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2   DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR 26

2.2 Conferência Regional de Educação Superior para América Latina e Caribe

A Conferência Regional de Educação Superior para América Latina e Caribe (CRES 2008), uma das seis conferências regionais preparatórias para a CMES 2009, foi realizada em Cartagena das Índias, na Colômbia, em junho de 2008, pelo Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e Caribe (IESALC), da UNESCO. Este encontro reuniu a comunidade educativa e representação oficial de governos de 34 países da ALC, além de convidados de outros continentes, com o objetivo de analisar a realidade da ES na região, e deliberar sobre a necessidade de realizar mudanças estratégicas com vista aos desafios do compromisso social, da pesquisa estratégica, da integração regional e da educação para todos e para toda a vida.

A CRES 2008 foi o ápice de uma série de reuniões preparatórias realizadas pelo IESALC ao longo de quase dois anos, com diversas redes formadas por IES, associações de reitores e agências acadêmicas que resultaram em documentos base, disponibilizados à comunidade acadêmica previamente à conferência regional, servindo como subsídio aos debates do encontro.

Participaram presencialmente da CRES 2008 cerca de 3.500 integrantes da comunidade acadêmica regional, entre gestores, professores, pesquisadores, estudantes, funcionários administrativos, representantes de governos e organismos nacionais, regionais e internacionais, de associações e redes e outros interessados na ES.

A CRES 2008 concentrou as atenções nos fundamentos e linhas de ação acerca das prioridades que a ES deve assumir na próxima década sob o princípio geral de que, embora tenham ocorrido avanços na busca por uma ES mais democrática e voltada às demandas sociais, a região da ALC carece de transformações profundas, em especial na estrutura e organização universitária, que permitam dinamizá-la a fim de promover o desenvolvimento social e econômico sustentável dos países.

Neste sentido, a Declaração final da CRES 2008 (IESALC, 2008, p. 2) reafirma a necessidade de:

[...] políticas que reforcem o compromisso social da Educação Superior, sua qualidade, pertinência e a autonomia das instituições. Essas políticas devem visar a uma Educação Superior para todos e todas, tendo como meta alcançar uma maior cobertura social com qualidade, equidade e compromisso com nossos povos; devem

induzir o desenvolvimento de alternativas e inovações nas propostas educativas,

na produção e transferência de conhecimentos e aprendizagens, assim como

promover o estabelecimento e consolidação de alianças estratégicas entre governos, setor produtivo, organizações da sociedade civil e instituições de Educação Superior, Ciência e Tecnologia. Devem também considerar a riqueza da

história, das culturas, das literaturas e das artes do Caribe e favorecer a mobilização das competências e dos valores universitários desta parte de nossa região, para

edificar uma sociedade latino-americana e caribenha diversa, forte, solidária e perfeitamente integrada (grifo nosso).

Os eixos fundamentais destacados pela Declaração da CRES 2008 foram: a) o princípio da ES como direito humano e bem público e social;

b) a necessidade de ampliar a cobertura em ES e de adotar novos modelos educativos e institucionais capazes de promover a inclusão social e democratizar o acesso ao conhecimento;

c) a importância de fundamentar a formação, no nível da ES, em valores sociais e humanos;

d) a necessidade de promover uma formação científica, humanística e artística voltada ao desenvolvimento integral e sustentável e capaz de estimular a produção de conhecimento para a sociedade;

e) a constituição de redes acadêmicas em todos os campos da investigação científica, capazes de qualificar pesquisadores e impedir sua emigração;

f) a prevenção da subtração de pessoas de alta qualificação por via da emigração para países desenvolvidos;

g) a promoção da integração regional e da internacionalização da ES.

Na mesma direção, tendo em vista operacionalizar os princípios da declaração CRES 2008, foi elaborado um plano de ação, propondo cinco grandes eixos de atuação para as IES, as redes e associações acadêmicas e as políticas de Estado:

a) Expansão da cobertura, na graduação e pós-graduação, com qualidade, pertinência e inclusão social;

b) Promoção de políticas de acreditação, avaliação e garantia de qualidade; c) Fomento da inovação educativa e da investigação em todos os níveis;

d) Construção de uma agenda regional de CTI para superar brechas tecnológicas para o desenvolvimento sustentável da ALC, de acordo com as políticas de cada Estado nacional;

e) Fomento da integração solidária e da internacionalização da ES na ALC mediante, dentre outras iniciativas, a construção do Espaço de Encontro da América Latina e Caribe para a Educação Superior (ENLACES), uma plataforma regional para a mobilização e articulação de ações concretas de cooperação acadêmica solidária que promovam o conhecimento das características, tendências e problemas da ES na região.

A CRES 2008 destacou a necessidade da universidade latino-americana de assumir a sua função social e interagir com os diferentes atores sociais que a cercam. Além disso, contribuiu para a discussão regional de novos caminhos para a ES e para reflexão da real importância em aumentar o investimento e a integração internacional das IES, sobretudo entre os países em desenvolvimento, sugerindo o uso da EaD com a finalidade de consolidar o ENLACES (IESALC, 2008a, p. 6 e 8-9):

[...] D- Valores sociais e humanos da Educação Superior

1.- É preciso concretizar grandes mudanças nas formas de acessar, construir,

produzir, transmitir, distribuir e utilizar o conhecimento. Conforme postulado

pela UNESCO em outras oportunidades, as instituições de Educação Superior, e, em particular, as Universidades, têm a responsabilidade de realizar a revolução do pensamento, pois esta é fundamental para acompanhar o resto das transformações. 2.- Reivindicamos o caráter humanista da Educação Superior, em função do

qual ela deve estar orientada à formação integral de pessoas, cidadãos e profissionais, capazes de abordar com responsabilidade ética, social e ambiental os

múltiplos desafios implicados no desenvolvimento endógeno e a integração de nossos países, e participar ativa, crítica e construtivamente na sociedade.

[...] H- Integração regional e internacionalização

[...] 2.- No marco da consolidação do ENLACES, é necessário enfrentar:

[...] h. o estímulo a programas de Educação a distância compartilhados, assim

como o apoio à criação de instituições de caráter regional que combinem a Educação virtual e a presencial (grifo nosso).

Da conferência resultou o primeiro Mapa de Estudos Superiores na América Latina e Caribe – MESALC (IESALC, 2008b), que revelou atrasos e contrastes importantes na região, apesar dos recentes progressos registrados. Os dados confirmam uma concentração de 56% do total de matrículas em três países: Brasil, México e Argentina. Outro grupo de dez países – Brasil, México, Argentina, Venezuela, Colômbia, Peru, Cuba, Bolívia, Chile e Equador – concentra 93,5% da matrícula na ES do continente. A contribuição da ALC para as publicações científicas é pequena, correspondendo a apenas 2,65% da produzida em todo o mundo.

A partir de dados e estatísticas de 28 dos 34 Estados Membros da UNESCO na região, o MESALC concluiu que na ALC somente 24% da população com idade para frequentar as IES está efetivamente inscrita, porcentagem que alcança 68% na Ásia e 87% na Europa. O estudo revelou também que a porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) que se investe na ES, na média 1,3% é insuficiente, considerando o papel-chave da ES no desenvolvimento nacional.

Por fim, nesse estudo constatou-se cerca de 9.000 centros de ES na ALC, sendo que somente 13,8% das IES utilizam um sistema de avaliação que garante a qualidade de seu ensino. Evidenciou-se, por exemplo, que o Brasil detém a porcentagem mais elevada de analfabetos dentre os países da ALC; contraditoriamente, é o país com o maior sistema de pós-graduação da região, formando cerca de 11.000 doutores por ano (CGEE, 2010).

O estudo recente do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), transformado na publicação Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira, confirma um crescimento de 278% no número de doutores titulados no Brasil, entre 1996 e 2008, o que corresponde a uma taxa média de 11,9% de crescimento ao ano. Apesar dos avanços e da importância do crescimento de doutores titulados para o desenvolvimento do país, o estudo mostra claramente a necessidade de mais investimento em políticas públicas para expandir e melhorar a qualidade de doutores brasileiros. O número de doutores no Brasil, alto em relação à ALC, ainda é muito pequeno em relação a países mais desenvolvidos, com tradição em pesquisa, como é o caso dos EUA com 48 mil doutores (CGEE, 2010).

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