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4   AS TICS SOB A ÓPTICA DA EAD 71

4.2   Panorama das TICs no Brasil: a questão da inclusão digital 73

4.2.1 O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) 81

O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) foi instituído pelo Decreto nº 7.175, de maio de 2010,

[...] com o objetivo de fomentar e difundir o uso e o fornecimento de bens e serviços de tecnologias de informação e comunicação, de modo a:

I - massificar o acesso a serviços de conexão à Internet em banda larga; II - acelerar o desenvolvimento econômico e social;

III - promover a inclusão digital;

IV - reduzir as desigualdades social e regional; V - promover a geração de emprego e renda;

VI - ampliar os serviços de Governo Eletrônico e facilitar aos cidadãos o uso dos serviços do Estado;

VII - promover a capacitação da população para o uso das tecnologias de informação; e

VIII - aumentar a autonomia tecnológica e a competitividade brasileiras.” (BRASIL, 2010a).

Embora não haja nenhuma menção explícita à EaD no texto do Decreto, não é difícil enxergar que alguns objetivos (em especial I, III e VII) a beneficiam diretamente, por aumentar o número potencial de pessoas que podem ter acesso a ela, e que por outro lado, a EaD, se utilizada como “aplicação” da tecnologia de banda larga disponibilizada como resultado das ações do PNBL, pode auxiliar o atingimento de alguns dos demais objetivos (essencialmente II, IV e V). Portanto, pode-se afirmar que o PNBL e a EaD caminham na mesma direção, em sinergia.

Para por em prática o PNBL, o Governo Brasileiro está se apoiando no Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital (CGPID), instituído pelo Decreto nº 6.948, de agosto de 2009, incumbido de definir e coordenar as ações do programa, e na estatal TELEBRÁS, que até 1998, ocasião da privatização do setor de telecomunicações, atuava como empresa holding das empresas nacionais do setor, e no contexto do PNBL ficou responsável por prover a infraestrutura e os serviços de banda larga.

De acordo com o Decreto, cabe ao CGPID:

I - definir as ações, metas e prioridades do PNBL;

II - promover e fomentar parcerias entre entidades públicas e privadas para o alcance dos objetivos previstos no art. 1o;

III - fixar a definição técnica de acesso em banda larga, para os fins do PNBL; IV - acompanhar e avaliar as ações de implementação do PNBL; e

V - publicar relatório anual das ações, metas e resultados do PNBL. (BRASIL, 2010a, grifo nosso).

O ponto que mais chama a atenção entre os cinco listados acima é o II, por tornar explícita a abertura do PNBL às parcerias entre entidades públicas e privadas. Isto vai ao encontro da orientação da UNESCO expressa no item 14 do comunicado da CMES 2009, citado anteriormente (“instituições e governo devem trabalhar juntos para trocar experiências, desenvolver políticas e fortalecer a infraestrutura, especialmente a largura de banda”). Acerca deste assunto, em meados de maio de 2010 (época da publicação do Decreto nº 7.175), o jornal O Estado de São Paulo (OESP) noticiou declarações da Ministra-Chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, e do presidente da TELEBRÁS, Rogério Santanna dos Santos, citando a operadora Oi como principal parceira no PNBL, pelo fato de 49% da composição societária da empresa pertencerem ao BNDES e a fundos de pensão de empresas estatais, como Previ (12,96%), Petros (10%) e Funcef (10%). As declarações foram, respectivamente:

Queremos que a Oi, assim como as demais operadoras, seja a nossa parceira. De preferência, que seja uma parceira especial, dado esse ponto importante do capital nacional dela e consequentemente, do meu ponto de vista, do comprometimento maior com as políticas públicas. (OESP, 2010a)

A empresa Oi é a única de capital brasileiro, então eu acho que isso a distingue das outras porque, assim, tende a adquirir mais coisas no Brasil, da indústria brasileira. (OESP, 2010b)

Quanto à TELEBRÁS, sua responsabilidade no PNBL foi definida no Decreto como:

I - implementar a rede privativa de comunicação da administração pública federal;

II - prestar apoio e suporte a políticas públicas de conexão à Internet em banda larga para universidades, centros de pesquisa, escolas, hospitais, postos de atendimento, telecentros comunitários e outros pontos de interesse público;

III - prover infraestrutura e redes de suporte a serviços de telecomunicações prestados por empresas privadas, Estados, Distrito Federal, Municípios e entidades sem fins lucrativos; e

IV - prestar serviço de conexão à Internet em banda larga para usuários finais, apenas e tão somente em localidades onde inexista oferta adequada daqueles serviços (BRASIL, 2010a, grifo nosso).

O item II merece destaque por sugerir que a difusão da banda larga para universidades, centros de pesquisa e escolas possivelmente contribuirá para o crescimento da oferta de cursos na modalidade a distância, bem como estimulará a produção e disponibilização de conteúdo voltado para EaD, inclusive os OER e OCW discutidos anteriormente.

O item IV, por sua vez, indica claramente que o PNBL não atribui à TELEBRÁS a função de exercer concorrência com as empresas privadas de banda larga, mas sim atuar de forma complementar, oferecendo o serviço onde não haja “oferta adequada”. Embora o texto do decreto não defina explicitamente o que isso significa, a partir das palavras de Santos (2009, p. 55) já citadas, podemos inferir que a TELEBRÁS não tem por objetivo concorrer com os provedores privados, mas sim levar a banda larga às regiões não abrangidas por eles e às camadas da população que não têm condições de arcar com o custo atual desse serviço. Estes são, de fato, os maiores empecilhos à expansão do acesso à Internet no Brasil, como vimos anteriormente nos resultados da PSUTICB (BRASIL, 2009a).

Dowbor (2010) manifesta sua opinião a respeito da relevância do PNBL para a inclusão digital:

A estratégia que emerge em numerosos países é de assegurar o livre trânsito nas infovias da internet (inclusive nos celulares), da mesma forma como é livre o trânsito nas ruas, o que não impede que sejam criados negócios a partir do potencial de comunicação. Mas a própria comunicação, na medida em que gera capacidade criativa de todos os atores sociais,

deve ser aberta. O Plano Nacional de Banda Larga deve assegurar um marco regulador para o conjunto das atividades do setor (DOWBOR, 2010).

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