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Configuração de tráfico, trabalho forçado, servidão, e escravidão no presente caso

C. O Estado brasileiro é responsável pela submissão a trabalho forçado, escravidão, servidão, e

2. Configuração de tráfico, trabalho forçado, servidão, e escravidão no presente caso

trabalho forçado e o tráfico, proíbe um conjunto de práticas que constituem formas contemporâneas de escravidão. Devido às múltiplas formas de exploração humana, como apontamos no EPAP429, seria impossível enumerar todas suas manifestações.

Ainda que não seja possível enumerar todas as manifestações e formas contemporâneas de escravidão que abrange o conceito na atualidade, a maior parte delas possuem como denominador comum quatro dimensões fundamentais, a saber: 1) o controle por outra pessoa; 2) a apropriação da força de trabalho; 3) a utilização ou ameaça de utilização de violência430; e, 4) a discriminação, que acarreta a despersonalização ou desumanização daqueles/as submetidos à escravidão, ao trabalho forçado, à servidão ou ao tráfico. De maneira complementar, a discriminação estrutural permite que se justifiquem as práticas, que se mantenham impunes situações de abuso, e finalmente, permite a persistência da exploração e a escravidão.

Adicionalmente, conforme concluiu a Douta Comissão431, como analisou o TEDH432 e o TPIY433, e como identificou a OIT434, e outros especialistas435, existem múltiplos indicadores ou fatores que

429 EPAP dos representantes, p 94.

430 CIDH. Comunidades cautivas: situacion del pueblo indígena guaraní y formas contemporáneas de esclavitud en el Chaco de Bolivia. OEA/Ser.L/V/II. Doc. 58. 24 de dezembro de 2009. Par. 50, Anexo 113. Ver tambén, ONU – Assembleia Geral. Report of the Special Rapporteur on contemporary forms of slavery, including its causes and consequences, Gulnara Shahinian. A/HRC/9/20. 28 July 2008, par. 9. Anexo 114.

431 CIDH. Relatório da CIDH, par. 139.

432 TEDH. Case of Rantsev v. Cyprus and Russia. Application No. 25965/04. Sentenca de 10 de maio de 2010. Paras. 280-281.

433 TPIY. Fiscal vs. Dragoljub Kunarac, Radomir Kovac y Zoran Vukovic. Sentenca de 12 de junho de 2002. Par. 119. Ver tambem, CIDH. Relatório da CIDH, par. 138.

434 OIT. ILO indicators of Forced Labour. 1 de outubro de 2012. Anexo 117 do EPAP.

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facilitam a identificação ou caraterização de práticas análogas ou formas contemporâneas de escravidão, entre os quais se destacam, por exemplo: “o sequestro ou captação mediante falsas promessas ou outras formas de engano”436; a disposição e/ou traslado de pessoas com fins de exploração, o abuso da situação de vunlerabilidade, isolamento, que exista controle e/ou restrição da libertade de circulação, o grau de controle da pessoa sobre seus pertenences pessoais, a retenção de documentos de identidade, as intimidações e ameaças, a violência física ou sexual, a submissão a tratamentos cruéis, humillantes e de abuso, os salários irrisórios ou a retenção dos mesmos, a servidão por dívida, as jornadas de trabalho excessivas, as condições abusivas de moradia e/ou trabalho, que a pessoa deva viver no lugar de trabalho, que existam medidas para prevenir ou impedir sua fuga, que não possa manifestar livremente sua vontade de iniciar o continuar com o trabalho, que não tenha dado seu consentimento com conhecimento de causa e plena compreensão da natureza do trabalho e da relação entre as partes, que não possa modificar livremente seu estado ou condição, entre outras.

A estes indicadores individuais, podem somar-se outros adicionais de caráter estrutural e de resultado, que permitem avaliar e explicar a persistência de diversas formas de escravidão, servidão, trabalho forcado ou tráfico de pessoas como: a existência ou ausência de legislação adequada; a ausência de persecução penal efetiva; a razão (ratio) entre absolvições e condenações penais; a recorrência das práticas nas mesmas fazendas; a situação de pobreza extrema e analfabetismo funcional de setores da população; altos níveis de discriminação interseccional; a existencia o ausência de políticas públicas para abordar o tema, entre outras.

Esta dificuldade de enumerar todas as manifestações das formas contemporâneas de escravidão, não somente se vê refletida na jurisprudência internacional e regional na matéria, como também mencionou o perito Dr. Cesar Rodríguez Garavito durante a audiência437. Neste sentido, a grande maioria dos casos afirmam alguns conceitos comuns no que diz respeito às formas contemporâneas de escravidão, mas também ressaltam a necessidade de levar em conta o contexto particular das violações, mantendo-se assim certo grau de flexibilidade em sua análise.

Desprende-se do texto que a CADH protege contra quatro formas de escravidão contemporânea de maneira explícita − escravidão, servidão, trabalho forçado e tráfico − precisando que essas condutas estão proibidas “em todas suas formas”. Embora alguns desses conceitos se tenham definido de forma mais precisa, a jurisprudência internacional tem sido clara em estabelecer a natureza e elementos comuns destas práticas. O parâmetro desenvolvido no caso Kunarac ilustra esta relação entre os vários tipos de escravidão contemporânea. Neste caso, o Tribunal Penal para a ex-Iugoslávia sustentou:

The Appeals Chamber accepts the chief thesis of the Trial Chamber that the traditional concept of slavery, as defined in the 1926 Slavery Convention and often referred to as “chattel slavery”, has evolved to encompass various contemporary forms of slavery which are also based on the exercise of any or all of the powers attaching to the right of ownership. In the case of these various

435 OACNUDH- David Weissbrodt y la Liga contra la Esclavitud. La Abolición de la Esclavitud y sus Formas contemporáneas. HR/PUB/02/4. 2002. Par. 21. Anexo 112 do EPAP

436 Idem, par. 26.

437 Declaração do perito Dr. Cesar Rodriguez Garavito, 18 fevereiro 2016.

Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil Alegações Finais Escritas contemporary forms of slavery, the victim is not subject to the exercise of the more extreme rights of ownership associated with “chattel slavery”, but in all cases, as a result of the exercise of any or all of the powers attaching to the right of ownership, there is some destruction of the juridical personality; (...).

The Appeals Chamber considers that the question whether a particular phenomenon is a form of enslavement will depend on the operation of the factors or indicia of enslavement identified by the Trial Chamber. These factors include the “control of someone’s movement, control of physical environment, psychological control, measures taken to prevent or deter escape, force, threat of force or coercion, duration, assertion of exclusivity, subjection to cruel treatment and abuse, control of sexuality and forced labour”. Consequently, it is not possible exhaustively to enumerate all of the contemporary forms of slavery which are comprehended in the expansion of the original idea438.

Quanto ao conceito particular de escravidão, o TPIY considerou o conceito de controle como o elemento fundamental, mas indicou a necessidade de adaptar este conceito de acordo com a manifestação particular da violação. Ou seja, levando em conta o contexto particular, no caso, o TPIY valorou os fatores do “controle dos movimentos de uma pessoa, o controle do ambiente físico, o controle psicológico, e as medidas adotadas para prevenir ou impedir a fuga, o uso da força, a ameaça de usar a força ou a coerção, a duração, a afirmação de exclusividade, a sujeição a tratamento cruel e abuso, o controle da sexualidade e o trabalho forçado”439, para determinar se os fatos constituíam escravidão. Portanto, o trabalho forçado neste caso é uma violação independente, mas também um indicador da presença da escravidão contemporânea.

Desta maneira, entendemos que a servidão, o trabalho forçado e o tráfico de pessoas são violações

per se, mas também elementos e manifestações de formas contemporâneas de escravidão. Este

entendimento se vê refletido em outros casos em nível internacional. No caso Brima, perante a Corte Especial para Serra Leona, a Corte sustentou:

The crime of ‘enslavement’ has long been criminalised under customary international law. The Slavery Convention of 1926 defined slavery as “the status or condition of a person over whom any or all of the powers attaching to the right of ownership are exercised.” Being an indication of

‘enslavement’, forced labour has been defined as “all work or service which is exacted from any

person under the menacy of any penalty and for which the said person has not offered himself voluntarily440.

Ou seja, o trabalho forçado é uma violação independente – a respeito do qual a Corte Especial utilizou a definição da Convenção 29 da OIT – mas, ademais, serve como elemento para evidenciar a violação mais ampla de escravidão.

A mesma interpretação ampla das formas contemporâneas de escravidão defende o perito Michael Dottridge em sua declaração, ao ressaltar a superposição existente em nível internacional entre

438 TPIY. Fiscal vs. Dragoljub Kunarac, Radomir Kovac y Zoran Vukovic. Sentença de 12 de junho de 2002. Pars. 116- 119. Disponível em: http://www.icty.org/x/cases/kunarac/acjug/en/kun-aj020612e.htm. Ver também, CIDH. Relatório da CIDH, par. 138.

439 TPIY. Fiscal vs. Dragoljub Kunarac, Radomir Kovac y Zoran Vukovic. Sentença de 12 de junho de 2002. Par.119. Disponível em: http://www.icty.org/x/cases/kunarac/acjug/en/kun-aj020612e.htm. Ver também, CIDH. Relatório da CIDH, par. 138.

440 Prosecutor against Alex Tamba Brima et al., (AFRC), 20 June 2007, disponível em http://www.rscsl.org/Documents/Decisions/AFRC/613/SCSL-04-16-T-613.pdf, Para. 742.

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escravidão, servidão, trabalho forçado e tráfico de pessoas, apesar de que se tem identificado elementos comuns, tais como;

(i) o grau de restrição do direito inerente do indivíduo à liberdade de circulação; (ii) o grau de controle de pertences pessoais do indivíduo; e

(iii) a existência de consentimento informado e um completo entendimento da natureza da relação entre as partes441 .

Diante do anterior, os Representantes desejam chamar atenção para o argumento jurídico principal do Estado nesta matéria apresentado na audiência pública. Nas alegações finais, o representante do Estado declarou:

[V]ou destacar que há um elemento comum entre todos estes quatro conceitos, escravidão, servidão, servidão por dívida e trabalho forçado, o elemento comum que caracteriza e precisa ser observado no caso concreto para caracterizar as práticas é a privação e restrição de liberdade do trabalhador. Sem a restrição ou privação de liberdade do trabalhador não há escravidão, servidão, servidão por dívida ou trabalho forçado. É necessário caracterizar outros elementos para caracterizar cada um destes tipos ou destas condutas violadoras da CADH, mas este é o elemento comum a todos eles442.

Este entendimento não tem base alguma na jurisprudência da Corte no que se refere ao artigo 6 da CADH, nem se vê refletido na jurisprudência internacional ou comparada como um requisito imprescindível. De maneira específica, o perito Michael Dottridge destacou em sua peritagem:

Escravidão, servidão, instituições e práticas análogas à escravidão, trabalho forçado e tráfico humano envolvem, todos, mudanças de condição da pessoa: sendo reduzida àquele estado, sendo escravizada ou traficada e incapaz de exercer uma série de direitos humanos, como resultado, enquanto neste estado reduzido. Não se requer ser detida fisicamente em um determinado

lugar, nem se exige ser reduzida a esse estado por um longo período. O que é requerida é a perda de autonomia pessoal, mesmo que essa perda não seja visível para os outros443.

Como temos indicado, o trabalho forçado foi claramente definido por esta Corte e o controle sobre o movimento e a restrição de liberdade não se encontra nos elementos definidos444. Tal definição, de um trabalho realizado contra a vontade e sob ameaça, foi reconhecida pelo Estado em sua Contestação445, contudo, na audiência pública o representante estatal agregou um fator a este parâmetro jurídico, o de restrição de liberdade, que não tem sustento na jurisprudência regional e internacional.

Nesta ordem de ideias, os Representantes consideram que no presente caso a prova permite à Corte constatar os elementos de servidão, trabalho forçado e tráfico no caso particular, baseando-se na

441 Declaração do perito Michael Dottridge, submetida à Corte em 8 de fevereiro, par. 45, citando D. Weissbrodt and Anti- Slavery International. Abolishing Slavery and its Contemporary Forms. Office of the High Commissioner for Human Rights, UN, 2002. Para. 21.

442 Alegações finais orais apresentadas pelo Representante Sr. Boni Moraes Soares, audiência pública, dia 19 de fevereiro de 2016.

443 Declaração do perito Michael Dottridge, submetida à Corte em 8 de fevereiro, par. 45. grifo adicionado.

444 Corte IDH. Caso de las Masacres de Ituango Vs. Colombia. Exceção Preliminar, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 1 de julho de 2006 Série C No. 148. Pars. 161-164

445 Contestação do Estado, pp 53-56.

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jurisprudência do sistema interamericano, internacional e regional, entendendo que a constância destas práticas também permite estabelecer a prática de escravidão.

Como indicamos no EPAP, os Representantes consideram que um fator fundamental a levar em conta para a análise do caso da Fazenda Brasil Verde é a discriminação estrutural em que se enquadraram os fatos e seu efeito no grau de controle efetivo sobre os trabalhadores446. Ficou provado durante o processo que as práticas de exploração presentes neste caso se cometeram principalmente contra homens afrodescendentes, analfabetos em sua maioria e com poucas oportunidades econômicas447. Essa discriminação, comparada com o poder desproporcional dos fazendeiros448, afetou cada aspecto desta violação, como a percepção de controle exercido dos trabalhadores, suas possibilidades de buscar recursos no nível interno, e a perpetuação destas práticas.

A discriminação estrutural permite que se justifiquem as práticas, que se mantenham impunes situações de abuso e, finalmente, permite a persistência da exploração e da escravidão449. Portanto, estes conceitos de controle e vontade inerentes na análise das formas contemporâneas de escravidão também têm que ser analisados à luz da condição da vítima.

a) No presente caso se configuram os elementos de trabalho forçado e servidão

Reiterando o exposto no EPAP450, há jurisprudência estabelecida desta Honorável Corte no que diz respeito ao trabalho forçado. A CADH proíbe o trabalho forçado de forma explícita no artigo 6(2) e a Corte estabeleceu no Caso de las Masacres de Ituango Vs. Colômbia que os dois elementos de trabalho forçado são: a) a ameaça de uma punição451; e, b) a falta de vontade para realizar o trabalho ou serviço452. Esta análise se baseia na Convenção sobre o tema de 1930, reafirmada em 2014453, quando definiu o “trabalho forçado ou obrigatório” como “todo trabalho ou serviço exigido de uma

446 EPAP dos representantes, p 94.

447 Declaração da testemunha Dr. Leonardo Sakamoto, 18 de fevereiro de 2016. 448 Declaração da testemunha Dr. Leonardo Sakamoto, 18 de fevereiro de 2016. 449 EPAP dos representantes, p 94.

450 EPAP dos representantes, pp 95, 96.

451 “La ‘amenaza de una pena’, (…), puede consistir en la presencia real y actual de una intimidación, que puede asumir formas y graduaciones heterogéneas, de las cuales las más extremas son aquellas que implican coacción, violencia física, aislamiento o confinación, así como la amenaza de muerte dirigida a la víctima o a sus familiares” (cfr. Corte IDH. Caso de las Masacres de Ituango Vs. Colombia. Exceção Preliminar, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 1 de julho de 2006 Série C No. 148. Par. 161).

452 “La ‘falta de voluntad para realizar el trabajo o servicio’ consiste en la ausencia de consentimiento o de libre elección en el momento del comienzo o continuación de la situación de trabajo forzoso. Esta puede darse por distintas causas, tales como la privación ilegal de libertad, el engaño o la coacción psicológica” (cfr. Corte IDH. Caso de las Masacres de Ituango Vs. Colombia. Exceção Preliminar, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 1 de julho de 2006 Série C No. 148. Par. 164). 453 OIT. Protocolo 029 de 2014 à Convenção sobre Trabalho Forçado. Adotado em 11 de junho de 2014, à data sem

ratificações. Artigo 1.3. Disponível em:

http://www.ilo.org/dyn/normlex/en/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO::P12100_ILO_CODE:P029. Ver também, OIT. Recommendation 203 on Forced Labour (Supplementary Measures). Adotada em 11 de junho de 2014. Disponível em: http://www.ilo.org/dyn/normlex/en/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:3174688:NO (inglês).

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pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente”454. A Corte considerou importante consultar a normativa da OIT em função do “desarrollo experimentado en esta materia en el Derecho Internacional de los Derechos Humanos”455.

O TEDH também define o trabalho forçado com base na Convenção 29 da OIT, como (1) o trabalho realizado sob ameaça e (2) contra a vontade456. O TEDH utiliza uma análise ampla para cada fator, situando sua análise dentro do contexto particular. Para entender o elemento de ameaça (“under the menace of any penalty457”), o TEDH fundamentou:

The Court notes that in the global report “The cost of coercion” adopted by the International Labour Conference in 1999 […], the notion of “penalty” is used in the broad sense, as confirmed by the use of the term “any penalty”. The “penalty” may go as far as physical violence or restraint, but it

can also take subtler forms, of a psychological nature, such as threats to denounce victims to

the police or immigration authorities when their employment status is illegal458.

Neste sentido, qualquer tipo de ameaça, tanto física como psicológica, é suficiente. Por outro lado, para analisar o elemento da falta de vontade, um fator crucial para o TEDH foi o conceito de “disproportionate burden”, ou o tipo e quantidade de trabalho que razoavelmente se pode esperar de uma pessoa459. Ao analisar o que seria uma carga desproporcional de trabalho, o TEDH considerou a falta de tempo livre, os horários estendidos460, e o total de horas trabalhadas461.

Em C.N. v. França, o TEDH também incorporou as observações da OIT sobre a possibilidade de que uma situação de trabalho forçado se inicie com engano ou inclusive por vontade própria:

As regards “voluntary offer”, the ILO supervisory bodies have touched on a range of aspects including: the form and subject matter of consent; the role of external constraints or indirect coercion; and the possibility of revoking freely-given consent. Here too, there can be many subtle forms of coercion. Many victims enter forced labour situations initially out of their own choice,

albeit through fraud and deception, only to discover later that they are not free to withdraw their labour, owing to legal, physical or psychological coercion. Initial consent may be considered irrelevant when deception or fraud has been used to obtain it.462

454 OIT. Convenção No. 29 sobre o trabalho forçado ou obrigatório. Adotada em 28 de junho de 1930; entrada em vigor em 01 de maio de 1932. Artigo 2.1. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_norm/--- normes/documents/normativeinstrument/wcms_c029_pt.htm. Ratificado pelo Estado de Brasil em 25 de abril de 1957 (cfr. OIT. Convenção No. 29 sobre o trabalho forçado our obrigatório – Estado de ratificaciones. Disponível em: http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=1000:11300:0::NO:11300:P11300_INSTRUMENT_ID:312174). Ver também, CIDH. Relatório da CIDH, par. 136.

455 Corte IDH. Caso de las Masacres de Ituango Vs. Colombia. Sentença de 1 de julho de 2006. Série C No. 148, Par. 157.

456 TEDH, Case of C.N. v. France. Application no. 67724/09. Sentença de 11 de outubro de 2012. Par. 71. 457 TEDH, Case of C.N. v. France. Application no. 67724/09. Sentença de 11 de outubro de 2012. Par. 71. 458 TEDH, Case of C.N. v. France. Application no. 67724/09. Sentença de 11 de outubro de 2012. Par. 71. 459 TEDH, Case of C.N. v. France. Application no. 67724/09. Sentença de 11 de outubro de 2012. Par. 74. 460 TEDH, Case of C.N. v. France. Application no. 67724/09. Sentença de 11 de outubro de 2012. Par. 73. 461 TEDH, Case of Van der Mussele v. Belgium, Application no. 8919/80, Sentença de 23/11/1983. Par. 39. 462 TEDH, Case of C.N. v. France. Application no. 67724/09. Sentença de 11 de outubro de 2012. Par. 52.

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Por outro lado, a servidão tem sido definida de forma parecida ao trabalho forçado, no sentido de que obriga a vítima a prover serviços através da coação463. No entanto, Gulnara Shahinian, ex-Relatora Especial sobre as Formas Contemporâneas de Escravidão, incluídas suas Causas e Consequências, identifica a dependência como um aspecto central da servidão, no sentido de que cria dificuldades para que a vítima modifique sua situação:

A dependência neste contexto pode ser resultado de toda uma série de fatores físicos, econômicos, sociais, culturais e jurídicos. Ainda que cada um destes fatores possa não ser o suficientemente poderoso por si mesmo para criar a aguda dependência que caracteriza a servidão, podem se reforçar uns aos outros criando uma rede de fatores de dependência que a vítima não pode sortear […] Outro indicador de dependência pode ser a restrição dos direitos dos trabalhadores à