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3   BREVE PANORAMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL 36

3.1   Panorama da educação a distância no Brasil 44

3.1.2 Histórico e legislação 47

Moura (2009), baseado em estudos de alguns autores, afirma que a primeira geração de EaD surgiu no país em 1904, com o ensino por correspondência, por meio do qual instituições privadas ofereciam iniciação profissional em áreas técnicas, sem exigência de escolarização anterior.

Segundo Leal (2009), de acordo com a Secretaria de Educação a Distância (Seed), os historiadores da Universidade de Caxias do Sul asseguram que as primeiras experiências de EaD no Brasil datam do final do século XIX, com a realização de um curso de datilografia oferecido por meio de um anúncio de jornal.

A partir da década de 1970, a EaD no Brasil ganhou mais visibilidade com pequenas ações isoladas nas instituições públicas e privadas. Quanto à regulamentação, entretanto, foi somente no início da década de 1990 que surgiram as primeiras medidas do Governo Brasileiro para o reconhecimento da EaD, até então sem uma legislação específica. Dentre estas medidas destacadas por Saraiva (1996, p. 25):

a) a criação, em 1992, da Coordenadoria Nacional de Educação a Distância na estrutura do MEC;

b) o Protocolo de Cooperação nº 3/93, assinado entre o MEC e o Ministério das Comunicações (MC), com participação do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), do Conselho de Secretários da Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), tendo como objetivo o desenvolvimento de um sistema nacional de EaD. Houve a indicação positiva para a criação de um sistema; contudo, na prática nenhuma ação significativa foi desenvolvida;

c) o Convênio nº 6/93, firmado entre o MEC e o MC, por meio da Embratel, com a participação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), Crub, Consed e Undime, para garantir a viabilização do EaD em todo o Brasil;

d) a assinatura, pelo presidente da República e ministros da Educação e das Comunicações, do decreto nº 1.005, de 08/12/93 criando a Televia para a Educação, garantindo dedução do valor de tarifas nos meios de comunicação para programas educacionais gerados por meio de EaD (BRASIL, 1993);

e) o Acordo de Cooperação Técnica nº 4/93, estabelecido entre o MEC e a Universidade de Brasília (UnB), com o objetivo de criar um Consórcio Interuniversitário de Educação Continuada e a Distância (BRASILEAD), como suporte técnico e científico para a educação básica em todo o país, utilizando os recursos da EaD. Este consórcio foi sediado e coordenado pela UnB devido a sua experiência na área de EaD desde 1979, atuando no oferecimento de cursos de extensão e especialização. Esta ação, apesar do envolvimento de diversos grupos, não se efetivou, e o saldo final foi apenas o envio de computadores obsoletos às universidades;

f) o Decreto nº 1.237, de 06/09/94, que criou o Sistema Nacional de Educação a Distância;

Estas ações, contudo, não passaram do âmbito das intenções; no entanto, é importante citá-las, pois constituíram espaços privilegiados de discussão da EaD no país e foram as bases para as políticas implementadas posteriormente.

O marco zero da legislação da EaD é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de dezembro de 1996, que desencadeou o processo de reconhecimento da EaD no Brasil, gerando uma série de legislações e políticas para esta área. Esta Lei oficializa a EaD como alternativa de formação regular, em especial em seus artigos 80 e 87. O caput do artigo 80 dispõe que “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. O artigo 87, inciso III, das disposições transitórias, prevê que “cada

Município e, supletivamente, o Estado e a União”3, deverão “realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também para isto, os recursos da educação a distância” (BRASIL, 1996). Na mesma Lei, em outros artigos, há referências à EaD, como por exemplo os Arts. 32, 47 e 624.

Um ponto a ser ressaltado nessa legislação é a normatização do credenciamento das instituições para oferta de EaD. Também merece destaque que neste decreto adotou-se a expressão “educação a distância”, e não mais “ensino a distância”, como aparece na LDB, enfatizando a EaD como uma forma de autoaprendizagem e não de ensino. A EaD deixa de ter o caráter apenas supletivo, emergencial, presente nas legislações anteriores e adquire reconhecimento a partir de suas próprias especificidades e como instância regular de educação. Ao realizar uma análise crítica sobre esta legislação, Tardelli (2006, p. 95) aponta a ausência de professores como responsáveis pelo processo educativo. Em seus próprios dizeres, neste decreto “o professor não é posto em cena”, nem tampouco como “participante ativo, consciente e responsável por uma série de atividades previstas”. Ela conclui que a tecnologia ocupa o lugar central, ou seja, “a tecnologia em si geraria educação e diminuição da desigualdade”, e acrescenta ainda que “o decreto regulamenta e assegura as relações, de forma que os fatos aconteçam e os interesses dos empresários da educação sejam assegurados”.

Ainda que as políticas governamentais para a ES realizadas por meio da EaD tenham sido acanhadas no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), a partir da promulgação da LDB seguiu-se uma série de regulamentações que estimularam o uso de TICs na educação. Neste período, uma estrutura jurídico-legal foi aprovada para dar sustentação ao sistema EaD, visando sua implementação como um canal de democratização para a ES.

Em 1995, o governo federal criou uma Subsecretaria de EaD, no âmbito da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, responsável pelo Programa Nacional de EaD. Em 1996 foi criada, na estrutura do MEC, a Seed, assumindo as atribuições da

3 Posteriormente alterado pela Lei nº 11.330, de 2006, para “o Distrito Federal, cada Estado e município, e,

supletivamente, a União” (BRASIL, 2006).

4 Decorrência da Lei nº 12.056, de 2009, que acrescentou três parágrafos ao Art. 62, dois deles mencionando

Subsecretaria, que foi extinta (SARAIVA, 1996). O objetivo inicial da Seed era “levar para a escola pública toda a contribuição que os métodos, técnicas e tecnologias de educação a distância podem prestar à construção de um novo paradigma para a educação brasileira” (BARRETO, 2004, p. 1193). Em 2004, as funções e metas do Seed foram redefinidas. A partir desta data, a Secretaria passou a atuar como um agente de inovação tecnológica nos processos de ensino e aprendizagem, fomentando a incorporação das TICs e das técnicas de EaD aos métodos didático-pedagógicos. Além disso, promoveu a pesquisa e o desenvolvimento voltados para a introdução de novos conceitos e práticas nas escolas públicas brasileiras .

Para regulamentar o processo de credenciamento das instituições, foi publicada pelo MEC a Portaria nº 301, de abril de 1998, estabelecendo os critérios que as IES precisariam preencher para serem autorizadas a oferecer cursos de ES a distância, provocando um acelerado crescimento na oferta de cursos na modalidade a distância nas universidades particulares a partir dos anos 2000, conforme será analisado na seção 3.3.

Em 1998, foi publicada a edição brasileira do livro Educação: um Tesouro a Descobrir, cuja versão original foi organizada por Jacques Delors a partir do Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, concluído em meados dos anos 1990. Tido como obra de referência mundial que expressa o pensamento da UNESCO no campo da educação, o “Relatório Delors”, como é conhecido, foi revalidado em 2009 e uma das recomendações do documento é que a formação contínua dos professores em serviço seja realizada principalmente a distância, ao considerar que isto “pode ser uma fonte de economia e permitir que os professores continuem a assegurar o seu serviço, pelo menos em tempo parcial.” (DELORS, 1998, p. 160). Desde então, essa recomendação passou a integrar fortemente as políticas públicas no Brasil.

Em dezembro de 1999, houve a criação de um consórcio interuniversitário denominado “Universidade Virtual Pública do Brasil – UniRede”, com a função de congregar as várias Instituições Públicas de Educação Superior (IPES), a fim de potencializar o acesso ao ensino público universitário e contribuir para o aprimoramento do processo de ensino- aprendizagem nas áreas de Educação, Ciência, Tecnologia, Arte e Cultura, em todos os seus níveis e modalidades. Em 2006, o consórcio passou a ser uma associação, denominando-se “Associação Universidade em Rede”. Moran (2003) apud Cerny (2009) afirma que a criação

da UniRede possibilitou que as melhores instituições públicas unissem competências para um trabalho em rede, baseado no uso intensivo de tecnologias de informação e comunicação, evitando iniciativas duplicadoras e a dispersão de recursos. Por sua importância histórica para a consolidação da política pública de EaD no Brasil, a UniRede será abordada na próxima seção.

Em abril de 2001, a Câmara de Educação Superior (CES) do Conselho Nacional de Educação (CNE) normatizou o funcionamento de cursos de pós-graduação lato e stricto sensu a distância, por meio da Resolução CNE/CES nº 01/01, posteriormente reformulada pela Resolução CNE/CES nº 01/07, exigindo provas presenciais e defesa de trabalho de conclusão presencial, além dos demais critérios exigidos a qualquer curso de pós-graduação presencial, como, por exemplo, número de docentes com titulação de mestrado e doutorado, mínimo de 360 horas e outros requisitos significativos para a qualidade da ES (FARIA, 2006).

Foi no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010) que uma série de políticas de expansão da ES por meio da EaD foram propostas visando à democratização e interiorização do ensino público. Um dos projetos mais significativos do atual governo para a regulamentação e estabelecimento da EaD no Brasil foi a UAB, sistema criado em 2005, no âmbito do Fórum das Estatais pela Educação e oficializado em 2006 pelo Decreto nº 5.800, de 08 de junho de 2006 (BRASIL, 2006a). Em função de sua relevância no cenário atual da EaD no Brasil, a UAB será abordada, com maiores detalhes, na seção 3.2.1.

Em resumo, desde a década de 1990, e especialmente a partir do início dos anos 2000, a EaD no Brasil vem ganhando mais e mais força a cada ano, exercendo hoje um papel de destaque dentro das atuais políticas públicas brasileiras para educação, principalmente ES.

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