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Condições favoráveis e inibidoras para a construção de processos autônomos

CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO

2.4 O DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA: UM PROCESSO

2.4.1 Condições favoráveis e inibidoras para a construção de processos autônomos

A autonomia é um conceito amplamente utilizado para designar uma característica ou qualidade inerente ao ser humano. Porém ao nascer, o ser humano não possui qualquer autonomia ou poder de se governar. Sendo que o desenvolvimento de sua autonomia fica vinculado às forças biológicas e reflexos inatos. Neste caminho, a conquista da autonomia do indivíduo é influenciada por diversas variáveis, indicadoras do grau de autonomia que o aprendiz poderá alcançar. No percurso educativo, essas variáveis podem interferir de forma positiva ou negativa para a construção do aprendiz autônomo em LE, dentre as quais se pode citar: personalidade, capacidade, habilidades, inteligências, estilo de aprendizagem, atitude, estratégias de aprendizagem, motivação, senso crítico, cultura, crença, idade, afiliação ao idioma, confiança, responsabilidade e experiências prévias.

Além desses fatores, Littlewood (1996) ainda considera o desenvolvimento de estratégias metacognitivas como meios de perceber o grau de consciência que o aprendiz possui de suas formas de pensar, entendidas como processos cognitivos, e sobre os conteúdos ou estruturas por ele conhecidos. Nessa perspectiva, a metacognição representa uma consciência especializada que serve para aumentar a eficácia da aprendizagem. Ela se manifesta todas as vezes que o indivíduo é estimulado a rastrear sua memória para encontrar respostas ou reconstituir processos já conhecidos ou estudados.

Em um estudo realizado por Lee (1990), sobre estudantes universitários que participavam da elaboração de um programa de aprendizagem autodirigida, citado em Moura Filho (2009, p. 272-273), Lee (ibidem) apontou como essenciais ao desenvolvimento da autonomia dos aprendizes, fatores como: “voluntariedade, direito a escolha, flexibilidade do processo de aprendizagem, apoio dos professores e apoio de colegas”. Apesar de ainda haver muita carência de estudos que revitalizem a especificação das características concernentes à dicotomia entre fatores favoráveis e inibidores ao desenvolvimento da autonomia no aprendizado de línguas, Holec (1981, p. 3) explicita duas condições necessárias para que estratégias de ensino em prol da autonomia aconteçam: “habilidade de incumbir-se de sua aprendizagem”, relacionada ao controle e tomada de decisões e “a possibilidade de exercitar sua habilidade de gestão” o que implica na revisão do papel do professor, assim como na flexibilização do currículo escolar.

Na visão de Kötter (2003, p. 146), a autonomia acontece quando “os alunos adotam o papel de seus professores, de forma que as tarefas realizadas em parceria praticamente os obrigam a desenvolver a capacidade de agir de forma autônoma” 8. Dessa forma, aprendizes autônomos apresentam como peculiaridade o fato de serem “capazes de estabelecer um clima de aprendizagem favorável para si mesmos”9

. Tal afirmação não indica que a autonomia seja uma característica que já nasce com o indivíduo, mas que se trata de uma capacidade ou habilidade que pode ser aprendida através do tempo e de estímulos favoráveis.

Nesse contexto de promoção de práticas que estimulem o desenvolvimento da autonomia nos ambientes de ensino de LE, Cabanach et al. (2002) sugerem a adoção de estratégias classificadas em quatro categorias, sintetizadas no quadro a seguir:

QUADRO 6 – ESTRATÉGIAS RELACIONADAS AO APRENDIZADO AUTÔNOMO Estratégias de gestão pessoal Estratégias cognitivas Estratégias Motivacionais Estratégias de gestão de recursos Planejamento Verificação Revisão Avaliação Seleção Repetição Elaboração Organização

Direcionadas para manter os compromissos e intenções de estudo; Direcionadas à imagem e bem-estar pessoal Gestão do tempo Gestão do ambiente de estudo Gestão de ajuda Fonte: Cabanach et al. (2002, p. 21)

As estratégias destinadas à gestão pessoal e ao controle da compreensão são integradas a procedimentos de autocontrole, tornando possível o uso consciente das habilidades empregadas no processamento de informações. Já as estratégias cognitivas, destinam-se a codificar, armazenar e recuperar as informações relacionadas ao material de estudos. O papel das estratégias motivacionais é de manter uma atmosfera emocional positiva nas diferentes situações de estudo utilizadas, por exemplo, no controle e enfrentamento da ansiedade, mantendo o aprendiz envolvido nas atividades de estudo. Por fim, as estratégias de gestão de recursos são empregadas para aperfeiçoar o processo

8 Texto original: learners have to adopt the role of peer teachers and scaffold their partner's task

practically forces students who engage themselves in these collaborative enterprises to develop their ability to act autonomously.

9 Texto original: participants have to adopt the roles of learner and expert will create an atmosphere of

de aprendizagem, administrando recursos como tempo, ambiente de estudo e a ajuda de outras pessoas.

Paiva (2007), referindo-se à aprendizagem de língua inglesa, classifica as estratégias de aprendizagem em indiretas e diretas. As estratégias indiretas são aquelas relacionadas à organização da aprendizagem, às emoções do aluno e à interação com outras pessoas, outros alunos e professores, e se subdividem em três grupos: a) estratégias metacognitivas ou de organização, usadas para planejar, controlar e avaliar a aprendizagem; b) estratégias afetivas, que dizem respeito às emoções, atitudes, valores e motivação; c) estratégias sociais, que estão associadas à interação e à cooperação com outras pessoas.

Já as estratégias diretas, que são as ações relacionadas à própria aprendizagem, estão classificadas em três subgrupos: a) estratégias de memorização, utilizadas para armazenar e lembrar-se de novas informações; b) estratégias cognitivas, relacionadas às ações praticadas para a compreensão e produção de novos enunciados; c) estratégias de compensação, utilizadas para compensar as dificuldades ao utilizar a língua.

A análise da literatura relacionada nesta pesquisa tem demonstrado que, apesar de mais de 30 anos de estudo, o papel desempenhado pelo professor no desenvolvimento de aprendizagem autônoma de LE tem sofrido relevantes modificações, sendo este o tema de reflexão proposto para a próxima seção.