• Nenhum resultado encontrado

4  TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

4.4  PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

4.4.1 Os contatos iniciais

Os contatos iniciais transcorreram após apresentação do projeto à banca de qualificação em dezembro de 2013. Apresentamos o projeto às instituições A e B de nefrologia (Direção Geral), que autorizaram a utilização do campo para a pesquisa.

4.4.2 A coleta de dados

A coleta de dados aconteceu durante o período de junho de 2014 a maio de 2015. A inserção no campo de pesquisa se deu após a aprovação do Projeto de Pesquisa (Anexo A) e, depois da liberação, expusemos o projeto aos profissionais do centro de nefrologia (enfermeiros assistenciais, médicos, apoio administrativo).

Em consonância com as recomendações de Sá (1996), a abordagem das representações sociais requer instrumentos plurimetodológicos de coleta e geração de dados, denominados métodos associativos e interrogativos. Por este motivo, esta pesquisa foi guiada pelo método associativo ou evocação livre de palavras, e pelo método interrogativo conduzido pela entrevista estruturada dirigida às pessoas com doença renal crônica em diálise peritoneal e hemodiálise.

A fim de obter uma compreensão ampla do objeto, optamos pelo emprego da técnica de evocação livre de palavras antes da aplicação das entrevistas. Essa estratégia permite maior aproximação entre pesquisador e participante e confere maior abertura para as manifestações das percepções e informações durante a entrevista (SÁ, 1998). O uso dessas duas técnicas contribuiu para enriquecer a compreensão do fenômeno, pois cada método aborda o objeto de estudo de maneira particular.

A evocação livre de palavras consiste em uma técnica adequada para coleta dos elementos constitutivos das representações sociais, entretanto, sua utilização de forma isolada pode ser de difícil interpretação (OLIVEIRA et al., 2005). Destarte, a técnica de entrevista poderá unir-se às evocações, de forma complementar e mútua, para obtenção de uma interpretação mais coerente com as expressões dos participantes.

57

A importância da técnica de associação livre de palavras é a de recolher as informações constitutivas dos conteúdos das representações, com o propósito de estudar a estruturação desses conteúdos da representação social. Esta técnica coloca em evidencia os universos semânticos do objeto estudado e por tratar-se de análise de material linguístico como indicador de RS deve-se a objetividade do conhecimento. (NASCIMENTO-SCHULZE; CAMARGO, 2000).

Para a operacionalização dessa técnica deve-se solicitar aos participantes, que a partir de um termo indutor, apresentado pelo pesquisador, digam as palavras ou expressões que lhes tenham vindo imediatamente à lembrança (SÁ, 1996). Nesta pesquisa foram utilizados dois termos indutores: “Cuidado com minha doença renal”

e “Cuidado com minha saúde”. Conforme as recomendações de Oliveira, Gomes e Marques (2005), os termos associados foram obtidos por audição e registrado por escrito pelo pesquisador no instrumento de coleta de dados, seguindo a ordem de evocação natural, depois da identificação dos participantes.

Outro ponto que foi considerado foi à adoção do critério de definição do número de expressões ou palavras. O critério de cinco palavras ou expressões produzidas por cada participante seguiu as recomendações de Oliveira et al. (2005) que sugere a necessidade de definição prévia do número dessas expressões pelo pesquisador e limitação a no máximo seis palavras ou expressões, pois a partir sete há um declínio na rapidez da resposta descaracterizando a técnica. Assim, o instrumento adotado contém a numeração de um a cinco, em que foram anotadas as palavras evocadas, seguindo sua ordem de enunciação.

As evocações foram obtidas com auxílio de um instrumento estruturado e impresso, contendo espaço para palavras e expressões, organizadas em função da hierarquia expressa pelo sujeito. Este formulário foi aplicado e preenchido, individualmente, pelo pesquisador (Apêndice A). Inicialmente, foi explicado a cada participante como a técnica seria desenvolvida e realizado um treinamento prévio, utilizando um termo indutor não relacionado ao objeto da pesquisa. Esse momento foi importante para a compressão da técnica, somente após este entendimento procedemos à coleta.

O contato com estas pessoas se deu, pessoalmente, nas dependências dos serviços de nefrologia. Através de uma conversa informal com estes participantes, foram convidados a participar da pesquisa. Após a explanação de uma sinopse com os objetivos e metodologia proposta do projeto, foram agendadas as datas para a

sessão das evocações e entrevistas. Vale ressaltar que estas sessões ocorreram, individualmente, em local reservado, no serviço de nefrologia, nos respectivos turnos de tratamento e ou ambulatório de consultas. Os dados coletados nas evocações foram registrados por escrito no instrumento, após a identificação dos participantes.

Outro instrumento de coleta de dados empregado foi à técnica de entrevista estruturada dirigida às pessoas com doença renal crônica em tratamento de hemo-diálise e hemo-diálise peritoneal. A técnica de entrevista estruturada justifica-se pela necessi-dade de elaborar perguntas que assegurem consistência teórica (JODELET, 2005).

Essa se fundamenta em um método interrogativo, guiado e aprofundado, segundo Abric (1998), e indispensável ao estudo das representações sociais.

Para realização da entrevista estruturada, foi elaborado um roteiro com questões-guia (Apêndice B), que facilitaram a manifestação das representações sociais do cuidado. Este instrumento contém questões fechadas e abertas distribuídas em duas partes que abarcam os dados sócios demográficos como:

idade, sexo, ocupação/profissão, situação no trabalho, tipo de tratamento, tempo de tratamento, estado conjugal, escolaridade e histórico familiar; e por um roteiro temático elaborado a partir de três dimensões supostamente presentes na representação social: a informação, a atitude e o campo de representação ou a imagem (MOSCOVICI, 1978). Assim, as perguntas seguem uma ordem de complexidade, começando pela experiência cotidiana dos sujeitos e seguindo para as reflexões mais profundas e julgamentos.

A aplicação destas entrevistas seguiu a orientação de Nascimento-Schulz e Camargo (2000) quanto apresentação do pesquisador, ao convite para participação na pesquisa e as instruções para respondê-la, haja vista a importância desses cuidados como elementos fundamentais para compreensão do material textual obtido.

Foi utilizado gravador digital para gravação das falas, com consentimento devidamente documentado dos participantes, as quais foram transcritas pela pesquisadora. Conseguiu-se, assim, um material espontâneo, provocado por questões que também permitiram a expressão livre dos participantes. Antes de passar para próxima questão, sempre se perguntava se desejavam fazer alguma colocação, permitindo espaço para verbalização livre. As entrevistas oscilaram no tempo entre 20 minutos e 40 minutos.

No encerramento de cada entrevista, foi perguntado novamente se os participantes desejavam acrescentar alguma coisa, dando oportunidade de explorar

59

outras ideias que tivessem sido suscitadas por ocasião da entrevista. Foi realizado um teste piloto que resultou na adaptação da terminologia utilizada, por se tratar de uma técnica que, de um lado, permite obter informações, tanto a partir das próprias questões quanto das inferências do entrevistador. E, por outro lado, garante a expressão livre de ideias da pessoa.

Assim, uma das adaptações realizadas foi à uniformização da terminologia utilizadas na entrevista como o enfoque no significado, na imagem, na informação e nos sentimentos em relação ao objeto. Por este motivo, realizamos a aplicação deste roteiro com duas pessoas que desenvolveram a doença renal crônica em tratamento dialítico, a fim de verificar a viabilidade das questões na entrevista.