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CAPÍTULO III: A(O)S ALUNA(O)S EM CONFLITOS

3.5. Conflitos e Acomodações

Depois de apresentar os principais sujeitos que faziam parte do cotidiano escolar, a pesquisa adentra em alguns ruídos ocorridos entre esses sujeitos, mostrando tensas relações de poder que emanam de documentos, embora antigos, mas ainda bastante carregados de emoção. Para compreender os meandros da vivência interna da EN, relembra-se Certeau62 quando afirma que dentro do cotidiano de uma instituição educativa há questionamentos acerca dos seus aspectos internos, gestando desencontros e conflitos.

D. Joana dos Santos Tocantins Maltez e D. Josepha Torreão de Lacerda Redig, professoras de prendas, em 1894 disputavam privilégios em relação ao maior tempo no estabelecimento em relação à outra. O diretor, Raymundo Joaquim Martins, comunicou em 25 de janeiro de 1894, ao governador que63:

“(...) não havendo o actual regulamento d’esta Escola numerado as cadeiras de prendas e designado os annos do curso com que Masse (sic) devem occupar,

61 SCHWARCZ. Lilia Moritz. Op. Cit.

62 CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano. Op. Cit.

63 APEP. Caixa: Governo do Pará: Ofícios: Educação. Escola Normal. Ofícios: 1890, 1892, 1893, 1894, 1895,

isto tem dado lugar a conflictos que procuro extinguir a bem do serviço e do nome do Estabelecimento”.

Embora os conflitos ocorram quase sempre em qualquer lugar ou instituição, o discurso é escamotear e imaginá-los extintos como condição do bom funcionamento das relações institucionais e, até mesmo, pessoais, quando parecem ser condição, se bem resolvidos ou negociados, de superação individual e coletiva. A questão desdobra-se em relações de disputa de poder e prestígio.

“O regulamento quer que as duas professoras se auxiliem mutuamente no ensino de cada anno, mas reconhecendo eu que isso era impossível, pois uma das professoras, a titulo de ser a primeira e a mais antiga, julgava-se com direitos superiores aos da outra (...)”.

O conflito envolvendo duas mulheres que, a despeito das expectativas de submissão feminina, disputam privilégios da escolha de turmas. A antiguidade então é posta como critério de prioridade. O diretor diante do litígio resolve então:

“(...) tomei a deliberação no inicio de dividir equitativamente o trabalho, dando a cada uma das professoras um dos annos mais freqüentados e um dos que contam poucos estudantes, e assim se praticar durante todo o anno com o que lucrou o estabelecimento evitar conflicto e animosidades sempre prejudiciais em estabelecimentos de instrucções, ficando a professora da 1ª cadeira com o 1º e 3º anno, e a da segunda com o 2º e 4º anno. Poderia ter adoptado para com as aulas de prendas o regimen que o regulamento deu ás cadeiras de desenho, designando o professor da primeira para lecionar o 1º. e o 2º. anno, e o da segunda para ensinar o 3º e o 4º; não me pareceu porém isso eqüitativo pois sendo os dous primeiros annos os mais freqüentados, a professora da 1ª cadeira teria mais trabalho do que a da 2ª. Julgando estar sanada essa difficuldade, acontece que ao começar os trabalhos d’este anno, a professora da 1ª cadeira, que sempre é quem provoca taes conflictos, foi á secretaria e mandou preparar para si cadernetas de annos que não lhe pertencem, e indo hontem ao Estabelecimento pretendeu que lhe mandasse entregar a aula do 2º anno, onde se achava funccionando a outra collega, e porque não acedi aquella imposição, retirou-se sem dar aula”.

O curioso é que o diretor, sem negociar com as professoras, adotou uma medida que não foi aceita pela primeira professora, que simplesmente foi de encontro às determinações do diretor. Contrariando todas as expectativas de submissão feminina e de respeito à hierarquia, as evidências indicam que enfrentou com dureza o diretor, pois se retirou sem dar aula. Em outras ocasiões, o enfrentamento foi mais incisivo. Ele se viu, então, obrigado a contemporizar, buscando outra alternativa. Mas inseguro, precisou preservar sua autoridade, recorrendo ao aval do governador:

“(...) V. Excia compreende o melindre da minha posição tendo por um lado de empregar a máxima prudência para com a senhora que nem sempre usa de delicadeza e circunspecção nas suas reclamações e devendo por outro usar de energia para não perder a força moral que me é mister no cargo que occupo; a vista do que espero de V. Exia uma decisão que ponha fim a reiterados conflictos e faça garantir a harmonia que deve existir entre os professores do Estabelecimento. Para tal fim proponho que sejam numeradas as cadeiras de prendas designando-se para servir na 1ª. a professora D. Joanna dos Santos Tocantins Maltez e para a 2ª a professora D. Josepha Torreão de Lacerda Redig; outra sim a mesma decisão abranja a divisão do trabalho, estabelecendo-se que a 1ª. cadeira lecionará o 1º. e 3º. anno da escola e a segunda o 2º anno. Certo do interesse que V. Exia liga a tudo quanto se relaciona com o ensino publico, estou convicto de que tomará em consideração o que venho de expor e providenciará como for de justiça. Saude e Fraternidade”.64

A fonte explicita que embora os padrões esperados de submissão à autoridade masculina fosse o esperado das mulheres da época e reafirmado dentro da escola, por sua exclusão da maioria do corpo docente e da direção, elas não só podiam subverter essas expectativas, como disputavam poder entre si.

É preciso esclarecer, todavia, que Raymundo Martins não teve problema só com as duas professoras. No ano anterior, em 23 de setembro de 1893, mal a escola completava três anos e estreava seu primeiro prédio, o diretor pedia ao governador do estado a demissão de seu secretário, João Neves, por quebra de confiança. É surpreendente que o episódio envolveu indiretamente as ditas professoras de prendas:

“Abusos de confiança comettidos pelo secretario deste estabelecimento, João Antônio das Neves, me impõem o triste dever de pedir a exoneração d’elle para evitar a reprodução de factos que destoam da norma de proceder de um funccionario correto e fiel. Entre outros factos que me fazem por em duvida a probidade d’esse funccionario, ocorreu ultimamente um que revella não serem destituídos de fundamento as aprehensões que tinha sobre os abusos de confiança do Secretario da Escola Normal. Tendo as professoras de prendas sollicitado alguns preparos para trabalhos das alunnas, em Maio deste anno mandei fazer o pedido, que tendo chegado agora não estava de accordo com o que havia sido sollicitado, pelo que foram recusados certos artigos. Contra recomendação minha, porem, o secretario, de intelligencia com o caxeiro do fornecedor, fez admittir na conta que por elle mandei conferir os objectos recusados, conta que foi immediatamente paga no Thesouro, no mesmo dia em que d’aqui saiu, privando-me assim de fazer reformala quando no dia immediato veio ao meu conhecimento o abuso de confiança de que tinha sido vitima. Certo de que na moralizada administração de V Exa não serão toleradas traficâncias d’esta ordem, trago ao vosso conhecimento o occorrido e nos termos do artigo 154 do Regulamento vigente proponho a demissão do funccionario infiel. Saude e Fraternidade” .65

64 APEP. Caixa: Governo do Pará: Ofícios: Educação. Escola Normal. Ofícios:1890, 1892, 1893, 1894, 1895,

1897, 1900, 1909, 1946.

65APEP. Caixa: Governo do Pará. Ofícios: Educação. Escola Normal. Ofícios: 1890, 1892, 1893, 1894, 1895,

Na peça está aposto que o governador acatou o pedido de demissão em 1º de outubro do mesmo ano. Não fica claro que outros fatos teriam o levado a colocar em dúvida a conduta do secretário, tendo o último episódio sido uma espécie de gota d’água.

Em 30 de maio de 1896 o diretor da EN, Heitor Barjona de Miranda em ofício ao governador 66 noticiava outro entrevero envolvendo funcionários da instituição. O secretario, Raymundo Monteiro Junior, ofendeu o amanuense Pedro Valette Neto. Além disso, parece ter agredido o próprio diretor que mencionou “desobediencia hirarchica para com a mesma directoria(...)”. Ele então foi punido com uma suspensão de quinze dias, enquanto o amanuense com oito, por “ter contribuído para a perturbação da ordem e disciplina regulamentares (...) para que possaes substituil-os sem perda para o serviço da repartição (...)”.

Fica evidente que era necessário manter a hierarquia sob pena de a instituição perder um de seus principais objetivos, qual seja: moldar funcionários e principalmente alunas e alunos para uma sociedade extremamente hierárquica e desigual. O secretario, talvez pela proximidade com o diretor, não o poupou de sua ira. Tensões que terminam em conflito aberto não são incomuns em nenhum espaço de convivência embora sejam mascaradas e severamente punidas em espaços de disciplinarização.

A despeito de o papel da EN ser oficialmente de qualificar professores capacitados para a rede de ensino e consequentemente melhorar o nível escolar, ao se examinar o currículo observou-se que implicitamente procurava-se preparar também bons cidadãos republicanos, higiênicos, com forte moralidade. Por meio de um processo de vigilância e disciplinarização, que envolviam horários, punições, prêmios, desejava-se moldar indivíduos altamente respeitosos da hierarquia social.

Objetivando criar determinações para disciplinar comportamentos considerados indesejados, em 1891 era vedado ao aluno:

1º Abandonar qualquer exercício, antes de concluído.

2º Conservar-se de chapéo na cabeça dentro do estabelecimemnto; 3º Fumar em qualquer das dependências da Escola;

4º Gritar, assobiar, fazer arruaças ou algazarras e dar vaias, dentro e nas vizinhanças da Escola;

5º Formar grupos na portaria, em frente, ou nas próximas immediações do estabelecimento;

6º Escrever, pintar desenhar, riscar, gravar ou por qualquer outro modo, sujar, estragar ou damnificar o edifício e seus moveis ou utensílios;

7ºProferir palavras, fazer gestos, commeter actos, contrários á moral;

8 ºAmeaçar ou offender physicamente a qualquer pessoa, extranha ou não á Escola, e usar de divertimentos sob qualquer ponto de vista prejudiciais aos seus collegas ou a qualquer empregado ou visita;

9º Conduzir do estabelecimento qualquer objeto da Secretaria, biblioteca, aulas, gabinete e sala de estudos, ainda que seja no propósito de restituil-os no mesmo stado, no mais curto praso possivel67.

Assim, em relação à primeira parte das interdições, às aluna(o)s era imposto um tempo para a realização dos exercícios até a sua execução final. Não se permitia o uso de chapéu, pois o retirar o chapéu indicava respeito e homenagem às mulheres e aos superiores. O uso do fumo também era considerado uma impertinência, se fosse realizado diante de alguém socialmente superior e desviaria, pelo lazer, das obrigações realizadas na escola. Em síntese, através de certas interdições procurava-se incutir na(o) aluna(o) noção de hierarquia e respeito.

Esse processo ia ao encontro da inculcação de novas práticas consideradas civilizadas que se expressavam no Código de Posturas do Município de Belém, durante a gestão do intendente Antônio Lemos (1897-1911), e que é encontrado também em conjunto com reformas urbanas em todo o Brasil, junto com medidas de higienização e controle social. Enfim a pesquisa vem procurando demonstrar que por dentro e por fora da escola um amplo processo de modernização atravessava a cidade e seus moradores. No sistema educacional e principalmente numa escola de formação de professores era uma estratégia fundamental.

Na configuração daquelas determinações criadas pela EN, procurava-se também evitar aglomerações, pois se temia que se pudessem organizar ações capazes de fugir do controle das autoridades escolares e, ao mesmo tempo, incutia-se nos docentes o sentido de ordem e disciplina. Evitar agressões internas e externas e depredar o patrimônio escolar, somavam-se ao conjunto das imposições legais.

Nos casos de expulsão, segundo o Art. 148, do regulamento de 1891, era necessário que o aluno incorresse em:

1º. Os escriptos, desenhos, gravuras offensivas á moral ou a qualquer funcionário docente ou da Directoria;

2º. Os actos de imomoralidade;

3º. Os actos de formal insubordinação, desrespeito ou desobediência ao Director, lente ou professor;

4º. O incorrer na 4º. suspensão;

5º. A repetição de pugilato, dentro ou nas immediações do estabelecimento; 6º As injurias verbaes, manuscriptas ou impressas contra o Director ou qualquer lente, professor ou funccionario da Directoria.

67 Artigo 139 do Regimento Interno e das Penas contido no Regulamento da Escola Normal de 24 de setembro

Novamente é visível a tentativa de se preservar o respeito e a hierarquia e como essa respeitabilidade deve ser mantida fora dos espaços internos da escola. Interessa observar também que o caso de expulsão seria apenas se envolvesse injúrias ao diretor, professores e funcionários da diretoria, mas não contra outros alunos e alunas e demais funcionários . Isso revela mais uma vez o caráter muito mais disciplinador de comportamentos e hábitos considerados compatíveis com o processo de modernização acelerado pela qual a cidade passava. No caso dos itens 1º, 2º e 5º que não envolviam diretamente a figura da autoridade, era possível comutar a expulsão, após conversa com o responsável do infrator.

Os diversos regulamentos escolares mantiveram mais ou menos as mesmas proibições. O sistema de punições que também pouco variou pode ser exemplificado pelo artigo 35 no Regulamento de 1912 que escalonava as punições em oito níveis:

a) Admoestação em particular;

b) Notas desfavoráveis nas cadernetas e nos boletins mensaes das aulas; c) Reprehensão em aula;

d) Exclusão temporária da aula;

e) Exclusão temporária por 5 a 20 dias; f) Exclusão temporária por um ano; g) Exclusão temporária por dois anos; h) Exclusão definitiva.

No artigo seguinte continuava estabelecendo que os professores poderiam aplicar as penas de (a) a (d). As de (c) a (e) pelo diretor e das letras (f, g, h) pela Congregação, sob proposta do diretor, ou representação de qualquer docente no caso de “falta gravíssima ou absoluta inefficacia de outros meios disciplinares”.

Apesar de se colocar como uma instituição de caráter educativo e pedagógico a escola atuava nos moldes policiais de vigiar e punir. Sendo os casos mais graves o do afastamento da(o) aluna(o), temporário ou definitivo, quando esgotadas as de convencimento e advertências verbais. A partir da possibilidade do afastamento do acusado ser de um ano, era constituído um processo, tendo o réu direito de defesa. Podendo, de acordo com o caso, o diretor afastar temporariamente o indiciado até o julgamento da Congregação. Caberia ainda recurso ao Conselho Superior de Instrução Pública até de três dias após a divulgação da penalidade. Se a punição fosse de expulsão definitiva haveria recurso obrigatório junto a esse conselho.68

Acredita-se que o objetivo, além de excluir indivíduos sobre os quais a instituição não conseguia disciplinar, e que ultrapassavam o tolerável, era exemplo a ser dado para as

demais alunas(os). O autor desse trabalho lembra, em sua época de estudante do ensino fundamental e médio e depois como professor, das portarias de punição que eram obrigatoriamente lidas em todas as salas e turnos, citando a infração, o nome do infrator e a respectiva punição. Percorrendo alguns documentos é possível observar que as alunas quase não aparecem nesses registros, embora fossem a esmagadora maioria. Outro aspecto a ser destacado era a publicação em diário oficial, durante vários dias, das penalidades aplicadas aos infratores.

Mas quais eram as principais infrações e punições cometidas pelos alunos (as) da EN? O ano de 1893 apontou nove notas no diário oficial em sua maioria de suspensão, envolvendo, entre outros, o artigo 8º que consistia em: “Ameaçar ou offender physicamente a qualquer pessoa, extranha ou não á Escola, e usar de divertimentos sob qualquer ponto de vista prejudiciais ao seus collegas ou a qualquer empregado ou visita”.69 O espantoso que nenhuma aluna teria incorrido em infração e, portanto punição. Embora não se tenha encontrado a estatística de alunos e alunas do ano de 1893, comparando com o de 1891, 107 alunas e apenas 19 alunos, o que provavelmente teria a mesma proporção em 1893, quatro alunos envolvidos corresponde a mais ou menos a 20%.

Em 20 de maio do mesmo ano, o Diário Oficial comunicava: “O sr. Director da Escola Normal rezolveo suspender por oito dias o alumno matriculado no 1º anno desta Escola, Cornélio Pereira de Bartos [Barros, segundo relação de alunos com notas], por ter infringido o n. 8 do artigo 139 do regulamento da mesma Escola”.

Ao longo do ano de 1893 observaram-se também outras punições aos alunos em caráter crescente. Em 9 de junho desse ano o Diário Oficial publicava:

“O Director da Escola Normal, usando das attribuições que lhe confere o § único do art. 44 do regulamento vigente resolveu suspender por dez dias (10) o alumno Fideles Araújo matriculado no primeiro anno da mesma escola por ter infringido os ns. 6 e 9 do art. 138 do mesmo regulamento.Secretaria da Escóla Normal do Estado do Pará, 7 de Junho de 1893.O Secretario, João Neves.70

Fideles Araujo, além de retirar-se sem autorização teria destratado algum funcionário que lhe teria chamado atenção. Um exemplo de como a disciplina escolar era enfrentada e, portanto ainda não assimilada, gerando ruídos. Caso mais grave foi o de Alberto

69 Regulamento da Escola Normal de 24 de setembro de 1891. PARÁ. Decretos do Governo Republicano do

Estado do Pará. 1891. Belém: Diário Oficial, 1894.

70 O 6º do artigo 138 consistia em: “Tratar com delicadeza e urbanidade a todos os funccionarios da Escola, e as

pessoas extranhas que n’ella tiverem ingresso e o 9º: “ Participar ao Director, quando, por qualquer motivo justo que allegará, tenha de retirar-se da escola, antes de assistir ao seu ultimo exercício”.Idem, Ibidem.

D. de Souza que teria ofendido colegas ou algum empregado do estabelecimento”71,acabaria eliminado da escola.72É preciso lembrar de como eram comuns os casos de agressão física e verbal em todo o Brasil e consequentemente em Belém nesse momento como se observa nos casos levados à polícia ou que apareciam nos jornais73

Em 18 de agosto do mesmo ano, o diretor “usando das attribuições que lhe confere o § único do art. 143, resolveu suspender por 15 dias o alumno matriculado no 1º. anno d’esta Escola, Bento Berillo da Silva” 74.

Os alunos das escolas modelos também faziam das suas. Jovino dos Santos e Silva foi suspenso em maio de 1893 porque circulava em espaços da escola interditados nos intervalos de aula.75 O aparelho de vigilância panoptico da escola não permitia que o aluno circulasse nos espaços em que não poderia ser vigiado e, portanto constantemente sendo objeto de exame, daí o medo que ele escapasse ao olhar disciplinador.

Pedro Cardoso de Azevedo foi suspenso poucos dias depois por ter ofendido alguém dentro da escola.76 Raymundo Nonnato da Fonseca foi suspenso também um dia depois.77 Em agosto de 1893 José Araújo foi suspenso. O Diário Oficial de 3 de agosto de 1893, anunciava a suspensão por 15 dias de José Araújo por agressão e José Monteiro da Silva e Theodorico Alves Brito, este último em 1896, 78 eram expulsos por de insubordinação, desrespeito ou desobediência ao professor ou ao diretor. O princípio de autoridade e hierarquia é fundamental no processo de disciplinarização de corpos e mentes.

Heitor Guimarães, em setembro de 1896 foi suspenso oito dias. Essa punição teria ocorrido ou por Heitor ter proferido palavras, gestos, ou atos contrários à moral ou ter meaçado alguém ou ainda ter usado de divertimentos sob qualquer ponto de vista prejudiciais aos seus colegas ou a qualquer empregado ou visita”.79

Se em 1893, houve quatro punições de alunos da EN propriamente dita, três anos depois, em 1896, a quantidade tinha aumentado, dessa feita por prática coletiva. Manoel Joaquim, de Souza Moreira, Raymumdo Chaves Abreu, Manoel Victor Sarraf, João Thimoteo

71 Ibidem, Ibidem.

72 Diário Oficial, 19 de julho de 1893.

73 Ver a respeito: ZALUAR, Alba. Nem preto, nem branco... Op. Cit. e PANTOJA, Letícia. Au jour le jour...Op.

Cit.

74 Nesse caso, o aluno teria reincidido nos números 1, 2, 5, 9, do artigo 139, não está claro se um dos números ou

cumulativamente. Ou, pela terceira vez nos números 2, 3 e 4 do artigo 138 que consistiria em portar-se sem respeito nas aulas, apresentar trabalhos borrados ou não expor as lições. Diário Oficial, 9 de agosto de 1893.

75 Diário Oficial 6 de maio de 1893. 76 Diário Oficial 22 de maio de 1893.

77 Diário Oficial 23 de maio de 1893. Não foi especificado o item do regulamento nem o número de dias da

suspensão o que torna difícil estabelecer o tipo de infração.

78 Diario Oficial de 6 de setembro de 1896. 79 Idem.

de Mattos e Carlos José de Abreu eram suspensos por 8 dias por: gritar, assobiar, fazer arruaças ou algazarras e dar vaias, dentro e nas vizinhanças da Escola.80

O aparelho disciplinar escolar tinha então como objetivo implícito moldar comportamentos considerados adequados a uma sociedade que se via como civilizada e moderna o que explica a punição de uma manifestação que poderia ocorrer tanto dentro quanto fora dos muros da escola e que já estava prevista no regulamento. O fato ocorreu no dia 31 de julho do mesmo ano e foi publicado no Diário Oficial de 1º de agosto de 1891.

Esse tipo de sociabilidade, objetivando manifestações consideradas inadequadas, fez