação de mestrado, o da autora. Isto significa que as próprias constatações carregam o registro de uma construção singular e individual. O conhecimento científico que aqui buscamos precisa ser universal, porém, uma proposta de trabalho não permite uma conclusão no sentido de finito, especialmente o tema abordado, “Sistema de Informações como Apoio a Gestão de Risco no Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos”, em virtude de sua complexidade e temporariedade, o que exige o acompanhamento da evolução ao longo do tempo, tanto do desenvolvimento das geotecnologias ligadas aos sistemas de informações, como dos processos desencadeadores de riscos potenciais e dos aprimoramentos dos instrumentos de gestão. Portanto, o trabalho não está aqui encerrado, os caminhos abertos nos convidam sempre a

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novas perspectivas, ou mesmo o desejo de ter feito diferente, com nova visão e outros objetivos.

A relevância e importância em se tratar o tema gestão de risco e, mais especificamente, riscos durante o transporte rodoviário de produtos perigosos, se embasam em estatísticas levantadas durante a revisão bibliográfica, onde, no Brasil, mais de 80% do transporte de cargas e de pessoas são feitos por via rodoviária, em uma malha viária de pouca ou nenhuma infra-estrutura, e aproximadamente 90% da quantidade de produtos perigosos processados anualmente pelas indústrias para o mercado interno são transportados por rodovias. Levando em conta, ainda, que na região sul e sudeste, onde está localizado o Estado de Santa Catarina, estão localizadas 53% das rodovias do Brasil, fazendo com que além de produtor, as rodovias do Estado sejam utilizadas como corredor de escoamento das cargas produzidas pelo setor químico e petroquímico.

É inquestionável a importância dos produtos considerados perigosos para o desenvolvimento da nossa atual sociedade, além de serem importantes para o nosso dia-a-dia, a comercialização destes produtos tem uma representatividade bastante significativa na economia do País. Segundo o IBGE, a indústria química participa com 3% do PIB nacional e o setor químico ocupa a segunda posição na matriz industrial brasileira, com 12,5% do PIB da indústria de transformação, depois do setor de alimentos e bebidas que detém 14,9% do total.

Certamente, conceitos foram adquiridos e refinados, iniciando na pesquisa de base sobre gestão de risco, passando pelo processo de análise do problema, riscos durante o transporte rodoviário de produtos perigosos e chegando ao conhecimento das práticas de gestão desenvolvidas e aplicadas no Estado de Santa Catarina. São estas aprendizagens, este desenvolvimento e também suas reflexões pertinentes que aqui são registradas.

A pesquisa e a conseqüente reflexão sobre o tema são enriquecedoras, pois as emergências com produtos perigosos são corriqueiras, conforme estatísticas obtidas junto a CETESB/SP, órgão de destaque no atendimento de emergências com produtos perigosos no País, onde somente em 2002 foram atendidas 627 ocorrências, exigindo uma atuação constante dos profissionais diretamente ligados á área de segurança, transporte, produção, etc.

Na busca constante por conhecimento, o próprio significado do conhecimento adquirido a partir da informação, oriunda do processamento de dados, também permeou a busca pelo entendimento do significado de sistema de informações geográficas e sistema de informações gerencial, onde os significados se fundem em sistemas de informações geográficas que subsidiam o planejamento de ações gestoras e serviram de embasamento para a construção do SIG.

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Todos esses produtos considerados perigosos são necessários à sociedade, o que condiciona obrigatoriamente a sua distribuição, seja como matéria prima, produto intermediário ou material acabado. Assim sendo, o trabalho está em produzi-los e transportá- los com segurança, para que não afetem danosamente à sociedade, seus bens e o meio ambiente.

Os convênios, projetos e programas que vem sendo implantados nos últimos anos no estado de Santa Catarina são reflexo do trabalho de investigação e levantamento de dados realizados sobre a movimentação de produtos perigosos, que vem sendo realizado desde 1998 pelo DEDC, pois é necessário e de extrema importância conhecer a realidade, para que se possa fortalecer as iniciativas de gestão e efetivar o planejamento e uma atuação preventiva e corretiva, no que concerne a efeitos negativos desse tipo de transporte, aumentando a segurança e reduzindo os riscos de acidentes, protegendo usuários, a população lindeira e áreas ambientalmente sensíveis.

Devido aos projetos desenvolvidos pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres - CEPED da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, em convênio com o Departamento Estadual de Defesa Civil – DEDC, desde 2003, constatou-se a carência de estudos e pesquisas abordando o tema e a necessidade de organização e divulgação dos dados levantados durante as Operações PP.

Nos seis anos compreendidos entre 2002 e 2007 foram realizadas em média 368 Operações por ano. Foram coletados dados em 30 pontos do Estado, abrangendo 28 municípios.

Através das Operações de Controle do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos, o Departamento Estadual de Defesa Civil verificou o alto índice de irregularidades nessa modalidade de transporte e, mesmo cumprindo os requisitos de segurança fixados na legislação, o transporte de produtos perigosos não está isento do risco. Especialmente neste tipo de acidente há a necessidade de uma intervenção rápida e adequada às características dos produtos transportados, para minimizar os impactos a pessoas, meio ambiente e aos bens materiais.

As maiores irregularidades encontradas são relacionadas à Ficha de Emergência e Envelope de Transporte, na maioria das vezes fora do padrão, apesar da ficha conter os equipamentos que devem ser utilizados no atendimento e os procedimentos básicos, importantes para uma resposta rápida e eficiente; a ausência parcial do EPI e Kit para Situações de emergência, importantes para sinalização e isolamento do acidente; além da Simbologia de Risco danificada, dificultando a identificação do transporte.

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O levantamento e organização dos dados sobre o Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos no Estado de Santa Catarina promoverá o conhecimento das características desta modalidade de transporte. O risco de acidentes no transporte de produtos perigosos depende de variáveis como: trajetos utilizados; intensidade de tráfego; freqüência de circulação dos veículos de transporte; quantidades transportadas e produtos transportados, dados levantados durante as Operações de Controle do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos e organizados em um inventário.

Os dados apresentados permitem fazer uma análise qualitativa e quantitativa, dando uma visão geral sobre o transporte de produtos perigosos em Santa Catarina, possibilitando identificar os produtos perigosos mais transportados nas rodovias catarinenses, os líquidos inflamáveis, pertencentes a classe 3, representando pouco menos de 50% do que circula no Estado, seguido pela classe 2, gases, com aproximadamente 20%, e pela classe 8, corrosivos, em torno de 14%, onde, em 2007, mais de 50% dos produtos da classe 3 que entraram no Estado eram provenientes do estado vizinho do Paraná.

O ano de 2004 apresentou o maior número de veículos transportando produtos perigosos, foram 81 veículos em média que passaram nas principais rodovias catarinenses, no período das Operações PP e o ano de 2006 apresentou o maior volume médio, foram 637 veículos por hora que passaram nas principais rodovias catarinenses, durante as Operações, sendo que o maior percentual de produtos perigosos detectado foi na BR 101, onde também foram detectados os maiores percentuais nos demais anos da pesquisa, com 2,7 % no município de Palhoça e 2,6% em Garuva.

As maiores irregularidades encontradas já foram comentadas, sendo que as infrações atingiram o total de 544, somente em 2006, com um aumento de autuações de 123% em relação ao ano anterior. Já o levantamento de acidentes no Estado revelou, somente no ano de 2004, um total de 71 acidentes envolvendo o transporte rodoviário de produtos perigosos nas rodovias federais, onde 46 deles foram na BR 101 e 11 na BR 470, comparativo aos 17 detectados, no mesmo ano, nas rodovias estaduais, onde os números por rodovia variaram entre 1 e 2 acidentes, abrangendo 13 rodovias estaduais, sem destaque de uma rodovia estadual específica.

Um dos objetivos do trabalho, e certamente o mais desafiador, foi a construção do SIG, que espacializa dados gerando informações importantes para a prevenção de acidentes e para a potencialização da segurança, contribuindo com a gestão de risco do transporte rodoviário de produtos perigosos nas principais rodovias catarinenses.

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A utilização e construção do SIG, como um sistema integrado de apoio à tomada de decisões, o torna uma ferramenta essencial para implementar a modernização da gestão de risco de desastre no transporte rodoviário de produtos perigosos no Estado de Santa Catarina, uma vez que integra e consolida os dados históricos dos últimos anos do DEDC e de outros órgãos governamentais envolvidos nas Operações de Controle do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos, alimentando o processo de tomada de decisões na instituição e demais órgãos ligados à segurança pública, com informações gerenciais e estratégicas, gerando como produto a compilação dos dados e geração de mapas para gestão de risco de desastres.

Espera-se, dessa forma, por meio de uma análise descritiva, que os dados apresentados possam contribuir para o gerenciamento dos riscos relacionados a essa atividade, tanto no aspecto preventivo como corretivo. A situação atual do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos constitui grave risco para a saúde e a segurança da população, o meio ambiente e o patrimônio público e privado.

Por fim, o interesse é que a pesquisa não seja mais uma na estante e que na continuidade dos projetos desenvolvidos pelo CEPED, em convênio com o Departamento Estadual de Defesa Civil, possa realmente utilizar-se o SIG criado, inserindo novos dados e espacializando informações para a gestão de riscos, além de divulgar os resultados em mesas de discussões no Estado e nacionalmente.

8.2. Recomendações

A partir dos estudos realizados para a elaboração desta dissertação, e resultados obtidos, constatou-se que muitos dos dados levantados durante as Operações de Controle do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos não foram utilizados para nenhuma análise, além de demandar tempo do pesquisador durante a coleta, dados em excesso só servem para sobrecarregar o sistema. Como recomendações, para contribuir com a gestão do transporte de produtos perigosos em Santa Catarina, são sugeridos melhoramentos na Ficha de Pesquisa de coleta de dados e no Banco de Dados do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos no Estado de Santa Catarina – BDPP/SC:

• Retirar dos dados do motorista na Ficha de Pesquisa o nome do motorista, dado não utilizado;

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• Retirar dos dados do veículo o dado do número da placa ou placas, dado também irrelevante para a gestão de risco;

• Incluir na Ficha de Pesquisa dados do itinerário dos caminhões, com anotação dos principais pontos de passagem e rodovias, importante para determinação das freqüências de transporte no Estado e principais rotas, possibilitando mapear trechos críticos em relação ao transporte rodoviário de produtos perigosos, auxiliando na prevenção de acidentes;

• Fazer ajustes no BDPP/SC para padronização dos dados inseridos, possibilitando o cruzamento dos mesmos e evitando distorções nos resultados.

São apresentadas, a seguir, algumas recomendações para futuros trabalhos e pesquisas, no âmbito da Gestão de Risco no Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos:

• Desenvolver o Sistema de Informações sobre Produtos Perigosos, proposto nesta dissertação, para fornecer suporte técnico às equipes de atendimento, durante emergências no transporte rodoviário;

• Desenvolver o Cadastro Estadual de Acidentes com produtos perigosos, a partir dos dados levantados na presente dissertação, para registro dos acidentes ocorridos durante o transporte;

• Desenvolver uma metodologia que permita a quantificação dos riscos decorrentes do transporte rodoviário de produtos perigosos, visando levantar e mapear as principais áreas de risco;

• Desenvolver um Plano de Atendimento de Emergências com produtos perigosos, visando a potencialização da segurança rodoviária, e conseqüente redução dos riscos de acidentes, durante o transporte rodoviário de produtos perigosos;

• Desenvolver um sistema de comunicação de acidentes, visando integrar órgãos competentes e agilizar a estrutura de atendimento à emergências com produtos perigosos;

• Desenvolver programas de cursos de capacitação para fiscalização do transporte de produtos perigosos, visando otimizar o controle do tarnsporte rodoviário de produtos perigosos;

• Avaliar a aplicação de tecnologias da informação na gestão de risco de desastres durante o transporte rodoviário de produtos perigosos.

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