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5  AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CUIDADO COM A

5.1  AS ESTRUTURAS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO

5.1.2  Configuração das estruturas das representações sociais do

Os resultados são apresentados considerando inicialmente a representação do conjunto de pessoas com DRC em tratamento dialítico, e em seguida, os resultados das duas comparações propostas por ambos os termos indutores.

A análise do corpus formado pelas evocações de todos os participantes (165) revelou que, em resposta ao termo indutor “cuidado com a doença”, foram evocadas 824 palavras, entre as quais 196 foram diferentes, e com uma média de

ordens média de importância (OME) de 3.00. Conforme a Lei de Zpif de distribuição de palavras propostas por Oliveira et al. (2005), foram desprezadas as evocações cuja frequência foi igual ou inferior a 13, encontrou-se a frequência média das evocações igual a 29. A análise combinada destes dados resultou no quadro de quatro casas apresentado na figura 2.

FIGURA 2 - ANÁLISE DAS EVOCAÇÕES DO TERMO INDUTOR “CUIDADO COM A DOENÇA” ENTRE PESSOAS COM DRC EM TRATAMENTO DIALÍTICO DOS SERVIÇOS DE NEFROLOGIA - CURITIBA - 2015

OME  3  3

Freq.

Med. Termo evocado Freq. OME Termo evocado Freq. OME

 29 Alimentação 81 2, 259 Alimentação-controlada 48 3, 354

Controle-líquido 55 2, 545 Medicação 35 3, 171

Diálise 35 2, 914

 29 Higiene 31 2, 097

Cuidado 27 2, 519 Apoio-família 22 3, 455

Controle-sal 19 2, 842 Transplante 14 3, 714

Controle-pressão 13 3, 231 FONTE: A autora (2015).

De acordo com as premissas da Teoria do Núcleo Central, as palavras agrupadas no quadrante superior esquerdo são aquelas que tiveram maiores frequências e foram mais prontamente evocadas, formando por hipótese o núcleo central da representação social. Esses elementos caracterizam a parte mais consensual e estável da representação e menos sensível a mudança em função do contexto externo ou das práticas cotidianas destes participantes. (ABRIC, 1998).

Analisando a figura 3, observa-se que os elementos constituintes do núcleo central, presentes no quadrante superior esquerdo, indicam noções positivas relacionadas ao cuidado, expresso pelo termo alimentação, maior frequência, e higiene, mais prontamente evocado, o que enfatiza as necessidades nutricionais e medidas higiênicas. Ambos caracterizam a dimensão dos hábitos de vida interpretada como acompanhamento que leva à condição de saúde ou são dependentes dela frente à doença.

Além disso, o núcleo central abarca elementos avaliativos como o controle de líquido, que indica restrições impostas à vida cotidiana para o controle da doença e subsídios de dimensão biomédica ligados à doença, e diálise, realizada para manter o equilíbrio orgânico e preservar as funções vitais da pessoa.

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Os subsídios periféricos próximos apontam conteúdos fortemente marcados pela dimensão avaliativa, expressos pelo termo alimentação controlada, de maior frequência e prontamente evocado, e de noção biomédica, medicação. Esses elementos abarcam a primeira periferia da representação social, configuram os componentes periféricos mais marcantes e constituem o essencial do conteúdo da representação. (ABRIC, 1998; OLIVEIRA et al., 2005a).

O sistema periférico caracteriza a parte mais acessível e viva da representação e tem como papel essencial fazer a regulação, a prescrição de comportamento, e proteção do NC e individualização da representação coletiva (ABRIC, 1998).

Igualmente, pode-se afirmar que a alimentação-controlada e a medicação consistem em medidas acentuadas que estes participantes contraem e mantêm para determinar seus posicionamentos e condutas para o controle da doença. Esses subsídios funcionam como defesa para a representação do controle expressa no núcleo central.

Assim como, neles, estão presentes contradições associados aos elementos da dimensão hábitos de vida.

Entre os elementos periféricos distantes, o termo apoio familiar, maior frequência, indica a dimensão afetiva. Esse termo se insere na perspectiva da rede de apoio, importante para a pessoa com esta condição. A família caracteriza a proximidade e manutenção dos vínculos afetivos fortemente estabelecidos e consiste em uma fonte de recurso para atenuar os efeitos desagregadores dessa doença.

Entretanto, os elementos periféricos distantes também abarcam a noção avaliativa, ligada ao controle da pressão, e de dimensão biomédica, expressa pelo termo transplante, prontamente evocado. O termo transplante constitui uma cognição mais carregada de afetividade, como a esperança da cura e liberação do tratamento dialítico.

O controle da pressão indica uma medida restritiva que pode estar associada à presença e ou complicações de outras doenças. Os pressupostos da abordagem estrutural definem a segunda periferia da representação social como noções pouco frequentes e menos importantes entre as evocações enunciadas pelos participantes da pesquisa. (ABRIC, 2003).

Observa-se que os elementos periféricos ligados à dimensão avaliativa e à biomédica exprimem reforço aos conteúdos representacionais do núcleo central e estão associados a posicionamentos e condutas ligadas ao cuidado com a doença. A diferença apontada está associada à dimensão afetiva, que provavelmente, embora

distante e tenha obtido maior frequência, consiste em aspectos móveis ao redor do NC, que possuem potencialidade para evolução dos conteúdos representacionais.

A zona de contraste aponta o termo cuidado, que obteve maior frequência, e foi prontamente evocado, seguida do termo controle de sal. O elemento cuidado sinaliza um subsídio e conforma uma resposta fundamental diante de uma doença, para a qual a ausência deste pode levar a complicações, que podem se associar à doença de base e ou advir de problemas da cronicidade renal. Estes intervêm diretamente na carga da doença.

O termo controle do sal, prontamente evocado, expressa uma noção avaliativa, pois se situa no conjunto das necessidades para circunscrever a doença.

Com isso, parece reforçar os conhecimentos considerados centrais no cuidado para autogestão da doença. Nota-se que os elementos deste quadrante não estabelecem contraste, somente reforçam os conteúdos expressos no núcleo central.

Na análise, em função do termo indutor “cuidado com a saúde”, foram evocadas 826 palavras, entre as quais 178 foram diferentes, com ordens média de importância (OME) aproximada para 3.00. Considerando que foram descartadas as evocações cuja frequência foi igual ou inferior a 11, encontrou-se a frequência média das evocações igual a 23. A análise desses dados resultou no quadro de quatro casas apresentado na figura 3.

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FIGURA 3 - ANÁLISE DAS EVOCAÇÕES DO TERMO INDUTOR “CUIDADO COM A SAÚDE” ENTRE PESSOAS COM DRC EM TRATAMENTO DIALÍTICO DOS SERVIÇOS DE NEFROLOGIA - CURITIBA - 2015

OME  3  3

Freq.

Med. Termo evocado Freq. OME Termo evocado Freq. OME

 23 Alimentação 72 2, 167 Medicação 45 3, 156

Exercício-físico 35 2, 971 Alimentação-controlada 33 3, 152 Acompanhamento-médico 27 2, 926 Atividade-física 27 3, 259

Higiene 26 3, 423

Controle-líquido 23 3, 174

 23 Exames-periódicos 21 2, 714 Trabalhar 21 3, 762 Medicação correta 16 3, 000 Apoio-família 20 4, 050

Cuidado 15 2, 533 Vida 17 3, 235

Alimentação-correta 14 2, 714 Descanso 16 3, 375

Tratamento 13 1, 846 Controle-pressão 14 3, 214

Bem-estar 12 2, 417 Tranquilidade 12 3, 583

Fazer-tratamento 11 2, 091 FONTE: A autora (2015).

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No NC, destaca-se o termo alimentação, maior frequência, e exercício físico, prontamente evocado, ambos definidos como elementos de dimensão dos hábitos de vida, associados ao cuidado. O termo acompanhamento médico, de dimensão biomédica, sugere uma noção comportamental de saúde e assume um sentido de situar medidas regulares e essenciais que se opõem à doença. Observa-se que os elementos do núcleo central são marcadamente positivos para o cuidado.

Fazendo parte da primeira periferia, o elemento medicação, maior frequência, de dimensão biomédica, aliado aos termos controle de líquido, prontamente evocado, e alimentação controlada, de dimensão avaliativa, prolonga a dimensão negativa das ações restritivas necessárias para o cuidado com a saúde até a primeira periferia.

Esses conteúdos, embora evocados em relação à saúde, conformam aportes da doença. Os elementos atividade física e higiene apontam os hábitos de vida e reforçam elementos positivos, que favorecem o estado de saúde, e possuem um caráter comportamental.

O termo trabalho, maior frequência, de dimensão social, e evidencia a presença da funcionalidade, ou seja, a saúde representa a possibilidade de ser útil no cotidiano.

Por conseguinte, se as pessoas possuem saúde, tornam-se aptas para o trabalho.

O elemento apoio família, prontamente evocado, aponta a necessidade dos vínculos afetivos enquanto recurso fundamental para o cuidado da saúde. O controle da pressão aparece como uma medida prática que expressa negatividade e tem caráter avaliativo para o cuidado com a saúde, além de encontra-se associado à doença.

Ainda nesta periferia, a tranquilidade e o descanso são termos ligados à dimensão do bem-estar e ampliam a contextualização do cuidado com a saúde que incluí comportamentos que levam à condição de saúde ou são dependentes dela e possuem uma relação com o contexto de vida da pessoa. O elemento vida caracteriza a vitalidade, a potencialidade e a energia necessárias à manutenção da saúde. Estes termos realçam a importância da qualidade de vida.

Entre os elementos de contraste, observa-se uma variedade de termos ligados ao cuidado. Destaca-se a noção de dimensão biomédica associada aos termos exame periódico, maior frequência, medicação correta, prontamente evocada, tratamento e fazer o tratamento. Aqui aparece a modalidade específica de assistência à saúde, o serviço de diálise, caracterizando a prioridade dada por essa terapêutica de atenção. Portanto estes termos retratam os conteúdos da doença mesclados no cuidado à saúde.

Ainda neste quadrante, aparece a expressão alimentação correta da dimensão hábitos de vida, que reforça conteúdos expressos no núcleo central. O termo bem-estar contextualiza o cuidado à saúde naquilo que é fundamental para as pessoas em geral, a vivência de suas potencialidades com vitalidade. O cuidado à saúde, neste sentido, caracteriza a capacidade de se sentir bem diante da vida, do mundo, das pessoas da convivência, o que abrange a funcionalidade orgânica, saudável e uma dimensão psicológica otimista e descontraída.

Ao confrontar as representações sociais relacionadas aos termos indutores de

“Cuidado à doença” e “Cuidado à saúde”, observa-se que os elementos que compõem o núcleo central apresentaram semelhança em relação ao termo alimentação, o que realça o aspecto nutricional, além de associá-los aos comportamentos e hábitos de vida como higiene, exercício físico. Destaca-se marcada positividade nos conteúdos centrais da representação de cuidado com a saúde em oposição aos conteúdos centrais da representação de cuidado com a doença, que mescla noções de hábitos de vida e noções biomédicas, diálise, e aponta o elemento avaliativo, expresso com o termo controle líquido.

A negatividade observada nos conteúdos centrais da representação do cuidado com a doença ligada ao controle de líquido e diálise é realçada nos elementos periféricos pelas expressões alimentação controlada, de dimensão avaliativa, e medicação, de dimensão biomédica. Nesta perspectiva, a negatividade também é observada de forma semelhante, conferida pelos mesmos elementos, medicação e alimentação controlada, nos conteúdos periféricos da representação do cuidado à saúde, embora, em relação a este termo indutor, seja indicado conteúdo avaliativo, como o controle de líquido e também noção dos hábitos de vida, higiene e atividade física.

A análise dos elementos de periferia distante confirma a tendência positiva dos conteúdos representacionais do cuidado com a saúde e a coexistência de noções de dimensão social, o trabalho, afetiva, apoio familiar, bem-estar, vida, descanso e tranquilidade, e ainda evidencia o elemento avaliativo controle de pressão. Os termos atrelados à dimensão social, afetiva e de qualidade de vida corroboraram com aspectos evidenciados na pesquisa de Ramos et al. (2008a) no sentido de que a representação da pessoa com DRC considera a afinidade entre práticas de cuidado e as relações psicoafetivas e sociais imbricadas na vivência.

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Já em relação ao termo indutor cuidado com a doença, permanece a tendência dos elementos de dimensão biomédica e avaliativa, respectivamente transplante e controle da pressão, assim como houve compartilhamento do elemento associado à necessidade de apoio familiar e do elemento controle da pressão. O controle da pressão realça o elemento negativo da doença ligado ao cuidado com a saúde.

O NC é determinado por uma função geradora que lhe confere sentido e uma função organizadora que unifica e estabiliza a representação (ABRIC, 1998).

Supõe-se que o termo alimentação, na estrutura central representacional, cumpra uma função geradora e dê valor à representação ligada ao objeto cuidado com a saúde e a doença. Porém a organização do NC é determinada por uma relação distinta, ou seja, o que estabiliza o objeto cuidado com a doença liga-se ao aspecto avaliativo do controle, da diálise, com aproximação de elementos relacionados à dimensão biomédica e hábitos de vida. Diferente do objeto cuidado com a saúde, que mantém o sentido e a organização em torno dos hábitos de vida.

Portanto, temos duas representações definidas pelo mesmo conteúdo e com organização diferente, o que é similar à abordagem de Abric (1998, p.31), que afirma que “a organização do conteúdo é essencial e a simples identificação do conteúdo não basta para seu reconhecimento e especificação”. Na primeira periferia, identifica-se a função “para-choque” da representação, e possui a função de defesa (ABRIC, 1998, p.32). Assim, os objetos saúde e doença mostram prevalência dos elementos ligados aos conteúdos da doença.

É interessante observar que os elementos periféricos distantes, ligados ao objeto cuidado com a doença, marcam a defesa do NC, ao contrário da periferia distante do objeto cuidado com a saúde, que apresenta elementos com papel de regulação, ou seja, os elementos novos de dimensão social e bem-estar. Estes últimos têm um papel essencial na adaptação da representação às evoluções do contexto e podem tanto ser integrados como entrar em conflito com os fundamentos da representação. (ABRIC, 1998).

A comparação apresentada acima confirma alguns contornos das represen-tações do cuidado com a saúde e a doença. Neste enfoque, não parece se configurarem duas representações para saúde e para doença, mas polarizações, caracterizadas pela (positividade/negatividade) observada entre os termos que compõem cada dimensão.

Identifica-se que as representações do objeto relacionadas à doença apresentam conteúdos negativos, contrários aos elementos representacionais da saúde que revelam conteúdos mais positivos. Observa-se que existe compartilhamento de conteúdos da doença na representação do cuidado com a saúde. Destaca-se ainda que as questões da afetividade aparecem nas representações do cuidado com a doença e com a saúde, e a noção de bem-estar é relevante nos conteúdos periféricos do cuidado com a saúde.

Os conteúdos positivos relacionados ao cuidado com a saúde e a doença apontam para os hábitos de vida que se opõem à doença (“alimentação”, “exercício físico”, “higiene”) e noções biomédicas significativas para prevenir doenças (“acompanhamento médico”) relacionadas ao cuidado com a saúde. A importância da nutrição no cuidado com a saúde inclui medidas preventivas, pois o alto índice de massa corporal (IMC) consiste em um fator de risco para a DRC e pode ser modificado por meio de alimentação adequada. A nutrição exerce papel importante na avaliação e no tratamento da DRC. (SANTOS; PEREIRA; MACHADO et al., 2013).

Em relação ao cuidado com a saúde, os elementos negativos (“medicação”,

“controle de líquido”, “alimentação controlada”), os de conteúdo avaliativo (“controle de líquido”) e biomédico (“diálise”), presentes no cuidado com a doença, comportam aspectos da prática vivenciada pelo grupo. Conforme apontado por Chilcot, Wellsted e Farrington (2010) pessoas com DRC terminal são obrigadas a limitar a ingestão de líquido e de sal para prevenir complicações da doença como alterações cardio-vasculares, entre outras.

Novamente, a diálise requerida promove um confronto com estressores relacionados à doença e ao tratamento, decorrente da natureza crônica, terminal da doença renal, e à incorporação do tratamento médico. (TIMMERS; THONG; DEKKER et al., 2008).

Observa-se que o apoio familiar associado à dimensão afetiva relacionado ao cuidado compartilhado pelo grupo confirma aspectos apontados por Silva et al.

(2014). Estes autores apontam que o suporte familiar é decisivo na percepção das pessoas frente à doença crônica e na manutenção do tratamento, pois promove condições para que a pessoa se sinta protegida, segura, e avaliação positiva para a qualidade de vida.

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5.1.3 Configuração das estruturas das representações sociais do cuidado com a